segunda-feira, 14 de outubro de 2013


 

SER-SE INTEGRALMENTE

Continuação do texto anterior, cap.5 – CONVIVER E SER

Do livro EM BUSCA DA VERDADE

 

Quando há uma preocupação real pelo autoconhecimento, interpretando as ocorrências normais como necessárias ao processo da evolução, a saúde integral passa a fazer parte do calendário emocional daquele que assim procede. 

Esse processo impõe o impositivo da ligação com a alma, o que equivale dizer, uma constante vigilância com o ser profundo, o ser espiritual que se é e não pela aparência de que se veste para a caminhada terrestre. 

No passado, as religiões tradicionalistas, e ainda hoje, criaram e prosseguem criando cultos e cerimônias externas que se encarregam de manter visualmente a vinculação, estabelecendo dogmas em torno delas, responsáveis pelo temor e pela submissão. Sendo positiva a proposta, perde o seu significado e torna-se perturbadora pela imposição sacramental e rigorosa, de caráter compensatório ou punitivo. No caso das compensações, dá lugar a uma sintonia falsa, vinculada ao interesse dos benefícios advindos com a prática exterior, o que impede a ligação interna, profunda, significativa. No referente às punições, compromete o adepto que se preocupa mais com a forma do que com o conteúdo, e aqueles que são sinceros, tornam-se tementes  ao invés de conscientes em torno dos resultados psicológicos da identificação com o Si-mesmo. No entanto, uma analise descomprometida com o formalismo religioso ou com as denominações estabelecidas na área da fé, permite que, na Bíblia, esse notável manancial de inspiração e de sabedoria, separado o trigo do joio, encontrem contribuições valiosas para a interpretação de conflitos e orientações necessárias ao bem-estar, em aforismos e lições de beleza ímpar, nos seus arquétipos e mitos muito bem-estabelecidos, que podem ser interpretados e integrados ao eixo ego-Self. 

Mediante esses ensinamentos é possível pela reflexão voltar-se para o mundo interior, encontrar-se a residência da alma, conviver-se com as suas necessidades não perturbadoras. 

Nesse cometimento, o amor exerce um papel preponderante porque somente através dele se podem alcançar os painéis da alma, da alma que dele necessita para expandir-se, atingindo a sua finalidade evolutiva. 

Através desse esforço contínuo, redescobrindo-se a criança interior saudável, que inspira ternura e amizade, despida de malícia e de ideias preconcebidas, logra-se um estado interno de harmonia, porque a ausência de suspeitas e de insegurança proporciona o bem-estar responsável pela felicidade. 

A criança expressa uma confiança no adulto que ultrapassa os limites da razão. Aquilo que esse lhe promete ou lhe faz assinala-lhe fortemente a personalidade em formação, o caráter em desenvolvimento, e porque não é portadora de incertezas, entrega-se totalmente, deixando-se conduzir. 

Alguém afirmou com beleza rara, que diante da criança sempre se encontrava diante de um deus... 

É certo que Espírito em si mesmo, não é criança, mas a forma, a indumentária que o reveste, proporcionando-lhe o esquecimento do ontem e ensejando-lhe a ingenuidade do hoje para a sabedoria do futuro, proporciona essa ternura e afeição que a todos comove. 

Tudo quanto, pois, se instala no período infantil, permanece durante toda a existência.  

Quando de um dos muitos terremotos que abalam periodicamente a Turquia, houve o desabamento de uma escola infantil onde se encontravam dezenas de crianças. 

Todas as providencias foram tomadas no sentido de ainda resgatá-las com vida. Após dias de trabalho exaustivo, os especialistas chegaram à conclusão de que, em face do tempo transcorrido, mesmo que se chegasse até elas, seria tarde demasiado, porque todas estariam inevitavelmente mortas. 

Um pai, no entanto, escavando, pedindo ajuda, informando que tinha certeza de que seu filho e outros haviam resistido e se encontravam com vida. 

Já não havia mesmo esperança, e os trabalhadores vencidos pelo cansaço começaram a desistir, menos o pai. 

...Por fim, após esforços hercúleos, abaixo do desmoronamento, havia uma brecha, e logo se pode perceber que algumas crianças estavam sob vigas que se sustentaram umas sobre as outras, permitindo-lhes espaço para respirar e viver. 

O genitor aflito chamou pelo filhinho, que lhe respondeu: - Eu tinha certeza que você viria papai.

A seguir, estimulou todas as crianças a serem retiradas, ficando em ultimo lugar, porque sabia que o seu pai não desistiria enquanto ele não fosse libertado. 

O pai tinha o hábito de dizer-lhe que confiasse sempre no seu amor e nunca temesse qualquer dificuldade, porque ele estaria onde quer que fosse para o proteger e amparar. 

Essa confiança, a criança transferiu aos amiguinhos, conseguindo sobreviver pela certeza, sem qualquer sombra de dúvida de que o pai o salvaria... 

No sentido inverso, quando a criança é estigmatizada, punida, justa ou injustamente embora nunca seja crível uma punição infantil denominada justa, ela absorve as informações e castigos, passando a não acreditar em seus valores, não experimentando estímulos para avançar, crescer e prosseguir, porque mortalmente ferida, carrega a marca, tornando-se rebelde, cruel, cínica, destituída de sentimentos bons, que estão asfixiados sob o lixo da perversidade dos pais ou dos adultos que a insultaram, menosprezaram, condenaram-na... 

O ser é, portanto, a grande proposta da psicologia, no sentido profundo ainda do vir-a-ser, conscientizando-se das incomparáveis possibilidades que se lhe encontram adormecidas e que devem ser despertadas pelo amor, pela educação, pela convivência social, a fim de que atinja a individuação. 

A realidade da psique propõe, portanto, o desenvolvimento das possibilidades existenciais que se encontram em germe em todos os seres, crescendo no rumo da realidade e do saudável comportamento para alcançar o patamar de um ser integral, portador de saúde total. 

A conquista da consciência humana iluminada, conforme propunha Jung, rompe a cadeia do sofrimento, adquirindo assim significado metafísico e cósmico. 

Romper essa cadeia do sofrimento representa manter uma conduta superior, elegendo o que fazer ao próximo, conforme recomendava Jesus, nunca revidando mal por mal, por ser a única terapêutica possuidora do valioso recurso de gerar tranquilidade interior. 

Quando os adultos compreenderem esse significado, não transferirão para os filhos as suas próprias feridas emocionais, amando-os integralmente e apresentando-lhes a alma, o ser metafísico e cósmico.  

Todo empenho, pois, deve ser aplicado na busca do ser e não do ter... 

As parábolas a respeito da ovelha que se perde, assim como da dracma que desaparece, dizem respeito ao ter, convidando ao encontro para o equilíbrio da posse, a que se dá extremada importância na vida social. 

No entanto, Jesus, após enunciá-las, coroou a Sua proposta iluminativa, respondendo àqueles que O perseguiam porque convivia com as misérias alheias manifestas dos afligidos e desamparados, ensinando a importância de ser e não de ter, a coragem de  cair em si, de recuperar-se, de encontrar-se... 

Final do texto, e do cap.5, CONVIVER E SER do livro EMBUSCA DA VERDADE – Divaldo Pereira Franco pelo espírito Joanna de Ângelis.

Postado dia 14/10/2013..

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