quarta-feira, 29 de julho de 2015

APLICATIVOS GRATULATÓRIOS
Quando se pensa nos aplicativos gratulatórios, o arquétipo correspondente organiza a história dos acontecimentos para dar novo passo na conquista da consciência. Essa não é uma conquista convencional, mas a possibilidade de melhor compreender a realidade, de se reconhecer a grandeza da vida, sua beleza e seu significado.
Surgirá certa nostalgia conceptual da gratidão conforme a herança ancestral, que precisa ser superado pelo sentimento de ser útil e de participar ativamente no processo de crescimento da sociedade como um todo e do indivíduo em particular.
O homem é cocriador dos reflexos da realidade na história da evolução moral e espiritual presente num todo que, surge no inconsciente como sonhos arquetípicos, e se transformam em expositores das metas a atingir.
Todos temos papeis importantes a desempenhar no universo, permitindo que a consciência reflita os acontecimentos do cosmo e os introjete na consciência individual, e depois na coletiva.
Herdeiro das próprias experiências, o ser humano é chamado a crescer em cada etapa do seu processo  de desenvolvimento ético-moral, experimentando pequenos valores que se transformam em significados profundos. Natural é querer produzir realizações grandiosas, capazes de provocar admiração, num processo de exaltação do ego, embora, sejam as de aparente pequeno valor que aprimoram o caráter e contribuem para a saúde emocional, por serem mais vivas no dia a dia de cada um e de todos em geral.
A solidariedade, que fascina as massas, quando divulgada pela mídia, é pouco exercitada como aplicativo gratulatório, devendo propiciar o hábito de ser útil, de estar sempre atento para ajudar, contribuindo para a mudança do status quo presente para um patamar histórico e moral mais elevado.
Redescobrir a solidariedade, participando das atividades coletivas e ajudando com a  compreensão, a bondade e o entendimento fraterno  das dificuldades dos outros que enfrenta a maioria, ainda na infância psicológica, é conduta relevante  e magna. Essa cooperação expressa-se pelo interesse de tornar a vida na Terra mais feliz, diminuindo os motivos de atrito e de desconforto moral, social e econômico, com a gentileza ou qualquer tipo de ajuda a quem precise.
Esse esforço dá consciência ao ego sobre a responsabilidade de superar a sombra e vincular-se ao self ( o ser real, eu espiritual, eu profundo) em ação dinâmica de construções importantes. Essa conduta propicia ao indivíduo a alegria de viver, auxilia na libertação do estresse, evitando que caia na neurastenia ou na depressão.
Exercitando o sentimento da gratidão, automatiza-se o comportamento registrado no inconsciente, exteriorizando-se em outras oportunidades sem esforço.
A consciência objetiva (a psique) se relaciona com a subjetividade do ego, sendo assim imprevisível, já o inconsciente com os estereótipos arquivados responde com o esperado que se quer.
No universo da gratidão, consideremos a ternura que vem perdendo espaço no comportamento dos indivíduos por se encontrarem armados contra os acontecimentos perturbadores, só se expressando nos relacionamentos mais íntimos, nos momentos de emoção afetiva especialmente entre os familiares e amigos mais próximos. Ela, a ternura, deveria ser uma conduta natural, distribuindo gentileza e prazer no convívio, no entorno do indivíduo, como: a natureza e suas expressões, os seres humanos, mesmo os inamistosos, sofridos pelos conflitos a que se permitem.
A ternura resulta da cultura e da vivencia nas ações superiores do amor, que coloca modelos de conduta nobre, relacionando-se com simpatia e generosidade.
Todos necessitamos do estímulo da ternura que mantém os relacionamentos nas dificuldades, as afeições quando se vão desgastando, parando a animosidade quando surge.
Um dos motivos de desentendimentos nas uniões sexuais é a falta de ternura com que os pares se relacionam. Mais atraídos pelo prazer sexual, as pessoas quase não valorizam o convívio, porque são carentes afetivos interiores e esperam ser preenchidos pela outra pessoa, que carrega o mesmo problema da falta da afetividade pessoal. Após o prazer, surgem os atritos dos solitários a dois, esquecidos de serem solidários.
Não havendo ternura que estreita os laços do amor entre os parceiros, o gozo é rápido e abre espaço a buscas diferentes, abrindo espaço para sonhos e ambições por outro que lhe traga além do desejo e da realização rápida. A consequência, é a insatisfação, a busca de alguém ideal mitológico da perfeição, sem preocupar-se com o que esse buscado com ansiedade também deseja.
Como isso é generalizado, pessoas que esperam o ser ideal para se unir, - todos querendo que  o outro lhe preencha o seu vazio existencial -, aumenta o número dos solitários e insatisfeitos, na multidão, na família, nos vínculos da afetividade mais rápida.
A ternura propõe a preocupação de bem-estar, quando se pensa no outro, de como fazê-lo feliz, mantendo a comunicação jovial, as demonstrações do afeto, da necessidade da presença e da reciprocidade afetiva...
O tempo sem tempo que todos apontam responde pelas carências de todo tipo, sendo a falta da afetividade que cria as fugas psicológicas, as transferências para as coisas e os lugares, aplicando a oportunidade útil em buscas e em atividades secundárias frustradoras.
É preciso encarar a própria deficiência afetiva e  procurar voltar às causas próximas e  remotas, conservando momentos para o autoexame da consciência, para a transcendência, para o encontro com o si profundo (self).
Todas as vezes que a sombra, (nossas dificuldades psicológicas) mascara os sentimentos do indivíduo não deixando que ele perceba a realidade, a fuga prende-o ao conveniente, ao que gostaria de ser, ficando no medo de ser descoberto, criando conflito desnecessário de fácil eliminação, usando a coragem da compreensão para assumir como se é, embora com limites e dificuldades, ou com as bênçãos e as realizações que já conquistou.
A sombra sempre vigilante arma-se contra as novas conquistas, em autodefesa para continuar sobrevivendo, escondendo-se no ego. O cuidado para identifica-la e trabalha-la nunca é demais, dissolvendo a sua influencia e libertando-se para assumir a própria realidade.
A gratidão contribui para essa batalha silenciosa  na psique, trazendo uma visão ampla do mundo e profunda de todos que formam o circulo das amizades humanas.

Texto trabalhado do livro Psicologia da Gratidão, pelo Espírito Joanna de Ângelis, psicografia de Divaldo Pereira Franco. 29/07/2015

quinta-feira, 23 de julho de 2015

SER-SE INTEGRALMENTE

A dicotomia psicológica do ter e do ser é uma séria questão no comportamento individual e social da Humanidade.

A criança é educada, para ter, para vencer na vida e não sobre a vida com as suas dificuldades, mas para possuir e gozar.

Como a vida não é feita apenas de sensações, mas principalmente de emoções, e o ser é mais psicológico do que fisiológico, mesmo sem saber, é natural que esse conflito esteja presente em todos os instantes nas reflexões, nas ambições, nas programações existenciais.

Essa falsa concepção tem como consequência uma visão neurótica do mundo e de Deus, com função precípua e exclusiva atender aos desejos e caprichos do ser humano, sem a faculdade de pensar e de agir, como alguém numa viagem fantástica por um país utópico, no caso, o planeta terrestre.

Quando algo leva à luta pelo crescimento intelecto-moral, pelo desenvolvimento espiritual, a conduta neurótica quer que tudo seja resolvido como mágica, por milagre, por exemplo, ou seja uma concessão especial, como um privilégio, como se fosse um ser excepcional...Como todos pensam da mesma forma resulta que o conceito desse deus apaixonado e antropomórfico, - como transferência inconsciente da imagem do pai que foi superada no período do desenvolvimento orgânico e mental,- sofrem o impacto da descrença, da decepção, da amargura, abrindo espaço para os conflitos perturbadores.

Se a educação infantil se preocupasse em preparar a criança para tornar-se um ser integral, sem fraccionamentos, utilizando-se dos preciosos recursos de que é constituída, à medida que evoluísse não experimentaria sofrimentos das frustrações das lutas pelo ter e pelo poder.

O conceito de Deus inerente e transcendente a tudo e a todos, como força inicial e básica de todo Universo, evitaria a transferência do conceito paterno, mantendo, a aceitação da Causa absoluta.

O Si-mesmo facilmente identificaria os objetivos reais da vida, evoluindo com os processos orgânicos e psíquicos, sem apequenar-se diante das necessidades surgidas durante o crescimento espiritual.

Tal programa educativo evitaria a criança interior ferida pelo descuido ou superproteção dos pais, possibilitando um desenvolvimento conforme o nível de evolução em que se encontra cada Espírito.

O conceito de culpa seria olhado sem castrações, demonstrando ser normal a sua presença, resultado inevitável do cair em si após comportamentos irregulares, aceitando-a e libertando-a através da reabilitação, do processo de recomposição dos prejuízos causados pela arrogância ou pela ignorância.

Uma vida saudável constroem-se no ser e não no que se tem e frequentemente muda de mãos.

O ter e o poder passam a ser carrascos do indivíduo, porque se transferem do estado de posse tornando-se possuidores, fazendo-o escravo do egoísmo e dos interesses menores. Produzem conceitos falsos nos relacionamentos humanos, porque dão a impressão de que não são amados, sendo que, todos que se aproximam estão mais interessados nos seus bens do que em quem o detém. Infelizmente na maioria das vezes, ocorre dessa forma, embora com sérias exceções.

O indivíduo não é o que tem ou o que pensa que administra, mas os seus valores espirituais, a sua capacidade de amar, os tesouros da bondade, da compaixão, do sentido existencial.

Diante da impressão da continuidade da vida material, os apegos às posses levam a conflitos, insegurança, suspeitas, às vezes, sem fundamentos, porque são fugidios e o que oferecem é de duração rápida. Sai-se de uma experiência dominadora para outra mais escravista, tendo os interesses fixados no ego e nos fenômenos dele decorrentes, como a ambição de ter mais e de poder mais, responsáveis pela prepotência, pela arrogância, que são seus filhos naturais, ao invés da luta para conseguir alcançar a realidade interna.
Quando há uma preocupação real ao autoconhecimento, considerando os acontecimentos normais como necessárias ao processo da evolução, a saúde integral passa a fazer parte do calendário emocional daquele que assim procede.

Esse processo impõe a ligação com a alma, ou seja, vigilância permanente com o ser profundo, o ser espiritual que se é, e não com a capa que veste para a caminhada terrestre.

No passado, e ainda hoje, as religiões tradicionalistas, criaram e continuam criando cultos e cerimônias externas responsáveis por manter o vinculo aparente, estabelecendo dogmas em torno delas, responsáveis pelo medo e  submissão. Embora a proposta seja positiva, ela perde o significado tornando-se perturbadora pela imposição sacramental e rigorosa, de significado compensatório ou punitivo. Nas compensações, ela traz uma falsa sintonia, ligada ao interesse dos benefícios conseguidos com a prática exterior, dificultando assim a ligação interna, profunda, significativa. Quanto às punições, compromete o adepto que se preocupa mais com a forma do que com o conteúdo, e os que são sinceros, tornam-se tementes ao invés de conscientes dos resultados psicológicos da identificação com o Si-mesmo. No entanto, uma analise descomprometida com o formalismo religioso ou com as denominações estabelecidas na fé, permite que, na Bíblia, esse notável manancial de inspiração e de sabedoria, separado o trigo do joio, encontrem contribuições para a interpretação de conflitos e orientações necessárias ao bem-estar, em aforismos e lições de beleza ímpar, nos seus arquétipos e mitos bem-estabelecidos, que podem ser interpretados e integrados ao eixo ego-Self.

Através desses ensinos é possível pela reflexão voltar-se para o mundo interior, encontrar-se a morada da alma, conviver-se com as suas necessidades não perturbadoras.

Nesse campo, o amor tem papel determinante porque só com ele é possível alcançar a alma, que precisa desse sentimento para expandir-se, alcançando a sua finalidade evolutiva.

Com esse esforço contínuo, redescobrindo-se a criança interior saudável, que inspira ternura e amizade, sem a malícia e ideias preconcebidas, consegue-se um estado interno de harmonia, porque a ausência de suspeitas e de insegurança promove o bem-estar responsável pela felicidade.

A criança tem uma confiança no adulto que ultrapassa a razão. O que ele promete ou faz, marca fortemente a personalidade em formação, o caráter em desenvolvimento, e porque não traz incertezas, entrega-se totalmente, deixando-se conduzir.

Alguém disse com beleza, que diante da criança sempre se encontrava diante de um deus...

Sabe-se que o Espírito em si, não é criança, mas a forma, que o reveste, trazendo o esquecimento do ontem e a ingenuidade do hoje para a sabedoria do amanhã propicia essa ternura e afeição que comove a todos.

Tudo que, se instala na infância, fixa-se-lhe em toda a existência.

Em um dos terremotos que abalam periodicamente a Turquia, houve o desabamento de uma escola infantil onde haviam dezenas de crianças.

Fizeram tudo para resgatá-las com vida. Após dias de trabalho, os especialistas concluíram que, pelo tempo passado, mesmo que se chegasse até elas, seria tarde, porque todas estariam mortas.

Porém um pai, escavando, pedindo ajuda, disse que tinha certeza que seu filho e outros haviam resistido e ainda estavam com vida.

Já sem esperança, os trabalhadores cansados começaram a desistir, menos o pai.

Depois de grandes esforços, abaixo do desmoronamento, havia uma brecha, e se pode perceber que algumas crianças estavam embaixo de vigas que se sustentaram umas nas outras, ficando espaço para respirar e viver.

O pai aflito chamou pelo filhinho, que lhe respondeu: - Eu tinha certeza que você viria papai.
Estimulou todas as crianças a serem retiradas, ficando em ultimo lugar, porque sabia que o seu pai não desistiria enquanto ele não fosse libertado.

O pai tinha o hábito de dizer-lhe que confiasse sempre no seu amor e nunca temesse qualquer dificuldade, porque ele estaria onde quer que fosse para o proteger e amparar.

Essa confiança, a criança transferiu aos amiguinhos, conseguindo sobreviver pela certeza, sem qualquer  dúvida de que o pai o salvaria...

Quando a criança é estigmatizada, punida, justa ou injustamente embora não seja admissível uma punição infantil chamada justa, ela absorve as informações e castigos, passando a não crer em seus valores, sem estímulos para avançar, crescer e prosseguir, porque mortalmente ferida, carrega a marca, tornando-se rebelde, cruel, cínica, sem sentimentos bons, que estão asfixiados debaixo do lixo da perversidade dos pais ou dos adultos que a insultaram, menosprezaram, condenaram-na...

O ser é, a grande proposta da psicologia, no sentido profundo ainda do vir-a-ser, conscientizando-se das  possibilidades adormecidas que devem ser despertadas pelo amor, pela educação, pela convivência social, para que atinja a individuação.

A realidade da psique propõe, desenvolver as possibilidades existenciais em germe em todos os seres, crescendo para a realidade e o saudável comportamento para alcançar o patamar de um ser integral, condutor de saúde total.

A conquista da consciência humana iluminada, conforme Jung rompe a cadeia do sofrimento, adquirindo significado metafísico e cósmico.

Romper essa cadeia do sofrimento representa manter uma conduta superior, elegendo o que fazer ao próximo, conforme recomendava Jesus, nunca revidando mal por mal, por ser a única terapêutica possuidora do recurso de gerar tranquilidade interior.

Quando os adultos compreenderem esse significado, não transferirão para os filhos as suas  feridas emocionais, amando-os integralmente e apresentando-lhes a alma, o ser metafísico e cósmico.

Deve ser feito todo esforço, na busca do ser e não do ter...

As parábolas da ovelha que se perde, e a da dracma que desaparece, se referem ao ter, convidando ao encontro para o equilíbrio da posse, que tem muita importância na vida social.

Jesus, após expô-las, coroou a Sua proposta iluminativa, respondendo aos que O perseguiam porque convivia com as misérias alheias visíveis dos afligidos e desamparados, ensinando a necessidade de ser e não de ter, a coragem de  cair em si, de recuperar-se, de encontrar-se...


Texto trabalhado a partir do livro Em Busca da Verdade de Divaldo Franco/ Joanna de Ângelis. 23/07/15

domingo, 19 de julho de 2015


EXERCÍCIO DA GRATIDÃO
As conquistas do conhecimento e da experiência de vida resultam do treino, do exercício.
Quando o self (eu profundo, ser real ou, ser espiritual) está em desenvolvimento, as emoções ainda se caracterizam pelas heranças do instinto, que se modificam aos poucos, até alcançar os estágios do amor e da gratidão. É natural que as condutas humanas durante esse processo estejam afetadas pelo egotismo gerador da ingratidão. O indivíduo atribui-se méritos que não os tem e tudo que recebe considera consequência do seu mérito, do seu valor. A permanência da sombra dificulta-lhe o discernimento, impondo-lhe situações embaraçosas e perversas. Esse movimento demorado vai-se modificando conforme as experiências edificantes vão-se acumulando como resultado do treinamento, trazendo lucidez para  compreender a felicidade após descobrir o significado existencial.
O único sentido, de ser humano propõe como foco principal a emoção do amor que será alcançada. No oceano do amor, tudo se confunde em plenitude, logo em superação do ego e dos arquétipos perturbadores.
È necessário e urgente reservar espaço e tempo para o treino do perdão, assim como das outras expressões do amor, para descobrir a alegria que, resulta de qualquer satisfação, seja um efeito do ato de amar.
Para alcancar esse objetivo, é urgente o dever de mergulhar no self (o ser imortal, ser real) para encontrar a consciência, no começo num monólogo e depois num diálogo construtivo e iluminativo.
Jung coloca cinco etapas para a conquista da consciência, seu desenvolvimento no caminho da vitória plena.
A primeira etapa que ele chama de participation mystique se refere à identificação entre a consciência do ser e tudo quanto lhe diz respeito no entorno da sua existência. É difícil viver no mundo sem a interdependência com o que está em volta. Nesse sentido, a identificação é variada, considerando-se os que, ainda vitimas das sensações, continuam ligados aos objetos e vivenciam-nos, sorrindo ou sofrendo. Alguém se identifica e se apaixona pela casa onde mora, pelo instrumento de arte a que se dedica, pelo automóvel ou outro veículo qualquer, e  experimenta os sentimentos do si-mesmo em relação a cada objeto. Outros se vinculam às suas famílias da mesma forma e vivenciam sentimentos de introjeção e projeção, além da própria identificação.
Na segunda etapa, já se expressa a consciência que distingue o eu e o outro. Quando alcança esse período em que se pode diferenciar o sujeito do objeto, o self que se é em relação ao do outro ser, passa a descobrir, a identificar as diversidades de que cada qual se constitui. Nessa fase, ainda permanecem os resquícios fortes da projeção no outro, mas que se vai diluindo e favorecendo a identidade.
Na terceira etapa, as projeções transferem-se para símbolos, lições, princípios éticos, facultando a compreensão do abstrato, como a realidade de Deus em alguma parte... O conceito vigente desse deus, quando punitivo ou compensador, representa a projeção transferida dos pais para algo mais transcendente ou até mitológico.
 Na quarta etapa, tem lugar a superação das projeções, mesmo que marcadas pela transcendência do abstrato e das ideias. Surge, o centro vazio, que poderíamos chamar de o homem moderno em busca da sua alma. O utilitarismo e o interesse imediato tomam conta do indivíduo, como substitutos das projeções anteriores. Nesse comenos, há predomínio do prazer e os desejos de fácil controle, podendo ocorrer, se não se permitem essas sensações-emoções, caindo em transtornos depressivos. Nesse mundo novo não há conteúdos psíquicos, fazendo com que cada um se sinta realista. Esse é o momento em que o ego se sente como se fosse o próprio deus, capaz de fazer e concluir sempre de forma pessoal a respeito de tudo que lhe diz respeito, selecionando o que é verdadeiro ou não, o que merece consideração ou desprezo... Com esse comportamento egóico, não é difícil cometer enganos lamentáveis, derivados da auto presunção, dos julgamentos precipitados a respeito das outras pessoas, podendo tornar-se megalomaníaco. Perde-se o anterior controle das convenções sociais em relação aos demais indivíduos e aos padrões de comportamento aceitos e convencionados. Nem todas as pessoas, no desenvolvimento da sua consciência, atingem essa etapa, ficando somente nas iniciais.
Por fim, na quinta etapa, quando já se encontra amadurecido psicologicamente, o indivíduo passa à reintegração da consciência com a inconsciência, descobrindo os seus limites – do ego -, alcançando a chamada fase de atualidade, conseguindo a função transcendente e o símbolo unificador.
Livre dos arquétipos em imagens que caracterizam o outro, conforme a experiência da etapa anterior, a quarta, identifica os gloriosos poderes do inconsciente. Nessa fase de modernidade ou de atualidade, a consciência identifica a vida psíquica nas projeções, não mais compostas por conteúdos materiais ou mesmo deles formadas, mas da realidade de si mesma.
O mestre, não para por aí, e há momentos em que ele parece propor mais outras etapas, cabendo-nos determo-nos nessas, mais conforme com os objetivos do nosso trabalho.
Nessa fase em que a consciência identifica o inconsciente e fundem-se, surgem as aspirações do belo, do ideal, do uno, da individuação.
Para ser conseguida essa plenitude, o sentimento de gratidão à vida, a todos que contribuíram e contribuem para que o mundo seja melhor e as dificuldades sejam sanadas, que ofereceram sua ajuda no transcurso do desenvolvimento intelecto moral, transforma-se num impulso para o estado numinoso, em que já não há sombra. Embora, para chegar a esse objetivo, seja indispensável o treino constante, o exercício da gratidão.
No início, apresenta-se como ato de dever, o de retribuição por tudo que desfruta, sem o sentimento por faltar ainda a maturidade psicológica interior. Porem o hábito, que se formará vai estimular ao prosseguimento da valorização de todos os acontecimentos e das pessoas com as quais se convive, percebendo que esse sentido de fraternidade gentil e retributiva proporciona uma intraduzível alegria de viver.
Criado o estímulo gratulatório, tudo tem significado relevante, possibilitando entendimento melhor dos acontecimentos existenciais, mesmo os que se apresentam como sofrimento, isto é, que têm momentâneo caráter afligente ou desagradável, que pode ser superado pelo empenho de ser útil, de compreender o esforço dos demais na construção do mundo melhor, entender-lhes os fracassos e os insistentes sacrifícios para corrigir-se...
Habitualmente, o julgamento da conduta dos outros, especialmente relativos à questões perturbadoras contra alguém, se conclui equivocadamente, por certo a conduta do outro, do inamistoso, realizando uma projeção inconsciente dos seus próprios conflitos... Todos os indivíduos têm dificuldades de vencer as questões perturbadoras, especialmente as procedentes dos atavismos que se organizaram no passado por onde passaram. A tolerância, que é uma expressão de amizade inicial, trará a compreensão de que se não é fácil para si mesmo a mudança para melhor, não deve ser diferente para o outro.
Tentando-se, o exercício da gratidão embora com erros e acertos, chega-se o momento em que o ser se enche da alegria de ser gentil e agradecido, não só por palavras, mas principalmente por atitudes, tornando a existência agradável e, assim, ampliando o círculo de bem-estar em sua volta, mudando as paisagens emocionais desorganizadas.
A gratidão tem esse maravilhoso mister (poder) o de tornar o mundo e as pessoas mais belas e mais queridas.

Trabalho executado a partir do livro Psicologia da Gratidão de Joanna de Ângelis, médium Divaldo Franco. Publicado 19/07/15.

quinta-feira, 16 de julho de 2015



A coragem de prosseguir em qualquer circunstância

Comparemos a vida humana ao leito de um rio na direção do mar. A sua nascente aparentemente insignificante, vai formando modesto curso em volume crescente conforme recebe a contribuição de afluentes, vencendo obstáculos, arrastando esses obstáculos, prosseguindo em direção da fatalidade que o aguarda, que é o mar ou oceano...
As experiências da aprendizagem que ampliam a capacidade interior do discernimento e do conhecimento são os afluentes que contribuem com o crescimento individual do ser humano, à medida que surgem dificuldades e problemas que não podem parar o fluxo. A força do seu volume, em forma de amadurecimento psicológico, desenvolve a capacidade de superar as dificuldades que serão encontradas pela frente.
Toda ascensão pede sacrifícios. A queda no abismo é quase normal, em consequência da lei da gravidade moral, já a elevação interior, a coragem de descer ao íntimo para subir ao entendimento, é um dos desafios existenciais mais difíceis, pelo hábito da acomodação no que já experimentou, no já conhecido, sem  aspiração que leva a quebrar a rotina e superar o entorpecimento em que se demora.
Buscar e preservar a saúde é meta que deve priorizar, dando sentido psicológico à vida.
As perdas trazem a necessidade urgente do encontro pelos riscos que toda viagem heroica exige.
A estrutura moral de uma criatura é  medida não só pelas vitórias alcançadas, mas pelo esforço na continuação das lutas desafiadoras, ferramentas únicas responsáveis pelo crescimento ético-moral e espiritual ao alcance da vida.
A busca do Cristo interior, nessa investida é muito importante, sendo o esforço pela conquista da superconsciência. Quando se consegue essa integração com o ego, alcança-se a individuação.
Por muito tempo compreendeu-se,   que a saúde seria a ausência de enfermidade, e que os indivíduos condutores desse requisito eram mais  contemplados que os outros. No entanto as experiências mostraram através dos tempos, que a saúde não é apenas o efeito da harmonia orgânica, da lucidez mental e da satisfação psicológica, porque outros fatores, como os de natureza socioeconômica, também tem importante papel na sua conquista e preservação.
Enquanto se movimenta na argamassa celular o Espírito vai estar  enfrentando as consequências das suas realizações passadas, que lhe impõem compromissos reparadores quando se equivocou, e estímulos de crescimento quando se manteve nos padrões do equilíbrio e do dever.
A harmonia, que deve haver entre todos os fatores, nem sempre é percebida, apresentando-se com variáveis de achaques, de melancolias, de estresses, todos passageiros, que não se tornam problemas perturbadores, ou transtornos na  saúde.  
Pode-se estar saudável, mas com disfunções orgânicas ou doenças em tratamento...
O equilíbrio emocional é responsável pelo comportamento enquanto se apresentam as alterações celulares, as transformações que ocorrem em quase todos os órgãos como resultado do seu funcionamento, das agressões internas e externas, sem que afetem o bem-estar geral que deve ser mantido.
Outras vezes, instabilidades emocionais vindas de expectativas naturais do processo de crescimento, preocupações em torno das necessidades que formam o mapa da conduta social, aspirações idealísticas, dores morais internas, insatisfações com alguns resultados de empreendimentos não vitoriosos, contribuem para a ansiedade, porém sob o controle da mente administradora, que prossegue estimulando a produção das monoaminas (substancias bioquímicas derivadas de aminoácidos) responsáveis pela alegria, pela felicidade: dopamina, serotonina, noradrenalina...
O vento que vergasta o vegetal dá-lhe também resistência e vigor.
Da mesma forma, os fenômenos, às vezes desagradáveis da jornada humana, contribuem para vitalizar os sentimentos e fortalecer a coragem, proporcionando valores dignificantes.
Não há ninguém, no corpo físico, que não esteja sujeito a tropeços e quedas, assim como, ao soerguimento e à continuação da marcha.
Mesmo que traga preocupações e desencantos o amor é o principal elemento vitalizador da luta evolutiva. Pela precariedade dos sentimentos ainda não desenvolvidos,  é natural  que se ame buscando algum retorno. Mas o ideal será que o amor se expresse como efeito da alegria de viver e de expandir as emoções, as alegrias de que a pessoa se sinta possuída, por descobrir esse dom precioso – a dracma pedida no desconhecimento – que é mais benéfico para quem o possui.
O conceito em torno do amor, é que ele aprisiona, reduz a capacidade de entendimento em torno dos valores da vida, elege ídolos de pés de barro que não suportam o peso da própria lambança e arrebentam-se, destruindo o herói. O medo de amar ainda aprisiona muitas mentes e corações que se emurchecem em distancia, fugindo desse impulso de vida que é vida.
No entanto, somente através do amor, e a serviço dele, é que se estruturam os ideais edificantes e enobrecedores da sociedade. Não é o amor que aprisiona, mas a insegurança do indivíduo que transfere para o outro os seus medos, as suas inquietações, as suas ansiedades, pensando tê-los resolvidos sem o esforço exigido para tanto.
Quando se estabelece o sentimento de amor e de amizade entre duas ou varias pessoas, há um grande enriquecimento interior porque o ego se expande, dilui-se, e o sentimento da fraternidade solidária alcança o Self,  proporcionando o bem-estar, em que o indivíduo sente-se realizado, operando cada vez mais em favor do grupo, sem o esquecimento de si mesmo.
Nesse expandir de sentimento afetivo, há valorização sem exorbitância do Si-mesmo, que passa a merecer consideração emocional, libertando-se das traves que lhe dificultam o desenvolvimento. Quanto mais se ama,  mais se ampliam os horizontes afetivos.
A Divindade penetra a consciência humana através do amor por meio dos seus desdobramentos como interesse pelo próximo, pela vida, pelo labor em favor de melhores condições para todos, incluindo o planeta no momento quase exaurindo...
Esse Deus está além da superada manifestação antropomórfica, sendo a inteligência suprema e causa primeira do Universo. Não precisa de qualquer tipo de culto externo, de manifestações formais, de celebrações que deslumbram, dos comportamentos extravagantes... Deus encontra-se na atmosfera, que é a fonte da vida, nutrindo tudo quanto existe, mas também nos ideais, e mais além, em toda parte, nos sacrifícios, na abnegação de santos e de mártires, de cientistas e de trabalhadores, de intelectuais e de idiotas, em todas e qualquer expressões de vida, desde o protoplasma até o complexo humano. É através d’Ele que se alcança o processo de individuação.

Acredita-se que a individuação ocorrerá apenas através dos momentos felizes, vitoriosos, das vitórias sobre a sombra, da autoconsciência conseguida. E é assim que ocorre, mas também, nesse processo de individuação, surgem períodos muito difíceis, que vem das alterações orgânicas, em face do avanço da idade, de conjunturas psicológicas, algumas afligentes, de inquietações mentais, mas, instrumentos para o amadurecimento interior, para a visão correta da existência, para o trabalho de autoburilamento.
A individuação não é uma conquista fácil, tranquila, resulta de esforços contínuos, passando, às vezes, por fazes de sacrifícios e de renuncias. Ninguém consegue uma vida de bem- estar sem o imposto exigido em forma de contínuas doações de dor e de coragem, enfrentando todas as situações com estoicismo, sem queixas, porque, como quem galga uma elevação, à medida que se esforça para consegui-lo, beneficia-se do ar puro, do melhor oxigênio.

A individuação é o oxigênio puro da manutenção do ser.
Podemos comparar a conquista desse estado numinoso a uma nova forma de religiosidade, em que se consegue a harmonia entre a vida na Terra e no céu.
Por não existir a psicologia analítica, a religião albergava todas as necessidades humanas e a confissão auricular tinha um efeito psicoterápico na liberação da culpa, mantendo irresponsável o indivíduo, que achava  fácil errar e ser perdoado, ferir e ser desculpado, sem realizar o processo de autoiluminação.

Graças, à visão nova de Jung, os mitos religiosos podem ser substituídos pelos arquétipos e os conflitos, ao invés de recalcados e desculpados, devem merecer catarse, diluição, enfrentamento e reparação dos danos que tenham causado.

São os arquivos do inconsciente que conduzem o indivíduo e não o seu ego sujeito às alternativas dos interesses imediatos.

Nesse arquivo grandioso do Espírito, o ego pode e deve manter diálogos com o Self para tomar conhecimento lúcido dos seus conteúdos e melhor conduzir os equipamentos que dispõe na sua proposta de vida.

É identificando o erro que se aprende a melhor maneira de não o repetir. O que chamamos erro, no entanto, é uma experiência incorreta, aquela que ensina a como não mais fazer nos seus parâmetros, terminando por ser importante contribuição para a evolução.

O ser humano, é maior do que as expressões exteriores, os êxitos momentâneos, constituindo-se de toda a sua história que registra insucessos e vitórias, tristezas e alegrias, produzindo-lhe o equilíbrio que o segura e mantem no rumo certo.

O pastor que resgata a ovelha perdida torna-se mais vigilante em relação à mesma, assim como às demais, evitando-se excesso de confiança, porque, à medida que o rebanho avança, existem desvios e abismos perigosos...

Ante a ovelha que foge, a atitude do pastor é o socorro maternal, embora, às vezes, o animal rebelde liberta-se dos braços protetores e novamente desaparece, optando pelo desvão em que se oculta... Nessa situação, em seu benefício, o pegureiro assume o seu animus e, vigoroso, aplica-lhe o cajado ou atiça-lhe o cão, encaminhando-o de volta ao aprisco.

É, inadiável o dever de prosseguir-se no compromisso relevante sob qualquer custo, em qualquer situação que se apresente.

A insistência de que se dá provas, quando se escolhe a situação doentia, as sinuosidades de comportamento sem responsabilidade, leva a consciência – o pastor vigilante – a impor sofrimentos que se encarregam de apontar a direção correta, de encontrar-se o que se está extraviando ou foi deixado para traz...

O ocidental acostumou-se com os limites da emoção e adaptou-se aos prazeres da sensação de tal modo, que tudo aquilo que o convida à inversão desse comportamento parece-lhe de difícil aplicação e, por isso, evita viver a proposta de olhar para si mesmo, para dentro, de autopenetrar-se para descobrir os tesouros da alegria íntima, da vivência elevada, sem cansaço, sem ansiedades nem expectativas. Esse esforço é feito quando não tem outra alternativa e sente cansaço do conhecido gozo dos sentidos.

É preciso passar por todas essas experiências, experimentar dificuldades e acertos, sofrer perseguições e ser eleito, porque tudo isso faz parte da constituição arquetípica da evolução, e ninguém pode vivenciar um estagio sem passar pelo outro.

Essas necessárias capacitações desenvolvem os sentimentos, aprimoram a visão da vida, amadurecem o ser psicologicamente, trabalhando-lhe o Self, para que os seus valores profundos abram-se em benefício da individuação.

Normalmente as criaturas reclamam das cruzes que carregam e as fazem sofrer, parecendo-lhes injusto ter que as levar com dificuldades, vivendo em situações difíceis e ásperas. De alguma forma, o conceito e peso da cruz estão muito vinculados ao complexo da infância que se encarregou de dar a visão do mundo. Conforme a educação recebida a criança passa a ter conceitos da vida que são herdados dos pais. Por isso, o que para alguns,  é fardo, para outros é aprendizado valioso.

A pessoa deve aprender desde cedo a enfrentar os fenômenos da vida como parte do seu programa evolutivo, o que  significa que, se dando conta da própria sombra não a deve transferir para o outro, mas diluí-la, com a compreensão dos acontecimentos. A sombra tem uma vestidura moral em contínuo confronto com a personalidade-ego, exigindo, por isso, o grande esforço da mesma grandeza moral, para conscientizar-se, compreendendo e aceitando os fenômenos perturbadores que são inevitáveis.

A maioria, no entanto, não a aceita como elemento constitutivo de todos os seres, presente em todas as vidas.
Rejeitar ou ignorar a sombra é candidatar-se a conflitos contínuos que poderiam ser evitados, caso reconhecesse a ocorrência desse fenômeno próprio ao ser humano. Ela faz parte do ser, como o ego, o Self e todos os demais arquétipos, que são as heranças do largo trânsito da evolução.

No mito da Criação, quando Adão comeu o fruto oferecido por Eva, teve que enfrentar a realidade da sua e da nudez em que ela se encontrava, reagindo automaticamente, buscando um arbusto para esconder-se, quando lhe surgiu o discernimento do ético, do bem e do mal, da malícia e do desejo, resultando nessa fissão da psique, o anjo e o demônio, cuja harmonia deve ser conseguida com o enfrentamento de ambos, num processo psicoterapêutico de consciência lúcida.

Assim também, a sombra que dali procedeu continua no complexo psicológico do ser exercendo o seu papel como herança ancestral do conflito inicial.

A inocência bíblica das duas personagens é referencial mítico escondendo as funções edificantes da sexualidade, que a castração religiosa considerou manifestação da inferioridade e de tormento.
O sexo como qualquer órgão tem as suas exigências que precisam ser atendidas com a dignidade e o respeito que lhe são pertinentes. Quando o indivíduo se permitiu a corrupção de qualquer natureza,   também refletiu-se no comportamento sexual, tornando-se válvula de escape para fugir da responsabilidade moral.

Merece observação carinhosa os desafios da sombra, a fim de conseguir-se a sua integração no Self, não separando mais o indivíduo do ser divino que ele carrega no íntimo.


Texto trabalhado a partir do livro Em Busca da Verdade pelo Espírito Joanna de Ângelis, psicografado por Divaldo Franco. Publicado em 16/07/2015