quarta-feira, 16 de outubro de 2013


 

AS CONQUISTAS EXTERNAS

Texto do cap.6, O SER HUMANO EM CRISE EXISTENCIAL,

 no livro EM BUSCA DA VERDADE

Escrito por Divaldo Franco/Joanna de Ângelis
 

O processo de evolução antropológica tem sido um extraordinário desafio da vida, produzindo mudanças nas formas e funções orgânicas, facultando o desenvolvimento das faculdades mentais até o momento em que alcançou a formidanda área da inteligência e dos sentimentos. Não é por outro motivo que o instinto, na sua inteireza, é já uma forma de inteligência embrionária, por criar os condicionamentos que, mais tarde, a razão irá ampliar até proporcionar a compreensão dos conceitos sutis e das abstrações ... 

Os impositivos para a sobrevivência desenvolveram os instintos agressivos que predominaram no ser humano por milênios e, quando ocorreu a conquista dos pródromos da razão e o seu estabelecimento no cerne do Espírito, aquelas heranças prosseguiram com forte domínio no comportamento. A libertação lenta do primarismo e a aspiração do belo e do nobre, o deotropismo se vêm impondo, de forma que a consciência hoje pode administrar os impulsos violentos, orientando-os para as ações de edificações, sem traumas nem conflitos.

Nada obstante, o individualismo, esse filho dileto da conquista do materialismo, que se rebelou contra as imposições absurdas do religiosismo exterior, sem significados internos, expressa-se, na atualidade, como forma de uma incompleta autorrealização, impulsionando o individuo a ter, a destacar-se, a obter o que deseja de qualquer maneira, tornando-se consumista insaciável e inquieto. 

Em face desse instalado pós-modernismo, à ciência atribui-se valores e significados quase divinos, parecendo incorruptível e insuperável, ao tempo em que as referencias pessoais nos relacionamentos que não se aprofundam, mantendo-se sempre na superficialidade, tornam as afeições descartáveis, como tudo quanto se compra na sede voraz de possuir. 

Os afetos fazem-se ligeiros e amedrontados, oportunistas e descomprometidos, com medo, cada qual, de ser dominado pelo outro, evitando submeter-se, o que se caracteriza como pequenez, falta de personalidade, risco de perda, quando se estabelece a dependência... 

A tremenda confusão entre afetividade e interesse sexual, entre amor e compensações sentimentais, é responsável pelo desinteresse da convivência fraternal saudável, destituída de interesses subalternos, deixando-se a sombra  dominar todos os espaços do ego , ao tempo em que não se abrem as possibilidades psicológicas do Self para a realidade. 

As artes, que sempre tem expressado o estagio evolutivo, politico, comportamental da sociedade, nestes dias conturbados, são agressivas e destituídas, em muitas áreas, de propostas elevadas de beleza, expressando apenas os conflitos, as aspirações doentias, a revolta e os desânimos dos seus portadores. A música, por exemplo, descendo do pedestal das musas, enveredou pela contracultura, pelos desvãos da ironia, da perversão moral, do deboche, da agressividade, do duplo sentido com destaque para o pejorativo, como se o ser humano devesse sempre reagir, mesmo quando pode agir, se deixasse tombar no vale do desespero, quando poderia aspirar pela alegria real de viver, modificando o status quo e contribuindo para um mundo melhor, onde é possível a vida expressar-se em harmonia e grandeza. 

Impossibilitado de conduzir os povos, por se haverem perdido nas malhas da burocracia e nos interesses partidários, os governantes da Terra aturdidos, demonstram não saber o que fazer nem como realizá-lo. Permitem a desorientação das massas, a sua revolta contínua, por esquecimento das responsabilidades não cumpridas e que foram apresentadas nos seus programas eleitoreiros enganando o povo desorientado. 

Surgem, então, revoltas, revoluções, amolentamento do caráter e perda da moral, com reações em cadeia, cada vez mais violentas e ameaçadoras, porque os limites da ordem e do respeito foram superados pela não fronteira da rebeldia. 

Os esportes, que sempre constituíram oportunidades excelentes para catarses coletivas, competições saudáveis, alegrias e entusiasmo coletivo, transformaram-se em fontes mafiosas de domínio e de conquistas financeiras, construindo deuses frágeis que logo tombam do pedestal, tornando-se campo de batalha pelas torcidas ferozes que digladiam com frequência em sucessivos espetáculos deprimentes que culminam com a morte de alguns dos seus fanáticos... 

O desrespeito pelos valores internos do ser humano propõe a significação das suas conquistas exteriores, tornando-o avaro e pretensioso. 

A falta de concentração das pessoas nas questões importantes do ser interior tem contribuído para a futilidade em triunfo e o desconhecimento da própria realidade, supondo ser a existência esse enganoso passeio fantástico pelo país da pressa dourada, em que tudo é de efêmera duração, impedindo a reflexão e o encontro com a consciência, com o Si-mesmo. Essa sombra teimosa consegue separá-las do eu divino que existe no íntimo e de que se constitui, sendo necessário transmudar esse material inferior num processo alquímico emocional, para realmente encontrar o significado existencial.  

Ter em mente a presença da sombra, a fim de vencê-la, torna-se uma necessidade psicológica inadiável, como sucede nos  contos de fadas, nos mitos ancestrais, facultando a liberação do ser oculto, misteriosamente transformado pela magia da ignorância (A bela e a fera, O príncipe sapo, Branca de neve, A bela adormecida etc.)  

Com essa consciência, fica muito claro que não adiantam as lutas externas, os combates inglórios contra os outros, a ânsia de superar os competidores, o afã de ultrapassar os demais, por insegurança pessoal, facultando-se encontrar e viver-se o sentido da vida. Ninguém pode viver de maneira saudável sem o culto interno da integração da fé religiosa com a razão numa harmonia estimuladora ao prosseguimento dos embates inevitáveis do dia-a-dia, haurindo confiança nos momentos difíceis e renovando a coragem ante a ameaça do desanimo. Esse sentido da vida não pode ser desenhado pelos hábitos externos, mas construído de maneira subjetiva, idealista, interior, mediante o enriquecimento das aspirações que engrandecem a existência. É impossível, de maneira definitiva, viver-se sem o sentimento dos conceitos eternos, daqueles que dão dignidade à criatura humana, proporcionando-lhe ética e moralidade para ser fiel aos objetivos existenciais. 

Com essa percepção, descobre-se que os conflitos, as aflições em torno das posses e o medo de perde-las são fenômenos pessoais interiores da própria insegurança, levando a transtornos de comportamento e a distúrbios orgânicos repetitivos. 

Aqui interrompo a transcrição do texto, porém retomarei na próxima postagem.

Postado dia 16/10/2013

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