SENTIMENTOS
DE MÁGOA E DE DESENCANTO
Do
cap.7 -, a gratidão : meta essencial da existência humana, do
livro Psicologia da Gratidão de Divaldo Franco/Joanna de Ângelis..
Existe,
na criatura humana, um sentimento perverso e de autodestruição que a leva a
guardar mágoas e desencantos, como se fossem importantes pata o seu desenvolvimento
existencial.
Certamente
se trata de uma conduta masoquista, mediante a qual o individuo se transfere
psicologicamente da alegria de ser para a satisfação de sofrer, assumindo uma
atitude de vítima. Não conseguindo, por debilidade de valores morais, superar
as situações menos ditosas, acomoda-se na postura de sofredor, buscando sempre
compaixão, quando deveria lutar para despertar o nobre sentimento do amor.
Numa
longa existência é fácil perceber-se que as mágoas e os desencantos, porque
muito comentados, tornam-se aparentemente mais numerosos do que os momentos de
risos, de felicidade, de harmonia, de aspirações belas e generosas...
Não
raro observa-se que as pessoas preferem a chancela de não amadas à condição de
pessoas amorosas.
Lamenta-se
uma criatura de nunca haver vivenciado a felicidade, nada obstante casou-se,
tornou-se mãe... Se lhe disser que foi amada, talvez antes do casamento, e que
também amou, mesmo depois, quando começaram as dificuldades, logo fugirá para a
bengala psicológica, interrogando:
-
Mas do que adiantou, se logo mais vieram as decepções e chegaram às mágoas?
Afirmando-se-lhe
que a felicidade de haver sido mãe, até mesmo sob o ponto de vista fisiológico,
enriqueceu-na de momentos de júbilo e prazer, logo recorrerá ao falso mecanismo
defensivo:
-
Deus sabe quanto são ingratos e indiferentes esses ditos filhos...
Nessa
conduta doentia, somente foram anotadas as angústias e frustrações, talvez
proporcionadas por ela mesma.
Assim,
o sentido existencial foi transformado em contínuo sofrimento, por causa da
predominância do ego em todos os fenômeno da jornada.
O
sofrimento desempenha um papel fundamental em todas as vidas, porque ninguém
está isento da sua presença, em razão da transitoriedade da organização
fisiológica.
O sofrimento,
porém, poderá ser examinado sob dois pontos de vista: pelo ego assinalado por
complexos inferiores e pelo self idealista.
O primeiro somente anotará desencanto e dor, porque os valoriza, sem a
consciência de que esse fenômeno é perfeitamente normal e presente na estrutura
orgânica de todas as formas vivas, o segundo procurará extrair os melhores
efeitos da reflexão durante a sua vigência, o significado moral, os recursos
aplicados para superá-lo ou sofre-lo sem a auréola do martírio, da projeção do
ego renitente e doentio.
Não
se faz necessária uma condição religiosa para esse comportamento, porque é
também logoterapêutica, por proporcionar sentido existencial ao ser humano.
Muitas
propostas filosóficas e psicológicas encontram-se
enraizadas nos princípios religiosos mais antigos, que exerceram o papel dessas
doutrinas antes que elas fossem formuladas. Com o crescimento intelectual e
tecnológico foram-se desdobrando, qual ocorreu, por exemplo, com a psiquiatria
que se ampliou na psicologia e esta se ampliou em diversas escolas de
comportamento, de terapia, de estruturação da psique e da personalidade.
Por
tal motivo, aqueles que denominam a psicologia como sendo uma doutrina nova,
resultado da elaboração algo recente, equivocam-se, porque os seus postulados
modernos repousam em remotas religiões da Antiguidade tanto quanto nos
postulados da filosofia e das crenças populares de todos os tempos.
O
ser humano é o enigma de si mesmo e, para melhor entendê-lo, sempre houve
interesse de conseguir-se a sua interpretação.
As
primeiras tentativas foram realizadas pelos filósofos que se depararam com o
fenômeno da morte e passaram a buscar compreendê-lo, para melhor decifrar os
conflitos e os temores que se lhe instalavam.
Por
outro lado, os denominados mortos sempre tiveram a preocupação de desmistificar
a ocorrência apavorante, demonstrando a continuidade da vida em outras
condições vibratórias. Graças a esse interesse, surgiram as primeiras
comunicações entre encarnados e desencarnados, que se não davam conta da
magnitude dos eventos que se lhes aconteciam na intimidade das furnas
primitivas onde se refugiavam os perigos... O temor constituiu-lhes a primeira
reação emocional ante o inusitado. Para expulsar esses inesperados visitantes,
que os assustavam, imaginaram as práticas exorcistas, através de tudo quanto a
sua imaginação e sensibilidade acreditavam possuir poder mágico de os libertar
daqueles que haviam desaparecido pela morte e, apesar disso, retornavam.
Nasceram, então, nessa fase, os cultos religiosos, alguns temíveis,
consentâneos com o estágio antropológico em que se demoravam, sutilizando-se
com o tempo até o momento em que foi possível a concepção dos recursos
imateriais, de alto significado emocional, como a oração, a prática do bem, o
sentimento de fraternidade aplicado em relação a todos, a ação nobre da
caridade...
Apesar
dessa formosa conquista psicológica, os atavismos perturbadores sempre ressumam
no processo da evolução, sendo necessário que os compreendam e os combatam,
mediante o esforço da autoconfiança, da autoresponsabilidade, da
autoiluminação.
A
mágoa corrói os mecanismos eletrônicos do cérebro que passa a sofrer-lhe as
ondas sucessivas de energia destrutiva, dando lugar a conexões distônicas no
conjunto das reflexões e do comportamento, influenciando os sistemas nervosos
simpático e parassimpático, ao lado de outros distúrbios. O ressentimento,
portanto, é ferrugem nas engrenagens
da alma, que sempre necessitam do lubrificante da confiança e da alegria de
viver, facultando bem-estar e alegria pessoal.
Todo
indivíduo lutador, que se mantém atento ao cumprimento dos deveres, com o tempo
mental repleto de ideias edificantes e de preocupações positivas, dispõe de um
arsenal de recursos para os enfrentamentos e as incompreensões que defronta
pelo caminho. Ninguém transita na Terra por caminhos sempre floridos e, mesmo
quando existem muitas rosas, igualmente há inúmeros espinhos que possuem a
finalidade especial de protege-las.
Desejar-se
uma existência física sempre risonha e fácil constitui imaturidade psicológica,
estado de infância não vivida, que foi transferida para a idade adulta,
porquanto em tudo e em todo lugar o processo de crescimento é como um contínuo
parto que proporciona vida, mas que oferece também um quantum de dor.
Todos
aqueles que atingiram as culminâncias do equilíbrio emocional e espiritual
atravessaram regiões pantanosas de natureza moral entre amigos, correligionários
e adversários, sem deixar-se permanecer nos redutos venenosos. Igualmente
venceram muitos desertos e experimentaram solidão e quase ficaram desamparados.
No entanto, porque se mantiveram com o pensamento colocado no êxito e não
apenas no caminho que deveriam percorrer, alcançaram os patamares róseos do
sentido existencial, da vida plena, sem nenhum tipo de ressentimento, porque se
deram conta de que a alegria sempre esteve presente durante o período áspero de
esforço e de sacrifício.
Compreenderam
que a semente que pretende ser árvore deve arrebentar-se para lograr o destino
que lhe está reservado. E, ao fazê-lo, veste-se de vitalidade e estua,
crescendo e tornando-se bela, até o momento de explodir em flores e frutos,
sementes e lenho a que se encontra destinada.
Assim
também o ser humano, que necessita experimentar as transformações naturais que
o arrancam do estágio de criança
maltratada para a maturidade de adulto realizado.
Nesse
processo está embutida a gratidão à vida e à oportunidade de ser pleno.
Final
do texto, SENTIMENTOS DE MÁGOA E DE DESENCANTO, mas também fina do ap.7 a gratidão: meta essencial da existência
humana.
Postado dia 15/10/2013.
Nenhum comentário:
Postar um comentário