CAIR EM SI
Cap. 5 do livro, EM BUSCA DA VERDADE
Divaldo Franco/Joanna de
Angelis
As perdas tem uma trajetória na psique humana, desde os primórdios da
evolução, quando ocorreu a saída do
paraíso, a perda da inocência, ante os gravames das castrações culturais,
religiosas, sociais, que geraram o mascaramento da necessidade substituída pela
dissimulação, dando surgimento aos primeiros sinais de insegurança e aos
registros de criança ferida no
indivíduo.
Embora reconhecendo-se
problematizado, esse indivíduo ainda hoje foge da responsabilidade do
enfrentamento das culpas e desafios, normalmente transferindo-a para os demais,
que são injustamente considerados como inimigos
perturbadores da sua paz íntima. Poderá, realmente, alguém de fora,
criar embaraços ou sombrear a luz interna, a paz de cada qual, trabalhada na
consciência tranquila em torno dos deveres retamente cumpridos? É claro, que
não. No entanto, torna-se mais fácil ao ego
transferir responsabilidades do que enfrentar a sombra devastadora a que se acostumou. O estágio da doença prolongada gera uma aceitação de
circunstância com certa dose de alegria, porque o doente não trabalha, mas dá trabalho, não se preocupa com as ocorrências deixando que outrem as
assuma, permanecendo num estado infantil de dependência, de lagrimas e de
queixas, com que se compraz, enquanto se aflige...
A conscientização da culpa,
assim como das necessidades de serem saudáveis, são sempre retardadas pelos
Espíritos enfermos, que se refugiam nas decantadas fraquezas de que se dizem
possuídos, atribuindo aos lutadores incansáveis forças que não lhes foram
concedidas, como se houvesse privilégio entre as criaturas, aquelas que
desfrutam benesses imerecidas e aqueloutras que são as castigadas pela vida,
portanto, dignas de piedade e de amparo.
O desenvolvimento
psicológico é contínuo, exceto quando impedido pela acomodação do ego dominador.
O Evangelho de Jesus,
particularmente as parábolas narradas por Lucas, são, indubitavelmente, um
tratado valioso de psicoterapias espirituais, morais, sociais e libertadoras
para todos os indivíduos que as examinem em todos os tempos depois de
escritas...
Falando através de
parábolas, Jesus utilizou-se dos mais valiosos recursos orais que existem,
porque os arquétipos vivenciados encontram-se em todos os indivíduos, ocultos
ou não, e que, através dos diferentes períodos, sempre se expressam com caráter
de atualidade.
Na parábola do pai misericordioso, quando o filho
ingrato experimenta miséria econômica, moral, social pelo desprezo de que é
objeto, após reflexionar muito na situação de penúria em que se encontrava, caindo em si resolveu buscar o pai que
atendia aos seus empregados com nobreza, optando por não mais ser aceito, nem
sequer como filho, porque não o merecia, mas como servo... E assim o fez, sendo
recebido, não como empregado, mas como filho de retorno ao coração afetuoso.
Foi necessário cair em si...
Cair
em si foi o triste despertar de Judas ante a injunção da culpa,
desertando mais lamentavelmente através do suicídio, num surto perverso de
depressão...
Cair
em si foi o momento em que Pedro conscientizou-se após as
negações, redescobrindo o Amigo traído e abandonado, oferecendo, então, a existência
inteira, a partir dali, consciente e lúcido para recuperar-se...
Cair
em si foi a oportunidade que se permitiu a mulher equivocada de
Magdala, que se transformou interiormente, a ponto de haver sido escolhida para
ser a mensageira da ressurreição...
Cair
em si deve constituir-se o passo inicial a ser dado por todos
os doentes da alma, por aqueles que se comprazem nos conflitos e que se recusam
as bênçãos da saúde real, que estorcegam no sofrimento optando pela piedade e
comiseração ao invés do apoio do amor e da fraternidade...
A conquista da autoconsciência
tem inicio nesse cair em si, graças
ao sofrimento experimentado que é o desencadeador da necessidade de encontro, de autoencontro profundo. O sofrimento
consciente que faculta reflexões, convida, normalmente, à mudança de
comportamento, porque expressa distonia na organização física, emocional ou psíquica
que necessita de ajustamento. Essa experiência evolutiva conduz com segurança
ao encontro com o Cristo interno,
ajudando-o a ampliar as suas infinitas possibilidades de crescimento e de
libertação.
Encarcerado no egoísmo e
vitimado pelas paixões ancestrais, o homem de todos os tempos padece a injunção
da ignorância dos males que o visitam, que nele mesmo se encontram, procurando
mecanismo de evasão e justificativas irreais, para evitar-se o enfrentamento, a
busca real e necessária do Si.
Uma pausa... retomarei o texto na próxima postagem, fiquem
atentos, vale a pena.
Postagem do dia 02/10/2013.
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