AS
CONQUISTAS EXTERNAS
Texto
do cap.6, O SER HUMANO EM CRISE EXISTENCIAL,
no livro EM BUSCA DA VERDADE
Escrito
por Divaldo Franco/Joanna de Ângelis
O
processo de evolução antropológica tem sido um extraordinário desafio da vida, produzindo
mudanças nas formas e funções orgânicas, facultando o desenvolvimento das
faculdades mentais até o momento em que alcançou a formidanda área da inteligência
e dos sentimentos. Não é por outro motivo que o instinto, na sua inteireza, é
já uma forma de inteligência embrionária, por criar os condicionamentos que,
mais tarde, a razão irá ampliar até proporcionar a compreensão dos conceitos
sutis e das abstrações ...
Os
impositivos para a sobrevivência desenvolveram os instintos agressivos que
predominaram no ser humano por milênios e, quando ocorreu a conquista dos pródromos
da razão e o seu estabelecimento no cerne do Espírito, aquelas heranças
prosseguiram com forte domínio no comportamento. A libertação lenta do
primarismo e a aspiração do belo e do nobre, o deotropismo se vêm impondo, de forma que a consciência hoje pode
administrar os impulsos violentos, orientando-os para as ações de edificações,
sem traumas nem conflitos.
Nada
obstante, o individualismo, esse filho dileto da conquista do materialismo, que
se rebelou contra as imposições absurdas do religiosismo exterior, sem
significados internos, expressa-se, na atualidade, como forma de uma incompleta
autorrealização, impulsionando o individuo a ter, a destacar-se, a obter o que
deseja de qualquer maneira, tornando-se consumista insaciável e inquieto.
Em
face desse instalado pós-modernismo, à ciência atribui-se valores e
significados quase divinos, parecendo incorruptível e insuperável, ao tempo em
que as referencias pessoais nos relacionamentos que não se aprofundam,
mantendo-se sempre na superficialidade, tornam as afeições descartáveis, como
tudo quanto se compra na sede voraz de possuir.
Os
afetos fazem-se ligeiros e amedrontados, oportunistas e descomprometidos, com
medo, cada qual, de ser dominado pelo outro, evitando submeter-se, o que se
caracteriza como pequenez, falta de personalidade, risco de perda, quando se estabelece
a dependência...
A
tremenda confusão entre afetividade e interesse sexual, entre amor e
compensações sentimentais, é responsável pelo desinteresse da convivência fraternal
saudável, destituída de interesses subalternos, deixando-se a sombra dominar todos os espaços do ego , ao tempo em que não se abrem as
possibilidades psicológicas do Self para
a realidade.
As
artes, que sempre tem expressado o estagio evolutivo, politico, comportamental
da sociedade, nestes dias conturbados, são agressivas e destituídas, em muitas
áreas, de propostas elevadas de beleza, expressando apenas os conflitos, as
aspirações doentias, a revolta e os desânimos dos seus portadores. A música, por
exemplo, descendo do pedestal das musas, enveredou pela contracultura, pelos
desvãos da ironia, da perversão moral, do deboche, da agressividade, do duplo
sentido com destaque para o pejorativo, como se o ser humano devesse sempre
reagir, mesmo quando pode agir, se deixasse tombar no vale do desespero, quando
poderia aspirar pela alegria real de viver, modificando o status quo e contribuindo para um mundo melhor, onde é possível a
vida expressar-se em harmonia e grandeza.
Impossibilitado
de conduzir os povos, por se haverem perdido nas malhas da burocracia e nos
interesses partidários, os governantes da Terra aturdidos, demonstram não saber
o que fazer nem como realizá-lo. Permitem a desorientação das massas, a sua
revolta contínua, por esquecimento das responsabilidades não cumpridas e que
foram apresentadas nos seus programas eleitoreiros enganando o povo
desorientado.
Surgem,
então, revoltas, revoluções, amolentamento do caráter e perda da moral, com reações
em cadeia, cada vez mais violentas e ameaçadoras, porque os limites da ordem e
do respeito foram superados pela não fronteira da rebeldia.
Os
esportes, que sempre constituíram oportunidades excelentes para catarses
coletivas, competições saudáveis, alegrias e entusiasmo coletivo, transformaram-se
em fontes mafiosas de domínio e de conquistas financeiras, construindo deuses
frágeis que logo tombam do pedestal, tornando-se campo de batalha pelas
torcidas ferozes que digladiam com frequência em sucessivos espetáculos deprimentes
que culminam com a morte de alguns dos seus fanáticos...
O
desrespeito pelos valores internos do ser humano propõe a significação das suas
conquistas exteriores, tornando-o avaro e pretensioso.
A
falta de concentração das pessoas nas questões importantes do ser interior tem
contribuído para a futilidade em triunfo e o desconhecimento da própria
realidade, supondo ser a existência esse enganoso passeio fantástico pelo país
da pressa dourada, em que tudo é de efêmera duração, impedindo a reflexão e o
encontro com a consciência, com o Si-mesmo. Essa sombra teimosa consegue
separá-las do eu divino que existe no
íntimo e de que se constitui, sendo necessário transmudar esse material inferior
num processo alquímico emocional, para realmente encontrar o significado existencial.
Ter
em mente a presença da sombra, a fim
de vencê-la, torna-se uma necessidade psicológica inadiável, como sucede
nos contos de fadas, nos mitos
ancestrais, facultando a liberação do ser oculto, misteriosamente transformado
pela magia da ignorância (A bela e a fera, O príncipe sapo, Branca de neve, A
bela adormecida etc.)
Com
essa consciência, fica muito claro que não adiantam as lutas externas, os
combates inglórios contra os outros, a ânsia de superar os competidores, o afã
de ultrapassar os demais, por insegurança pessoal, facultando-se encontrar e
viver-se o sentido da vida. Ninguém pode viver de maneira saudável sem o culto
interno da integração da fé religiosa com a razão numa harmonia estimuladora ao
prosseguimento dos embates inevitáveis do dia-a-dia, haurindo confiança nos
momentos difíceis e renovando a coragem ante a ameaça do desanimo. Esse sentido
da vida não pode ser desenhado pelos hábitos externos, mas construído de
maneira subjetiva, idealista, interior, mediante o enriquecimento das aspirações
que engrandecem a existência. É impossível, de maneira definitiva, viver-se sem
o sentimento dos conceitos eternos, daqueles que dão dignidade à criatura
humana, proporcionando-lhe ética e moralidade para ser fiel aos objetivos
existenciais.
Com
essa percepção, descobre-se que os conflitos, as aflições em torno das posses e
o medo de perde-las são fenômenos pessoais interiores da própria insegurança,
levando a transtornos de comportamento e a distúrbios orgânicos repetitivos.
Aqui
interrompo a transcrição do texto, porém retomarei na próxima postagem.
Postado
dia 16/10/2013
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