GRAVITANDO EM TORNO DE DEUS
A GRATIDÃO E A PLENITUDE
A busca
da plenitude é natural, por ser a superação do sofrimento, da
angustia, da ansiedade e da culpa, significando o encontro com a consciência ilibada ou pura portanto que sabe conduzir o carro orgânico ao destino da
iluminação. Embora, ninguém possa se libertar totalmente dos atavismos, das
heranças, sem a aquisição de novos
hábitos, especialmente das heranças mitológicas que o vinculam à condição de
humanidade, portanto ficando sempre sujeito a aflições e a todas as sujeições do veículo carnal.
Plenitude
sem inquietações é utopia, a
partir mesmo da impermanência do corpo físico. Compreendendo-se o seu desgaste,
a sua degeneração que lhe é própria, as alterações e mudanças de constituição,
produzindo mal-estar, dores, ansiedade, melancolia, inquietação.
A
plenitude é o estado de harmonia entre as manifestações psíquicas, emocionais e
orgânicas resultante do perfeito entrosamento da mente, do self - que também possui alguma forma de
sombra,- com o ego, integrando-se sem luta, a fim de readquirir a unidade.
Essa conquista numinosa, transcendente que resulta da autoconsciência,
liberta o sentimento de gratidão que faz
parte da individuação, produzindo uma aura de inigualável luz em volta de
si.
Alcançar esse estado psicológico de auto-integração traz a noção
de uma expansão da consciência na direção da Divindade, de onde vem e para onde
volta sempre que encerra uma das muitas etapas de aprendizagem terrena.
É natural,
que a caminhada humana se caracterize pelos experimentos psíquicos do
desenvolvimento do deus interno, e da
libertação das síndromes que se transformam em bengalas psicológicas para
justificar o não crescimento interior, a continuação da queixa, do azedume, da paralisia
emocional, em que se satisfaz em situação
de masoquismo.
O Espirito é destinado à plenitude desde que foi criado por Deus simples
e ignorante.
Simples, porque sem complexidades resultantes do conhecimento, da lógica,
da evolução. Ignorante, pelo predomínio
da sombra no self e falta dos recursos intelecto-morais que o
engrandecem como efeito do esforço pessoal na conquista dos valores que estão
ao seu alcance.
Os conflitos
são constantes, caracterizados por momentos de coragem e de desencanto, por desejo
de crescimento e medo das conquistas libertadoras, por dúvidas e melancolia...
A sombra
acompanha o ser humano enquanto estiver no processo de autoiluminação, abrindo
espaço para a harmonia quando da sua libertação da matéria.
O historiador grego Heródoto de Halicarnasso, diz que Sólon, o
nobre filósofo, dialogando com o rei Creso, da Lídia, considerado o homem mais
rico do mundo no seu tempo, que se considerando feliz pelos tesouros adquiridos,
após apresenta-los ao sábio, perguntou, na sua opinião qual seria o homem mais feliz
do planeta. E porque o gênio ateniense dissesse que conhecera um jovem chamado
Téluz, que ficou famoso em Atenas pela sua nobreza de caráter e pela abnegação,
a quem assim o considerava, o monarca soberbo trouxe nova pergunta:
- E, na sua opinião, qual é o segundo homem mais feliz do mundo? –
crendo que seria citado como exemplo, novamente
constrangeu-se com a resposta do convidado, que disse haver conhecido dois
irmãos que cuidavam da mãe e, quando ela desencarnou, dedicaram a vida a servir
à cidade-Estado. Creso não pôde mais esconder o desencanto e tornou-se indelicado
com o convidado, realmente mais sábio daquela época.
Sólon continuou tranquilo e, no momento da despedida, disse?
- Rei, ninguém pode afirmar-vos se sois feliz, senão depois da
vossa morte, porque são muitos os incidentes e ocorrências que modificam os transitórios
estados emocionais e econômicos de todas as criaturas...
De fato, mais tarde, após a morte do filho Actis, em circunstâncias
trágicas, e a destruição do seu país que sucumbiu às tropas de Ciro, o Grande,
da Pérsia, vendo Sardes, a capital da Lídia, ardendo, e todos os tesouros nas
mãos dos invasores, ele concordou com Sólon, e proclamou no poste em que seria
queimado vivo:
- Oh! Sólon! Oh! Sólon, como tinhas razão!
Ouvido por Ciro, o conquistador, que também amava Sólon, o filósofo,
perguntou a razão pela qual se referia ao nobre sábio, e, após narrar a experiência,
teve a vida poupada, tornando-se seu auxiliar no controle dos bens e educador
de Cambises, seu filho...
A transitoriedade dos valores materiais, inclusive da argamassa
celular, torna o Espírito reencarnado vulnerável às injunções normais da existência
física.
Creso, pioneiro da fundação de moedas de ouro, tendo imensa fortuna em ouro trazida pelas
águas do rio Pactolo, que dividia a capital da Lídia, não lembrou de ser grato
à vida, pensando somente em acumular, embora vitimado pelas circunstancias,
em que foi pai de um surdo-mudo e o seu herdeiro teve uma desencarnação trágica
ao ser varado pela lança atirada pelo seu amigo Adasto, filho do rei Midas, da
Frígia...
O que se tem é apenas enfeite, adorno, é preciso que se considere psicologicamente o que se faz, o
que se é, e tudo o que se trabalha interiormente e transformar em gratidão pela
vida, pela oportunidade de autoiluminação.
Apesar da riqueza, Creso não era realmente feliz, pois não pôde
evitar o nascimento do filho limitado, nem a morte do herdeiro amado, nem, a
invasão e destruição do seu reino. Mas, quando
se permitiu a humildade de reconhecer que Sólon tinha razão, pôde ter a sua e a
vida dos familiares poupadas da morte perversa que espera sempre os vencidos.
Ciro, quando libertou o rei e família vencidos disse:
- Quero que anote a minha generosidade, pois, se algum dia eu vier
a cair vitimado em alguma batalha, espero que se use da mesma misericórdia para
comigo, conforme o uso para com ele (Creso).
São os
valores morais, as conquistas espirituais, responsáveis pela gratidão que resulta
de todas as oportunidades de crescimento e de valorização da vida, enriquecendo
o ser humano de generosidade, filha da sabedoria de viver.
Aquele que
é grato, que reconhece a sua pequenez ante a grandeza da vida, torna-se pleno e
feliz.
Divaldo Pereira Franco no livro, Psicologia da gratidão.
Trabalhado e editado por Adáuria Azevedo Farias. 27/04/2019