A GRATIDÃO COMO ROTEIRO DE
VIDA
Passando por diferentes
níveis de compreensão e de entendimento, conquistar
a consciência é o grande desafio da vida. Que pode ser transformado no
sentido, no significado que se deve buscar, proposto por Jung, substituindo a
ilusão da felicidade passageira, fugidia, como se fosse uma delicada miragem
que a realidade dilui ao contato direto quando está praticamente ao
alcance...
Resultante dos estágios diferentes
de consciência fisiológica (comer,
dormir, reproduzir-se) ou psicológica
(comer, dormir, reproduzir-se e também pensar
e agir com discernimento e segurança ético-moral), o sentimento de gratidão
também é a capacidade de compreender e sentir
a importância da vida terrena.
Em algumas culturas modernas
ainda há o conceito machista e
primário de que a gratidão é um sentimento feminino, como emoção específica
da mulher, não deve ser cultivada pelo homem.
Então,
quando um homem expressa gratidão, dizem, estar em conflito de sexualidade predominando
a anima no comportamento.
O homem, nessa teoria
ultrapassada, caracteriza-se pela força, a brutalidade, vigor de sentimentos e
quase total ausência das emoções superiores da ternura, da bondade, da
abnegação, sendo o sacrifício mais um gesto estoico e másculo do que a superior
entrega ao ideal, ao sentido de viver.
A natural manifestação da emoção cheia de amor é recalcada e desprezada, gerando culpa inconsciente por
instalar o seu oposto, que é a
ingratidão.
Numa linguagem poética, a
flor e o fruto, o lenho e a sombra são a
gratidão da planta à benção da vida.
A linfa generosa e
refrescante é a gratidão da nascente reconhecida
ao existir.
O grão que se permite
triturar é a gratidão que nele se
encontra para se transformar em pão e em dádiva de manutenção da vida.
Tudo na natureza de belo,
nobre, fecundo e estético é a sua gratidão por participar do espetáculo
da vida.
Porque pensa e sente, o ser
humano é constituído pelas emoções que, na fase primária, são
agressivo-defensivas, mas, conforme evolui, transformam-se em reconhecimento e
retribuição. Não como uma devolução equivalente ao que se recebeu, ou como pagamento
pelo que se lhe ofereceu, mas uma emanação de alegria, de reconforto, pelo conseguido.
Todo crescimento pessoal cultural,
moral ou espiritual deságua no
sentimento de gratidão, da oferta, da participação no conjunto, tornando-se
o indivíduo também útil e valioso.
A
gratidão individual é uma nota harmônica contribuindo para a sinfonia universal,
ampliando-se e tornando-se um sentimento coletivo que promove o equilibro
social e espiritual da humanidade.
É
correto achar-se que a gratidão é instrumento de afeição, mas
seu significado é bem maior deve transformar-se numa forma de viver-se, de
entregar-se ao processo de crescimento interior, de realização do progresso.
Querer
a gratidão como flor espontânea que surge em alguns momentos
e logo murcha, não basta.
Ela deve ser treinada, exercitada
como forma de comportamento externando-se em todas as situações que trazem
alegria e satisfação.
Os
portadores de transtornos de conduta, os psicóticos e todos os que sofrem de
psicopatologias tornam-se ingratos, perdendo o contato com a
realidade dos sentimentos e voltam ao primarismo egoísta e soberbo das atitudes
negativas. As doenças desse tipo resultam de problemas nos neurocomunicadores,
apresentando carência de serotonina, de noradrenalina, de dopamina,
amortecendo-lhes as emoções superiores e castrando as comunicações da
afetividade. O que, está atrelado ao estágio evolutivo do paciente, às suas
construções mentais quando esteve saudável, aos mecanismos de ansiedade e de
desconfiança, de fácil irritabilidade e enfado.
O
exercício, da afeição que se gratula e se expressa de forma gentil,
enriquece a emotividade superior, empobrece o egoísmo e desenvolve o self que se libera de algumas das imposições do ego, facilitando a
comunicação no eixo entre ambos...
Muitas
vezes, o indivíduo não sente gratidão, mas sua origem se encontra
numa: infância infeliz, família turbulenta e difícil, relacionamentos
malsucedidos, solidão, complexo de inferioridade ou de superioridade que lhe embruteceram
os sentimentos, desenvolvendo-lhe uma autodefesa.
O que não deve ser motivo de
preocupação. Já constatar que não sente
gratidão é uma forma de compreendê-la, de percebê-la em manifestação inicial. Conforme
as emoções se expandem e o interrelacionamento pessoal amplia o convívio com
outras pessoas, surgem sinais do bem-viver, da comunhão fraternal, do
desinteresse imediatista em oposição às condutas doentias, e surge o
reconhecimento de amor e de ternura à vida e a tudo que existe.
Como ninguém é autossuficiente,
sem vinculo com o outro, sem precisar da
ajuda de outras pessoas e da sociedade em geral, não se pode evitar que a busca
de companhia, o descobrimento dos valores que há nos outros, a grandeza moral
de que muitos dão mostras excelentes despertem
o sentimento da gratidão como retribuição mínima ao contexto social em que se
vive.
A
psicoterapia da gratidão, preventiva aos males e curadora de
conflitos, está em todas as obras importantes da humanidade, nas filosóficas,
nas religiosas, nos comportamentos dos grandes construtores da sociedade,
mártires santos, pensadores, místicos, legisladores ou profetas... Porque
ninguém abraça um ideal de engrandecimento pessoal e humanitário sem atrair
outros pelo seu exemplo e sua bondade para a sua trajetória.
O
sentimento da gratidão é de natureza psicológica e aciona o gatilho,
se transformando em emoção e sensação
orgânica.
Quando
se sente a gratidão, cresce o desejo de servir mais e melhor
contribuir para o grupo social em que se encontra e para a humanidade em geral.
Não se pode evitar, a presença da gratidão na intimidade
das vidas humanas.
Trabalho executado do livro,
Psicologia da Gratidão, Psicografia de Divaldo Franco, pelo Espírito Joanna de
Ângelis. Dia, 21/10/2015.