terça-feira, 29 de outubro de 2013


A PARÁBOLA DOS TALENTOS
 
...Pois é assim como um homem que, partindo para outro país, chamou os seus servos e lhes entregou os seus bens: a um deu cinco talentos, a outro dois e a outro um, a cada qual segundo a sua capacidade; e seguiu viagem. O que recebera cinco talentos foi imediatamente negociar com eles e ganhou outros cinco; do mesmo modo o que recebera dois, ganhou outros dois. Mas o que tinha recebido um só, foi-se e fez uma cova no chão e escondeu o dinheiro do seu senhor. Depois de muito tempo voltou o senhor daqueles servos e ajustou contas com eles. Chegando o que recebera cinco talentos, apresentou-lhe outros cinco, dizendo: - Senhor, entregaste-me cinco talentos; aqui estão outros cinco que ganhei. Disse-lhe o seu senhor: - Muito bem, servo bom e fiel, já que foste fiel no pouco, confiar-te-ei o muito. Entra no gozo do teu senhor. Chegou também o que recebera dois talentos, e disse: - Senhor, entregaste-me dois talentos; aqui estão outros dois que ganhei. Disse-lhe o seu senhor: - Muito bem, servo bom e fiel, já que foste fiel no pouco, confiar-te-ei o muito. Entra no gozo do teu senhor. Chegou, por fim, o que havia recebido um só talento, dizendo: - Senhor, eu soube que és um homem severo, ceifas onde não semeaste, e recolhes onde não plantaste; e atemorizado, fui esconder o teu talento na terra; aqui tens o que é teu. Porém o seu senhor respondeu: - Servo mal e preguiçoso, sabias que ceifo onde não semeei, e que recolho onde não joeirei? Devias, então, ter entregado o meu dinheiro aos banqueiros e, vindo eu, teria recebido o que é meu com juros. Tirai-lhe, pois, o talento e dai-o ao que tem os dez talentos; porque a todo o que tem, dar-se-lhe-á, e terá em abundancia; mas ao que não tem, até o que tem, ser-lhe-á tirado. Ao servo inútil, porém, lançai-o nas trevas exteriores; ali haverá o choro e o ranger de dentes. (Mateus 25:14-30.)

Na arte de contar histórias, como em todos os Seus atos, Jesus foi inexcedível. Tomando de imagens simples e comuns, conhecidas e vivenciadas por todos, conseguiu penetrar nos arquivos profundos do inconsciente para desmascarar  os conflitos e a culpa, estabelecendo diretrizes para a conquista da autoconsciência, produzindo a perfeita identificação do ego com o Self.

A parábola em estudo é psicoterapêutica por ensejar reflexões profundas e lógicas a respeito do comportamento de todos com a consciência – o senhor que ofereceu os talentos - e que sempre se encarrega de exigir a aplicação dos recursos que são destinados ao indivíduo.

Todas as criaturas são aquinhoadas com talentos morais, intelectuais, do sentimento, das aptidões, que devem ser aplicados em favor do próprio enriquecimento, desenvolvendo habilidades próprias e pertinentes à capacidade de utilização de cada qual. Tendo-se em consideração os diferentes níveis de evolução nasce-se com os preciosos recursos que constituem a sua fortuna emocional, e que devem ser utilizados de maneira correta, dando lucros em forma de engrandecimento interior.

A parábola dos talentos refere-se aos indivíduos mais aquinhoados na existência, que souberam multiplicar a concessão com que foram honrados e dignificados pela alegria de entrar no gozo do seu senhor, o estado de harmonia emocional e de crescimento mental .

O outro, que recebeu menos, negligente e avaro, receoso e incapaz, enterrou a moeda preciosa, dominado pela preguiça moral de a multiplicar, também temeroso da justiça do seu senhor, que era severo. Todos os valores que sejam sepultados no solo da indiferença e da falsa justificativa, se transformam em sofrimento interior, porque a culpa que se apresenta no momento da prestação de contas, leva-o às lágrimas e às lamentações...

Merece, no entanto, analisar que a parábola não se refere aos servos que não foram aquinhoados, o que nos conduz à reflexão de que todos os seres humanos encontram-se portadores de bens que devem ser multiplicados, nunca se justificando a não posse, porque ninguém é destituído de oportunidades para evoluir. Mesmo no caso dos impossibilitados mentais, físicos e emocionais desestruturados, nos refolhos do inconsciente profundo encontram-se as razões da aparente carência, sendo a sua falta o talento de recuperação pelo haver malbaratado nas existências transatas.

Quando o senhor parte para outro país e deixa os seus bens nas mãos dos seus servos de confiança, o fato, à luz da psicoterapia, representa a não interferência da consciência nas decisões que definem o rumo da aplicação dos talentos, momentaneamente sob a governança da sombra. O Self sempre vigilante aciona os mecanismos da inteligência e estimula aqueles que se tornaram portadores de maior responsabilidade a que multipliquem os haveres recebidos, embora correndo riscos de os perder. Todo empreendimento experimenta a circunstância do êxito ou do insucesso, cabendo ao investidor eleger a aplicação, no caso em tela, mais rendosa, menos perigosa, conforme o fizeram os dois servos dedicados.

Todos os dons pertencem à vida, vêm de Deus e são concedidos como empréstimos, como experimento, a fim de que se possam fixar na realidade, produzindo os efeitos correspondentes.

A vida é dinâmica, não se permitindo vacuidades e desleixos sob pena de consequências afligente para os levianos e irresponsáveis, que sempre tem enterrado aquilo que deveriam e poderiam aplicar ampliando as suas possibilidades de crescimento. Por isso, reencarnam-se em penúria, em tormentos e angústias que lhes são impostos pela consciência, o senhor severo que colhe onde não semeou, porque a sua seara é o Universo que a precedeu, possuidor de todos os haveres imaginados.

Esse acomodado guardador da moeda, embora houvesse agido de maneira equivocada, poderia ter se complicado, perdendo-a no jogo, usando-a de forma incorreta, o que lhe acarretaria situação mais deplorável, como acontece com todos aqueles que se utilizam dos valores de que são investidos para a degradação, as aventuras perturbadoras, os prazeres desarvorados...

As heranças atávicas geradoras da sombra e a infância emocional que teima em permanecer como criança ferida em muitos comportamentos, fazem dos indivíduos pacientes piegas ou astutos, que se negam o esforço na esperança de que outrem lhes ofereça o que lhes cabe conquistar. Tornam-se egoístas e displicentes.

Era comum essa dicotomia entre pessoas que antes alugavam casas: plantar ou arrancar árvores.

Algumas, quando se mudavam, deixavam as árvores que plantaram no terreno que lhes não pertencia, enquanto outras as arrancavam, demonstrando e insensibilidade.

Diversas evitava plantá-las porque o solo não era delas e afirmavam que não iriam trabalhar, justificavam-se, para o bem de estranhos, no entanto, alegravam-se quando encontravam verdadeiros pomares que foram preparados por outras que não conheceram, mas os fizeram para o futuro...

Se cada qual realizar a sua parte, pensando nos bens do futuro, não importando quem seja aquele que colhe onde não semeia, seus talentos estarão sempre aumentados e receberão outros mais que lhes são confiados...

O servo bom, do bom trabalho retira a prosperidade, enquanto que o ocioso converte a ação em penúria, vindo a sofrer a restrição do prazer e da harmonia.

Os servos diligentes são todos aqueles que não se detêm atemorizados ante as dificuldades existenciais e trabalham a fim de removê-las, facilitando a oportunidade dos que se encontram na retaguarda. Sempre se viverá beneficiado ou não pelos ancestrais, aqueles que caminharam antes pelas veredas por onde agora peregrinam. Foram eles que abriram as picadas, facilitando a primeira experiência na mata fechada, depois outros alargaram os caminhos, vieram mais tarde muitos outros que asfaltaram ou não a estrada agora percorrida com facilidade.

Quando se tem consciência desse valor dos antepassados, ao conseguir-se a cura das neuroses, logo surge o interesse por servir, auxiliar os familiares, os mais próximos, treinando fraternidade e generosidade para com todos os demais seres humanos.

7º capítulo – A possível saúde integral – do livro Em Busca da Verdade.

Continua na próxima postagem.

Postado em 29-10-2013.

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