domingo, 26 de agosto de 2018


GRAVITANDO EM TORNO DE DEUS
 A CONSCIENCIA DA GRATIDÃO

Conforme a psique desenvolve a consciência, levando-a a superar os níveis primitivos alimentados pela sombra, (o lado escuro de ser, o lado desconhecido) conquista com mais facilidade,  a capacidade de gratidão.

A sombra, resultado dos fenômenos egóicos, tendo acumulado interesses inferiores que procura driblar ou esconder, escondendo-os no inconsciente, é a grande adversária do sentimento de gratulação. Querendo mostrar o que ainda não conquistou, impedida pelos hábitos doentios, projeta nas pessoas os seus conflitos, sem a clareza necessária para confiar e servir. Utilizando-se dos outros, crendo que é assim que todos agem, busca fruir a melhor parte, por ser impossível alargar a generosidade, que lhe traria o amadurecimento psicológico para o convívio social saudável, para o desenvolvimento interior dos valores nobres do amor e da solidariedade.

A miopia emocional que vem do predomínio da sombra no comportamento do ser humano não permite que veja a harmonia que há na vida,  desde os mágicos  fenômenos existenciais até os estéticos e fundamentais para a sobrevivência harmônica e feliz.

A sombra trabalha para o ego, poucas vezes se liga ao self, evitando  qualquer possibilidade de comunhão fora do seu circulo autopunitivo, por querer manter a sua vítima em culpa contínua, enquanto busca ocultar, mantendo, na sua intimidade, uma necessidade autodestrutiva, porque se sente incapaz de enfrentar-se resolvendo os seus enigmas.

As imperfeições morais que não foram modificadas pelo processo da sua diluição e substituição pelas conquistas éticas atormentam o ser, tornando-o refratário e hostil aos movimentos de libertação.

No seu emocional não há espaço para o louvor, o júbilo, ou para a gratidão.

Constrói mecanismos de fuga ou de transferência, de modo que se apazigue e aparente uma situação inexistente.

E assim, os conflitos vindos de outras existências hoje parte importante do ego predominam no individuo inseguro e sofredor, que se esconde na autocompaixão ou na vingança, para chamar atenção, para receber compensação narcisista, aplauso, suspeitando do valor de tudo que lhe é oferecido, por saber que não é merecedor daqueles tributos...

Acumuladas e preservadas as sensações que se transformaram em emoções de suspeita e de ira, de descontentamento e de amargura, projetam nas pessoas, por que não creem em lealdade, amor e abnegação.


Se alguém é dedicado ao bem na comunidade, considera dissimulador, porque no seu caso seria essa a sua atitude (da sombra).

Se o outro reparte alegria e é solidário, a inveja que se lhe encontra arquivada no inconsciente acha meios de o definir como bajulador e pusilânime, pois, de sua parte, não conseguiria desempenhar as mesmas tarefas com naturalidade. A não maturidade afetiva isola o indivíduo na amargura e na autopunição.

Mascara e transfere para os outros, tudo o que lhe é impedimento, ou dificuldade, assumindo uma postura crítica impiedosa, puritanismo exagerado, desconsiderando sempre os comportamentos louváveis do próximo que lhe inspiram antipatia.

Age dessa forma porque a sua é uma consciência adormecida, não acostumada aos voos expressivos da fraternidade e da compreensão, que só se plenificará após harmonizar-se com o grupo em que vive.

Autoconscientizando-se da sua estrutura emocional pelo entendimento do dever, que significa amadurecer, fará o parto libertador do ego, retirando dele as suas mazelas, suas dificuldades, suas limitações, lapidando as crostas externas da mesma forma que ocorre com o diamante bruto que oculta o brilho das estrelas presentes no seu interior.

Não se trata de combater, mas de entender e  amar, porque, no processo antropológico, em certo período, o que hoje são sombras ajudou-o a vencer as condições hostis do meio ambiente, das expressões primárias da vida, e se transformou em um bem estruturado mecanismo de defesa.

Aprimorar, aperfeiçoar, com novas condutas que o aprimorem, significa respeitá-lo, enquanto se liberta das fixações perversas em relação a atualidade pela aceitação de outras condições próprias para o nível de consciência lúcida para o qual avança.

Conseguindo esse despertar de valores, a saída da sua individualidade para a convivência com a coletividade, é inevitável, onde mais se aprimorará, aprendendo a conquistar emoções superiores que o enriquecerão de alegria e de paz, deslumbrando-se entre as bênçãos da vida que adornam tudo, assimilando-as em vez de reclamando sempre, pela impossibilidade de percebê-las.

A sombra é fundamental na construção do ser, que a deve dirigir no caminho do self – (eu profundo, ser espiritual, ser imortal, Si mesmo, somatório de todas as vivencias e experiências) -  portador da luz da razão e do sentimento profundo de amor, decorrente da sua origem transpessoal de essência divina.

O ingrato, diante do seu atraso emocional, reclama de tudo, desde os fatores climatéricos aos fatores humanos de relacionamentos, desde os orgânicos aos emocionais, sempre com a postura da autojustificação como do mal-estar a que se agarra para fugir da realidade.

Nos níveis nobres da consciência de si e da cósmica, a gratidão enche-se de alegria, e os sentimentos não se limitam mais ao eu, ao meu, ampliando-se agora ao nós, a mim e você, a todos juntos.

A gratidão é a assinatura de Deus na Sua obra.

Quando se enraíza no sentimento humano conquista harmonia interna, liberação de conflitos, saúde emocional, por brilhar como estrela na imensidão sideral...

Aquele que se faz grato torna-se veículo do sublime autógrafo, analisando a vida e a natureza com a presença dEle.

A consciência responsável age sem disfarce, diluindo a contaminação de todos os miasmas de que se faz portador o inconsciente coletivo gerador de perturbações e instabilidade emocional, produtor de conflitos bélicos, de arrogância, de crimes seriais, de todo tipo de violência.

Quando o egoísta insensatamente aponta as tragédias do cotidiano, as aberrações     que devastam a sociedade, apenas enxerga o lado mal e negativo do mundo, está desenterrando os seus sentimentos inconscientes arquivados, vibrantes, sem ter a coragem de exterioriza-los, de dar-lhes  campo livre no consciente.

Quando alguém combate a guerra, a pedofilia, a hediondez que se alastram em toda parte, utilizando apenas palavras desacompanhadas dos valores positivos para os eliminar do mundo, conhece-os bem no íntimo e propõe a imagem do salvador, quando deveria impor a consciência o trabalho de diluição, despreocupando-se com o exterior, sem lhes dar vitalidade emocional.

Além das palavras são os atos que devem ser considerados como recursos de dignificação humana.

A paz de fora inicia-se no mais íntimo de cada criatura. A gratidão tambem. Ao invés do desejo de receber, mais importante é ser-lhe o doador espontâneo e curar-se de todos os desconfortos ou mazelas, proporcionando-se harmonia generalizada.

A vida sem gratidão é estéril e vazia de significado existencial.

Texto de Joanna de Ângelis, psicografado por Divaldo Pereira Franco no livro, Psicologia da gratidão. Trabalhado e editado por Adáuria Azevedo Farias. 26/08/2018.

domingo, 12 de agosto de 2018



GRAVITANDO EM TORNO DE DEUS
O SER MADURO PSICOLOGICAMENTE E A GRATIDÃO

Conforme o indivíduo vivencia o sentimento da alegria e da gratidão, curam-se os males que o afligem da imaturidade psicológica, libertando-o dos conflitos que deterioram o comportamento, permitindo-lhe assim aprofundar a perspicácia, a sabedoria, a compreensão da vida e da sua finalidade.

Tudo o que era desafio, agora é continente conquistado, se ampliando para o infinito porque descobriu e torna-se conquista interna.

Melindres e manifestações de criança maltratada foram superados, e o espaço é ocupado pela confiança em si mesmo e pelo respeito aos outros, pela consciência dos atos. Vencendo assim as síndromes de desconforto íntimo, permitindo a alegria espontânea de viver e de lutar.

A calma substitui a ansiedade motivo do desequilíbrio emocional, a bondade é natural, como uma luz que se irradia sem alarde, e o indivíduo torna-se um centro de atração de interesses das outras pessoas.

O ser imaturo psicologicamente não venceu a infância que a transferiu para a idade adulta cheio de conflitos não resolvidos que se manifestam no relacionamento,  escondendo assim a personalidade insegura e doentia.

A ambivalência no comportamento, desejar e não fazer, pensar e desistir, efeito imediato dessa imaturidade, expressa não saber agir corretamente até na  afetividade.

“Deverei dizer que amo? E se for incompreendido?” – constitui um dos pensamentos da conduta ambivalente ao ser imaturo, sempre retardando as atitudes psicológicas saudáveis, pelo medo da opinião alheia. Numa crise emocional, não hesita em dizer: “Eu detesto o mundo e não quero ver ninguém na minha frente!”

O processo de amadurecimento psicológico avança com a facilidade de expressar gratidão por tudo que ocorreu e o  que venha a suceder ao ser humano.

Ninguém é totalmente autossuficiente, só os narcisistas, que se acham especiais na criação, significando uma imperiosa necessidade de parceria, de acompanhamento, de dependência, porque é um ser gregário desde os primórdios da evolução. Mas tal parceria e dependência, não é de submissão mas de companheirismo, de trabalho de ajuda recíproca, de cooperação.

Duas crianças, uma de 7 outra de 8 anos, iam na direção da escola fundamental sem falarem uma só palavra, cada uma no seu mundo infantil, a mais velha vivia um conflito muito grande porque não conseguia comunicar-se com os  colegas, sendo discriminada pela sua origem humilde, pela cor da pele...

Pararam, antes de atravessarem a rua, porque o semáforo estava com o sinal vermelho. Quando mudou para verde, as duas avançaram, mas a sacola cheia de livros e de cadernos da criança mais velha abriu-se e alguns deles caíram, obrigando-o a abaixar-se raivoso e buscar reuni-los outra vez. Nesse momento, o menorzinho, vendo-o em apuros, aproximou-se, abaixou-se também e perguntou-lhe:

- Posso ajuda-lo? Eu gosto muito de você...

Os dois sorriram e foram conversando na direção da escola.
Passado um quarto de século, quando um cidadão afrodescendente atingiu o topo administrativo de uma grande empresa, foi elogiado, disse no discurso de agradecimento:
- Eu devo a minha vida a um garotinho de sete anos, que um dia me ajudou a guardar livros e cadernos que me haviam caído da sacola ao atravessar uma rua e disse que me queria bem... Naquele dia eu havia resolvido suicidar-me, mas o seu gesto inocente e jovial modificou totalmente a minha vida. A ele, pois, eu sempre agradeci haver sobrevivido, e agora agradeço novamente por haver chegado ao posto em que me encontro, e, por antecipação, por tudo mais de bom que me venha ou não a acontecer...

O sentido de parceria, de acompanhamento e de dependência no grupo social, não se refere aos conflitos e aos medos de crescimento, mas a uma necessidade de ajuda recíproca, de participação no grupo social, de vida em ação, de união de interesses por todos e, por consequência, pela sociedade, pelo ecossistema, pela alegria de viver.

Quando Confúcio falou, “Haja com bondade mas não espere gratidão”, demonstrava que os sentimentos nobres devem estar revestidos de renuncia, sem os interesses imediatistas da compensação, do aplauso, da administração dos outros.

A gratidão, por isso, tem caráter de amadurecimento psicológico, porque quem assim age descobriu que tudo que lhe ocorreu depende de muitos que o auxiliaram a chegar ao lugar em que chegaram.

Quanto custa o ar puro da natureza, a água dos córregos e das fontes, a beleza da paisagem, o clima saudável? Quando o alimento vem à mesa, quantas pessoas participaram no anonimato de toda essa cadeia mantenedora da vida? Fazer uma viagem feliz, quanto dependeu de pessoas e fatores que nem foram observados pelo automatismo da existência? Tudo, que ocorre em volta de nós e para nós dependeu de um ou outro indivíduo ou circunstancia que tornaram possível esse momento.

Quantos acidentes, decepções, doenças e mortes marcaram existências que se entregaram às descobertas, à colonização dos países, às transformações feitas para que se convertessem em comunidades felizes!? A todos esses anônimos, a gratidão deve ser oferecida com ternura e gentileza.

O amadurecimento psicológico que elimina a negatividade teimosa do ser humano desconfiado e inseguro, que sempre suspeita de que mesmo a amizade traz interesses subalternos daqueles que dão ou buscam a estima.

O hábito de esperar-se resposta ao ato gentil, de aguardar-se que o outro, o beneficiário, reconheça o que recebeu e retribua, é um grande obstáculo à gratidão madura. Essa é uma forma de narcisismo, quando se faz algo e se exige gratidão, ficando-se decepcionado pela ausência dessa resposta levando muitos ansiosos às atitudes infantis de que nunca mais farão mais nada por ninguém, pois não merecem.

O sentimento da gratidão deve estar sempre desacompanhado da expectativa de qualquer forma de retribuição, nem mesmo de um olhar ou de um sorriso, que expressariam reciprocidade. Se há, é melhor, porque o outro também se encontra em processo de amadurecimento psicológico e de contribuição  à sociedade. Mas é uma exceção e não uma lei natural e constante.

Todo ato de generosidade, por sua maneira de ser, dispensa gratulação e manifesta-se  naturalmente. O amor aos filhos, aos cônjuges, os deveres com eles e com os outros são da natureza íntima de cada um, que se satisfaz em agir de acordo com as regras do bem viver e não apenas do viver bem, cercado de coisas, de carinho, de compensações.

Essas atitudes são logo esquecidas, toda vez que se espera reconhecimento, vem como um aprisionamento, como aquelas pessoas que dizem que vivem para outras: filhos, parceiros, amigos,  e que se desencantam  quando eles buscam seguir o seu destino. A síndrome do ninho vazio em que se aprisionam por prazer e por imaturidade psicológica torna-os pacientes  amargurados levando-os ao desencanto por não receberem a compensação esperada em relação ao que fizeram por interesse, não pelo prazer de realiza-lo.

Isso também é comum no que se refere aos trabalhos enobrecedores que esperam aprovação, recompensa da sociedade. Pessoas  com alto nível de inteligência e de trabalho contribuem eficazmente em todos os setores do progresso social, com descobrimentos, com invenções, com realizações grandiosas... mas, quando não são reconhecidas ou premiadas, se revoltam ou mergulham no desanimo, na queixa ou na desistência de continuar, tornando-se amarguradas e infelizes. Elas não são pessoas más, como se percebe, mas imaturas psicologicamente, vivendo ainda o tempo dos elogios infantis, dos aplausos e dos comentários, dos quinze minutos de holofotes, mesmo que depois sofram o esquecimento, como é quase normal numa sociedade utilitarista como é a nossa. Embora disfarçado, encontra-se nesse caso o narcisismo, resultado de uma infância que não recebeu reconhecimento nem estímulos, nem entusiasmo, nem acolhimento. O conflito originado na imaturidade psicológica.

Os que assim agem, por mais que sejam bajulados, elogiados, aplaudidos, sempre tem sede de mais reconhecimento, dando lugar a um condicionamento que se poderia chamar,  vício ou dependência de gratidão.

Quando não se recebe gratidão, não quer dizer psicologicamente que a pessoa não é aceita, que é rejeitada. Pode ser resultado de outros fatores psicológicos, referentes às outras pessoas, às circunstancias, aos valores de cada cultura.

O ideal é viver-se com gratidão mesmo sem a receber, valorizando o lado claridade da vida,  suas bênçãos e todos os contributos existenciais que nunca esperam receber aplauso.


Jesus, único ser que não carregava o lado sombra, maior exemplo de maturidade psicológica, dedicou a sua vida à gratidão, pelo amor com que enriqueceu a Terra desde então, vivendo exclusivamente para o amor e o perdão, a misericórdia e a compaixão.

Recebeu, pelo contrário, por todo o bem que fez, pelas lições de sabedoria que legou à posteridade, a negação de um amigo, a traição de outro, que se arrependeram certamente, a perseguição gratuita dos narcisistas e imaturos, temerosos e egoístas, a infâmia, o abandono, a exposição à ralé arbitrária, as chibatadas, a crucificação... mas retornou em triunfo de imortalidade exaltando a vida e Deus em estado numinoso.

Texto de Joanna de Ângelis, psicografado por Divaldo Pereira Franco no livro, Psicologia da gratidão. Trabalhado e editado por Adáuria Azevedo Farias. 12/08/2018.

sábado, 4 de agosto de 2018


GRAVITANDO EM TORNO DE DEUS
O INCONSCIENTE COLETIVO E A GRATIDÃO

Ante algumas tomadas de decisões, é difícil o ser consciente escolher qual a melhor. Porque o inconsciente coletivo encontra-se sobrecarregado de medos, lembranças afligentes, impulsos não controlados toda herança do primarismo ancestral, mesclando as experiências gerais com as pessoais. Resultado da sombra (lado desconhecido do ser)presente em todas as criaturas.

Na alegria, na tristeza, na harmonia e no desconserto, os grupos sociais podem compartilha-las em razão do inconsciente coletivo, o que explica os acontecimentos dolosos ou felizes que ocorrem ao mesmo tempo em diferentes partes da Terra. Por causa disso é que, em qualquer período, a sombra coletiva emerge do inconsciente coletivo – transmitida que é individualmente de pais para filhos, ao mesmo tempo de um para outro grupo -, transformando-se em calamidade social. Os vícios sociais, como: fumar e beber, as extravagancias sexuais e o uso de drogas aditivas que invadem a sociedade, os modismos dos jogos de videogame, entre outros, contagiam as massas, como resultado do inconsciente coletivo, possibilitando à sombra participar do fenômeno. Ocorre de forma inconsciente e, por isso, manifesta-se automaticamente na sociedade, após surgir no indivíduo.  As sociedades são estruturadas por acontecimentos e métodos pedagógicos de conduta infantil, quando se aprende a fazer a diferença entre o que é bom e o que é mal, conforme a cultura e a ética de cada grupo. Se a questão da sombra fosse identificada desde a infância, quando se ensinaria a descobrir os impulsos que vem dela, fazendo o educando compreender a sua fragilidade, os erros, desculpando-se e corrigindo-se, esclarecendo que há sempre variações no comportamento, ora para o bem, ora para o mal, seriam mais fáceis as condutas favoráveis à sociedade e a tudo que a ela se lhe vincula.

A sombra ocorre no inconsciente coletivo pelo que se chamaria energias contrárias que caracterizam os terroristas, os criminosos mas também os bons cidadãos: Hitler e Churchill, Alarico e Santo Agostinho...Em realidade, a aversão e animosidade que se sustentam no exterior nascem no íntimo no qual se tornam aliados. Como se fosse preciso a presença de um opositor, um inimigo, para que se mostre a pessoa que se é. Nas lutas,  mais sangrentas ou perversas, nas perseguições sociais sutis ou públicas é que surgem os heróis, os santos, os mártires, por causa do lado sombrio que há em todos.

O inconsciente coletivo (onde contém toda herança espiritual da evolução da humanidade, nascida novamente na estrutura cerebral de cada indivíduo) , registrou todo o processo da evolução do ser, a partir de quando o córtex cerebral se desenvolveu abrindo assim espaço para as funções exteriores, dos conhecimentos abstratos, dos valores transcendentes como o amor e a misericórdia, o perdão e a caridade, a alegria e a compaixão desvelando o self. As energias contrárias favorecem o surgimento da sombra ( face escura do ser, portanto desconhecida, são pois as experiências não vivenciadas, as circunstancias ainda não conhecidas, que se apresentam como insucessos, os abusos os desgastes, a que se entregou tornando-a densa porque necessita de diluir-se através de outras atitudes compatíveis com as conquista da inteligência e do sentimento) que, em razão do seu lado oposto, esquece a gratidão, criando embaraços para vivenciá-la, causado pela prepotência que vem do primarismo na escala evolutiva.

Numa análise mais cuidadosa percebe-se que a evolução do ser humano é mais resultado da sua mente do que do seu cérebro físico, querendo dizer que o self lhe é preexistente, encontrava-se adormecido enquanto preparava os equipamentos para se desvelar, momento em que os impulsos éticos e as conquistas iluminativas transcendem a capacidade física.

A gratidão é uma experiência moral, não cerebral, do self, não do ego, pois o primeiro tem origem divina e o segundo é de natureza humana. Herdam-se os sentimentos – egóicos, geradores da sombra – como os sublimes fomentadores do self. Quando se odeia alguém, experimenta-se a sombra desconfiada de que o outro é que o odeia e quer prejudicá-lo. Que em mecanismo de defesa nasce, então, a animosidade. Quando se expressa o amor, o córtex proporciona bem-estar orgânico, ampliando as possibilidades de crescimento do self,  dando lugar a saúde.

Somente através do amor é que o sentimento da gratidão e da vida pode manifestar-se, e vivenciado por alguém vai influenciar as futuras gerações por desenhar-se ou insculpir-se no inconsciente coletivo, destruindo o império dominador da sombra.

As pessoas que ainda se encontram no comportamento sensorial, fisiológico, a medida que despertam o self – o ser espiritual, o ser imortal, o Eu profundo -, veem o mundo à sua volta de maneira completamente diferente ao que viam antes, dominado por luminosidade grandiosa, por belezas nunca vistas, por harmonia ainda não observada, pela brisa perfumada, alterando a realidade anterior da paisagem sombria, sem vitalidade, dominada por odores pútridos e por seres humanos que parecem animais estranhos... Isso só ocorrerá se for possível superar os limites da sombra no inconsciente coletivo desconhecido, gerador de conflitos,  como culpa e vergonha, julgamento, transferência, projeção, separação, através dos quais o self debate-se sem poder ou sem conseguir vivenciar a plenitude, indispensável à coragem para os enfrentamentos e à conscientização de que todos são frágeis e erram, não se apoiando nas bengalas do desculpismo e do acanhamento, pois o processo de evolução é feito de sucessos e de insucessos, não se permitindo os julgamentos hediondos e originados no complexo de inferioridade, desprendendo-se das paixões inferiores às quais se prende.

Logo depois, conscientizando-se da necessidade de iluminação, o paciente terá que se desprender dos julgamentos de si mesmo e dos outros, dedicando-se a (re) construção dos equipamentos emocionais, deixando de refugiar-se na projeção da sua imagem nos outros, dando a cada um o direito de ser feliz ou desventurado conforme escolha, sem inveja nem ciúme, sem mágoa nem amargura.

Nesse momento, novas forças morais são conquistadas, e o paciente entra em contato com os sentimentos superiores, não separando, mas descobrindo a própria arrogância mascarada de humildade, a defensiva persistente para estar agora a favor e não  contra, bem idealizando as demais criaturas com as imagens fortes da bondade divina.

Logo que se vai diluindo a sombra, os preconceitos, os ciúmes, e as inseguranças abrem espaço para a ternura, a amizade, surgindo os pródromos da gratidão a tudo e a todos, até àquilo que, desagradável, é necessário no campo da experimentação das emoções.

 O hábito da projeção leva à paranoia que se disfarça, escondendo a ansiedade asfixiante e profundamente enraizada no comportamento psicológico.

Não basta querer o bem, é preciso viver o bem, aspirar pela paz, abrindo-se à paz, porque toda vez quando se combate a guerra, o mal, na realidade se é (interiormente) o que se está apontando em posição contrária, projetando a sombra, o negativo oculto do comportamento.

A projeção e a separação normalmente se dão as mãos e agridem aos outros, quando se narram acontecimentos constrangedores que eles praticaram, dando a impressão de se estar aconselhando, orientando. Inconscientemente ou não, está-se realmente é censurando, embaraçando a pessoa, desforçando-se da sua superioridade, que lhe é atribuída.

Tem aí a inveja papel importante, por ser filha da sombra ou sua promotora também, sente-se um prazer especial de expor o outro, à censura, apontando suas falhas.

Um dos primeiros passos para desmascarar-se a sombra é reconhecer, a negatividade  que há em si, aceitando a presença mas não conivindo com a sua existência.

Evitar a queixa que busca conquistar compaixão e solidariedade, utilizando-a como autojustificativa para continuar na conduta doentia, discernindo em torno dos valores possuídos com critério, é passo decisivo na construção básica da gratidão.
A gratidão que se deve ter à vida, em que todos nos encontramos.

O uso da compaixão é um recurso importante para dar direito aos outros de se comportarem conforme estão, como uma forma gratulatória de encarar a vida, porque o ato de a vivenciar em relação ao próximo também é uma maneira de beneficiar-se.

A consciência ou superego está sempre vigilante e é preciso ouvir-lhe a argumentação especialmente quando alguém se envolve em autojustificação. Ela tem o valor independente de diluir as máscaras e mostrar o erro em que se encontra, como também avaliar com acerto o procedimento. Sem compaixão, empurrando o ser para possuí-la em relação ao outro, permitindo sintonia com a misericórdia, com Deus.

Quando se exerce, a compaixão, a consciência aprova e compadece-se também, autossuperando-se e vitalizando self.

Na (re) construção dos equipamentos emocionais devem-se abrir canais para a presença da gratidão, exercitando-a sem cessar e não deixando que o inconsciente coletivo crie obstáculos, tornando-a  impossível.  
Texto de Joanna de Ângelis, psicografado por Divaldo Pereira Franco no livro, Psicologia da gratidão. Trabalhado e editado por Adáuria Azevedo Farias. 04/08/2018.