sábado, 20 de setembro de 2014


 

O milagre da gratidão

Os sentimentos inferiores, herança do processo evolutivo vivido no período do  instinto dominador, são prisões sem grades que limitam o movimento emocional e espiritual do ser, constrangendo o processo iluminativo e gerando sofrimentos.

São responsáveis pelo ressentimento, pela raiva, pelo ciúmes que se transformam em conflitos graves no comportamento humano. Esse ego primitivo têm obrigação consciente de eleger o bem-estar e a saúde como diretrizes que lhe traga a harmonia, possibilitando a identificação com as aspirações do self em estágio superior de apercebimento da finalidade existencial.

Ficando como sombra morbosa, abre espaço à instalação de emoções também primárias, que a razão bem dirigida deve superar.

Emergindo frequentemente do inconsciente pessoal, afastam o paciente do convívio social saudável, fazendo que os seus relacionamentos domésticos sejam desagradáveis, de agressividade ou de indiferença, de distanciamento ou de introspecção rancorosa.

Graças a conquista da consciência, o ser humano, está destinado à individuação que alcançará pela perfeita fusão do eixo ego-self, à completude, na qual retornará à unidade que sofreu fissão durante o processo antropossociopsicológico da evolução através das reencarnações.

Jung afirmou que, a individuação é o “processo de diferenciação que busca o desenvolvimento da personalidade individual e da consciência do ser único, indivisível e distinto da coletividade,” quando o self atinge a culminância da sua realidade imortal ...

Deve ser colocado a serviço do equilíbrio, da harmonia emocional e psíquica, todo esforço para combater as imperfeições morais

Nessa abordagem clinica, a gratidão tem função psicoterapêutica muito importante por entender os acontecimentos do dia a dia, mesmo os perturbadores, não interferindo no comportamento equilibrado, que resulta da consciência de responsabilidade ante a vida. O amadurecimento psicológico desperta a consciência para a sua realidade transcendental, superando os impositivos imediatos dos instintos e ampliando as percepções dos valores existenciais.

Não se pode evitar as aflições no transito humano, tendo-se em vista os atavismos pessoais, a convivência social e familiar  desafiadora, propiciando aprimoramento dos sentimentos, particularmente a tolerância, a compaixão, o interesse afetivo, a solidariedade...

Normalmente acredita-se que a gratidão é um sentimento sublime que opera os milagres do amor, diante do seu caráter retributivo. Porém esse conceito, limita-o ao  reconhecimento pelo bem que se recebe e pelo desejo de devolvê-lo. Na análise de Joanna de Ângelis, muito sutil e mais profunda, vai além da compensação pelo que se recebe e se vivencia.

Quando alguém consegue a experiência da gratulação, mesmo em relação aos insucessos, que podem ser considerados  experiências que ensinam a agir com responsabilidade e retidão, alcança o patamar em que deve ser vivida.

O sentido psicológico da reencarnação é conseguir-se a transformação moral do self e a liberação dos seus conteúdos ocultos ou que se encontram em germe, capacitando-o aos enfrentamentos com outros arquétipos inquietadores, especialmente quando se tornam imperiosos e dominantes no comportamento. Uma conscientização do ser que se é possibilita renovação das forças morais para diluir a sombra e desenvolver as experiências renovadoras.

A arte da gratidão que é a ciência da afetuosa emoção pelo existir leva a condutas que parece paradoxal, como no caso das aflições e dos desaires...

Há um século e meio quase. Santo Agostinho, Espírito, conclamava os que sofriam à coragem e à resignação, ante as aflições, mesmo as de aparência cruel, propondo: “as provas rudes ouvi-me bem, são quase sempre indício de um fim de sofrimento e de um aperfeiçoamento do Espírito, quando aceitas com o pensamento em Deus.”

 As provações, bênçãos que a vida oferece ao calceta, que cometeu no passado e/ou na atual existência arbitrariedades, ferindo a harmonia das leis universais, comprometendo a consciência,  para que disponha de meios de recuperar-se da culpa inscrita na intimidade do ser, vivenciando a contribuição do sofrimento que o dignifica, já que a relatividade orgânica está sempre sujeita a essa sinuosidade com altibaixos na saúde e no bem-estar...

O processo da evolução, é como uma correnteza que enfrenta obstáculos por onde corre até alcançar o seu destino, um lago, um mar, um oceano...

Não cessando de prosseguir, quando enfrenta dificuldades, acumula as águas com tranquilidade até ultrapassá-los, pois a sua meta está à frente, aguardando-a.

Assim também, as experiências evolutivas do ser humano ocorrem em programação marcada por variadas e sucessivas etapas até alcançar o estado numinoso.

A gratidão pelos insucessos aparentes é o reconhecimento por entender como parte da aprendizagem e a sua ocorrência como dores, sofrimentos morais consequentes à traição, à calúnia, ao abandono de antigos afetos, tem razão de ser. Melhor sofrê-los, vivenciá-los com resignação quando se apresentam, do que ignorá-los, envolvê-los em máscaras ou postergá-los...

Num olhar superficial, acredita-se que seja uma patologia pelo sofrimento em transtorno masoquista. Na realidade, tal conduta traduz maturidade saudável, por não ser uma escolha do sofrimento, mas uma aceitação consciente e natural do fenômeno-dor, como parte do curso evolutivo.

Gratidão, em qualquer situação, boa ou má, como dizia o apóstolo Paulo, que era sempre o mesmo na alegria, no bem-estar, no sofrimento, no testemunho, mantendo a integridade do self, em razão da consciência do dever nobremente cumprido, considerando as dificuldades e os sofrimentos fenômenos naturais no seu processo de integração com o Cristo.

Quando se conquista o hábito de agradecer, os morbos emocionais da ira que se converte em ódio, da mágoa que se torna desejo de vingança, da inveja que quer a destruição do outro, não encontram áreas na psique para tornarem-se sofrimentos... A alegria de ser-se grato permite entender-se a pequenez do ofensor, a jactância e fatuidade do perverso, a fragilidade do adversário... Uma emoção de tranquilidade preenche todos os espaços íntimos do self, onde se desenvolveriam os sentimentos inferiores.

Da mesma forma, quando se recebe a notícia de uma doença irreversível, de um acontecimento grave e mutilador, a gratidão possibilita viver-se plenamente cada momento, ante a convicção racional da sobrevivência ao corpo somático,  credor de toda a gratidão por conduzir-se como um doce jumentinho do self, conforme o denominou o irmão alegria de Assis, o numinoso sempre grato a Deus por tudo, inclusive pelo momento em que se aproximou a irmã morte.
Livro: Psicologia da Gratidão, psicografia Divaldo Pereira Franco, pelo Espirito Joanna de Ângelis

Postado dia 20/09/2014.

quinta-feira, 11 de setembro de 2014


INTEGRAÇÃO MORAL

 A parábola, envolvida por símbolos arquetípicos ancestrais, é processo psicoterapêutico para os que vivem e sofrem consequências da imaturidade psicológica, e se encontram mergulhados nos muitos eus  em conflito.

Enquanto se desconhecem as lutas e não se tem ideia das possibilidades de crescimento interior, passando entre costumes sistemáticos e improdutivos, as aspirações são limitadas, não saindo das necessidades fisiológicas, dos processos da libido, das ambições imediatas: comer, dormir, gozar e suas consequências fisiológicas...

Os valores morais, embora em germe, continuam desconhecidos ou propositalmente ignorados.

Aquele que está perdido espera ser encontrado, quando o ideal é sair da sua solidão na direção correta por onde necessita continuar.

É comum a busca de Deus pelas criaturas contritas, que se sentem perdidas, embora vivam a desintegração dos valores morais, necessitando se predispor a serem encontradas por Deus, caminhando na Sua direção.

Na busca, existe uma ansiedade e uma luta interior contínuas, na dificuldade de compreender o significado da existência, como; o motivo dos apegos e sofrimentos, enquanto que, ascendendo-se intimamente, liberam-se dos conflitos e abrem-se para o entendimento dos acontecimentos e a necessidade de vivenciar os diferentes períodos do processo de independência, para que não haja traumas, inseguranças e insatisfações...

Todo o processo deve ser acompanhado de amadurecimento psicológico, de autocompreensão, de entrega consciente.

A viagem interna, para colocar-se à disposição de Deus é confortável, porque silenciosa e renovadora, enquanto que a busca externa, no vaivém dos desafios e das incertezas, produz o prejuízo do desconhecimento da escala dos valores éticos, assim como a dos significados existenciais.

Quando o Filho Pródigo se apresenta em situação deplorável, rebaixando-se e submetendo-se ao pai, nele há uma grandeza ética fascinante, que o torna elevado, que o dignifica, ao invés de quando parte, carregando muitos valores amoedados e joias, porém, apequenado, porque vazio de objetivos existenciais.

É comum o indivíduo subestimar-se, acreditando que somente terá valor quando possuir as coisas que brilham e que dão realce social, que produzem destaque na comunidade e despertam ambições, invejas, ciúmes. Esse conceito reveste-se do mito infantil de um paraíso fascinante e tedioso, diante da árvore do Bem e do Mal, ameaçadora, insinuando que a descoberta da nudez interior, da pequenez moral, dos medos sub-repticiamente disfarçados na balbúrdia que faz em volta, a fim de não serem identificados, será um terrível mal, porque o atira fora, obrigando-o a rumar para um país longínquo.

Nessa conduta, a insatisfação sempre enche a taça repleta de prazer com o azedume e o tédio, sorvendo sempre mais, e esvaziando-se muito mais, por falta de valores edificantes e legítimos.

As conquistas de fora não conseguem preencher as perdas interiores.

O conflito é inevitável, porque somente quando se é capaz de viver conforme os padrões nobres da solidariedade e do equilíbrio moral, a saúde e o bem estar se instalam no comportamento humano.

Nesse encontro com o perdido – o eixo ego-Self -  ocorre uma grande alegria, quando o encontrado que se permite integrar no grupo de onde se afastara, percebe que o pai misericordioso – o estado numinoso – sempre esteve ao seu alcance, e a fissão psíquica era o inevitável resultado do processo de busca para a aquisição da consciência.

Todos os indivíduos passam por esse estágio, sendo-lhes necessário proceder à integração.

Nessa fase inicial de despertar da consciência, não existem valores éticos  nem conceitos morais, exceto aqueles que decorrem das necessidades primitivas que ainda permanecem em a natureza humana.

O amadurecimento psicológico lento e seguro propicia a descoberta desses tesouros íntimos que direcionam o comportamento, ajudando a discernir como viver-se saudavelmente ou de maneira tormentosa.

O hábito arraigado de ser-se infeliz sob disfarces múltiplos conspira contra a identificação dos valores morais e a conquista do  si-mesmo.

Eis porque a parábola do Pai misericordioso é rica de possibilidades para a integração dos valores morais esparsos, até ali sem significados reais, esquecidos ou em choques contínuos conforme os interesses mesquinhos dos filhos...

Sem dúvida, na análise psicológica de cada indivíduo, ele pode assumir, ora a personalidade do filho pródigo, noutro momento a do irmão ciumento, raramente, porém, se encontrará integrado no genitor compreensivo e dedicado, que reúne os dois filhos, ambos necessitados, sob o manto da bondade e da compreensão.

Essa possibilidade, quase remota, por enquanto, pelo menos durante a fase de ajustamento do demônio com o anjo interiores, acontecerá quando o amor se despir do egotismo, e o símbolo de Eros assim como o de Cupido  adquirirem a abrangência do sentimento universal do amor que integra a criatura ao Seu Criador e a torna irmã de todos os demais seres sencientes que existem.

O Pai compassivo libera não mais o Filho Pródigo, mas, os filhos que se tornaram saudáveis, apoiados na compreensão dos seus deveres diante a vida e a sociedade, contribuindo para o progresso geral.

Nessa fase, toda a herança ancestral do primitivismo antropológico cede lugar à consciência do si-mesmo, proporcionando incontáveis bênçãos de que o ser tem carência, auxiliando-o na conquista da sua plenitude.

Não será mais necessária a morte orgânica para vivenciar o Nirvana ou penetrar no Reino dos Céus, porquanto já os conduzirá no íntimo, como autorrealização e tranquilidade.

A doença, o sofrimento, a morte não o impressionam mais, porque percebeu que esses acidentes do caminho são parte do processo de crescimento, e, da mesma maneira que o diamante que reflete a luz da estrela, não permanecem nele as marcas do carvão bruto que era antes da lapidação.

É necessário, compreender que o Pai quer encontrar o filho perdido num país longínquo como também deseja reabilitar aquele que se perdeu em si mesmo, no país próximo-distante da afetividade doentia.

A integração dos valores morais é consequência do esforço da consciência profunda em busca da integração do ego imaturo, trazendo significado existencial, trabalhando para a harmonia dos sentimentos e dos comportamentos.

Jesus conhecia a psique humana em profundidade, os seus abismos, as suas heranças, os seus equívocos, as suas incertezas, todos os seus meandros, e porque identificava naqueles que O seguiam os tormentos que os infelicitavam, apresentou na parábola do Filho Pródigo o eficiente processo psicoterapêutico para as gerações do futuro, de forma que, em todas as épocas porvindouras, o amor e a compaixão, libertando dos traumas e dos ressentimentos, contribuíssem para a plenificação interior dos indivíduos.”

Do livro, Em Busca da Verdade, ditado pelo espírito Joanna de Ângelis, psicografado por Divaldo Franco. Postado dia 11/09/2014

quarta-feira, 10 de setembro de 2014


 

A CONSCIÊNCIA DA GRATIDÃO

Conforme a psique desenvolve a consciência para superar os níveis primitivos inundado pela sombra, conquista a gratidão com mais facilidade.

A sombra, resultante do egoísmo junto a  interesses inferiores de que quer escamotear, escondendo-os no inconsciente, é a grande adversária do sentimento de gratulação. Querer aparentar o que ainda não conquistou bloqueado pelos hábitos doentios, projeta os conflitos nas outras pessoas, sem a compreensão necessária para confiar e servir. Utilisando-se dos outros, acredita que todos agem da mesma forma, cabendo a ele fruir o melhor quinhão, por ser impossível ampliar a generosidade, que traria o amadurecimento psicológico para a convivência social saudável, para desenvolver  os valores nobres do amor e da solidariedade.

A miopia emocional que vem da predominância da sombra no comportamento do homem dificulta-lhe a visão da harmonia que há na vida, desde os fenômenos mágicos  até os estéticos e fundamentais para a sobrevivência harmônica e feliz.

A sombra trabalha para o ego, com poucas exceções, quando se liga ao self, evitando  comunhão fora do seu círculo estreito  autopunitivo, porque se satisfaz em manter  sua vítima em permanente culpa, que busca esconder, sustentando, no seu interior, uma necessidade autodestrutiva, porque incapaz de enfrentar-se e resolver os seus mascarados enigmas.

As imperfeições morais que não foram modificadas pelo processo de sua diluição e substituição pelas conquistas éticas maltrata o ser, tornando-o refratário, ou hostil aos movimentos de libertação.

Como consequência não há no seu emocional, espaço para o louvor, o júbilo, a gratidão.

Satisfazem-se em mecanismos de fuga ou  transferência, de modo que fiquem em paz e aparente uma situação que não existe.

E assim, os conflitos vindos de outras encarnações e tornaram-se importantes parte do ego predominam no indivíduo inseguro e sofredor, que se esconde na autocompaixão ou na vingança, para chamar a atenção, receba compensação narcisista, aplauso, guardando suspeitas infundadas quanto à validade do que lhe é dado, por saber que não  merece de tais tributos...

Acumuladas e preservadas as sensações que se transformaram em emoções de suspeita e ira, descontentamento e amargura, projetam-nas nas demais pessoas, por não acreditar em lealdade, amor e abnegação.

Se alguém se dedica ao bem na comunidade, é considerado dissimulador, por ser essa a sua atitude (da sombra).

Se outro reparte alegria e solidariedade, a inveja que  lhe está arquivada no inconsciente denomina-o  bajulador e pusilânime, já que, por sua vez, não conseguiria desempenhar as mesmas tarefas com naturalidade. A falta de maturidade afetiva isola o individuo na amargura e autopunição.

 

Todos os seus impedimentos mascara e transfere para os outros, assumindo posição crítica impiedosa, puritanismo exagerado, buscando desconsiderar os bons comportamentos do próximo que lhe inspiram antipatia.

Age dessa forma porque a sua consciência é ainda adormecida, não estando habituada a expressão da fraternidade e da compreensão, que só se harmonizando com o grupo onde vive é que vai poder tornar-se plena.

Autoconscientizando-se da sua estrutura emocional pela compreensão do dever, que significa amadurecer, fará o parto libertador do ego, retirando dele as suas feridas, polindo as camadas externas como ocorre com o diamante bruto que esconde o brilho das estrelas que estão no seu interior.

Não é necessário combater, mas entender e amar, porque, no  processo antropológico, em determinado período, o que hoje são sombras contribuiu para que vencesse as adversidades  do meio ambiente, das expressões primarias da vida, por isso se transformou em um bem estruturado mecanismo de defesa.

Aperfeiçoá-lo, adotando novas condutas que o aprimorem, é respeitá-lo, ao mesmo tempo que se liberta das fixações perversas com relação à atualidade com aceitação de outras condições próprias ao nível de consciência lucida em cuja busca avança.

Conseguindo esse despertar de valores, é inevitável a saída da sua individualidade para a convivência com a coletividade, onde mais se aprimorará, aprendendo a conquistar emoções superiores que o enriquecerão de alegria e paz, deslumbrando-se com as bênçãos da vida que embelezam tudo, compreendendo em vez de reclamando sempre, pela impossibilidade de percebê-las.

A sombra desempenha papel fundamental na construção do ser, que a deve direcionar para o self condutor da luz da razão e do sentimento profundo de amor, decorrente da sua origem transpessoal de essência divina.

O ingrato, por seu atraso emocional, reclama de tudo, desde os fatores climáticos aos humanos de relacionamentos, desde os orgânicos aos emocionais, sempre com o instrumento da acusação, da autojustificação ou do mal-estar a que se agarra em mecanismo de fuga da realidade.

Nos níveis nobres de consciência de si e da cósmica, a gratidão envolve-se de alegria, e os sentimentos não se limitam ao eu, ao meu, amplia-se ao nós, a mim e você, a todos juntos.

A gratidão é a assinatura de Deus na Sua obra.

Quando se enraíza no sentimento humano conquista harmonia interna, liberação de conflitos, saúde emocional, por brilhar como estrela na imensidão sideral...

Por extensão, aquele que é agradecido torna-se veiculo do sublime autógrafo, marcando a vida e a natureza com a presença d’Ele.

A consciência responsável age sem disfarce, diluindo a contaminação dos miasmas ( emanação fétida oriundas  de animais ou plantas) que se faz portador o inconsciente coletivo gerador de perturbações e instabilidade emocional, que produz  conflitos bélicos, de arrogância, de crimes seriais, de todo tipo de violência.

Quando o egoísta insensatamente aponta as tragédias do cotidiano, as aberrações que arrastam a sociedade, só vê o lado mau e negativo do mundo, está exumando os seus sentimentos inconscientes arquivados, vibrantes, sem a coragem de externa-los, de dar-lhes campo livre no consciente.

Quando alguém combate a guerra, a pedofilia, a hediondez que se alastram em toda parte, apenas utilizando palavras desacompanhadas dos valores positivos para os eliminar do mundo, conhece-os bem no íntimo e propõe a imagem do salvador, quando deveria impor à consciência o labor de diluição, despreocupando-se com o exterior, sem lhes dar vitalidade emocional.

Além das palavras são os atos que devem ser considerados como recursos de dignificação humana.

A paz de fora começa na intimidade de cada ser.  Da mesma forma é a gratidão.  Ao invés do anseio de recebê-la, importa tornar-se-lhe o doador espontâneo e curar-se de todas as chagas, propiciando harmonia generalizada.

A vida sem gratidão é estéril e sem significado existencial.

Do livro Psicologia da Gratidão, de Divaldo Pereira Franco, pelo Espírito Joanna de Ângelis. Postado dia 10/09/2014.

segunda-feira, 8 de setembro de 2014


DESPERTAR DO SELF

 

O irmão mais velho da parábola daquele que se pode chamar como o pai misericordioso, é o protótipo do ego desconcertante.

Enquanto estava a sós com o pai, parecia amá-lo, respeitando-o e obedecendo-o. Porém, após a volta do irmão de quem se encontrava livre, magoou-se, revelou-se, apresentando o outro eu, chamado de “demônio interno” amoral e indiferente. Nem procurou saber  como voltou o irmão. Se estava feliz ou não, concluindo que,  se encontrava na miséria, pois do contrário não estaria de volta. Estaria só ou consorciado, com filhos ou perseguido?

Nada lhe ocorreu, senão o espaço dado à mágoa por ter sido colocado de lado, nem sequer foi consultado para o banquete oferecido ao outro.

Ficar distante do perigo, protegido dentro do lar, garantido pela proteção do pai é uma atitude bastante cômoda e protegida dos desafios.

Seria bastante ao filho mais velho aguardar o desencarne do pai, se apropriar de todos os bens e libertar-se da submissão, sendo convidado aos enfrentamentos que antes o genitor resolvia.

Esse comportamento é psicologicamente infantil, porque a existência humana é construída de forma a propiciar crescimento emocional, destemor e renovação constantes. Quem não se renova de dentro para fora, não consegue o desenvolvimento do self, (o ser essencial) sempre envolvido pela sombra, deixando que tudo ocorra  ao acaso.

Existem muitos desafios no processo criativo do ser espiritual que busca o numinoso, a vitória sobre a ignorância e o demônio do mal interno.

A imagem que ele, o irmão mais velho mantinha com relação ao pai, de um homem benigno para com ele, que considerava ser merecedor de toda a compensação, diluiu-se, quando houve o confronto com o seu irmão, de quem se viu livre, abrindo espaço para a exteriorização de que o não amava.

Havia se liberado do competidor que, na realidade, eram os seus próprios conflitos, os dois eus, um ambicioso, o outro sereno, pacífico o mais ponderado era pacífico, demoníaco o mais atrevido que naquele momento o dominava.

No seu Interior, nos seus muitos conflitos, ele também não se amava, passando essa emoção na forma de suspeita para o pai e para os demais, por isto quisera festejar com amigos, atraí-los, conquistá-los, comprá-los, como sempre acontece.

Todo indivíduo inseguro desconfia dos demais e transfere para eles os motivos do seu temor, do seu sofrimento.  Distanciam-se, para não lhes acompanhar a vitória ou tenta conquistá-los com oferendas, não pela afeição, doam coisas que não têm valor.

E assim para ele, o amor paterno teria que ser parcial, exclusivista, com relação a ele, com animosidade pelo desertor.

Costuma-se censurar o jovem que viajou para o país longínquo, também fugindo de si mesmo, e elogia-se o que ficou ao lado do ancião, mais por conveniência do que por fidelidade, sem uma análise mais profunda das duas atitudes.

Esta é uma visão psicológica imperfeita a respeito da realidade.

O filho fiel é o mito representativo de Abel, generoso e bom, que será sacrificado por Caim... Todavia, esse Abel gentil não amava Caim, o seu irmão mais jovem e extravagante, considerado perverso e insensível por haver abandonado o pai idoso...

Preferido pelos mitos Adão e Eva, perdeu o contato com a realidade e o seu irmão o assassinou.

Agora, o mito Abel no filho mais velho, gostaria de assassinar Caim, que se torna bom, que volta tomando-lhe o lugar, ou, parte dele, no sentimento do pai que o mantinha no Éden.

Mas o genitor, misericordioso, que não censurou o desertor e recebeu-o com alegria, também não agiu com reclamação em relação ao filho magoado.

Foi buscá-lo fora e convidou-o a entrar na festa, a participar da alegria de todos.

É comum a solidariedade na dor, mas não no júbilo, em face da inveja e da amargura.

O irmão mais velho submetia-se ao pai, mas não o amava, como fingia, porque logo o censurou, expressando sentimentos de recusa inconscientes, por nunca  haver-lhe oferecido um cabrito ao menos para que se banqueteasse com os amigos, enquanto ao insano ofereceu o melhor novilho...

O ciúme é terrível chaga do ego que expele purulência emocional.

O pai gentil e afetuoso, sensibilizado com o jovem que retornou, pediu um manto para cobri-lo, já que o outro também o possuía, evocando a proteção e o amparo que lhe eram oferecidos.

- Criança – diz o pai ao filho que o censura – tu sempre estás comigo, e tudo o que é meu é teu; entretanto, cumpria regozijarmo-nos e alegrarmo-nos, porque este teu irmão era morto e reviveu, estava perdido e se achou.

O pai percebeu que o outro filho, o mais velho, também estava morto porque expressava amargura, encontrava-se perdido, porque não participava da sua e da alegria de todos que encontraram aquele seu irmão que era morto e reviveu, que estava perdido e se achou.

O ego encontrava o Self, despertando-o para uma futura integração, liberação da fissura na psique...

O Self do filho mais velho está envolto pela sombra ameaçadora, criminosa.

A parábola não informa qual a atitude do mais velho, em relação ao mais moço, após as informações dúlcidas e os esclarecimentos compreensíveis do seu pai.

Certamente, o eixo ego-Self se tornou mais forte, em face do amor do arquétipo primordial, sem limite, libertando-se dos mitos hostis e vingativos.

Prometeu, por exemplo, foge de Zeus, engana-o com artifícios contínuos para não morrer, até que cai na armadilha da própria existência física temporária, e Zeus recebe-o, aprisiona-o, suplicia-o num rochedo, onde foi colocado para sofrer calor, frio e uma águia fere-lhe o fígado durante o dia, que se refaz à noite, até quando os deuses intercedem por ele e a sua punição é anulada...

O filho mais velho quer fugir do pai amoroso após censurá-lo asperamente, evita olhá-lo nos olhos e receber-lhe o abraço, mas não poderá viver sempre sob as picadas da mágoa, remoendo a prisão no rochedo do desencanto, ao frio e ao calor das reflexões doentias... O Self é levado a despertar com a intercessão dos sentimentos de nobreza que se encontram no íntimo, como divina herança da sua procedência.

O irmão chegou quase descalço, sandálias rasgadas e imprestáveis. O pai providenciou calçados novos, porque os pés são as bases importantes de sustentação do edifício fisiológico, que não se mantém em segurança quando lhe falta alicerce...

A mãe Terra oferece os recursos para o organismo e os transforma; o hálito da vida, porém, vem do Amor.

Cuidar das bases caracteriza o despertamento do Self, da responsabilidade diante da vida.

O irmão jovem iluminou o ego com a consciência de si, reconheceu o erro, renovou-se pela humilhação que o fez crescer, enquanto o mais velho liberou das estruturas profundas do inconsciente as paixões da vingança e da maldade, a Erínia mitológica encarregada de ferir Sísifo, conduzindo a pedra ao topo da montanha de onde ela escapa e rola para baixo, obrigando-o a erguê-la sem parar...

A parábola poderia ser dos dois filhos ingratos, que o amor reúne sob o mesmo manto protetor do pai, ligando-os pelo anel da família, traço de união com toda a Humanidade.

A família vem do clã primitivo que se une para a defesa da vida, do grupo animal, é um arquétipo de grande importância psicológica.

A força do animal que caça encontra-se no instinto de astúcia, no grupo famélico, na agressão automática e simultânea contra a presa.

Desestruturar a família é também desnortear-se.

A reencarnação, com a força de diluir os velhos arquétipos perturbadores e criar outros benéficos, reúne indivíduos de caráter antagônico ou em situação de vingança para resgates, ou afetuosos e bons para fortalecer a evolução e preservar o instituto doméstico.

Aqueles dois irmãos, que não eram antagônicos na aparência, viviam intimamente em oposição, faltando apenas o momento de demonstrá-lo.

A paternidade zelosa, o divino arquétipo de Zeus ou de Júpiter, ou de Apolo, ou de Yahveh, todo-poderoso, reúne-os e tenta ampará-los.

O filho jovem era leviano e desperta com o desconforto do sofrimento.

A sandália rasgada, as vestes em trapos, a cabeça raspada, a atitude genufletida diante do pai são os destroços que demonstram o insucesso, o esforço para o recomeço, o entrar novamente no ventre materno para renascer, por isso, voltou para dentro de casa.

Na realidade estava no pátio da casa de seu pai, ainda não entrara, não teve tempo nem oportunidade.

O filho mais velho era angustiado e disfarçava os sentimentos doentios.

Não quis participar da alegria do reencontro, porque isso demonstraria a sua falta de afeição, a sua contrariedade por ter que voltar a competir com o irmão vencido pelo sofrimento.

A oportunidade ameaçava passar sem ser utilizada.

Na vida humana cada momento tem seu sentido profundo, seu significado essencial, sua magia.

A infância dá início ao processo de crescimento interno do Self, porém, ele continua imaturo em qualquer período da existência humana, se não receber os estímulos para desenvolver-se, para desvelar-se em sabedoria e luz.

O primeiro filho demonstrou imaturidade psicológica – a infância.

O segundo expressou pessimismo e depressão, apresentando primarismo emocional, outro estágio da infância emocional.

A terapia saudável para esses males foi o amor do pai, sua compreensão e misericórdia, sua paciência e confiança na força do seu afeto.

Com essa contribuição de fora despertou o Self dentro de cada qual dos membros da parábola, de cada criatura que possa se  identificar com algum dos membros da narrativa.

A parábola poderia ser concluída, esclarecendo que o pai devotado levou o filho ressentido para dentro de casa – uma viagem interna ao encontro do Self – e o aproximou do irmão arrependido – Caim ressuscitado!

Olharam-se silenciosos por longo  tempo de reflexão, superando distancias emocionais, culminando em demorado abraço de integração dos dois eus num Self  coletivo rico de valores e sentimentos morais entre as lágrimas que limparam as mazelas, as heranças lamentáveis do ego soberbo e primário.

Texto do livro, Em Busca da Verdade, escrito por Divaldo Pereira Franco, pelo Espírito Joanna de Ângelis. Postado em 08/09/14.