Reflexões sobre o ser
A“Série Psicológica de Joanna de Angelis”, convida a refletir sobre o ser humano e as causas reais do seu sofrimento, incluindo, a noção do Ser espiritual, que vem sendo excluída, por ignorância ou outros fatores, dos estudos do desenvolvimento psicossocial e, consequentemente, de tudo que se refere ao ser humano, incluindo a saúde e o adoecer.
Os conceitos que ela desenvolve, a partir da integração dos diferentes aspectos do Ser: biológico, psicológico, social e espiritual, conforme a concepção Espírita, trazem uma visão mais ampla e capaz de responder aos questionamentos até então incompreensíveis que a vida coloca, desde sempre, à mente humana.
A realidade espiritual, com a visão reencarnacionista...
“faculta a compreensão dos fenômenos evolutivos, favorecendo os seres com as mesmas possibilidades de crescimento, desde a monera ao arcanjo, vivenciando as mesmas oportunidades e adquirindo sabedoria – conquista do conhecimento e do amor – que culmina em sua plenitude.” (ANGELIS, 1999,p.34) –o ser consciente.
Os antigos mestres orientais falavam que a consciência, em sua jornada evolutiva, passa pelos diferentes reinos da natureza até chegar ao nível em que nos encontramos, para ir além. Léon Denis, traduziu esse conhecimento: A alma dorme no mineral, sonha no vegetal, agita-se no animal, para acordar no homem.
No campo da forma, que é a expressão substancial da essência, sabemos pelos estudos e pesquisas científicas que todas as espécies existentes atualmente no planeta, incluindo as já extintas, vieram pelo processo evolutivo de ser monocelular, que surgiu nas eras primevas, e evoluíram até formar o nível de complexidade em que se encontram. De maneira que podemos, com base na Ciência e no Espiritismo, dizer que somos, como forma e essência, fruto de uma longa experimentação, através de diferentes etapas, numa sequência evolutiva, que ainda estamos buscando entender e completar.
Diz Joanna de Ângelis (2007,p.24) Encontro com a paz e a saúde que:
“Compreensivelmente, após o longuíssimo transito pelos instintos e reflexos condicionados, o breve tempo em que foi conquistado o pensamento lógico, este ainda não facultou ao homo sapiens superar os automatismos a que se encontra fixado, para melhor agir, em vez de sempre reagir”.
“Compreensivelmente, após o longuíssimo transito pelos instintos e reflexos condicionados, o breve tempo em que foi conquistado o pensamento lógico, este ainda não facultou ao homo sapiens superar os automatismos a que se encontra fixado, para melhor agir, em vez de sempre reagir”.
Certamente Isso ocorrerá quando vencermos o orgulho, que dificulta a integração entre os diversos e complementares “saberes”. Nos encaminhamos para isso, nos distanciando da necessidade da “tribalização” do conhecimento, através da qual, o que eu penso e no que acredito, torna-se a única e aceitável verdade, excluindo a verdade que a outra“tribo” pode conter.
O animal e seu território
Para entender nosso funcionamento – inclusive o que chamamos de maldade e mal dentro desse funcionamento – é preciso ter em mente o que já aprendemos sobre a evolução da forma e da consciência, sabendo-as interdependentes, principalmente até o nível humano.
Filogeneticamente, viemos não somente dos antropoides, dos quais descendemos diretamente, mas também de outros animais, em longo curso de aprimoramento. Para seguir ao estágio do homo sapiens, numa longa escala que nos possibilitou ampliar os requisitos da cultura, da estética, da ética, cujo conjunto com o desabrochar dos sentimentos mais nobres representa a escalada espiritual da consciência, que se torna cada vez mais lúcida sobre si mesma e as leis e princípios que norteiam a vida e as relações.
Os animais vivem em função da sobrevivência e da reprodução. Na sobrevivência, temos o território, delimitado por odores, através de secreções de glândulas, urina e fezes, onde o animal encontra a comida e se reproduz. O território é vital para sua sobrevivência. O animal vive para comer, se defender e reproduzir. Está organizado para lutar ou fugir, pois o ambiente onde vive é hostil e se não estiver alerta poderá ser apanhado de surpresa. Ele faz o que foi programado sem possibilidades para escolher fazer diferente.
O determinismo do instinto, começa a mudar com os primitivos seres humanos, quando se implementam os primeiros experimentos da razão e o livre-arbítrio se esboça. E com isto, o homo sapiens se distancia ainda mais de seus irmãos animais, tornando-se gradativamente, pela ampliação da consciência, capaz de fazer escolhas conscientes, selecionando os“caminhos” a seguir e conquistando a responsabilidade pelos resultados, através dos quais passa a aprender mais rapidamente que seus antecessores.
Ainda assim, não havia muita diferença entre os primitivos humanos e os demais animais. Eram a caça e os predadores. Por milhares de anos os homem primitivos vagaram pela terra como coletores e caçadores, até aproximadamente 10 mil anos quando começaram a plantar e domesticar animais, segundo afirma a Ciência, embora haja evidencias de que talvez este tenha sido apenas mais um ciclo de sua longa caminhada, possivelmente, permeada de idas e vindas, neste campo de sua manifestação.
Desde então, o ser humano vem se desenvolvendo, construindo o seu progresso, erigindo civilizações e culturas diversas, experimentando seu potencial, até desenvolver tecnologias cada vez mais sofisticadas, a ponto de sair do planeta aventurando-se na lua e mais além, em voos não tripulados. Olhando nossa sociedade, com as conquistas sociais, éticas, tecnológicas, etc.., ainda funcionamos mobilizados pelos mesmos fatores que impelem os animais e impulsionavam os homens primitivos.
A maior parte de nossa energia é despendida na “luta pela sobrevivência”. O trabalho é o nosso “ganha pão”, e quantos ainda vivem temerosos de perdê-los? Não mais precisamos percorrer quilômetros, atravessando planícies e montanhas para coletar alimentos, mas nos esfalfamos numa jornada extenuante de trabalho para alimentar a família. Como o nosso “ganha pão” é fundamental o defendemos com“unhas e dentes”, ou seriam garras e presas?
O território agora é a nossa casa e o trabalho. Ainda nos agrupamos em tribos, melhor e mais poderosa que a do outro. Se torço para um clube esportivo, é o melhor time do mundo. Os outros não tem valor. O meu partido político, é o único partido que pode fazer algo pela nação. É a mesma coisa com as religiões. Ainda temos a tendência de nos agruparmos com os de “bandeira”semelhante, porque nos traz segurança na defesa do território, que cremos ser o nosso.
Continuamos, apesar dos avanços na inteligência, buscando a sobrevivência, a segurança do território, a aquisição de bens (como símbolo de comida e poder), e o poder, como fonte ilusória de segurança, sem termos consciência de que agimos ainda mobilizados pelo núcleo instintual, que foi nossa origem. Por isso, competimos, desconfiamos, enganamos e matamos sem enxergar a garra do animal escondida na tessitura de nossas mãos.
Outro território foi criado por nós mesmos para ser defendido. É o espaço virtual da personalidade, ao qual vinculamos a autoestima e passamos a defendê-lo como se estivéssemos defendendo a própria vida. Por isso, sofremos quando somos contrariados. a maior parte de nossos sofrimentos está ligada a algum tipo de“contrariedade”.