quarta-feira, 21 de outubro de 2015

A GRATIDÃO COMO ROTEIRO DE VIDA
Passando por diferentes níveis de compreensão e de entendimento, conquistar a consciência é o grande desafio da vida. Que pode ser transformado no sentido, no significado que se deve buscar, proposto por Jung, substituindo a ilusão da felicidade passageira, fugidia, como se fosse uma delicada miragem que a realidade dilui ao contato direto quando está praticamente ao alcance...
Resultante dos estágios diferentes de consciência fisiológica (comer, dormir, reproduzir-se) ou psicológica (comer, dormir, reproduzir-se e também pensar e agir com discernimento e segurança ético-moral), o sentimento de gratidão também é a capacidade de compreender e sentir a importância da vida terrena.
Em algumas culturas modernas ainda há o conceito machista e primário de que a gratidão é um sentimento feminino, como emoção específica da mulher, não deve ser cultivada pelo homem.
Então, quando um homem expressa gratidão, dizem, estar em conflito de sexualidade predominando a anima no comportamento.
O homem, nessa teoria ultrapassada, caracteriza-se pela força, a brutalidade, vigor de sentimentos e quase total ausência das emoções superiores da ternura, da bondade, da abnegação, sendo o sacrifício mais um gesto estoico e másculo do que a superior entrega ao ideal, ao sentido de viver.
A natural manifestação da emoção cheia de amor é recalcada e desprezada, gerando culpa inconsciente por instalar o seu oposto, que é a ingratidão.
Numa linguagem poética, a flor e o fruto, o lenho e a sombra são a gratidão da planta à benção da vida.
A linfa generosa e refrescante é a gratidão da nascente reconhecida ao existir.
O grão que se permite triturar é a gratidão que nele se encontra para se transformar em pão e em dádiva de manutenção da vida.
Tudo na natureza de belo, nobre, fecundo e estético é a sua gratidão por participar do espetáculo da vida.
Porque pensa e sente, o ser humano é constituído pelas emoções que, na fase primária, são agressivo-defensivas, mas, conforme evolui, transformam-se em reconhecimento e retribuição. Não como uma devolução equivalente ao que se recebeu, ou como pagamento pelo que se lhe ofereceu, mas uma emanação de alegria, de reconforto, pelo  conseguido.
Todo crescimento pessoal cultural, moral ou espiritual deságua no sentimento de gratidão, da oferta, da participação no conjunto, tornando-se o indivíduo também útil e valioso.
A gratidão individual é uma nota harmônica  contribuindo para a sinfonia universal, ampliando-se e tornando-se um sentimento coletivo que promove o equilibro social e espiritual da humanidade.
É correto achar-se que a gratidão é instrumento de afeição, mas seu significado é bem maior deve transformar-se numa forma de viver-se, de entregar-se ao processo de crescimento interior, de realização do progresso.
Querer a gratidão como flor espontânea que surge em alguns momentos e logo murcha, não basta.
Ela deve ser treinada, exercitada como forma de comportamento externando-se em todas as situações que trazem alegria e satisfação.
Os portadores de transtornos de conduta, os psicóticos e todos os que sofrem de psicopatologias tornam-se ingratos, perdendo o contato com a realidade dos sentimentos e voltam ao primarismo egoísta e soberbo das atitudes negativas. As doenças desse tipo resultam de problemas nos neurocomunicadores, apresentando carência de serotonina, de noradrenalina, de dopamina, amortecendo-lhes as emoções superiores e castrando as comunicações da afetividade. O que, está atrelado ao estágio evolutivo do paciente, às suas construções mentais quando esteve saudável, aos mecanismos de ansiedade e de desconfiança, de fácil irritabilidade e enfado.
O exercício, da afeição que se gratula e se expressa de forma gentil, enriquece a emotividade superior, empobrece o egoísmo e desenvolve o self que se libera de algumas das imposições do ego, facilitando a comunicação no eixo entre ambos...
Muitas vezes, o indivíduo não sente gratidão, mas sua origem se encontra numa: infância infeliz, família turbulenta e difícil, relacionamentos malsucedidos, solidão, complexo de inferioridade ou de superioridade que lhe embruteceram os sentimentos, desenvolvendo-lhe uma  autodefesa.
O que não deve ser motivo de preocupação.  Já constatar que não sente gratidão é uma forma de compreendê-la, de percebê-la em manifestação inicial. Conforme as emoções se expandem e o interrelacionamento pessoal amplia o convívio com outras pessoas, surgem sinais do bem-viver, da comunhão fraternal, do desinteresse imediatista em oposição às condutas doentias, e surge o reconhecimento de amor e de ternura à vida e a tudo que existe.
Como ninguém é autossuficiente,  sem vinculo com o outro, sem precisar da ajuda de outras pessoas e da sociedade em geral, não se pode evitar que a busca de companhia, o descobrimento dos valores que há nos outros, a grandeza moral de que muitos dão mostras excelentes despertem o sentimento da gratidão como retribuição mínima ao contexto social em que se vive.
A psicoterapia da gratidão, preventiva aos males e curadora de conflitos, está em todas as obras importantes da humanidade, nas filosóficas, nas religiosas, nos comportamentos dos grandes construtores da sociedade, mártires santos, pensadores, místicos, legisladores ou profetas... Porque ninguém abraça um ideal de engrandecimento pessoal e humanitário sem atrair outros pelo seu exemplo e sua bondade para a sua trajetória.
O sentimento da gratidão é de natureza psicológica e aciona o gatilho, se transformando em emoção e sensação orgânica.
Quando se sente a gratidão, cresce o desejo de servir mais e melhor contribuir para o grupo social em que se encontra e para a humanidade em geral.
Não se pode evitar, a presença da gratidão na intimidade das vidas humanas.  
Trabalho executado do livro, Psicologia da Gratidão, Psicografia de Divaldo Franco, pelo Espírito Joanna de Ângelis. Dia, 21/10/2015.