CONFLITOS EXISTENCIAIS E FUGAS PSICOLÓGICAS
Texto do cap.6, A GRATIDÃO COMO RECURSO PARA A
AQUISIÇÃO DA PAZ, do livro: Psicologia da Gratidão de Divaldo
Franco/Joanna de Ângelis.
Os
referidos conflitos são resultados de heranças ancestrais, quando foram
cometidos atos que atentaram contra a ética e o bem proceder, dando lugar ao
surgimento da culpa encarregada de transformar-se em aflição e desgaste do
equilíbrio.
Noutras
vezes surgem como decorrência do processo de desenvolvimento ético-moral,
quando ainda não havia a capacidade de discernimento responsável pela censura
aos comprometimentos perturbadores, sendo aceitos como naturais e, portanto,
frutos da sombra que permanecia ditando as atitudes mais compatíveis com a sua
natureza arquetípica.
Nesse
estágio ocorrem os problemas emocionais que vergastam o ser perturbando-lhe a
capacidade de orientação e de saúde, instalando-se por longo período gerador de
distúrbios que se transferem de uma para outra existência.
Acostumando-se
à impossibilidade de alcançar mais altos patamares de bem-estar e de harmonia,
permite-se a aceitação do self enfermiço
dominado pelo ego, em estranha vitória no campeonato da evolução.
Torna-se
urgente e indispensável a busca de ajuda psicoterapêutica, a fim de poder
distinguir de maneira saudável o que é melhor para a conquista da alegria de
viver e as diretrizes que deve adotar para conseguir vencer os obstáculos
internos que se expressam ameaçadores.
As
batalhas mais difíceis de ser vitoriosas são aquelas que se travam nos refolhos
da psique, desde o momento em que o indivíduo se propõe alcançar as motivações
para o prosseguimento da existência planetária dentro dos padrões da
normalidade.
Seja
qual for o conflito existencial que se manifeste, a criatura aturde-se e padece
a incerteza de qual é o melhor caminho para o autoencontro, passo inicial para
a autoiluminação.
Não
pode haver um comportamento equilibrado, se nos painéis da psique as
informações emocionais não se encontram estabelecidas sob o comando e a
inspiração dos anseios elevados e pacificadores.
Toda
vez quando surge um conflito que se expressa em forma de aflição e de
insegurança emocional, torna-se necessário o enfrentamento lógico e frontal com
este, de modo que possa libertar-se mediante o uso da razão e do ajustamento
psicológico que se fazem necessários. São distúrbios dessa natureza que empurram
para o vício, para a dependência de drogas aditivas, para a dissimulação e as
fugas da realidade com transferência de responsabilidade para os outros.
O
paciente, nesse caso, assume atitude infeliz e acredita que tudo quanto lhe
ocorre é resultado da antipatia que os outros lhe demonstram, refugiando-se nos
escuros porões da comodidade, não envidando esforços para a luta que deve ser
travada, a princípio mentalmente, diluindo as desculpas e justificativas pelo
estado mórbido que o possui, para logo iniciar o esforço de compartilhar das
atividades no grupo social, ajustando-se e modificando a óptica de observação
dos fatos.
Apoiando-se,
porém, no bastão da indiferença pela situação em que moureja, permanece em
lamentável postura que pretende transformar em arma de acusação contra as
demais pessoas.
Nesses,
pacientes, não surge o sentimento da gratidão que é sempre espontâneo,
porquanto se acreditam vítimas indefesas da sociedade e, como efeito, agasalham
ressentimento e amargura que mais os desajustam.
Os conflitos
existenciais fazem parte do processo de evolução, porque, à medida que se vai
abandonando uma faixa de experiência, conduz-se todo o material que foi
armazenado, seja ele de qual conteúdo se revista.
Como
a aprendizagem de novos hábitos é lenta a superação dos atavismos perturbadores
exige coragem, determinação e insistência, na fase inicial da luta apresenta-se
como tentativa de acerto e de erro até que se definam as características que
passam a alterar a conduta, dando lugar a novos cometimentos.
Somente
uma atitude racional e grande equilíbrio emocional para se ter a coragem de reconhecer as próprias deficiências que
resultam do processo evolutivo, aliás perfeitamente normais durante o seu trânsito no rumo do
desenvolvimento psíquico e psicológico.
Narra-se,
e tornou-se muita conhecida com variações embora com o mesmo conteúdo, a
história de um monge budista que rumava na direção do monastério acompanhado
por alguns dos seus discípulos, quando, passando por uma ponte, viram um
escorpião que estava sendo arrastado pela correnteza na qual se debatia,
afogando-se.
O
monge, apiedado, correu pela margem do rio, introduziu a mão na água e
retirou-o da morte certa.
Alegre
por havê-lo salvado da situação, quando o trazia para o solo, o escorpião
picou-o, produzindo-lhe uma grande dor, que o fez derrubá-lo novamente nas
águas...
Nesse
momento, o monge correu e, tomando um pedaço de madeira, novamente se adentrou
nas águas e retirou-o, salvando-o.
Retornou
ao caminho em silêncio após o seu gesto nobre, quando um dos discípulos,
surpreendido pela ocorrência, indagou-o:
-
Mestre, penso que o senhor não se encontra bem. A sua tentativa de salvar esse
aracnídeo nojento e perverso, que lhe agradeceu o gesto nobre com uma picada
dolorosa, redundou inútil e perniciosa para o senhor. Não seria natural que o
deixasse morrer, ao invés de intentar por segunda vez salvá-lo, correndo
novamente o mesmo risco?
O
monge escutou com suave sorriso na face e respondeu com bondade:
- Ele
agiu conforme a sua natureza, enquanto eu procedi conforme a minha. Ele reagiu
por instinto, defendendo-se mediante a agressão, e eu agi de acordo com o meu
sentimento de amor por tudo e por todos...
Encontramos
nessa historieta a superação dos conflitos tormentosos sem nenhuma tentativa de
fuga psicológica para transferir responsabilidade.
A
emoção consciente da sua realidade é sempre lógica e nobre, contribuindo em favor da ordem e do
dever.
Não
se escusa, não se justifica, não transfere as atividades que lhe dizem respeito
para os outros, contribuindo em favor do bem onde quer que se faça necessário.
Tampouco se inquieta com a ingratidão, porque reconhece que cada ser se
movimenta no nível de consciência e de discernimento que lhe é próprio.
Existem
aqueles que, por um bom período da vida somente esperam receber, fruir,
desfrutar dos favores de todos sem o mínimo compromisso com a retribuição ou
com o bem-estar geral. Desde que se sintam atendidos e fisiologicamente
satisfeitos, tudo se encontra bem. Ainda permanecem no período egocêntrico da
evolução psicológica, agindo conforme a sua natureza. A ingratidão é-lhes uma característica
definidora do comportamento, fazendo que sempre exijam e projetando a imagem de
que as demais pessoas estão equivocadas, quando não fogem para a postura do
martírio, a fim de inspirarem compaixão, provocando conflitos de culpa nos
demais.
A gratidão
constitui bênção de amadurecimento psicológico que felicita o Espírito,
facultando-lhe ampliar os sentimentos de amor e de compaixão, porque reconhece
todos os bens de que desfruta, mesmo quando alguma circunstância menos feliz se
apresenta.
Não se
expressa apenas quando tudo transcorre bem e comodamente. Mas especialmente
quando o testemunho e a dor se apresentam convidando à reflexão.
A vida
é, sem dúvida, um hino de gratidão a Deus em todas as suas expressões.
Final
do título CONFLITOS EXISTENCIAIS E
FUGAS PSICOLÓGICAS.
Próximo
título AUTORREALIZAÇÃO E PAZ
Postado
em 10-10-2013.
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