GRAVITANDO
EM TORNO DE DEUS
O INCONSCIENTE COLETIVO E A GRATIDÃO
Diante de determinadas decisões, o ser consciente tem grande
dificuldade em escolher a que seria a mais correta. Isso porque o inconsciente
coletivo encontra-se sobrecarregado de medos, recordações afligentes, impulsos
não controlados, toda a herança do primarismo ancestral, mesclando as
experiências gerais e as pessoais. Sendo resultado da sombra que há na natureza de
todas as criaturas.
Nas experiência da alegria como da tristeza, da harmonia como do
desconcerto, os grupos sociais podem compartilhá-las em razão do inconsciente
coletivo, o que explica ocorrências funestas ou ditosas que sucedem
simultaneamente em diferentes partes da Terra. É graças a esse comportamento
que, em qualquer período, a sombra coletiva emerge do inconsciente coletivo-
transmitida individualmente de pais para filhos, concomitantemente de um para
outro grupo -, transformando-se em
calamidade social. Os vícios sociais, por exemplo: fumar e beber, as
extravagancias sexuais e o uso de drogas aditivas que invadem a sociedade, os
jogos de videogame que se converteram
em modismos, dentre outros, tomam conta das massas de forma contagiante, como
resultado do inconsciente coletivo, o que proporciona à sombra uma oportunidade
de participar do fenômeno. Sem dúvida ocorre de forma inconsciente e, por essa
razão, manifesta-se automaticamente na sociedade, após irromper no indivíduo.
As sociedades são estruturadas por acontecimentos e métodos pedagógicos de
conduta infantil, quando se aprende a discernir o que é bom do que é mal, de
acordo com a cultura e a ética de cada grupo. Fosse a questão da sombra
identificada desde a infância, quando se ensinaria a descobrir os impulsos que
dela procedem, facultando ao educando a compreensão da própria fragilidade, dos
erros, desculpando-se e corrigindo-se, esclarecendo-se que há sempre variações
no comportamento, ora para o bem, ora para o mal, ficariam mais fáceis as
condutas favoráveis as sociedades e a tudo quanto se lhe vincula.
A sombra ocorre no inconsciente coletivo pelo que se pode
denominar como energias contrárias que caracterizam os terroristas, os
criminosos em geral assim como também os bons cidadãos: Hitler e Churchill,
Alarico e Santo Agostinho... Em realidade, a aversão e animosidade que se
sustentam no exterior procedem do íntimo no qual se fazem aliados. É como se
fosse necessário a existência de um opositor, um inimigo, para que se revele a
pessoa que se é. Nas lutas, as mais sangrentas ou mais perversas, nas
perseguições sociais sutis ou públicas é que aparecem os heróis, os santos, os
mártires, em razão do lado sombrio que existe em todos.
O inconsciente coletivo registrou todo o processo da evolução do
ser, desde quando o córtex cerebral se desenvolveu possibilitando o surgimento
das funções exteriores, dos conhecimentos abstratos, dos valores transcendentes
como o amor e a misericórdia, o perdão e a caridade, a alegria e a compaixão
desvelando o self. As energias
contrárias fomentaram o surgimento da sombra que, em razão do seu lado oposto,
olvida a gratidão, criando embaraços para vivenciá-la, em razão da prepotência
ancestral que vem do primarismo na escala evolutiva.
Numa analise mais cuidadosa pode-se constatar que a evolução do
ser humano é mais da sua mente do que do seu cérebro físico, o que quer dizer
que o self lhe é preexistente, encontrando-se em adormecimento enquanto
preparava os equipamentos para se desvelar, o que ainda ocorre na conquista da
individuação, em que os impulsos éticos e as conquistas iluminativas
transcendem a capacidade física.
A gratidão é uma experiência moral, não cerebral, do self, não do ego, pois o primeiro tem
origem divina e o segundo de natureza humana. Herdam-se os sentimentos –
egoicos, geradores da sombra – como os sublimes fomentadores do self. Quando se odeia alguém, experimenta-se
a sombra desconfiada de que o outro é que o odeia e quer prejudica-lo. Em
mecanismo de defesa nascendo aí, a animosidade. Quando se expressa o amor, o
córtex traz bem-estar orgânico, ampliando as possibilidades de crescimento do self, dando lugar à saúde.
Somente através do amor é que o sentimento da gratidão e da vida
pode manifestar-se, e vivenciado por
alguém vai influenciar as futuras gerações por insculpir-se no inconsciente
coletivo, destruindo o império dominador da sombra.
As pessoas que ainda vivenciam o comportamento sensorial,
fisiológico, à medida que despertam o self,
veem o mundo à sua volta de maneira completamente oposta ao que notavam,
dominado por luminosidade grandiosa, por belezas ainda não vistas, por harmonia
antes não observada, pela brisa perfumada, alterando a realidade anterior da
paisagem sombria, sem vitalidade, dominada por odores pútridos e por seres
humanos que pareciam animais estranhos... Isso somente ocorrerá se for possível
superar os limites da sombra no inconsciente coletivo desconhecido, gerador de
conflitos diversos, como culpa, vergonha,
julgamento, transferência, projeção, separação, nos quais o self
debate-se sem poder viver a plenitude. É indispensável a coragem para os
enfrentamentos e a conscientização de que todos são débeis e erram, não se sustentando
nas bengalas do desculpismo e do acanhamento, pois o processo de evolução é
feito de sucessos e de insucessos, não se permitindo julgamentos perversos vindos
do complexo de inferioridade, desprendendo-se das paixões inferiores às quais se
aferra. Logo depois, conscientizando-se que é preciso a iluminação, o paciente vai
ter de se soltar dos julgamentos de si mesmo e dos outros, começando no
trabalho de (re) construção dos equipamentos emocionais, deixando de esconder-se
na projeção da sua imagem nos outros, dando a cada um o direito de ser feliz ou
infeliz de acordo com sua escolha, sem inveja nem ciúme, sem mágoa nem
amargura. Nesse momento, são somadas novas forças morais, e o paciente entra em
contato com os sentimentos superiores, não separando, mas descobrindo a própria
arrogância mascarada de humildade, a defensiva persistente para estar a favor e
não armado contra, bem idealizando as outras criaturas com as imagens fortes da
bondade divina. Logo se vai diluindo a sombra, e os preconceitos, os ciúmes, as
inseguranças cedem lugar à ternura, à amizade, surgindo os pródromos da
gratidão a tudo e a todos, até mesmo àquilo que, desagradável, é necessário no campo
experimental das emoções.
O hábito da projeção leva à paranoia que se disfarça, escondendo a
ansiedade asfixiante e enraizada no
comportamento psicológico.
Não é bastante querer o bem, é preciso vive-lo, aspirar pela paz,
abrindo-se à paz, porque toda vez quando se combate a guerra, o mal, em
realidade se é (interiormente) o que se está apontando na situação oposta,
projetando a sombra, o negativo oculto no comportamento.
É comum a projeção e a separação se unirem e agredirem os outros,
quando se narram acontecimentos constrangedores que eles praticaram, passando a
ideia de se estar aconselhando, orientando. Na realidade inconscientemente ou
não se está é censurando, embaraçando a pessoa, vingando da sua superioridade,
aquela que lhe é atribuída.
Nessa conduta, a inveja tem papel importante, porque filha da
sombra ou sua promotora também, sente prazer em expor o outro, e em apontá-lo à
censura dos demais.
Reconhecer, o negativo que existe em si é um dos primeiros passos
para desmascarar-se a sombra, aceitando sua presença mas não conivindo com a
sua existência.
Evitar a queixa que busca ganhar compaixão e solidariedade, como
autojustificativa para continuar na conduta morbosa, compreendendo os valores
possuídos com critério, é passo decisivo na construção básica da gratidão. A
gratidão que se deve ter à vida, onde todos se encontram situados.
Um dos recursos para dar direito aos outros de se comportarem como
estão é a compaixão, que é uma maneira gratulatória de ver a vida, porque o ato
de vivenciar a compaixão em relação ao próximo é também maneira de
beneficiar-se. A consciência ou superego está sempre vigilante e é preciso
ouvir seu argumento, especialmente quando alguém se envolve em
autojustificação. Ela tem sempre o valor independente de diluir as máscaras e
mostrar o erro em que se esteja, também avaliar com acerto o procedimento. É
destituída de compaixão, empurrando o ser para possuí-la em relação ao outro,
facultando sintonia com a misericórdia, com Deus. Quando se pratica, a
compaixão, a consciência concorda e compadece-se também, autosuperando-se e
vitalizando o self ou o Si mesmo, o ser
espiritual.
Na (re) construção das nossas emoções precisamos abrir espaços
para a gratidão, exercitando-a de forma constante sem permitir que o
inconsciente coletivo crie obstáculos, tornando-a impossível.
Texto de Joanna de Ângelis, psicografado por Divaldo Pereira
Franco no livro, Psicologia da gratidão. Trabalhado e editado por Adáuria
Azevedo Farias. 30/09/2018.