quarta-feira, 2 de outubro de 2013


 

CAIR EM SI
Cap. 5 do livro, EM BUSCA DA VERDADE
Divaldo Franco/Joanna de Angelis
As perdas tem uma trajetória na psique humana, desde os primórdios da evolução, quando ocorreu a saída do paraíso, a perda da inocência, ante os gravames das castrações culturais, religiosas, sociais, que geraram o mascaramento da necessidade substituída pela dissimulação, dando surgimento aos primeiros sinais de insegurança e aos registros de criança ferida no indivíduo.
Embora reconhecendo-se problematizado, esse indivíduo ainda hoje foge da responsabilidade do enfrentamento das culpas e desafios, normalmente transferindo-a para os demais, que são injustamente considerados como inimigos  perturbadores da sua paz íntima. Poderá, realmente, alguém de fora, criar embaraços ou sombrear a luz interna, a paz de cada qual, trabalhada na consciência tranquila em torno dos deveres retamente cumpridos? É claro, que não. No entanto, torna-se mais fácil ao ego transferir responsabilidades do que enfrentar a sombra devastadora a que se acostumou. O estágio da  doença prolongada gera uma aceitação de circunstância com certa dose de alegria, porque o doente não trabalha, mas dá trabalho, não se preocupa  com as ocorrências deixando que outrem as assuma, permanecendo num estado infantil de dependência, de lagrimas e de queixas, com que se compraz, enquanto se aflige...
A conscientização da culpa, assim como das necessidades de serem saudáveis, são sempre retardadas pelos Espíritos enfermos, que se refugiam nas decantadas fraquezas de que se dizem possuídos, atribuindo aos lutadores incansáveis forças que não lhes foram concedidas, como se houvesse privilégio entre as criaturas, aquelas que desfrutam benesses imerecidas e aqueloutras que são as castigadas pela vida, portanto, dignas de piedade e de amparo.
O desenvolvimento psicológico é contínuo, exceto quando impedido pela acomodação do ego dominador.
O Evangelho de Jesus, particularmente as parábolas narradas por Lucas, são, indubitavelmente, um tratado valioso de psicoterapias espirituais, morais, sociais e libertadoras para todos os indivíduos que as examinem em todos os tempos depois de escritas...
Falando através de parábolas, Jesus utilizou-se dos mais valiosos recursos orais que existem, porque os arquétipos vivenciados encontram-se em todos os indivíduos, ocultos ou não, e que, através dos diferentes períodos, sempre se expressam com caráter de atualidade.
Na parábola do pai misericordioso, quando o filho ingrato experimenta miséria econômica, moral, social pelo desprezo de que é objeto, após reflexionar muito na situação de penúria em que se encontrava, caindo em si resolveu buscar o pai que atendia aos seus empregados com nobreza, optando por não mais ser aceito, nem sequer como filho, porque não o merecia, mas como servo... E assim o fez, sendo recebido, não como empregado, mas como filho de retorno ao coração afetuoso.
Foi necessário cair em si...
Cair em si foi o triste despertar de Judas ante a injunção da culpa, desertando mais lamentavelmente através do suicídio, num surto perverso de depressão...
Cair em si foi o momento em que Pedro conscientizou-se após as negações, redescobrindo o Amigo traído e abandonado, oferecendo, então, a existência inteira, a partir dali, consciente e lúcido para recuperar-se...
Cair em si foi a oportunidade que se permitiu a mulher equivocada de Magdala, que se transformou interiormente, a ponto de haver sido escolhida para ser a mensageira da ressurreição...
Cair em si deve constituir-se o passo inicial a ser dado por todos os doentes da alma, por aqueles que se comprazem nos conflitos e que se recusam as bênçãos da saúde real, que estorcegam no sofrimento optando pela piedade e comiseração ao invés do apoio do amor e da fraternidade...
A conquista da autoconsciência tem inicio nesse cair em si, graças ao sofrimento experimentado que é o desencadeador da necessidade de encontro, de autoencontro profundo. O sofrimento consciente que faculta reflexões, convida, normalmente, à mudança de comportamento, porque expressa distonia na organização física, emocional ou psíquica que necessita de ajustamento. Essa experiência evolutiva conduz com segurança ao encontro com o Cristo interno, ajudando-o a ampliar as suas infinitas possibilidades de crescimento e de libertação.
Encarcerado no egoísmo e vitimado pelas paixões ancestrais, o homem de todos os tempos padece a injunção da ignorância dos males que o visitam, que nele mesmo se encontram, procurando mecanismo de evasão e justificativas irreais, para evitar-se o enfrentamento, a busca real e necessária do Si.
Uma pausa...  retomarei o texto na próxima postagem, fiquem atentos, vale a pena.

Postagem do dia 02/10/2013.

Nenhum comentário: