domingo, 6 de outubro de 2013


CAIR EM SI
Continuação da postagem anterior
Cap. 5 do livro, EM BUSCA DA VERDADE
Divaldo Franco/Joanna de Angelis 

As demais ovelhas no deserto, normalmente estão guardadas por cães pastores que se encarregam de mantê-las unidas, enquanto não chega o condutor...
 
De igual maneira, é necessário que a vigilância interior, o cão atuante, esteja cuidando dos demais valores, a fim de que a harmonia do conjunto não seja perturbada, e, ao encontrar o perdido,  realmente o ser se permita invadir pelo regozijo, a todos comunicando, mesmo que, sem palavras, o júbilo de que se encontra possuído.
 
Todos necessitam de vivenciar, vez que outra, alguma perda, a fim de melhor valorizar o que possui. Enquanto se encontram em ordem os valores, as emoções seguem o curso harmônico das ocorrências, o Self acomoda-se à sombra e às injunções do momento. Um choque, um acontecimento representativo de perda produz uma reação emocional correspondente à qualidade do perdido, ensejando a busca, a reconquista do que se possuía e agora se transforma num valor cuja qualidade não era conhecida, porque existia e estava à disposição. 

É comum afirmar-se com certa razão, que somente se valoriza algo quando se o perde. É certo que há exceções, no entanto, diante dos problemas humanos, os apegos às coisas levam o indivíduo a desconsiderar todos os tesouros que possui e, momentaneamente, não lhes concede o mérito devido, a qualidade que possuem.

Uma organização física saudável, em que os sentidos sensoriais atuam com automatismo, constitui um precioso recurso que muitos somente consideram quando vitimados por qualquer problemática em algum deles. Enquanto isso não se apresenta, utiliza-lhe a função sem a real consideração que merece. 

O mesmo sucede com a bela imagem da dracma, em considerando o seu valor para a subsistência da mulher e a manutenção da sua dignidade social. 

Os Espíritos frágeis na luta, os enfermos emocionalmente, deixam-se vencer pela perda de muitos bens emocionais, sem envidar o menor esforço pela sua preservação ou mesmo reconquista, deixando que o tempo se encarregue  de solucionar aquilo que lhes diz respeito, complicando, cada vez mais, a sua saúde comportamental. A  negligencia a esse respeito é muito grande e, por isso, a maioria dos padecentes emocionais somente busca ajuda quando se encontram experimentando a fome das algarobas duras e raras, caindo, então, em si, quanto à própria situação em que se encontra. É nesse momento, que eles se recordam que tem um pai misericordioso, e somente o buscam porque têm necessidade, já que o sentimento de amor e de respeito não foi levado em conta. 

Cair em si, portanto, é uma forma de conversão, de voltar-se para algo novo ou redescobrir o valor do que possuía e desperdiçou. 

Ninguém pode assumir uma postura madura e equilibrada sem o contributo da reflexão profunda que lhe permite mergulhar no Si, valorizá-lo e entregar-se com coragem, rastreando os caminhos percorridos e retificando as anfractuosidades que ficaram na retaguarda. 

A coragem de autodescobrir-se, identificando os erros que se permitiu, e o desejo real por uma nova conduta facultam que o Self aceite a sombra e integre-a harmoniosamente, facultando-se a alegria da recuperação. 

Como Psicoterapeuta invulgar, ao narrar as duas parábolas Jesus tomou como exemplo um homem e uma mulher, colocando em igualdade psicológica o anima-us,  para demonstrar que as necessidades e emoções são iguais, embora as diferenças de sexo. 

O pastor, que sai à procura da ovelha desgarrada, é estimulado pela sua anima, e quando a encontra, condu-la maternalmente, com carinho ao rebanho, rejubilando-se como a galinha que agasalha todos os pintainhos sob a sua segurança... 

Por sua vez, a mulher que perdeu a dracma é automaticamente comandada pelo seu animus, que a leva a varrer a casa,  acender uma candeia para conseguir luz e põe-se afanosamente a procurá-la até o momento em que a encontra, e então, funde-se-lhe o anima-us,e exultante, a todos notifica o acontecimento. 

Para muitos pacientes, libido é a alma da vida, utilizando-se de toda sua pujança para a autorrealização que não ocorre dessa forma. Quando, porém, qualquer circunstancia gera um conflito e os mesmos têm a impressão de a haverem perdido, transtornam-se e a tudo abandonam somente pensando no retorno da sua função, da sua aspiração preponderante... 

Essa atitude pode parecer muito bem com a do pastor, diferindo em essência, quando este ultimo ama a todas as suas ovelhas com igualdade, não desejando, como é natural, perder nenhuma. 

O paciente, no entanto, valoriza, à exorbitância, essa energia que expressa vida, e logo faz o quadro depressivo, considerando-se indigno e incapaz de viver. A busca é ansiosa e assinalada pelos tormentos da incerteza, enquanto o pastor estava consciente do êxito do empreendimento. 

A existência terrena, portanto, deve ser considerada em conjunto, em totalidade, de modo que todos os valores que constituem a sua realidade mereçam igual interesse e valorização.

Nenhuma função é mais relevante do que outra, porquanto, na harmonia da organização fisiológica devem prevalecer o bem-estar psicológico e a claridade mental. Em razão disso, os fenômenos orgânicos acontecem como resultado do bem elaborado projeto psíquico responsável pela marcha evolutiva. 

Qual de vós? Interrogou Jesus, demonstrando que todos os seres humanos experimentam as mesmas angústias e ansiedades, buscam as mesmas realizações e, quando convidados ao sofrimento, sentem necessidade de paz e de renovação. Não importa se tem haveres ou se vivem com carências, porque, mesmo no desvalimento sempre se possuem outros recursos de natureza emocional e moral, que lhes são de alto significado, não abdicando, por exemplo do orgulho, da presunção, do egoísmo... Não é difícil encontrar-se na miséria econômica os indivíduos dominados por sentimentos de rancor ou de mágoa, vencidos pela sombra, que tema em preservá-los no primitivismo... Esses sentimentos inferiores constituem tesouros para muitos afligidos, que não se incomodam de sofrer, desde que não se vejam impulsionados à mudança interior de atitude perante a vida. Quando possuírem outros bens, considerados de alto significado, a eles apegando-se, tornam-se mais déspotas, vingativos e desditosos. Se perdem algo, aturdem-se, deblateram e revoltam-se, considerando-se injustiçados pela vida, até o momento em que o sofrimento os leva a cair em si,  quando tem começo a sua renovação. A partir desse momento, atiram-se na busca da ovelha ou da dracma perdidas, rejubilando-se ao reencontrá-las. 

Há muitos valores morais em jogo na existência e no seu curso, alguns quando correndo perigo fogem para o deserto ou perdem-se na sala  do próprio lar... 

A saúde real consiste no encontro e na assimilação desses bens indispensáveis à paz interior e ao equilíbrio emocional, sem perdas, sem prejuízos gerados por culpas ora superadas. 

Nessa circunstancia, a criança ferida que existe em cada pessoa está renovada, sem cicatrizes nem marcas dos transtornos passados, vivenciando a individuação.
 

Final do texto. Porém o cap.5 (CONVIVER E SER) continuará na próxima postagem.

Postado dia 06/10/2013.

 

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