terça-feira, 15 de outubro de 2013


 

O SER HUMANO EM CRISE EXISTENCIAL

Do cap.6, no livro EM BUSCA DA VERDADE

Escrito por Divaldo Franco/Joanna de Ângelis

 

As incomparáveis conquistas nas diversas áreas do conhecimento e do pensamento contemporâneo trouxeram bênçãos incontáveis para a vida em todas as suas expressões na Terra. 

Os avanços da sociologia, por exemplo, ampliaram os horizontes da fraternidade, dos direitos humanos, ainda não respeitados conforme foram propostos, demonstrando a excelência da comunhão espiritual entre as criaturas.  

Lamentavelmente, porém, as duas grandes guerras perversas que assinalaram o sec.XX, cujos efeitos dolorosos a sociedade atual ainda experimenta, facultaram demonstrações de primitivismo e de atraso moral das criaturas humanas, que parecem haver regredido em determinados segmentos ao período primevo da evolução, tal a crueldade que as caracterizou. 

Um dos momentos excruciantes foi aquele que assinalou a explosão atômica sobre a cidade de Hiroshima, no Japão, no dia 6 de agosto de 1945, tornando-se a fronteira do passado em relação ao presente-futuro, com o surgimento do período denominado como pós-industrial ou pós-modernidade, conforme conceitos exarados muitos especialmente por Émile Durkheim, o filósofo francês da educação. 

Essa fase, que se torna cada vez mais perturbadora nas mentes e nos comportamentos, responde pela perda emocional de valores de alto porte, que vem reduzindo o ser humano à condição robótica. 

De um lado, a evolução da ciência e da tecnologia, e do outro, o isolamento em relação ao grupo social, as mudanças drásticas a respeito da vida e do seu significado, diante dos mentirosos padrões elegidos como ideais para o bem-estar e a felicidade. 

A extraordinária contribuição virtual facilitou a comunicação, a tomada de conhecimento de ocorrências on line,  no mesmo momento em que vem acontecendo em toda a Terra, ao tempo que a soma de disparates e de estímulos à violência, ao ódio, ao racismo, ao crime, ao suicídio, às mudanças de conduta, aturde e domina internautas desavisados ou menos resistentes moralmente. 

Relações amorosas suspeitas estabelecem-se, dando largas à fantasia e à ilusão, com a consequência de lares e de vidas que se estiolam através de personalidades psicopatas, destituídas de sentimento de elevação, que se utiliza do recurso para esconder-se, dando vazão às paixões soezes... 

O culto ao corpo e ao prazer, o desvio das funções sexuais, a mentirosa vitória nas telinhas com os seus poucos e desvairados quinze minutos de fama,  enlouquecem a juventude ansiosa e sem rumo, que busca o fácil através da venda ignóbil da inocência, antecipando as experiências humanas dolorosas no período juvenil, quando ainda não em robustez para os enfrentamentos, fanando-lhes as esperanças de maneira insensível... 

O tempo rápido, em razão da necessidade de a tudo participar, de estar a par das ocorrências, asfixiando a liberdade de pensamento e de movimentação, culmina em tormentosa ansiedade e frustração dolorosa, empurrando para o abismo da depressão ou da revolta as suas vítimas inermes. 

A falta de comunicação verbal e escrita, de contato humano sem suspeição nem deslumbramento, facultando relacionamentos saudáveis, conduz as pessoas para os interesses egóicos sem nenhuma participação na convivência com os demais, como fruto espúrio dessa pós-modernidade doentia e sem significado psicológico. 

Corpos belos trabalhados por excesso de musculação, sarados e interiormente vazios de aspirações e de significado, dão lugar a condutas extravagantes, que elevam à glória equivocada e derrubam em ritmo acelerado     aqueles que foram arrastados pelas fantasias dos seus apaniguados. 

Com as exceções compreensíveis, vive-se o período no qual a sociedade encontra-se enlouquecida, buscando coisa nenhuma, em razão da transitoriedade das conquistas e do imediato vazio  existencial, que envelhecem e envilecem com rapidez os seus adeptos apaixonados e embriagados pelo licor dos sentidos físicos... 

As mudanças de humor contínuas e a debandada dos compromissos éticos, que dão sentido à vida, caracterizam com perfeição esta fase de incertezas.

Indiscutivelmente, o ser humano encontra-se em crise existencial. 

A falta de identificação entre o ego e o Self produz a ausência de discernimento a respeito do existir e de como proceder, dando lugar à dominação da sombra ignorada em todos os comportamentos. 

Por consequência, aumenta o número de infelizes e de infelicitadores com a sua patologia maldisfarçada.

Esta experiência individual e coletiva, no entanto, é indispensável ao amadurecimento e à evolução do ser humano que se apartou de si mesmo, buscando fora a alegria que somente se encontra nele próprio. Ninguém pode proporcionar felicidade e bem-estar reais, porque essas emoções independem de circunstancias externas, embora muitos pensem ao contrário. São sensações que se expressão como emoções e logo cedem lugar aos transtornos, às frustrações e amarguras quando o objeto ou pessoa propiciadora do prazer altera a sua conduta ou se desinteressa em continuar no que ora se lhe apresenta como tedioso. 

Contribuindo de maneira habilmente proposital, a mídia cria ídolos e devora-os, a cada instante, exaltando o crime e os criminosos que se lhe tornam manchete contínua, exaurindo os clientes, especialmente através da televisão, nas repetições exorbitantes das cenas de horror, nos julgamentos arbitrários daqueles aos quais atribui a responsabilidade pela desgraça, no estímulo à justiça pelas próprias mãos, encorajando psicopatas adormecidos a se tornarem famosos pela utilização dos hórridos espetáculos exibidos... 

O despudor agressivo que arrebata as multidões, especialmente acompanhando as cenas de deboche nos aplaudidos programas de degradação humana, para a conquista da fama pela imoralidade e do dinheiro pela perda da dignidade, favorece o surgimento de múmias morais, que são os seres destituídos de emoção e de sensibilidade que a tudo se submetem para atingir as metas estimuladas pelo mercado do sexo e da drogadição... 

Naturalmente encontram-se incontáveis labores de elevação moral e dignificação da criatura humana, ainda insuficientes, no entanto, para conduzir a grande massa ao caminho do discernimento e da saúde real. 

São esses nobres exemplos de fidelidade ao dever e de continuidade da ação edificante que contribuem para equilibrar a balança moral do planeta humano, com os braços distendidos para o socorro aos tombados, para minimização do desespero dos fracassados, para a solidariedade junto aos abandonados pelo triunfo mentiroso. 

Eles comprovam que o ser humano está fadado à ascensão e que o estágio inferior em que se compraz é transitório por mais que dure, ensejando-lhe a experiência vivencial para a construção da sua individuação. 

A conquista dessa individuação é como um parto. Todos os partos doem mesmo aqueles denominados sem dor... Portanto, as dores íntimas e as faltas consideradas importantes, mas sem valor real, são o período de gestação para o parto da plenitude. 

Inevitavelmente, o ser humano traz o mito do significado e mesmo incapaz de o identificar, momento chega em que a nuvem anestesiante do prazer desapareça ante o sol da realidade, ei-lo impulsionando para o avanço interno, a compreensão da mensagem do viver e do crescer psicologicamente. 

Final do texto O SER HUMANO EM CRISE EXISTENCIAL, porém o cap.6 continuará na próxima postagem.

Postado dia 15/10/2013

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