O
SER HUMANO EM CRISE EXISTENCIAL
Do
cap.6, no livro EM BUSCA DA VERDADE
Escrito
por Divaldo Franco/Joanna de Ângelis
As
incomparáveis conquistas nas diversas áreas do conhecimento e do pensamento
contemporâneo trouxeram bênçãos incontáveis para a vida em todas as suas expressões
na Terra.
Os
avanços da sociologia, por exemplo, ampliaram os horizontes da fraternidade,
dos direitos humanos, ainda não respeitados conforme foram propostos,
demonstrando a excelência da comunhão espiritual entre as criaturas.
Lamentavelmente,
porém, as duas grandes guerras perversas que assinalaram o sec.XX, cujos efeitos
dolorosos a sociedade atual ainda experimenta, facultaram demonstrações de
primitivismo e de atraso moral das criaturas humanas, que parecem haver
regredido em determinados segmentos ao período primevo da evolução, tal a
crueldade que as caracterizou.
Um
dos momentos excruciantes foi aquele que assinalou a explosão atômica sobre a
cidade de Hiroshima, no Japão, no dia 6 de agosto de 1945, tornando-se a fronteira
do passado em relação ao presente-futuro, com o surgimento do período denominado
como pós-industrial ou pós-modernidade, conforme conceitos exarados muitos
especialmente por Émile Durkheim, o filósofo francês da educação.
Essa
fase, que se torna cada vez mais perturbadora nas mentes e nos comportamentos,
responde pela perda emocional de valores de alto porte, que vem reduzindo o ser
humano à condição robótica.
De
um lado, a evolução da ciência e da tecnologia, e do outro, o isolamento em
relação ao grupo social, as mudanças drásticas a respeito da vida e do seu
significado, diante dos mentirosos padrões elegidos como ideais para o
bem-estar e a felicidade.
A
extraordinária contribuição virtual facilitou a comunicação, a tomada de
conhecimento de ocorrências on line, no mesmo momento em que vem acontecendo em
toda a Terra, ao tempo que a soma de disparates e de estímulos à violência, ao
ódio, ao racismo, ao crime, ao suicídio, às mudanças de conduta, aturde e
domina internautas desavisados ou menos resistentes moralmente.
Relações
amorosas suspeitas estabelecem-se, dando largas à fantasia e à ilusão, com a consequência
de lares e de vidas que se estiolam através de personalidades psicopatas,
destituídas de sentimento de elevação, que se utiliza do recurso para
esconder-se, dando vazão às paixões soezes...
O
culto ao corpo e ao prazer, o desvio das funções sexuais, a mentirosa vitória
nas telinhas com os seus poucos e desvairados quinze minutos de fama, enlouquecem a juventude ansiosa e sem rumo,
que busca o fácil através da venda ignóbil da inocência, antecipando as experiências
humanas dolorosas no período juvenil, quando ainda não em robustez para os enfrentamentos,
fanando-lhes as esperanças de maneira insensível...
O
tempo rápido, em razão da necessidade de a tudo participar, de estar a par das ocorrências,
asfixiando a liberdade de pensamento e de movimentação, culmina em tormentosa
ansiedade e frustração dolorosa, empurrando para o abismo da depressão ou da
revolta as suas vítimas inermes.
A
falta de comunicação verbal e escrita, de contato humano sem suspeição nem
deslumbramento, facultando relacionamentos saudáveis, conduz as pessoas para os
interesses egóicos sem nenhuma participação na convivência com os demais, como
fruto espúrio dessa pós-modernidade doentia e sem significado psicológico.
Corpos
belos trabalhados por excesso de musculação, sarados e interiormente vazios de aspirações e de significado, dão
lugar a condutas extravagantes, que elevam à glória equivocada e derrubam em
ritmo acelerado aqueles que foram
arrastados pelas fantasias dos seus apaniguados.
Com
as exceções compreensíveis, vive-se o período no qual a sociedade encontra-se
enlouquecida, buscando coisa nenhuma, em razão da transitoriedade das conquistas
e do imediato vazio existencial, que
envelhecem e envilecem com rapidez os seus adeptos apaixonados e embriagados
pelo licor dos sentidos físicos...
As
mudanças de humor contínuas e a debandada dos compromissos éticos, que dão
sentido à vida, caracterizam com perfeição esta fase de incertezas.
Indiscutivelmente,
o ser humano encontra-se em crise existencial.
A
falta de identificação entre o ego e
o Self produz a ausência de
discernimento a respeito do existir e de como proceder, dando lugar à dominação
da sombra ignorada em todos os
comportamentos.
Por
consequência, aumenta o número de infelizes e de infelicitadores com a sua
patologia maldisfarçada.
Esta
experiência individual e coletiva, no entanto, é indispensável ao
amadurecimento e à evolução do ser humano que se apartou de si mesmo, buscando
fora a alegria que somente se encontra nele próprio. Ninguém pode proporcionar
felicidade e bem-estar reais, porque essas emoções independem de circunstancias
externas, embora muitos pensem ao contrário. São sensações que se expressão como
emoções e logo cedem lugar aos transtornos, às frustrações e amarguras quando o
objeto ou pessoa propiciadora do prazer altera a sua conduta ou se desinteressa
em continuar no que ora se lhe apresenta como tedioso.
Contribuindo
de maneira habilmente proposital, a mídia cria ídolos e devora-os, a cada
instante, exaltando o crime e os criminosos que se lhe tornam manchete
contínua, exaurindo os clientes, especialmente através da televisão, nas
repetições exorbitantes das cenas de horror, nos julgamentos arbitrários daqueles
aos quais atribui a responsabilidade pela desgraça, no estímulo à justiça pelas próprias mãos, encorajando
psicopatas adormecidos a se tornarem famosos pela utilização dos hórridos espetáculos
exibidos...
O
despudor agressivo que arrebata as multidões, especialmente acompanhando as
cenas de deboche nos aplaudidos programas de degradação humana, para a
conquista da fama pela imoralidade e do dinheiro pela perda da dignidade, favorece
o surgimento de múmias morais, que são os seres destituídos de emoção e de
sensibilidade que a tudo se submetem para atingir as metas estimuladas pelo
mercado do sexo e da drogadição...
Naturalmente
encontram-se incontáveis labores de elevação moral e dignificação da criatura humana,
ainda insuficientes, no entanto, para conduzir a grande massa ao caminho do
discernimento e da saúde real.
São
esses nobres exemplos de fidelidade ao dever e de continuidade da ação
edificante que contribuem para equilibrar a balança moral do planeta humano,
com os braços distendidos para o socorro aos tombados, para minimização do
desespero dos fracassados, para a solidariedade junto aos abandonados pelo
triunfo mentiroso.
Eles
comprovam que o ser humano está fadado à ascensão e que o estágio inferior em
que se compraz é transitório por mais que dure, ensejando-lhe a experiência vivencial
para a construção da sua individuação.
A
conquista dessa individuação é como um parto. Todos os partos doem mesmo
aqueles denominados sem dor... Portanto, as dores íntimas e as faltas
consideradas importantes, mas sem valor real, são o período de gestação para o
parto da plenitude.
Inevitavelmente,
o ser humano traz o mito do significado e mesmo incapaz de o identificar, momento
chega em que a nuvem anestesiante do prazer desapareça ante o sol da realidade,
ei-lo impulsionando para o avanço interno, a compreensão da mensagem do viver e
do crescer psicologicamente.
Final do texto O SER
HUMANO EM CRISE EXISTENCIAL, porém o cap.6 continuará na próxima postagem.
Postado dia 15/10/2013
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