Aprender
a ser
Continuação do cap.ll do
livro Refletindo a Alma
A partir do momento em que
decidimos pautar a nossa vida nos valores intrínsecos da alma, partimos para o
grande desafio de “Ser”. Saímos da condição de “pessoa espelho”, definida por
Joanna de Ângelis como todo aquele que reflete as conveniências dos outros,
para refletir a nossa própria essência.
Um dos desafios que se
encontram, a partir dessa perspectiva, é aprender a conviver com a própria “solidão”,
no sentido de que nem sempre será possível aguardar que os outros nos
compreendam e compartilhem conosco desse processo. É por isso que a autora
reforça: “O homem deve ser educado para conviver consigo próprio, com a sua
solidão, com os seus momentâneos limites e ansiedades, administrando-os em
proveito pessoal, de modo a poder compartir emoções e reparti-las..." (2006b,
p. 71)
Certamente que não se trata
da solidão patológica, ou de isolar-se por não entender ou suportar a convivência
com os outros, mas da importância de interagir com esse ser que somos, mas que
por conta das suas estruturas inconsciente, nos torna desconhecidos de nós
mesmo.
Saindo dessa alienação, dessa
distância de nosso mundo íntimo, podemos conviver melhor com os outros, pois
não nos espantaremos mais com a “sombra” do outro, por ter aprendido a conviver
com a nossa.
A síntese do “aprender a ser”
pode ser encontrada na seguinte proposta: “A educação, a psicoterapia, a metodologia
da convivência humana devem estruturar-se em uma consciência de ser, antes de
ter; de ser, em vez de poder, de ser, embora sem a preocupação de parecer.”
(ÂNGELIS, 2006b, p.72)
O que conheço de mim mesmo é
muito pouco para saber quem sou efetivamente, ou, como diz James Hollis: “o eu
que conheço não conhece o suficiente para saber que não conhece o suficiente.”
(2010, p. 11)
Necessitamos compreender a
influencia do processo coletivo em nós, em especial de tudo aquilo que se
encontra distante do Self, da essência que sou, e aprofundar a busca do ser. É comum
verificarmos um grande impulso externo para ter, em vez de “ser”. Se isso
ocorre, precisamos questionar: quanto da minha busca pessoal é feita no “ter”?
Uma análise honesta revela
que é muito intensa essa busca na atualidade: queremos ter coisas, ter posses,
ter pessoas. Quando “somos”, o “ter” passa a ser secundário, pois de maneira
efetiva somente temos aquilo que conseguimos conduzir conosco a partir de uma
perspectiva transpessoal.
Quando buscamos “ser”, em vez
de “poder”, estruturamos nossas relações em bases mais sólidas. Na concepção de
Jung, amor e poder caminham em polos opostos: quando se manifesta o desejo de
poder, aí não existe o amor, pois um é a sombra do outro. As tentativas de
dominar o outro, de controlar e exercer poder, demonstram exatamente a força
oposta que permanece ativa no inconsciente: o medo, a insegurança, a
fragilidade. Demonstram, não raro, personalidades frágeis, que se mascaram de fortes
na tentativa de se protegerem ou serem aceitas.
Quando buscamos “ser”,
passamos a lidar melhor com as habilidades ainda não desenvolvidas, com nossos
medos e limites, e por isso não precisamos exacerbá-los ou escondê-los por trás
de máscaras bem – construídas.
Por consequência, a
conquista do “ser” nos liberta da tentativa de parecer algo diferente do que
somos – ou estamos. Aceitar-se como se é, no entanto, estimular-se ao máximo para
novas conquistas, no campo intelectual, emocional, afetivo e espiritual. Além das
personas, que exerço, existe o “ser”, que sou, mas que necessita ser desvelado,
desperto, em todo processo de busca existencial.
Dentre as propostas terapêuticas
para “Aprender a ser”, a técnica apresentada pela psicossíntese encontra-se em
consonância com a visão da psicologia espirita, quando propõe uma desidentificação
de tudo aquilo ao qual o ego se vincula que não esteja em perfeita conexão com
o Self. Nesse sentido, pode-se “afirmar que tem um corpo, mas não é o corpo”,
que “Eu, Espírito, tenho uma casa, bens”, mas que sou muito mais do que isso. “Da
mesma forma”, propõe a autora espiritual, segue-se a análise da vida emocional:
“Eu tenho uma vida emocional, mas não sou a vida emocional.”
Desidentificar-se, portanto,
“das sensações, necessidades de coisas,
ambições, lembranças do passado e aspirações para o futuro, é viajar para a autoconsciência,
distinguindo-se o que se deseja daquilo que realmente se é.” (ANGELIS, 2006, p.77)
O exercício de Aprender a ser, finalmente, liberta-me
para viver de uma forma profunda o aprendizado essencial da criatura humana: aprender a amar.
Transcrito do artigo Uma
Psicologia com Alma: A Psicologia Espírita de Joanna de Ângelis escrito por
Cláudio Sinoti no livro REFLETINDO A
ALMA pp.42.- 45.
Fique para a continuação do
capll.
Postado em 18-04-2013