sexta-feira, 4 de outubro de 2013


CAIR EM SI

Continuação da postagem anterior

Cap. 5 do livro, EM BUSCA DA VERDADE

Divaldo Franco/Joanna de Angelis

Pag. 100-101.

Um número expressivo de problemas emocionais que se encontram na criança ferida, que se sente, mesmo na idade adulta, desamada e injustiçada, pode ser corrigido quando o sofrimento deixa de ser manifestação de revolta para tornar-se viagem na direção da autoconsciência, através da qual consegue compreender as ocorrências humanas sem acusações nem desforços. Provavelmente, os pais ou educadores que se encarregaram de conduzir e orientar os passos iniciais da criança, foram, a seu turno, vítimas da mesma injunção decorrente da ignorância dos seus ancestrais, que se comportaram com impiedade ou indiferença negligenciando os deveres e deles exigindo demasiadamente... Não será justo que o mesmo painel de amarguras seja transferido para outra geração, nesse círculo vicioso que tem de ser interrompido pelo despertar da consciência. Para que isso ocorra, no entanto, é necessário que cada qual caia em si, analisando com tranquilidade as suas dificuldades emocionais e trabalhando-as com dedicação, a fim de serem reformuladas e revivenciadas. Noutras vezes, quando a ferida é muito profunda, torna-se necessária a psicoterapia especializada, a fim de levar o paciente a reviver os momentos angustiosos que foram asfixiados pelo medo, submetidos os impositivos da prepotência dos adultos, perturbando o desenvolvimento psicológico. Mediante a análise de cada sombra dominadora, será projetada a luz do Self em busca da integração, favorecendo o amadurecimento emocional do paciente e concedendo-lhe ensejos de recuperação e de alegria de viver.

Essa psicoterapia levará à catarse de todos os conflitos que permanece ditatorialmente governando a existência quase fanada, facultando que, por intermédio das associações, abram-se horizontes adormecidos e surja o sol do bem-estar e da harmonia interior.

Já não lhe será necessário o refúgio infantil da lamentação nem da acusação, mas a lucidez para compreender o sucedido, facultando-se renovação e entusiasmo nos enfrentamentos que proporcionam a descoberta da alegria.

A tristeza que, periodicamente, assalta a casa emocional do ser humano não é negativa, quando se apresenta em forma de melancolia, por falta de algo, por desejo de conseguir-se alguma coisa não lograda... Essa expressão da emoção vibrante caracteriza o bom estado de saúde mental, porque é uma fase de curta duração, abrindo campo para novas percepções dos valores mais elevados que não estão sendo considerados e logo se transformam em recursos portadores de bem-estar. Nada obstante, a experiência deve ser de breve duração ou vigência, a fim de não criar um clima psicológico doentio que venha a transformar-se em condição patológica. Somente as pessoas normais, em equilíbrio, experimentam as várias emoções que constituem o painel d sua realidade emocional. Saúde e bem-estar sustentam-se nos alicerces das experiências diversificadas vividas pelo individuo  em equilíbrio e harmonia.

Ninguém espere felicidade como uma horizontal assinalada somente por alegrias e ocorrências satisfatórias, que não existem de maneira permanente, mas como uma grande estrada sinuosa, com altibaixos, sendo que a próxima descida jamais deve atingir o nível inicial de onde se começou a marchar...

Nas duas parábolas das perdas da ovelha e da dracma, enfrenta-se uma situação muito delicada, que é, no primeiro caso, deixar-se todo o rebanho, a fim de ir-se buscar a extraviada, ou preocupar-se, no segundo caso, exclusivamente com a moeda que desapareceu...

Quando ocorre um problema no comportamento emocional, como se fora uma ovelha que se desgarra do conjunto psicológico, a necessidade de trabalhar-se a sua falta e encontrar-se a melhor solução, não exige que se distraia das outras faculdades, de modo a não vir o desfalecimento do entusiasmo e da alegria de viver.

Continua na próxima postagem

Postado em 04-10-2013.

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