segunda-feira, 31 de março de 2014


 

A TRADIÇÃO E A PERDA DO SENTIDO EXISTENCIAL

Por muito tempo, a tradição, que é a transmissão oral da cultura, dos hábitos, transmitida de geração a geração, era um princípio ético que se deveria respeitar a qualquer preço, por pertencer ao pretérito,  tornou-se um paradigma da evolução. Porém, nem tudo que a tradição vem transmitindo merece a consideração que lhe era dada, sem uma avaliação, empírica, do seu significado.

O valor dos conceitos morais não pode ser atribuído a uma tradição que se baseia na castração e na violência à liberdade de pensamento, de expressão, de idealismo, submetendo todas as questões ao crivo do aceito e considerado digno de respeito.
Na educação doméstica, por exemplo, o temor a Deus e aos pais tornou-se uma tradição que a experiência científica da psicopedagogia erradicou da sociedade, porquanto toda forma de submissão pelo medo é punitiva e destruidora, produzindo incalculáveis prejuízos nas pessoas que se submetem.
A educação como processo de criar bons hábitos, não tem o direito de tornar-se virulenta na observação dos seus preceitos, castigando e impondo-se para ser considerada  legítima. Mas, conquistar o educando com os recursos poderosos de que se forma, especialmente pelo sentido de amor e dignidade que a envolve.
Por outro lado, no mesmo campo educacional, o respeito aos pais, aos mestres, aos mais velhos era estabelecido pela tradição como obediência a todas e quaisquer imposições, por mais absurdas que fossem, sem direito a discussão, a análise, a observação racional.
O respeito é uma conquista que cada um consegue pela maneira como se comporta, pelos atos e palavras, pela convivência e forma de conquistar os demais. Toda vez que se estabelecem normas de imposição, violenta-se o livre-arbítrio, o direito de optar-se pela aceitação do outro com todas as maneiras absurdas que lhe são características. Certamente, não libera a rebeldia, nem a repulsa, nem a animosidade que resulte da presunção ou da prepotência daquele que se deseja impor. Mas impõe-se o direito de considerar os valores reais que formam o caráter de cada qual.
Desse modo, no imenso elenco de tradições morais, está embutida sempre a submissão irracional, a aceitação ilógica, violentando a personalidade do outro, daquele que deve ceder sempre.
Porém há, tradições morais, sociais, religiosas, culturais louváveis, credoras da melhor simpatia, que merecem ser experienciadas pelos significados de que se revestem.
Como aquela que se refere ao amor que deve haver entre os membros de uma mesma família. Essa proposta busca estabelecer o clima de amizade e consideração necessário no clã familiar, para que se preparem os indivíduos para a convivência geral com as demais pessoas pertencentes aos diferentes grupos e etnias. O treinamento no lar, mesmo com os inamistosos por vários motivos, inclusive pelas imposições de circunstancias anteriores, vividas em existências passadas, auxilia o comportamento racional diante das dificuldades que sempre surgem no grupo social além de favorecer com uma real compreensão dos problemas que afligem outras pessoas, tornando-as incapazes para uma convivência produtiva.
Sendo o lar um laboratório para a formação da personalidade, do caráter, dos sentimentos, a proposta da afeição recíproca entre os membros da família contribui para o equilíbrio emocional de todos, mesmo que se registrando diferenças de conduta, de companheirismo, de fraternidade, o que não se pode transformar em campo de batalha, reduto de ódios recíprocos, desenvolvimento de emoções reativas de uns contra os outros.
O exercício da tolerância que envolve a amizade em predomínio entre os familiares supera as antipatias, que possam existir, criando um clima de respeito entre todos, cada um com a sua maneira de ser.
Também existe tradição de conduta que  importa seja analisada para lhes dar expansão, não generalizando-as apenas por haverem existido no passado, quando os valores éticos tinham outro significado.
Então, as tradições absurdas que violentam a personalidade e que são consevadas nos grupos mais severos e engessados da sociedade, por motivos religiosos ou políticos, de moral suspeita ou de outra ordem, são responsáveis pela perda de significado existencial de indivíduos que desde a infância reprimem os sentimentos, as aspirações, e desejam a liberdade, o momento de poderem viver conforme os seus padrões ou o daqueles  observados fora do seu circulo familiar.
Cada vez se torna inadiável a conduta do indivíduo que deve ligar-se a si mesmo, demorando-se em analise dos seus recursos e aplicando-os, ampliando o circulo das suas aspirações e lutando, avançando sobre as dificuldades com a persistencia de quem os vencerá ou os contornará, para encontrar a sua missão, a sua vida, descobrindo a sua transcendência, o significado com relação a outra vida, a outras pessoas, ao mundo em que se encontra. A preocupação aparente consigo mesmo tem o sentido de crescimento interior e de desenvolvimento das suas possibilidade para os colocar a serviço dos demais, não se detendo em si, mas avançando para o grupo, no direção da humanidade. Deve ir além do ego, para ultrapassar os imites estreitos da sua realidade. Assim agindo, será fácil encontrar com a transcendência, com a realidade existencial, podendo lutar com firmeza e sem descanço, mas envolvido por fascinante alegria de viver.
Quem não age assim mergulha na autocomiseração, buscando a falsa autorrealização de sentido egoísta.
A vida vale pelo que se lhe soma de bom, de belo, de útil, sem a valorização exagerada do esforço para consegui-lo.
O individuo necessita de um comportamento rico de religiosidade, ou seja, de convicção interior, não de uma religião formal que muitas vezes o entorpece na ritualística ou na presunção de ser eleito em detrimento dos outros. Pelo contrário, é necessário estimulá-lo a desenvolver a consciência de que todo serviço dignificante e operoso é ato de religiosidade, de entrega emocional compensadora pela alegria de agir e de produzir.
Se lhe é possível vincular esse comportamento a uma religião que o impulsione ao crescimento ético e à liberdade de ação fraternal sem impedimento ou preconceito, mais fácil será a conquista dessa transcendência responsavel pelo sentido existencial.
Enriquecido de emoções que se renovam em alegria e bem-estar, uma imensa gratidão por existir, por estar apto a servir, por poder contribuir em favor de todos, assoma do íntimo e o veste, iluminando-o, dando-lhe brilho ao olhar e entusiasmo para viver, rompendo-lhe todos os limites, embora anele pelo infinito.
Nesse esforço fascinante ocorre a perfeita integração do eixo ego-self, o desaparecimento dos resíduos ancestrais, numa renovação que  lembra a transformação da lagarta lenta que se arrasta na borboleta leve e colorida que flutua no ar suave da natureza, após o sono que lhe proporciona a histólise e a histogênese...
No processo da transcendência, muitas vezes ocorre esse letargo: um desinteresse pelo convencional, pelos impositivos das tradições, uma insatisfação interior incômoda em torno dos padrões vivenciais, para logo ter lugar um processo de histólise psicológica a fim de alcançar a histogênese emocional e libertar-se do mecanismo pesado que sempre retém o idealista na dificuldade para discernir e encontrar o sentido existencial da vida...
Texto trabalhado com base no livro Psicologia da Gratidão, escrito por Divaldo Pereira Franco, ditado pelo Espírito Joanna de Ângelis.
Postado no dia 31/03/2014.

 

PROJEÇÃO
Este mecanismo de defesa é tão largamente usado por todos nós a ponto de discutirmos em psicoterapia que uma parte importante do tratamento é auxiliar o sujeito a identificar suas projeções. Não se pensa que algumas pessoas façam projeções e outras não – como uma premissa. Então é preciso auxiliar o paciente a identificar onde faz suas projeções para depois recolhe-las e com isso se conhecer melhor e se responsabilizar mais por si.
Segundo Laplanche e Pontalis (1996) a projeção é uma operação na qual o sujeito quer expulsar de si e localizar no outro, qualidades, sentimentos, desejos, etc. que ele recusa em si.
Para Fenichel (1981) a projeção é o desejo de cuspir algo, de querer por distancia entre mim e isto. É como se tudo que fosse prazeroso fosse experimentado como pertencente ao ego, e tudo que fosse penoso ou doloroso se experimentaria como não-ego. E por isso precisamos localizar em alguém.
Whitmont (2008) explica a condição de que, se para o ego tenho que ser correto e bom, então o outro (seja ele quem for) se tornará o portador de todo o mal que não consigo reconhecer em mim mesmo.
Joanna informa que há uma tendência natural e mórbida no ser humano de ignorar certas deficiências pessoais e com isso projetá-las nos outros. Exemplifica:

A projeção alcança reações surpreendentes. (...) Toda vez que alguém combate com exagerada veemência determinados traços de caráter de alguém, projeta-se nele, transferindo do eu, que o ego não deseja reconhecer como deficiente, a qualidade negativa que lhe é peculiar. Torna a sua vítima no espelho no qual se reflete inconscientemente. (ANGELIS,2000, )p.107 

De maneira insconsciente, o combate a este alguém que fantasiamos portar aquilo que nos pertence gera uma espécie de alívio. Afinal, intimamente estamos apresentando nossa repulsa àquele conteúdo. Mas este alívio é momentâneo, que tão breve seja o contato e já estaremos a procurar outra situação ou outro alguém no qual caibam as minhas projeções.
A mentora relaciona a projeção aos complexos – conteúdos a serem projetados – como se fossem “um espelho no qual a imagem própria apresenta-se inversa, refletindo as suas lamentáveis feridas espirituais”. (ANGELIS, 2009b, p.55) (Atitudes Renovadas)

Os estudos psicológicos apontam que o auge da projeção encontra-se na psicopatologia dos delírios de perseguição, em que o perseguidor é colocado fora do paciente, sentido o perigo como ameaças exteriores (FENICHEL,1981; LAPLANCHE e PONTALIS, 1996).

Este pensamento é corroborado pela Psicologia espírita no recorte que fazemos de uma das respostas que a mentora nos ofereceu em capítulo específico, afirmando “não poucas vezes, o inconsciente, durante o gravame das psicoses, liberta as impressões arquivadas e vozes alucinatórias impõem o mecanismo de fuga do resgate através do suicídio, como meio de libertação dos conflitos.
A transformação moral não é o combate às imperfeições em nós, e muito menos nos outros. Por isso a mentora orienta para que frente à tentação da crítica áspera, da censura ou da queixa contumaz, consigamos refletir que o problema não é do outro, mas projeção de nossa imagem, refletida nele, manifestando o complexo que se exterioriza.
Texto escrito por, Marlon Reikdal, no livro Refletindo a Alma. Postado no dia 31/03/2014.

domingo, 30 de março de 2014


 

A GRANDE CRISE EXISTENCIAL 

Apesar dos conflitos que a fé religiosa produziu em muitas vidas, principalmente nos  dias da idade média, em que prevaleciam a ignorância, o temor e o absolutismo do poder clerical, o arquétipo espiritual tem sido uma necessidade para o desenvolvimento psicológico do ser. Infelizmente, personalidades psicopatas, na sua maioria, temerosas da vida e condutoras de conflitos refugiam-se nas doutrinas religiosas, como noutras áreas da sociedade, mas especialmente nas primeiras, ocultando os seus dramas e medos, ao tempo que, em nome da salvação, castram os valores intelectuais e a sensibilidade dos crentes, submetendo-os aos seus caprichos e insânia.  

Proíbem tudo que possa trazer alegria de viver, liberdade de pensamento, ampliação do sentido da vida, dignificando a experiência humana, porque estão conturbados e invejam os saudáveis. Condenam tudo que é sofrimento, pela covardia diante do autoenfrentamento, preferindo a sombra à plenitude do Self. 

Toda religião, no seu significado profundo, busca religar a criatura ao seu Criador, o que representaria estabelecer o eixo pleno ego-Self, o ser aparente com o real, trazendo-lhe condições de saúde e de paz. 

Ao invés disso, as mentes sofridas e mal desenvolvidas, os Espíritos angustiados, autosupliciando-se, como se os seus corpos fossem os responsáveis pelos pensamentos e conflitos resultantes da fissão da psique no anjo e no demônio, com predomínio do último, diante das tendências ao sofrimento não ultrapassadas, evitavam o mundo e o odiavam em conduta masoquista. 

É natural que o desenvolvimento da sociedade e as conquistas da inteligência, a partir do período industrial, da revolução inevitável imposta pelo progresso, passassem a combater esse parasitismo emocional e retrocesso cultural, abrindo portas a novas experiências e desmistificando as fantasias das condenações infernais e das punições divinas. 

Com segurança aos poucos, as filosofias do positivismo, do existencialismo e do niilismo  apresentaram o lado agradável da vida, as belezas que existe em tudo e por toda parte, as concessões do prazer e do ter, as novas experiências do conhecimento, conquistando as multidões. 

Ao mesmo tempo, a ampliação dos conceitos  sobre o universo e sua grandeza, afastou os antigos fregueses das religiões dos arraias da fé para a convivência com outro tipo de realidade que desmentia suas afirmações, agora fáceis de ser comprovadas, abrindo espaço ao cepticismo, à crítica dos seus textos e dogmas, bem como ao abuso originados pelos excessos. 

A hipocrisia religiosa não pode suportar a realidade dos comportamentos humanos quebrando os limites que foram colocados no passado, lançando-se com excessiva sede nos usos que se transformaram em abusos com consequências também nocivas. 

Os avanços da ciência apoiada na tecnologia dignificou a vida, trazendo uma visão otimista e encantadora da vida humana, aumentando o seu poder até chegar aos extremos de tornar-se onipotentes, de tal forma, que nada se faz sem a sua contribuição, chegando-se a considerá-las os novos deuses do universo cultural da atualidade. 

A era industrial revolucionou os padrões de comportamento vigentes, e o ser humano aos poucos submeteu-se às máquinas que concebeu e criou, tornando-se servos obedientes. 

A ganancia de ter mais ampliou o seu desempenho, encantando os governos das nações poderosas que enlouqueceram pelo fascínio de mais conquistar, submetendo, pouco a pouco, os outros povos ao seu domínio arbitrário, disfarçado ou não, por meio das falsas ajudas aos países em desenvolvimento, explorando-os e escravizando-os, utilizando política arbitrária e  mecanismos perversos de controle através de agencias de espionagem e de corrupção, alcançando culminâncias de glórias e  recursos, como ilhas fantásticas no meio de oceanos de miséria à sua volta. Como também, com habilidade e sem escrúpulo, provocar as guerras de extermínio, em nome de suas raças prepotentes, ditas superiores pela cor da epiderme, pelo sangue, pela tradição... 

O ser psicológico é livre, mesmo quando submetido a circunstancias e situações indignas e escravistas. A sombra predomina na conduta, mas o Si-mesmo é orquestrado pela esperança e pelas aspirações de liberdade e de triunfo. 

Pode-se observar essa situação conflitiva nos campos de concentração de trabalhos forçados e de extermínio, quando judeus, colocados como kapos, para vigiarem seus irmãos de raça, apresentavam, muitas vezes, mais crueldade do que a dos seus indignos comandantes. 

Conta-se um desses momentos, quando um kapo luta fortemente com um pai, para que esse lhe dê o filho que seria levado à câmara de gás. No esforço feito pelo pai da vítima, esse gritou-lhe: - Você não tem filho, para ter uma ideia do que é perder-se um de forma tão malvada? E ele respondeu, trêmulo: - Sim, é claro que tenho. Por isso sou obrigado a eleger cinco crianças para a câmara, conforme solicitaram-me, ou o meu filho irá no lugar vazio... 

A sombra enlouquecida não tem a dimensão da loucura e o ego torna-se de uma crueldade sem limite. 

É importante lembrar outro doloroso momento de crueldade e infâmia no período em que a Polônia sofria o drama do holocausto, quando os sicários pediram a um rabino do gueto que escolhesse expressivo número de judeus para as câmaras de gás, e ele, ameaçado, optou pelo suicídio na difícil situação, não se tornando algoz dos seus irmãos. A outro, que o substituiu, foi feita a mesma absurda proposta, e ele viu-se na contingencia de eleger os que seriam assassinados, percebendo depois que foi enganado pelos agentes da crueldade... 

São difíceis as soluções em circunstancias dessa natureza, quando o Self perde a dimensão da sua espiritualidade e deixa-se dominar pelo ego da sobrevivência física  comandado pela sombra e os arquétipos da esperança, da felicidade e do significado passadas aquelas horas intermináveis... 

A perda do sentido espiritual e religioso produziu seres insensíveis, cruéis e sem  compromisso com a vida e os valores transcendentais, trazendo como resultado a situação deplorável da falta de respeito por si mesmos, pelos demais e por tudo, incluindo a Natureza. 

Esse desvario, num crescendo alucinado, proclama o prazer pessoal acima de todas as circunstancias, apelando para a morte, quando aparentemente surge qualquer ameaça ao seu ego exacerbado, que exige prazer até a exaustão. 

Não é outro o fenômeno que diz respeito ao aborto provocado, como instrumento de libertação da responsabilidade e do trabalho, embora sabendo-se que a coabitação sexual, como é natural, leva à concepção que poderia ser evitada pelas pessoas egoístas que não querem responsabilidade e se enganam, pensando sempre no eu insensível, até o momento futuro da solidão e da amargura. 

Assim também, o crime da eutanásia, quando o paciente não quer viver o processo degenerativo, os fatores vindos das enfermidades, as situações purificadoras pelo sofrimento, exigindo a interrupção da própria existência, em terríveis atos suicidas assistidos, ou quando a família resolve interromper a vida de um dos seus membros que lhe esgota os recursos com os procedimentos médicos de alto custo... 

Junto com esses carrascos psicológicos da sociedade contemporânea, que sofre os efeitos dessas amargas decisões, o suicídio aumenta em estatística, motivado pelo niilismo que tudo aponta à consumpção da vida pela morte. 

Uma sociedade que mata fetos indefesos, idosos e enfermos irrecuperáveis e justifica-se, como pode tornar-se fraterno e solidário? Como quebrar esse gelo emocional de mulheres e de homens interessados apenas no momento passageiro pelo qual passam, sem pensar na própria situação, logo mais? 

Não se estranhe a tragédia do cotidiano, a crise existencial que toma conta dos indivíduos e da sociedade. 

Uma nova religião psicológica, sem cultos nem dogmas aos poucos surge, a partir da visão holística de Jung, que vivenciou inúmeras experiências mediúnicas com a jovem prima Helena Preiswerk, na intimidade do lar, na personificação que o dominava uma vez ou outra, revendo-se como alguém do século anterior. 

O Espiritismo, doutrina positivista, fundamentada nas experiências sociológicas e transpessoais da imortalidade do ser, do seu triunfo sobre a morte, da multiplicidade das existências, respondendo pelo conhecimento arquivado no inconsciente coletivo, oferece as certezas para o avanço do ser que se é, o verdadeiro imago Dei, no rumo de Deus... 

Com certeza, aquele que está acima das descrições bíblicas, que somente dão uma pálida ideia arquetípica da Sua realidade que supera a conceituação antropomórfica, abarcando o Universo como Causalidade e fatalidade de tudo e de todos. 

Jung afirmou com ênfase: - “Através da minha experiência, eu conheço um poder maior do que meu próprio ego. Deus – é o nome que dou a esse poder autônomo”, portanto, fora dele e dominante nele. 

Para que a culpa apareça, é necessária a presença de Deus na consciência, mesmo que sem dar-se conta, porque é através da Sua transcendência que o individuo possui o padrão interno do que é certo e do que é errado. Ei-lO, ínsito no mais profundo abismo do Si-mesmo. 

Na sua obra monumental, o Aion, ainda se refere o admirável mestre: - “Cristo é o homem interior a que se chega pelo caminho do autoconhecimento.”  

Esse Cristo ou estado crístico alcançado por Jesus, como Médium de Deus, foi alcançado por Paulo o apostolo, e por muitos discípulos que se Lhe entregaram em totalidade, e ainda pode ser conseguido quando se atinge o estado numinoso, tornando-se livre dos processos reencarnatórios, das imposições penosas do corpo, das circunstancias impositivas da evolução. 

Auxiliar na conquista desse estado, é missão da psicoterapia profunda, trabalhando o ser integral, rompendo a concha grosseira onde a sombra muitas vezes se esconde, evitando ser identificada.

Dessa crise existencial que desestrutura o ser humano, transformado em máquina de prazer, que logo se desgasta e decompõe, surgirá uma nova proposta de humanização do ser que se erguerá da decadência para a valorização do divino que nele existe, dos sentimentos que engrandecem, que elevam moralmente e dão real significado existencial, trabalhando-o para que, como célula social, ao transformar-se para melhor contribua para o conjunto. 

Será, então, possível acreditar no mundo melhor, saudável e abençoado, onde seja possível amar e ser amado, construir para sempre sem medo e sem perda, conquistando o infinito que está ao alcance... 

Texto trabalhado com base no livro Em Busca da Verdade, escrito por Divaldo Pereira Franco, ditado pelo Espírito Joanna de Ângelis.

Postado no dia 30/03/2014.

 

 

 

 

NEGAÇÃO

Uma das formas de lidar com os conflitos internos ou com tudo aquilo que não vai ao encontro do ideal, é a tentativa de eliminação.
O Vocabulário de Psicanálise define negação como processo pelo qual o sujeito, embora formulando um dos seus desejos, pensamentos ou sentimentos até então recalcados, continua a defender-se dele negando que lhe pertença.”(LAPLANCHE e PONTALIS, 1996) verbete)
A tendência de negar sensações dolorosas é tão antiga quanto o próprio sentimento de dor. nas crianças pequenas, é muito comum a negação de realidades desagradáveis. (FENICHEL, 1981)
Outras vezes a estratégia de negação utilizada nas religiões espiritualistas é dizer que é o obsessor, como forma de dizer que não é seu. Algumas pessoas são capazes de passar a vida inteira acusando os Espíritos de lhes incutirem pensamentos ou impulsos sem sequer perceberam que não são do domínio da consciência; mas são seus, pois parem do inconsciente, exigindo atenção e tratamento.
Este movimento escapista de desresponsabilização deve ser profundamente refletido por nós, pois como aprendemos com as inúmeras obras de Manoel Philomeno de Miranda, mesmo que o pensamento seja uma intromissão do obsessor, existe uma parte de nós que aquiesce aquela ideia e por isso permitiu sua influenciação.
Outra forma de compreendermos a negação é o movimento que fazemos de não pensar e não admitir algo com que tivemos contato. Lemos sobre orgulho, ou egoísmo, ou vaidade e dizemos que não somos assim. Podemos iniciar um contato com este conteúdo, mas como o ego está mais preocupado em se defender, termina por negar.
De uma maneira ou de outra, aquele conteúdo continuará presente em nós, continuará determinando nosso comportamento, mas agora de maneira inconsciente – o que é pior, pois estará influenciando diretamente na forma de nos relacionarmos com nós mesmos e com os outros sem que percebamos.
A transformação moral não é um processo de negação de nossos defeitos, pois isto seria apenas um desgaste de energia.

Texto escrito por Marlon Reikdal no livro Refletindo a Alma. Postado no dia 30/03/2014.

sábado, 29 de março de 2014


A NEUROSE COLETIVA
Afirma-se frequentemente que a nova geração está desequilibrada, como se os sofrimentos que a afligem se originassem nela mesma. Não percebem os que pensam dessa forma que não há efeito sem causa, que os transtornos  presentes na juventude atual de certa forma caracterizaram as gerações do passado que, por sua vez, implantaram novos ideais e comportamentos nos conceitos tradicionais do período em que viveram, causando choque na tradição vigente...
Além disso, as heranças transmitidas por leviandade e desamor dos mais velhos; a despreocupação com a família, que vem, desde há algumas décadas, sendo deixada a plano secundário no grupamento social; os comportamentos egoístas dos cidadãos; o consumismo desenfreado; a busca constante pelos prazeres insaciáveis; a indiferença pelo próximo contribuíram fortemente com o atual estado de alienação coletiva presente principalmente nos jovens destituídos de discernimento e de maturidade emocional.
Os esportes, que deveriam representar conquistas psicológicas, para catarses emocionais, espairecimentos, renovação de energias, afirmação de valores em relação aos melhores transformaram-se em campo de batalha , quando as torcidas fanáticas e radicais agridem-se mutuamente, depredam, matam e se matam.
Ressuscitam-se com essa conduta as arenas romanas, onde o prazer era sanguinário e as vítimas sacrificadas inspiravam zombarias em prejuízo do significado de humanidade...
Nesse clima de desordem psíquica e emocional, essas chamadas torcidas organizadas marcam pela internet o lugar para os enfrentamentos, como acontecia nos campos de batalha do passado, assassinando, enquanto a sociedade perplexa contempla as cenas hediondas e a elas vai-se acostumando.
O terror assume proporções nunca imaginadas.
É comum os jovens matarem pelo prazer de fazer algo diferente, para experimentarem emoções fortes, e mais tarde buscam anestesiar a culpa nas drogas, entrando em profunda depressão, mais matando para adquirir novas quotas para a manutenção do vício e matando-se aos poucos ou de uma vez, em desespero suicida.
O índice de suicídios nos países civilizados é alto, porque a cultura é materialista, vivendo no inconformismo, e o prazer é o único motivo do significado existencial. Como  consequência, as taxas de delinquência juvenil em toda parte é grande e continuam crescendo.
Dessa forma encontra-se, instalada a neurose coletiva e destrutiva.
A divulgação infeliz dos dramas e tragédias do cotidiano, pelos veículos de comunicação, ao invés de apresentar propostas salvadoras, terapias preventivas e curadoras, estimula indiretamente os comportamentos frágeis a se tornarem heróis, a se destacarem pela mídia, a desafiarem a cultura, e a ética, crendo no falso martírio que se origina na covardia moral e na destruição psicológica em que se encontram.
As almas dos jovens encontram-se ansiosas e desorientadas, seguindo estranhos caminhos por falta de equilibrado roteiro para o encontro com a segurança interior. A educação no lar e a formal, nas instituições que se lhe dedicam, encontram-se também sem estrutura por serem, aqueles que a propõem, estúrdios e desestruturados, ensinando teoria e vivenciando os desequilíbrios em que se tornam exemplos vivos, que são copiados.
Divulgam com exagero a necessidade de autorrealização e de autoidentificação através de processos estranhos e mórbidos que lhes chamam a atenção e os igualam nas tribos em que se escondem.
A questão é muito grave e pede cuidados especiais de todos: pais, educadores, governantes, religiosos, sociólogos, psicólogos, pessoas sensatas que devem se unir, para combater o inimigo comum: a falta de sentido existencial que se estabeleceu na sociedade.
Para viver com dignidade é preciso um objetivo,  um sentido ético que se transforma em meta a ser conquistada.
Se for a busca da felicidade nos padrões do consumismo ou do prazer, fruto do imediatismo, logo vem a decepção e a falta de motivação para novos empreendimentos.
É indispensável, despertar em todos a necessidade da autotranscedência, da superação das exigências do ego em sombra para o significado do self imperecível.
Essa autotranscedência deve ser sugerida habilmente, não imposta, despertada em todas as mentes como o caminho para a harmonia interior, para a existência adquirir sentido de gratidão, de correspondência com os demais, de significados libertadores.
É muito comum as pessoas perguntarem pelo  significado das suas existências, por estarem tão acostumadas nas múltiplas gerações que lhes foram imposto o mesmo.
No passado, as religiões dominantes estabeleciam que o primeiro filho deveria pertencer às armas, a fim de salvar o Estado, o segundo pertenceria a Deus, servindo à religião e entregando-se-lhe totalmente mesmo sem  vocação nem desejo. Com relação a filha acontecia o mesmo, deveria servir a Deus, educar-se em serviços domésticos, o direito ao conhecimento lhe era negado, como à cultura, porque era tida como inferior, sem alma, sem discernimento...
O absurdo imposto ressurgiu como hipocrisia,  com uma postura convencional, que a sociedade aceitava, e o desvario oculto, criminoso muitas vezes, a que os indivíduos se entregavam, como forma de sobrevivência à asfixia imposta pela neurose religiosa.
As aberrações e extravagancias eram praticadas, mas não consideradas crime nem censura, desde que não fossem divulgadas...
É natural que esse atavismo ressurja do inconsciente coletivo e pessoal e imponha ao indivíduo a necessidade de que alguém lhe diga qual o sentido da sua vida. Mesmo quando buscam certas psicoterapias, descuidadamente alguns profissionais passam a ser gurus, respondendo pelas vidas e comportamentos dos seus pacientes, tentando eliminar-lhes as preocupações, e assim mantê-los na ignorância, na dependência doentia, na aflição aparentando bem-estar...
A importância psicoterapêutica aparece quando começa a libertar o paciente do pensamento do seu orientador, encontrando-se com a sua realidade e descobrindo-se, e descobrindo as possibilidades de realização pessoal e de objetivos essenciais para o bem-estar.
Vem faltando honestidade e sinceridade intelectual nos formadores de opinião, nos educadores, nos psicoterapeutas também problematizados, reservando-se às exceções normais à conduta saudável.
Deve ser instituída uma nova visão da vida através de processos psicoterapêuticos sadios, libertadores da neurose coletiva, trabalhando o indivíduo e depois o grupo social, para tornar possível a conquista do significado existencial.
Texto trabalhado com base no livro PSICOLOGIA DA GRATIDÃO, escrito por Divaldo Pereira Franco, ditado pelo Espírito Joanna de Ângelis.

Postado dia 30/03/2014

sexta-feira, 28 de março de 2014


PSICODINAMICO  

Acrescentamos ao nosso título o processo psicodinâmico para valorizar justamente este movimento que a psique vivencia, uma evolução continuada através da modificação, em oposição ao processo estático de tirar uma coisa ruim e colocar outra boa, como se transformação moral fosse uma simples troca.
Psicodinâmico, segundo o Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa, quer dizer “próprio ou relativo a qualquer sistema psicológico, que busca explicação do comportamento em termos de motivos” (HOUAISS, 2001, verbete).
O termo dinâmico foi atribuído ao inconsciente pela sua ação permanente em relação à sua consciência, exigindo uma força contrária, que também se mantém permanente, como uma interdição, uma resistência à conscientização.
Segundo o Vocabulário de Psicanálise, dinâmico é “qualificação de um ponto de vista que considera os fenômenos psíquicos como resultantes do conflito e da composição de forças que exerce uma certa pressão” (LAPLANCHE e PONTALIS, 1996, verbete). Embora não nos atenhamos ao movimento pulsional como estudava Freud, nos referimos a um movimento do psiquismo que precisa ser compreendido, pois é este movimento que, a nosso ver, conduz à transformação moral.
O que é rejeitado exerce uma pressão constante no sentido da motilidade, de se fazer visto, e consumindo energia para isso.  Segundo Fenichel (1981), quase todos os sintomas neuróticos são derivados, no sentido de algo que não está bem dentro de nós, e que encontra uma forma de se expressar.
Dessa forma, entende-se que é impossível eliminar algo que não esteja bem ou “adequado”, sejam defeitos ou qualquer conteúdo que desagrade. O que a psique fará é conduzi-lo ao inconsciente tirando dele a energia que se direcionará a outros objetos, encontrando outra forma de se fazer presente, e com isso, alimentando a sombra humana.
Dentro de uma perspectiva junguiana, Whitmont (2008) explica que a sombra se refere à parte da personalidade que foi reprimida em benefício do algo ideal.
Apenas remove-se este opositor da consciência, mas como orienta Joanna, (2009a) na magnífica obra, Em Busca da Verdade,  este comportamento castrador de supressão, redunda em grande fracasso, permanecendo apenas disfarçado pela aparência que se adquire.
A principal consequência desta repressão é que aquele disfarce faz com que o indivíduo (e apenas ele) acredite que está adequado, correto, e que já se transformou, enganando-se e perdendo seu tempo.
Tudo aquilo que não é aceito, acolhido ou assimilado pelo ego, de nossa personalidade, constituirá a sombra:
A sombra, portanto, consiste nos complexos, nas características pessoais que repousam em impulsos e padrões de comportamento, os quais são uma parte ‘escura’ definida da estrutura da personalidade. Em muitos casos são facilmente observáveis pelos outros. Apenas nós não conseguimos vê-los. (WHITMONT, 2008,p. 146)
Joanna de Ângelis, no livro, O Ser Consciente, afirma que o ego resiste  à aceitação da realidade profunda e por isso elabora diferentes mecanismos escapistas como forma de preservar o seu domínio na pessoa: a compensação, o deslocamento, a projeção,  introspecção e a racionalização.
Utilizar-nos-emos deles e de outros mecanismos listados nas obras psicanalíticas para avaliarmos as diferentes formas de escamoteamento  de nós mesmos e as alternativas imaturas que o ser humano encontra de não se  aprofundar nesta realidade, evadindo-se do processo de efetiva transformação moral.
Um dos mecanismos bastante comuns nas comunidades religiosas é denominado de intelectualização. Segundo Laplanche e Pontalis (1996), uma das finalidades principais da intelectualização é manter distancia dos afetos, como se o sujeito procurasse dar uma formulação discursiva aos seus conflitos e às suas emoções, de modo à dominá-los. A intelectualização é um conceito empregado principalmente para designar, em psicanalise, uma modalidade de resistência ao tratamento.
Podemos tangenciar este conceito e refletir sobre o movimento espírita. interessa-nos a abordagem que Kardec faz na obra A Gênese: os milagres e as predições segundo o Espiritismo, intuindo a intelectualização como um mecanismo de defesa. Neste livro, considerado por muitos como uma obra científica e de difícil leitura, encontraremos as palavras simples do codificador nos alertando que:
O progresso intelectual realizado até o presente, nas mais largas proporções, constitui um grande passo e marca uma primeira fase no avanço geral da Humanidade; impotente, porém, ele é para regenerá-la. (...) Somente o progresso moral pode assegurar aos homens a felicidade na Terra. (KARDEC, 1995, p.414)
Não estamos com isso minimizando a importância do desenvolvimento intelectual, pois o desenvolvimento moral acompanha o primeiro. No entanto, ao lermos as palavras do codificador, percebemos seu cuidado como se pudéssemos sobrepor o primeiro ao segundo, como se para alguns a intelectualidade fosse um fim em si mesma, uma finalidade última, sem vistas à aplicação.
Ainda em A Gênese ele alerta, “ já não é somente de desenvolver a inteligência o de que os homens necessitam, mas de elevar o sentimento.” (KARDEC, 1995, p.404)
Não apenas no consultório psicoterapêutico mas, também nos grupos de estudos e cursos, percebemos que a intelectualiação pode ser utilizada como tentativa de silenciamento dos sentimentos e, portanto, como fuga da moralização, num processo de escamoteamento de nossa personalidade.
A intelectuaização pode ser utilizada como um artifício para não falarmos de nós mesmos, como uma forma de fuga nos mantendo dentro de uma situação modelo, evitando lidar com aquilo que desconhecemos ou que foge ao próprio controle. É como se mantivesse um controle superficial sem que o soubesse. A intelectualização pode nos conduzir à profundidade dos conceitos, mas sem outras habilidades jamais chegaremos até a profundidade de nós mesmos, regenerando nosso planeta através da nossa própria transformação.
A intelectualidade sem a reflexão pessoal gera neurose, a ponto de alguns autores afirmarem, como o analista junguiano  Luiz Paulo Grinberg o faz, que “a psicoterapia em grande parte vai lidar com aquilo que o sujeito faz ou deixa de fazer com seus instintos.” (GRINBERG, 2003, p.90)
O autor quer dizer que um número muito grande de pessoas procura a psicoterapia porque sabe muitas coisas (vivência puramente intelectualizada e, podemos acrescentar, na maioria das vezes mal conduzida religiosamente) e não sabe como lidar com seus instintos, com seus desejos, com o que sente, pois o sentimento não obedece ao raciocínio. Neste percurso, comumente chega um momento da vida em que a pessoa é tomada por eles, como uma compulsão sexual, quadros de ansiedade, angústia, etc. ou perde-se o controle de si mesma sem conseguir fazer uso da vontade, como ocorre em muitos transtornos de humor, como a depressão. (É extremamente comum ouvir de pacientes depressivos em meio a sofrimentos e incompreensões, a afirmativa de que levavam uma vida normal, que nunc imaginariam se encontrar no estado atual, e que achavam, assim como os outros agora acham, que depressão é sinônimo de frescura ou que bipolaridade é simples falta de limites.)
Quando não conseguimos desenvolver a intelectualidade tão habilmente a ponto de podermos nos esconder atrás, de tanto que falamos, pensamos, argumentamos, discutimos, palestramos...Podemos nos deparar com outras formas de fuga.
Para efeitos didáticos vamos enunciar quatro comportamentos distintos e que se complementam, como outros mecanismos de defesa do ego: negar algo para si próprio; repreender e combater no outro justamente aquilo que incomoda em si; agir de maneira oposta tentando provar para si mesmo que é diferente; copiar comportamentos de alguém idealizado para ter a sensação são iguais.

Vejamos cada um desses movimentos psicológicos com mais detalhes.(na próxima postagem do mesmo livro).
Texto escrito por Marlon Reikdal, no livro REFLETINDO A ALMA. Postado no dia 28/03/2014.

quinta-feira, 27 de março de 2014


AS CONQUISTAS EXTERNAS
 

O processo de evolução antropológica tem sido um grande desafio da vida, o que vem produzindo mudanças nas formas e funções orgânicas, permitindo o desenvolvimento das faculdades mentais até alcançar a grandiosa área da inteligência e dos sentimentos. Por isso o instinto, na sua inteireza, já é uma forma de inteligência embrionária, por criar os condicionamentos que, mais tarde, a razão irá ampliar até proporcionar a compreensão dos conceitos sutis e das abstrações ... 

As razões para a sobrevivência desenvolveram os instintos agressivos que predominaram no ser humano por milênios e, quando ocorreu a conquista dos padrões da razão e o seu estabelecimento no âmago do Espírito, aquelas heranças continuaram com forte domínio no comportamento. A libertação lenta do primarismo e a aspiração do belo e do nobre, o deotropismo se vêm impondo, de forma que a consciência hoje pode administrar os impulsos violentos, orientando-os para as ações de edificações, sem traumas nem conflitos.

Apesar disso, o individualismo, filho da conquista do materialismo, que se mostrou contra as imposições absurdas do religiosismo exterior, sem significados internos, expressa-se, hoje, como uma forma incompleta autorrealização, levando o individuo a ter, a destacar-se, a conquistar o que deseja de qualquer maneira, tornando-se consumista insaciável e inquieto. 

Diante desse instalado pós-modernismo, atribui-se à ciência valores e significados quase divinos, dando a impressão de que é  incorruptível e insuperável, ao mesmo tempo  que as referencias pessoais nos relacionamentos que não se aprofundam, ficando sempre na superficialidade, tornam as afeiçoes descartáveis, como tudo quanto se compra com a sede de ter.

Os afetos são ligeiros e medrosos, oportunistas e descomprometidos, com medo cada qual de ser dominado pelo outro, evitando submeter-se, o que se caracteriza como pequenez, falta de personalidade, risco de perda, quando se estabelece a dependência...

A grande confusão entre afetividade e interesse sexual, entre amor e compensações sentimentais, responsabiliza-se pelo desinteresse da convivência fraternal saudável, sem interesses subalternos, deixando-se a sombra  dominar todos os espaços do ego, ao tempo em que não se abrem as possibilidades psicológicas do Self para a realidade.

As artes, que sempre tem expressado o estágio evolutivo, politico, comportamental da sociedade, nestes dias conturbados, são agressivas e destituídas, em muitas áreas, de propostas elevadas de beleza, expressando apenas os conflitos, as aspirações doentias, a revolta e o desânimo dos seus portadores. A música, por exemplo, descendo do pedestal das musas, enveredou pela contracultura, pelos desvãos da ironia, da perversão moral, do deboche, da agressividade, do duplo sentido com destaque para o pejorativo, como se o ser humano devesse sempre reagir, mesmo quando pode agir, se deixar cair no desespero, quando poderia aspirar pela alegria real de viver, modificando o status quo e contribuindo para um mundo melhor, onde é possível a vida expressar-se em harmonia e grandeza.

Impossibilitado de conduzir os povos, por se haverem perdido nas malhas da burocracia e nos interesses partidários, os governantes da Terra aturdidos, demonstram não saber o que fazer nem como fazê-lo. Permitem a desorientação das massas, a sua revolta contínua, por esquecimento das responsabilidades não cumpridas e que foram apresentadas nos seus programas eleitoreiros enganando o povo desorientado.

Surgem, revoltas, revoluções, amolentamento do caráter e perda da moral, com reações em cadeia, cada vez mais violentas e ameaçadoras, porque os limites da ordem e do respeito foram superados pela não fronteira da rebeldia.

Os esportes, que sempre constituíram oportunidades excelentes para catarses coletivas, competições saudáveis, alegrias e entusiasmo coletivo, transformaram-se em fontes mafiosas de domínio e de conquistas financeiras, construindo deuses frágeis que logo tombam do pedestal, tornando-se campo de batalha pelas torcidas ferozes que digladiam com frequência em sucessivos espetáculos deprimentes que culminam com a morte de alguns dos seus fanáticos...

O desrespeito pelos valores internos do ser humano propõe a significação das suas conquistas exteriores, tornando-o avaro e pretensioso.

A falta de concentração das pessoas nas questões importantes do ser interior tem contribuído para a futilidade em triunfo e o desconhecimento da sua realidade, crendo ser a vida esse passeio fantástico pelo país da pressa dourada, em que tudo é de efêmera duração, não permitindo a reflexão e o encontro com a consciência, com o Si-mesmo . Essa sombra teimosa consegue separá-las do eu divino que existe no íntimo e de que se constitui, sendo necessário transmudar esse material inferior num processo alquímico emocional, para realmente encontrar o significado existencial.

Ter em mente a presença da sombra, a fim de vencê-la, é necessidade psicológica inadiável, como nos  contos de fadas, nos mitos ancestrais, permitindo a liberação do ser oculto, misteriosamente transformado pela magia da ignorância (A bela e a fera, O príncipe sapo, Branca de neve, A bela adormecida etc.)

Com essa consciência, fica claro que não adiantam as lutas externas, os combates inglórios contra os outros, a ânsia de superar os competidores, o desejo de ultrapassar os demais, por insegurança pessoal, permitindo-se encontrar e viver-se o sentido da vida. Ninguém pode viver de maneira saudável sem o culto interno da integração da fé religiosa com a razão numa harmonia estimuladora ao prosseguimento dos embates inevitáveis do dia-a-dia, haurindo confiança nos momentos difíceis e renovando a coragem na ameaça do desanimo. Esse sentido da vida não pode ser desenhado pelos hábitos externos, mas construído de forma subjetiva, idealista, interior, com o enriquecimento das aspirações que engrandecem a existência. De forma definitiva é impossível, viver-se sem o sentimento dos conceitos eternos, que dão dignidade à criatura humana, proporcionando-lhe ética e moralidade para ser fiel aos objetivos existenciais.

Com essa percepção, descobre-se que os conflitos, as aflições em torno das posses e o medo de perde-las são fenômenos pessoais interiores da própria insegurança, levando a transtornos de comportamento e distúrbios orgânicos repetitivos.

A verdadeira psicoterapia leva o indivíduo a redescoberta da sua realidade, da sua origem espiritual, da finalidade existencial, do seu futuro imortal que se lhe transformam em alicerces de segurança para as lutas contínuas, evitando a projeção dos seus conflitos nos outros, assumindo a culpa e libertando-a do inconsciente que se encontram produzindo sombra  e sofrimento.

Quando Jesus enunciou que é necessário tomar a sua cruz e seguí-lO, Ele propôs a conquista da autoconsciência, a definição para assumir as próprias responsabilidades, ao invés de permanecer-se divagando em torno de como encontrar o melhor processo para o equilíbrio, que não se expressa em formas exteriores nas fugas de transferência de responsabilidades, ou para os prazeres que se extinguem, por mais que continuem...

A psique precisa de apoio transcendente para proporcionar elementos dignificadores, por intermédio da realidade em que todos estão mergulhados, elegendo aqueles que são mais compatíveis com as aspirações e as possibilidades, de execução.

Todos dependem de Deus, porque, afinal, estamos mergulhados em Deus, mas é necessário reconhecê-lO em nós, para que O manifestemos através do comportamento emocional e das ações sociais, familiares, espirituais...

Quando perguntaram a Jung se ele acreditava em Deus, disse com humildade e sabedoria, que não necessitava de crer, informando: - Eu sei, não preciso acreditar...

Existe uma luta contínua para definir-se Deus e atribuir-Lhe apenas caráter religioso, limitando-Lhe a grandeza, o que permite àqueles que pensam e se libertaram das crenças ligeiras, negá-lO, porque a sua visão é mais ampla e abrangente do que a proposição do fanatismo religioso. Se for considerado como a vida, por exemplo, passa a existir naquele que O imagina, pois a Sua realidade somente pode ser aceita pela consciência depois que se começa a concebê-lO.

Sem um valor maior, que mereça investimento, ninguém vai à luta, ao sacrifício, porque tudo que é superficial cedo perde o sentido. É assim como alguns tipos de metas humanas, que são imediatas, como conseguir coisas, posses, amealhar fortuna, conviver com pessoas, e ao alcançá-los, terminando o objetivo, surgem as frustrações e as decepções.

Há pais que se entregam à educação dos filhos, depositando neles todas as suas aspirações e insatisfações, esperando compensação quando eles se tornarem adultos. Quando isso ocorre, e os descendentes são convidados a seguir sua própria vida, atormentam-se, acreditando-se abandonados, sofrem depressões, perdem o sentido da vida...

O significado da vida não é esse compromisso breve da existência.

O mesmo acontece com o trabalho, com a carreira profissional, com as aspirações políticas e culturais, artísticas e religiosas... Alcançando o patamar programado, a ausência de nível mais elevado conduz ao tédio, ao desinteresse, à perda de sentido da vida...

Isto porque a educação infantil é feita de ilusões que escravizam e se transformam em metas primordiais, tornando-se uma proposta neurótica, sem significado. Descobrir o destino e trabalhá-lo, programar essa fatalidade honorável e saudável é o objetivo da vida, aquele que propicia saúde integral, porque não é conquistado de um para outro momento, não se limita a encantos passageiros, não é monótono, apresentando-se sempre novo e a um passo à frente.

Conforme a religião enfraqueceu nas famílias, o desinteresse pelo ser espiritual também sofreu atrofia emocional, deixando-se que cada um escolha, quando oportuno, o seu conceito de vida e de espiritualidade, como se fosse acreditável permitir-se que alguém primeiro se contamine de alguma doença e depois expor-se aos perigos que a mesma proporciona.

A criança deve sentir a importância da família, compreender o significado desse grupo social reduzido, para poder conviver com a outra, a social e ampla, com ideias religiosas liberais e enriquecedoras, para então amadurecer psicologicamente com segurança e respeito pela vida.

Uma visão infantil bem trabalhada pelos pais e educadores continuará conduzindo-lhe a vida para toda a existência. Os diferentes símbolos de cada fase etária serão decodificados e transformados com naturalidade sem choques nem perdas, substituídos por outros mais oportunos e significativos, que vão abrir espaço para o encontro com a realidade existencial sem os fantasmas nem bichos-papões.

Os mitos pessoais, as fantasias, os complexos e os sonhos não realizados quando se expressam naturalmente, são superados pelas conquistas do discernimento e da razão, da contribuição da psique, unindo as duas fissões numa só significação.

 
Texto trabalhado com base no livro Em Busca da Verdade, escrito por Divaldo Pereira Franco, ditado pelo espírito Joanna de Ângelis,  

Postado dia 27/03/14.

O DESEJO DE ADEQUAÇÃO MORAL 

A busca pela modificação para melhor não é nenhuma novidade, muito menos exclusiva dos espíritas. Desde sempre se busca o progresso, pois que é lei divina, ínsita em todo ser humano.
Em seus estudos sobre histeria, conforme já citados no capítulo sobre psicanálise, Freud tratou pacientes que viviam em busca de atender a esta  moralidade e que por isso mesmo adoeciam. Mas o extraordinário é que Freud identificou que o verdadeiro problema e o motivo pelo qual as pessoas adoeciam não era pelo fato de buscarem uma transformação, mas a forma como buscavam esta transformação.
Diante de um ideal socialmente construído, em algumas situações da vida, o homem é movido pela vontade imatura, de modificar algo em si, seja um desejo, um pensamento, uma emoção, uma atitude ou sentimento que reflita inadequação. Este conflito entre o que é vivido e o que é idealizado foi sabiamente identificado por Freud e o direcionou para a compreensão do funcionamento do inconsciente.

Para os psicanalistas o elemento simbólico que representa a relação entre o consciente e  inconsciente é um iceberg. As imensas pedras de gelo mostram acima da superfície apenas uma pequena parte(estimada em cinco a dez por cento) de tudo que são. Os outros noventa por cento, ou seja, a maior parte encontra-se submersa. Freud correlacionou a consciência com a parte superficial do iceberg que se encontra à mostra, e o inconsciente a toda grandiosidade submersa, e que verdadeiramente dirige o iceberg no contato com a correnteza.

Jung dará uma dimensão ainda maior a essa relação entre consciente e inconsciente, sendo comparada a imensidão do inconsciente onde flutua uma pequena rolha – a consciência. Entretanto para o autor da Psicologia analítica, o conceito de psique será ampliado para além da dupla consciente-inconsciente, fazendo analogia a uma cebola com diferentes camadas, como esferas concêntricas num todo complexo. (Este estudo do psiquismo humano extrapola a dimensão pessoal e foi trabalhado por Jung em inúmeras obras, das quais ressaltamos “Os Arquétipos e o Inconsciente Coletivo”. Por constituir uma teoria tão ampla e com tantos fatores subjetivos e objetivos, em determinado momento de seus estudos Jung prefere denominar a sua teoria de Psicologia complexa ao invés de analítica.)
Estas imagens que os teóricos da psique utilizam são apenas para facilitar a visualização de um esquema que tenta mapear o funcionamento psíquico, porém é fundamental lembrar que estamos nos reportando a um sistema imaterial, energético, dinâmico e em constante interação.
Existe um número imenso de teorias e possibilidades de explicar o psiquismo humano, no entanto com Freud chega-se a Jung que se constitui a principal fundamentação teórica da qual o espírito Joanna de Ângelis se utiliza para explicar o funcionamento humano, dentro da perspectiva da Psicologia Espírita.
Com este conhecimento é possível estabelecer o princípio de analise da transformação moral. A partir do conceito de inconsciente pode-se entender que não há como eliminar uma imperfeição com um ato de supressão. O máximo que se pode conseguir é retirar do consciente, ou seja, das vistas do ego, mas não será efetivamente uma transformação. Além dos conteúdos represados no inconsciente, percebe-se que o próprio inconsciente movimenta-se em função de fazer-se conhecido, como um impulso de conscientização necessário para a evolução humana.

Freud ensina que existem duas formas de o ego tentar se “defender” daquilo que não atende o seu ideal e precisa ser trabalhado na análise: a repressão e a resistência. A repressão consiste no movimento de retirada de algo da consciência em direção ao inconsciente. ( São de dois tipos os conteúdos a que Freud se refere: os conteúdos que foram reprimidos e encontram-se no inconsciente; e os conteúdos que desde o nosso nascimento sempre estiveram inconscientes, como instintos, desejos, medos complexos, etc. de qualquer forma os movimentos são considerados tentativas de defesa, pois objetivam diminuir os efeitos reais e os sofrimentos da respectiva conscientização.)
Esses dois movimentos abriram espaços para o entendimento dos mecanismos e defesa de o ego como forma de o ego se proteger das investidas do inconsciente.
O estudo dos mecanismos de defesa ganhou volume na obra psicanalítica com os estudos de Anna Freud: 

Quando repudia as reivindicações do instinto, sua primeira tarefa deve ser a de chegar a termos com esses afetos. Amor, nostalgia, ciúme, mortificação, dor e pesar acompanham os desejos sexuais, ódio, cólera e furor nos impulsos de agressão (...) estes afetos devem submeter-se a todas as várias medidas a que o ego recorre, em seus esforços para dominá-los. (FREUD, 1977,p.27) 

Por isso dissemos que os mecanismos de defesa estão diretamente ligados ao processo de transformação moral, afinal, quando o ego se defende de um conteúdo ele está apenas escondendo ou fingindo para si mesmo que é diferente, mas não se transformando, ou seja, está gerando um problema ainda maior.
Texto escrito por Marlon Reikdal, no livro REFLETINDO A ALMA, publicado dia 26/03/2014