quinta-feira, 31 de outubro de 2013


A CONQUISTA DO SI

 

Toda a vilegiatura carnal do Espírito deve ser direcionada para a conquista do Si-mesmo. 

Herdeiro das experiências evolutivas tem viajado longamente dos instintos à razão, ao discernimento, à aquisição da consciência, descobrindo a sua realidade de ser imortal, cuja trajetória ilimitada prossegue além da vestidura carnal... 

O inconsciente coletivo que nele se encontra ínsito, na maioria das vezes é resultado das próprias vivências nos referidos períodos antropológicos, quando em trânsito de uma para outra faixa  da evolução, seja física, moral ou transcendental. 

Armazenadas no Self são essas incontestáveis tentativas de acerto e de erro, que lhe delineiam as novas caminhadas corporais. Por isso mesmo, a sombra resultante dos conflitos instalados nos refolhos da psique, normalmente surge-lhe ameaçadora gerando dificuldades de raciocínio, de comportamento saudável, de harmonia. 

Iniciando o desenvolvimento do Si-mesmo, na condição de simples e ignorante, destituído de conhecimentos, de habilidades e de treinamentos, a pouco e pouco, à semelhança da semente no seio generoso da mãe-terra, vão-se-lhe desenvolvendo os germes da sabedoria adormecida, experienciando os jogos dos sentidos, em avanço para a lógica e o raciocínio, dando lugar aos atavismos primitivos que devem ser ultrapassados sem traumas nem choques emocionais. 

À medida que se lhe tornam mais complexas as admiráveis possibilidades de que dispõe para evoluir, surgem-lhe as marcas dos hábitos ancestrais que teimam em prendê-lo no já conhecido, no já desfrutado, confundindo os valores de qualidade com as comodidades do prazer. 

Atraído pelo Deotropismo da sua origem, não se pode furtar ao conflito entre o que tem sido e o que lhe aguarda. Nem sempre, porém, aspira por situação ou condição melhor de vida, bastando-lhe o atendimento das necessidades fisiológicas básicas, em olvido proposital ou não daquelas de natureza psicológica essenciais para a individuação. 

Quando descobre o significado existencial e ainda não dispõe da maturidade emocional indispensável, pretende a transformação interior a golpes de exigências descabidas e de sacrifícios que se impõe, sem dar-se conta de que a violência não faz parte da programação orgânica para uma existência feliz.

Em face da desorientação religiosa do passado, e que, infelizmente ainda vige em muitos setores da sociedade, impõe-se a fuga do mundo, buscando o isolamento, que constitui tremendo adversário do bem-estar humano, desde quando, gregário, necessita da convivência, do relacionamento com o seu próximo, que resulta em profundas frustrações interiores que levam a desastres psicológicos ou ao abandono da opção... 

Outras vezes, entregando-se ao transtorno masoquista, propõe-se sofrimentos injustificáveis, que mais ampliam o desconforto emocional e o desequilíbrio psicofísico. 

A existência humana deve ser vivenciada dento de uma pauta de deveres morais e espirituais, ademais dos sociais, familiares e para com o corpo, estabelecidos para cada indivíduo, a fim de que a carga imposta não lhe seja superior às forças interiores, assim evitando os desastres nos insucessos. 

O comportamento dentro das diretrizes convencionalmente denominadas como normalidade, constitui-lhe caminho de segurança para o avanço contínuo na direção da meta estabelecida.

Ao invés de imposições de fora para dentro, da aparência dentro dos padrões estabelecidos pelo grupo social, a lúcida interpretação das próprias necessidades e a condução tranquila quão equilibrada de cada função ou ocorrência vivencial, a fim de conseguir o estado saudável e progressista na marcha da iluminação. 

Compreendendo que a sombra é presença normal e constante na psique, a sua fusão natural no Self  é o objetivo do autoconhecimento, da conquista que o desaliena, ensejando-lhe melhor visão da realidade e do muito que o cerca. 

Tal identificação – do que deve fazer e como realizá-lo, superando as sequelas do passado – abre-lhe espaços mentais e emocionais para ser feliz. 

Nesse labor consciente, reacional e objetivo, a individualidade cresce e desenvolve-se, facultando o surgimento de outros valores dantes não considerados, que constituem elementos superiores para uma vivência com sentido enobrecido. 

Nem sempre se compreende o significado da conquista do Si-mesmo, supondo-se que esse labor diz respeito a questões da mística religiosa ou das tradições filosóficas orientais do passado. Certamente, tem razão no significado, mas não na proposta, porque as doutrinas orientais, descobrindo a realidade do ser que se é, encontraram na meditação, na yoga, nas diversas técnicas da concentração e da abstração em relação ao tempo e aos sentidos, um excelente instrumento pedagógico para a autoconquista. Por outro lado, algumas religiões, com boas intenções, sem dúvida, procuraram auxiliar o ser na superação dos conflitos, e ignorando-lhes a intensidade bem como a sua gênese, estabeleceram normativas, umas felizes, outras nem tanto, para que o fiel tivesse um fio de Ariadne para sair do labirinto existencial em que se encontra. A partir das regras estabelecidas, entre outros, por Inácio de Loyola, os exercícios espirituais tem produzido excelentes resultados naqueles que os praticam de maneira racional e sem fanatismos.

Aqui interrompo a transcrição do texto, ao qual darei continuidade na próxima postagem, o que ocorrerá provavelmente amanhã dia 01/10, portanto confiram.

Postado dia 31/10/13.

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