terça-feira, 15 de outubro de 2013


 

SENTIMENTOS DE MÁGOA E DE DESENCANTO

Do cap.7 -, a gratidão : meta essencial da existência humana, do livro Psicologia da Gratidão de Divaldo Franco/Joanna de Ângelis..

Existe, na criatura humana, um sentimento perverso e de autodestruição que a leva a guardar mágoas e desencantos, como se fossem importantes pata o seu desenvolvimento existencial.

Certamente se trata de uma conduta masoquista, mediante a qual o individuo se transfere psicologicamente da alegria de ser para a satisfação de sofrer, assumindo uma atitude de vítima. Não conseguindo, por debilidade de valores morais, superar as situações menos ditosas, acomoda-se na postura de sofredor, buscando sempre compaixão, quando deveria lutar para despertar o nobre sentimento do amor.

Numa longa existência é fácil perceber-se que as mágoas e os desencantos, porque muito comentados, tornam-se aparentemente mais numerosos do que os momentos de risos, de felicidade, de harmonia, de aspirações belas e generosas...

Não raro observa-se que as pessoas preferem a chancela de não amadas à condição de pessoas amorosas.

Lamenta-se uma criatura de nunca haver vivenciado a felicidade, nada obstante casou-se, tornou-se mãe... Se lhe disser que foi amada, talvez antes do casamento, e que também amou, mesmo depois, quando começaram as dificuldades, logo fugirá para a bengala psicológica, interrogando:

- Mas do que adiantou, se logo mais vieram as decepções e chegaram às mágoas?

Afirmando-se-lhe que a felicidade de haver sido mãe, até mesmo sob o ponto de vista fisiológico, enriqueceu-na de momentos de júbilo e prazer, logo recorrerá ao falso mecanismo defensivo:

- Deus sabe quanto são ingratos e indiferentes esses ditos filhos...

Nessa conduta doentia, somente foram anotadas as angústias e frustrações, talvez proporcionadas por ela mesma.

Assim, o sentido existencial foi transformado em contínuo sofrimento, por causa da predominância do ego em todos os fenômeno da jornada.

O sofrimento desempenha um papel fundamental em todas as vidas, porque ninguém está isento da sua presença, em razão da transitoriedade da organização fisiológica.

O sofrimento, porém, poderá ser examinado sob dois pontos de vista: pelo ego assinalado por complexos inferiores e pelo self idealista. O primeiro somente anotará desencanto e dor, porque os valoriza, sem a consciência de que esse fenômeno é perfeitamente normal e presente na estrutura orgânica de todas as formas vivas, o segundo procurará extrair os melhores efeitos da reflexão durante a sua vigência, o significado moral, os recursos aplicados para superá-lo ou sofre-lo sem a auréola do martírio, da projeção do ego renitente e doentio.

Não se faz necessária uma condição religiosa para esse comportamento, porque é também logoterapêutica, por proporcionar sentido existencial ao ser humano.

Muitas propostas filosóficas e psicológicas  encontram-se enraizadas nos princípios religiosos mais antigos, que exerceram o papel dessas doutrinas antes que elas fossem formuladas. Com o crescimento intelectual e tecnológico foram-se desdobrando, qual ocorreu, por exemplo, com a psiquiatria que se ampliou na psicologia e esta se ampliou em diversas escolas de comportamento, de terapia, de estruturação da psique e da personalidade.

Por tal motivo, aqueles que denominam a psicologia como sendo uma doutrina nova, resultado da elaboração algo recente, equivocam-se, porque os seus postulados modernos repousam em remotas religiões da Antiguidade tanto quanto nos postulados da filosofia e das crenças populares de todos os tempos.

O ser humano é o enigma de si mesmo e, para melhor entendê-lo, sempre houve interesse de conseguir-se a sua interpretação.

As primeiras tentativas foram realizadas pelos filósofos que se depararam com o fenômeno da morte e passaram a buscar compreendê-lo, para melhor decifrar os conflitos e os temores que se lhe instalavam.

Por outro lado, os denominados mortos sempre tiveram a preocupação de desmistificar a ocorrência apavorante, demonstrando a continuidade da vida em outras condições vibratórias. Graças a esse interesse, surgiram as primeiras comunicações entre encarnados e desencarnados, que se não davam conta da magnitude dos eventos que se lhes aconteciam na intimidade das furnas primitivas onde se refugiavam os perigos... O temor constituiu-lhes a primeira reação emocional ante o inusitado. Para expulsar esses inesperados visitantes, que os assustavam, imaginaram as práticas exorcistas, através de tudo quanto a sua imaginação e sensibilidade acreditavam possuir poder mágico de os libertar daqueles que haviam desaparecido pela morte e, apesar disso, retornavam. Nasceram, então, nessa fase, os cultos religiosos, alguns temíveis, consentâneos com o estágio antropológico em que se demoravam, sutilizando-se com o tempo até o momento em que foi possível a concepção dos recursos imateriais, de alto significado emocional, como a oração, a prática do bem, o sentimento de fraternidade aplicado em relação a todos, a ação nobre da caridade...

Apesar dessa formosa conquista psicológica, os atavismos perturbadores sempre ressumam no processo da evolução, sendo necessário que os compreendam e os combatam, mediante o esforço da autoconfiança, da autoresponsabilidade, da autoiluminação.

A mágoa corrói os mecanismos eletrônicos do cérebro que passa a sofrer-lhe as ondas sucessivas de energia destrutiva, dando lugar a conexões distônicas no conjunto das reflexões e do comportamento, influenciando os sistemas nervosos simpático e parassimpático, ao lado de outros distúrbios. O ressentimento, portanto, é ferrugem nas engrenagens da alma, que sempre necessitam do lubrificante da confiança e da alegria de viver, facultando bem-estar e alegria pessoal.

Todo indivíduo lutador, que se mantém atento ao cumprimento dos deveres, com o tempo mental repleto de ideias edificantes e de preocupações positivas, dispõe de um arsenal de recursos para os enfrentamentos e as incompreensões que defronta pelo caminho. Ninguém transita na Terra por caminhos sempre floridos e, mesmo quando existem muitas rosas, igualmente há inúmeros espinhos que possuem a finalidade especial de protege-las.

Desejar-se uma existência física sempre risonha e fácil constitui imaturidade psicológica, estado de infância não vivida, que foi transferida para a idade adulta, porquanto em tudo e em todo lugar o processo de crescimento é como um contínuo parto que proporciona vida, mas que oferece também um quantum de dor.

Todos aqueles que atingiram as culminâncias do equilíbrio emocional e espiritual atravessaram regiões pantanosas de natureza moral entre amigos, correligionários e adversários, sem deixar-se permanecer nos redutos venenosos. Igualmente venceram muitos desertos e experimentaram solidão e quase ficaram desamparados. No entanto, porque se mantiveram com o pensamento colocado no êxito e não apenas no caminho que deveriam percorrer, alcançaram os patamares róseos do sentido existencial, da vida plena, sem nenhum tipo de ressentimento, porque se deram conta de que a alegria sempre esteve presente durante o período áspero de esforço e de sacrifício.

Compreenderam que a semente que pretende ser árvore deve arrebentar-se para lograr o destino que lhe está reservado. E, ao fazê-lo, veste-se de vitalidade e estua, crescendo e tornando-se bela, até o momento de explodir em flores e frutos, sementes e lenho a que se encontra destinada.

Assim também o ser humano, que necessita experimentar as transformações naturais que o arrancam do estágio de criança maltratada para a maturidade de adulto realizado.

Nesse processo está embutida a gratidão à vida e à oportunidade de ser pleno.

Final do texto, SENTIMENTOS DE MÁGOA E DE DESENCANTO, mas também fina do ap.7 a gratidão: meta essencial da existência humana.

Postado dia 15/10/2013.

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