CAIR
EM SI
Continuação
da postagem anterior
Cap.
5 do livro, EM BUSCA DA VERDADE
Divaldo
Franco/Joanna de Angelis
As
demais ovelhas no deserto, normalmente
estão guardadas por cães pastores que se encarregam de mantê-las unidas,
enquanto não chega o condutor...
De
igual maneira, é necessário que a vigilância interior, o cão atuante, esteja cuidando dos demais valores, a fim de que a
harmonia do conjunto não seja perturbada, e, ao encontrar o perdido, realmente o ser se permita invadir pelo
regozijo, a todos comunicando, mesmo que, sem palavras, o júbilo de que se
encontra possuído.
Todos
necessitam de vivenciar, vez que outra, alguma perda, a fim de melhor valorizar
o que possui. Enquanto se encontram em ordem os valores, as emoções seguem o
curso harmônico das ocorrências, o Self
acomoda-se à sombra e às
injunções do momento. Um choque, um acontecimento representativo de perda
produz uma reação emocional correspondente à qualidade do perdido, ensejando a
busca, a reconquista do que se possuía e agora se transforma num valor cuja
qualidade não era conhecida, porque existia e estava à disposição.
É
comum afirmar-se com certa razão, que somente se valoriza algo quando se o
perde. É certo que há exceções, no entanto, diante dos problemas humanos, os
apegos às coisas levam o indivíduo a desconsiderar todos os tesouros que possui
e, momentaneamente, não lhes concede o mérito devido, a qualidade que possuem.
Uma
organização física saudável, em que os sentidos sensoriais atuam com
automatismo, constitui um precioso recurso que muitos somente consideram quando
vitimados por qualquer problemática em algum deles. Enquanto isso não se
apresenta, utiliza-lhe a função sem a real consideração que merece.
O
mesmo sucede com a bela imagem da dracma, em considerando o seu valor para a subsistência
da mulher e a manutenção da sua dignidade social.
Os
Espíritos frágeis na luta, os enfermos emocionalmente, deixam-se vencer pela
perda de muitos bens emocionais, sem envidar o menor esforço pela sua
preservação ou mesmo reconquista, deixando que o tempo se encarregue de solucionar aquilo que lhes diz respeito,
complicando, cada vez mais, a sua saúde comportamental. A negligencia a esse respeito é muito grande e,
por isso, a maioria dos padecentes emocionais somente busca ajuda quando se
encontram experimentando a fome das algarobas
duras e raras, caindo, então, em si, quanto à própria situação em que se
encontra. É nesse momento, que eles se recordam que tem um pai misericordioso, e somente o buscam porque têm necessidade, já
que o sentimento de amor e de respeito não foi levado em conta.
Cair em si, portanto,
é uma forma de conversão, de voltar-se para algo novo ou redescobrir o valor do
que possuía e desperdiçou.
Ninguém
pode assumir uma postura madura e equilibrada sem o contributo da reflexão
profunda que lhe permite mergulhar no Si,
valorizá-lo e entregar-se com coragem, rastreando os caminhos percorridos e
retificando as anfractuosidades que ficaram na retaguarda.
A
coragem de autodescobrir-se, identificando os erros que se permitiu, e o desejo
real por uma nova conduta facultam que o Self
aceite a sombra e integre-a
harmoniosamente, facultando-se a alegria da recuperação.
Como
Psicoterapeuta invulgar, ao narrar as duas parábolas Jesus tomou como exemplo
um homem e uma mulher, colocando em igualdade psicológica o anima-us, para demonstrar que as necessidades e emoções
são iguais, embora as diferenças de sexo.
O
pastor, que sai à procura da ovelha desgarrada, é estimulado pela sua anima, e quando a encontra, condu-la
maternalmente, com carinho ao rebanho, rejubilando-se como a galinha que agasalha todos os pintainhos sob
a sua segurança...
Por
sua vez, a mulher que perdeu a dracma é automaticamente comandada pelo seu animus, que a leva a varrer a casa, acender uma candeia para conseguir luz e
põe-se afanosamente a procurá-la até o momento em que a encontra, e então,
funde-se-lhe o anima-us,e exultante,
a todos notifica o acontecimento.
Para
muitos pacientes, libido é a alma da vida, utilizando-se de toda sua pujança
para a autorrealização que não ocorre dessa forma. Quando, porém, qualquer
circunstancia gera um conflito e os mesmos têm a impressão de a haverem perdido,
transtornam-se e a tudo abandonam somente pensando no retorno da sua função, da
sua aspiração preponderante...
Essa
atitude pode parecer muito bem com a do pastor, diferindo em essência, quando
este ultimo ama a todas as suas ovelhas com igualdade, não desejando, como é
natural, perder nenhuma.
O
paciente, no entanto, valoriza, à exorbitância, essa energia que expressa vida,
e logo faz o quadro depressivo, considerando-se indigno e incapaz de viver. A busca
é ansiosa e assinalada pelos tormentos da incerteza, enquanto o pastor estava
consciente do êxito do empreendimento.
A
existência terrena, portanto, deve ser considerada em conjunto, em totalidade,
de modo que todos os valores que constituem a sua realidade mereçam igual interesse
e valorização.
Nenhuma
função é mais relevante do que outra, porquanto, na harmonia da organização fisiológica
devem prevalecer o bem-estar psicológico e a claridade mental. Em razão disso,
os fenômenos orgânicos acontecem como resultado do bem elaborado projeto psíquico
responsável pela marcha evolutiva.
Qual de vós?
Interrogou Jesus, demonstrando que todos os seres humanos experimentam as
mesmas angústias e ansiedades, buscam as mesmas realizações e, quando
convidados ao sofrimento, sentem necessidade de paz e de renovação. Não importa
se tem haveres ou se vivem com carências, porque, mesmo no desvalimento sempre
se possuem outros recursos de natureza emocional e moral, que lhes são de alto
significado, não abdicando, por exemplo do orgulho, da presunção, do egoísmo...
Não é difícil encontrar-se na miséria econômica os indivíduos dominados por
sentimentos de rancor ou de mágoa, vencidos pela sombra, que tema em preservá-los no primitivismo... Esses
sentimentos inferiores constituem tesouros
para muitos afligidos, que não se incomodam de sofrer, desde que não se
vejam impulsionados à mudança interior de atitude perante a vida. Quando
possuírem outros bens, considerados de alto significado, a eles apegando-se,
tornam-se mais déspotas, vingativos e desditosos. Se perdem algo, aturdem-se,
deblateram e revoltam-se, considerando-se injustiçados pela vida, até o momento
em que o sofrimento os leva a cair em si,
quando tem começo a sua renovação. A
partir desse momento, atiram-se na busca da ovelha
ou da dracma perdidas,
rejubilando-se ao reencontrá-las.
Há
muitos valores morais em jogo na existência e no seu curso, alguns quando correndo
perigo fogem para o deserto ou
perdem-se na sala do próprio lar...
A
saúde real consiste no encontro e na assimilação desses bens indispensáveis à
paz interior e ao equilíbrio emocional, sem perdas, sem prejuízos gerados por
culpas ora superadas.
Nessa
circunstancia, a criança ferida que
existe em cada pessoa está renovada, sem cicatrizes nem marcas dos transtornos
passados, vivenciando a individuação.
Final
do texto. Porém o cap.5 (CONVIVER E SER) continuará na próxima postagem.
Postado
dia 06/10/2013.
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