sábado, 31 de agosto de 2013


 

A GRATIDÃO NA FAMÍLIA

Item do cap.3  compromissos da gratidão

Acreditava-se que, em razão do grande desenvolvimento das ciências aliadas ao contributo tecnológico, o ser humano conseguiria, por fim, a harmonia e o crescimento moral. Nunca houve tantas conquistas intelectuais e atividades de natureza cultural, com ampla gama de recreação como acontece hodiernamente.

O conforto e as facilidades oferecidas pelos instrumentos eletroeletrônicos facilitam a vida de bilhões de seres humanos, embora, lamentavelmente, grande fatia da humanidade ainda se encontre mergulhada na miséria, ou abaixo da linha da pobreza, conforme se estabeleceu, padecendo escassez de pão, de vestuário, de medicamento, de trabalho, de educação, de dignidade...

Jamais houve tantos divertimentos e técnicas de lazer, assim como facilidades para os relacionamentos, para a fraternidade, para a harmonia entre as pessoas. No entanto, não é o que ocorre na sociedade terrestre, na qual campeiam a solidão, a ansiedade e o medo em caráter pandêmico. As enfermidades, resultantes das somatizações dos distúrbios psicológicos, desgastam incontáveis numeros de vítimas que se lhes tombam inermes nas malhas constritoras. É assustador o número dos transtornos de comportamento na área da afetividade, das doenças cardiovasculares, do câncer, apenas para citar algumas doenças mais assustadoras.

Desconfiado, em razão do medo que se lhe instala na emoção, o novo ser humano superconfortado rafugia-se na solidão, mantendo comunicação com as demais pessoas por intermédio dos recursos virtuais evitando o saudável contato corporal enriquecedor.

Os padrões ético-morais, em consequência, alteraram completamente as suas formulações e o vale-tudo assumiu-lhes o lugar, no qual tem prioridade o cinismo, o deboche, o despudor, a astúcia. A ânsia pela aquisição da fama amesquinha esse indivíduo intelectuilizado mas não moralizado, e inspira-o à assunção de qualquer conduta que o conduza ao estrelato, à posição top, conforme os infelizes conceitos estabelecidos por outros líderes não menos atormentados.

A moral, a dignidade, o bem proceder tornaram-se condutas esdruxulas, ultrapassados pelos expertos das fantasias do erotismo e da insensatez.

É necessário destacar-se no grupo social, ser motivo de admiração e de inveja, planar nas alturas, ser inacessível, estar cercado de admiradores e uma corte de bajuladores que detestam os ídolos que parecem admirar, lamentando não estarem no lugar deles, que os tratam com desdém e enfado...

No início, submetem-se a todas as exigências da futilidade para chamarem a atenção, e quando se tornam conhecidos, ocultam-se atrás de óculos escuros, perucas, fogem pelas portas dos fundos dos hotéis, a fim de se livrarem dos fanáticos que os aplaudem até o momento em que surgem outros mais alucinados e exóticos...

A anorexia e a bulimia instala-se na juventude ansiosa que se submete aos absurdos programas de emagrecimento para conquistar a beleza física, recorrendo aos anabolizantes, aos implantes, às cirurgias perigosas, numa luta intérmina para alcançar as metas estabelecidas.

Nesse báratro, a família esfacelou-se, a comunhão doméstica transtornou-se, a sombra coletiva passou a dominar o santuário do lar e a desagregação substituiu a união.

Mães emocionalmente enfermas e imaturas disputam com as filhas os namorados, repetindo a tragédia de Electra, e pais saturados de gozo entregam-se ao adultério como forma de destaque no grupo social que os elege como dignos de admiração.

O desrespeito campeia, originando-se nos genitores que consideram a prole uma carga que lhes dificulta a mobilidade nas áreas insensatas do prazer ou como forma narcisista de exibição, aguardando que deem continuidade aos seus disparates ou expondo-a, desde muito cedo, em caricaturas de adultos nos programas de TV e de rádio, de teatro e de cinema, em lamentáveis processos de transferência frustrante dos próprios fracassos.

O ego destaca-se, perverso em todos os cometimentos, e a ingratidão assinala a maneira de ser de cada um. Pensa-se exclusivamente no interesse pessoal, embora a prejuízo dos outros, e a competição desleal esfacela os relacionamentos, que se assinalam, com raríssimas exceções, trabalhados pela hipocrisia e pela animosidade mal disfarçada.

Nesse comenos, a traição, o descaso por aqueles que auxiliaram no começo da jornada, a ingratidão manifestam-se em escala assustadora.

A ingratidão, porém, é doença da alma que necessita de urgente tratamento nas suas nascentes.

O ingrato é alguém que perdeu o endereço da felicidade e, aturdido, deambula por caminhos equivocados.

Ninguém nasce grato, nem consegue a gratidão de um salto.

Aprende-se gratidão mediante a prática, que deve ser iniciada na família, essa sociedade em miniatura, onde a afetividade manifesta-se com naturalidade.  Pg72 esse texto continua na próxima postagem.  Postagem do dia 31/08/2013 .

sexta-feira, 30 de agosto de 2013


Complexos
(Continuação do cap6; a Psicologia analítica de Karl Gustav Jung)
Em uma conversa, um amigo de Jung contava-lhe uma experiência vivida em longa viagem de trem pela Rússia. A experiência que despertou o interesse de Jung foi a seguinte: embora não conhecesse o alfabeto russo (cirílico), ele, o amigo, começou a divagar nos possíveis significados daquelas palavras, e voluntariamente foi praticando uma associação, entrando assim em estado de devaneio, no qual imaginava todo tipo de significado para as palavras. Como uma ideia foi levando à outra, muitas lembranças antigas começaram a surgir. Situações desagradáveis, há tempo esquecidas, voltaram à consciência. Conteúdos supostamente apagados retornavam.
Após essa conversa, Jung, que nesta época trabalhava como assistente de Bleuler em psiquiatria dedicou-se ao teste de associação de palavras. (Neste teste, o paciente deveria associar a primeira palavra que lhe viesse à mente à algumas palavras-estímulo. Era verificado o tempo de reação, observando-se as repetições e falhas nas respostas. Iris Sinoti). Através desses testes Jung descobriu que, no inconsciente, alguns conteúdos gozavam de certa autonomia, chegando até a impor-se à mente consciente. Quando atingidos, esses conteúdos, graças à sua autonomia, perturbavam a pessoa, fazendo-lhe dizer coisas que não queria dizer conscientemente.
Jung chamou-os de complexos, termo por ele introduzido na Psicologia para definir a reunião de conteúdos que se aglomeravam no inconsciente pessoal, atraindo para si uma grande quantidade de ideias de teor afetivo e dotadas de energia psíquica acumulada.
Por isso supomos que, quando somos dominados por uma emoção descontrolada, é sinal de que algum complexo foi ativado. O perigo, diria Jung, não é possuirmos complexos, mesmo porque todos os possuímos, mas sermos por eles possuídos. E isso só acontece porque enquanto o complexo estiver inconsciente, nos for estranho, estaremos sob o seu domínio, vulneráveis às reações mais irracionais e estranhas à nossa consciência. Como se fossemos tomados por outra personalidade que nos revela parte de nós mesmos que sempre mantivemos escondida, nossa Sombra.
Concluído o texto, porém o artigo continuará na próxima postagem
Dia 30,8,2013.

quinta-feira, 29 de agosto de 2013


Compromissos da gratidão
Continuação pg68
Não sendo vitalizado pelo rancor, o ódio autoconsome-se, não encontrando revide, a ofensa perde o seu significado, e não se retribuindo o equivalente mal que lhe foi direcionado, este desaparece.
Opor-se e resistir ao mal fortalece a energia deletéria que é enviada, porque proporciona ressonância vibratória e, no revide, recebe a potência da resposta. Não valorizar o mal nem lhe atribuir sentido é a maneira mais eficaz de culminar amando os agressores e os perversos.
Uma observação ligeira da natureza leciona a vigência da gratidão em toda parte.
A tempestade vergasta a terra e despedaça tudo quanto encontra ao alcance, semeando pavor e destruição. Logo que passa, a vida renova a paisagem, recompõe a flora e a fauna, restitui a beleza, num ato de gratidão à ocorrência agressiva.
O solo sulcado pela enxada bem acionada agradece ao lavrador que o feriu, reverdecendo, transformado e estuante de vida. Mesmo a erva má que medra no lugar também agradece, coroando-se de flores na quadra primaveril.
Nem sempre, porém, o ser humano consegue viver a psicologia da gratidão. Pode iniciar o dia em júbilo e gentileza, à medida, porém, que as horas passam e sucedem-se os incidentes no convívio familiar, no trânsito, no trabalho, passa a agir com impulsos agressivo-defensivos, seguindo a correnteza dos desesperados... Noutras vezes, antes de dormir encontra-se disposto e grato, exteriorizando alegria defluente das ocorrências. Apesar disso, fenômenos oníricos perturbadores, episódios de insônia, distúrbios gástricos tomam-no e, ao despertar, o mau humor assinala-o, tornando o seu dia desagradável e o seu comportamento irreconhecível.
É natural que assim ocorra. Passado, porém, o fenômeno perturbador, cumpre que se volva às atitudes gratulatória anteriores, insistindo-se sem desânimo para automatizá-las, a fim de que permaneçam mesmo nos momentos desafiadores e desconfortáveis.
Há um arraigado hábito no ser humano de recordar-se dos insucessos, dos maus momentos, das contrariedades, das tristezas e das agressões sofridas em detrimento das muitas alegrias e benesses que são deixadas em plano secundário nos painéis da memória. Esse comportamento produz o ressumar do pessimismo, da queixa, do azedume, da depressão.
Uma reflexão rápida seria suficiente para transformar aqueles acontecimentos enfermiços, ricos de torpes evocações, em motivo de gratidão, pois que, inobstante as ocorrências desagradáveis, a existência modificou-se totalmente, sobreviveu-se a tudo, vieram êxitos, tiveram lugar experiências iluminativas, amizades gentis, sucederam fatos positivos dantes não esperados...
Gratidão, desse modo, por todos os acontecimentos, deve ser sempre a atitude mental e emocional de todos os seres humanos.
A estrada do êxito é pavimentada por equívocos e acertos, tropeços e corrigendas, sendo, no entanto, o mais importante a conquista do patamar almejado que cada qual tem em mente.
Perseverando-se e treinando-se gratidão, o sentido de liberdade e de infinito apossa-se do self que se torna numinoso, portanto, pleno.
Final da introdução do cap3; compromissos da gratidão. Pg65-69. Postado dia 29-08-2013. O cap. continuará na próxima postagem.

Um país longínquo

(continuação pg56) cap.3 ENCONTRO E AUTOENCONTRO

Os problemas afligentes, que se podem apresentar como enfermidades de vário porte, conflitos diversos, à medida que se dão as colisões operam despertamentos e surgem oportunidades de mais acuradas reflexões, insights  valiosos, que irão trabalhar em favor do amadurecimento do Self, o viajante incansável da evolução...
O animal humano sexuado, vitimado pela pulsão dominante, não lhe é escravo exclusivo, porquanto outras pulsões apresentam-se-lhe com fortes imposições que não podem ser desconsideradas.
Desde a pulsão da fome àquelas do idealismo mais elevado, trabalham pela transformação das forças da libido em satisfações outras também plenificadoras que impulsionam para a saúde e o bem-estar
A pulsão do Filho Pródigo entregando-se ao sexo desvairado, na fase da deserção da casa paterna – o santuário do equilíbrio, o Éden da inocência  - empurrou-o para o abismo do conflito e da culpa, do sofrimento e da amargura, descobrindo que o desejo sexual por mais acentuado, quase sempre ao ser atendido não oferece a compensação esperada, o que produz frustração e ansiedade.
A ansiedade induz ao desespero, e a perda do discernimento trabalha em favor dos transtornos de conduta que se podem agravar.
Raramente, nessa conjuntura, o ego desperta para perceber-se equivocado e induzir a volta para casa.
No conceito de que o ego é o centro da consciência, devem ser trabalhadas todas as suas manifestações, de modo a valorizar os bens de que dispõe, não os desperdiçando com as meretrizes nem os companheiros de orgia, esses elfos que permanecem como realidades arquetípicas no inconsciente, conduzindo-o na repetição das experiências malogradas.
Há um país longínquo a ser conquistado pelo ego, simbolizado pela conduta correta, pela consciência liberada dos conflitos.
A existência corporal é sempre um mecanismo de distrações da consciência profunda do si-mesmo, que, embora superficial, exerce uma predominância na escolha dos comportamentos humanos.
Caso alguém se coloque na posição do irmão mais velho da parábola, valerá o esforço de considerar que o outro, seu irmão, não foi feliz na tentativa de ir para o país longínquo, mais teve a coragem de voltar a casa,  embora maltrapilho, esfaimado e arrependido.
A pulsão da fome é forte em todos os seres viventes, porque nela se encontram os recursos para a permanência, a continuidade da vida, o equilíbrio da saúde...
A sombra daquele que ficou aturde-o, torna-o irascível, em mecanismo de preservação da própria sobrevivência que situa nas posses que o pai lhe legou desde antes da morte, permanecendo, porém, morto psicologicamente para muitos valores mesmo durante a vilegiatura do progenitor.
Naquele momento, quando o irmão volta, a sua morte não lhe permite a lucidez para compreender que também ele tem estado em um país longínquo, onde residem a indiferença, a ambição, a cupidez e o egoísmo.
As mudanças arquetípicas do ego dão-se nas fases da infância para a juventude, dessa para a idade adulta, e daí para a senectude, quando o Self, amadurecido, deve comandar o conjunto eletrônico delicado que é o ser humano.
Isso, porém, somente acontece quando os indivíduos estão dispostos a despertar para a realidade, superando a sombra ao invés de cultivá-la.
Não serão essas fases, cada período, também um país psicológico longínquo do outro, que deve ser conquistado a esforço e tenacidade da vontade?
A vontade é um impulso que nasce da razão e se transforma em força que deve ser direcionada de maneira adequada para resultados relevantes de dignidade e de crescimento intelecto moral no processo dos valores da existência terrestre.
Será, portanto, a vontade bem dirigida que impulsionará o ego a vencer cada fase, deixando-a à margem após transpô-la, a fim de que não venha a ressumar noutro período.
Por falta de esforço encontram-se indivíduos adultos vivendo o período arquetípico da infância, ou na idade avançada ainda com as aspirações de adulto, quando o organismo já não dispõe das forças naturais para esse tipo de comportamento.
Sendo o processo de vida um fenômeno entrópico, ele se desenvolve graças ao desgaste da energia, e por isso mesmo, cada período estará nutrido pelas forças hábeis e correspondentes à sua fase.
Mantendo-se o ego em harmonia com o Self, equilibra-se o eixo que os liga, e a sombra cede espaço ao discernimento, liberando toda a energia para o processo de individuação que deve constituir a grande meta.
Há quem pense que a fuga do Filho Pródigo tem um significado arquetípico, no que diz respeito ao estoicismo, à coragem de buscar-se, de realizar o encontro, de descobrir-se interiormente, de lograr a conquista do Self.
Anuímos, de alguma forma, com a tese, lamentando somente o processo da ingratidão, da perda do sentido existencial no abandono ao Pai, naturalmente rompendo o cordão umbilical, num momento em que ainda não dispunha da maturidade para os autoenfrentamentos, redundando a tentativa no retorno à casa de segurança, à proteção do genitor.
A conquista do si-mesmo há de ser realizada em atitude interior para superar os impositivos da sombra egoísta e perversa, que seduz e ilude, dando imagens equivocadas da realidade e negando a possibilidade de libertação.
Na proposta de progressão junguiana, torna-se necessário o bom encaminhamento da energia da libido, canalizando-a em favor da melhor compreensão da existência humana e da sua aplicação na conquista dos recursos que a edificam. Quando, por alguma razão, ela é interrompida, dá um choque, qual seja a perda dos interesses libertadores, passando a uma fase de regressão e perdendo-se no inconsciente, desenvolvendo complexos e conflitos perturbadores.
Nesse sentido, a psicoterapia em geral e a espírita em particular, em libertando o indivíduo das amarras do erro e dos enganos, estimula-o à autossuperação das deficiências graças ao empenho da vontade e à contribuição da libido, ora direcionada para fins nobilitantes, sem tormentos nem ansiedades de sublimação, mas simplesmente aplicando de maneira saudável.
Assim agindo, encontra-se o caminho da ida segura ou de volta razoável ao país longínquo, que pode estar no inconsciente como a meta existencial a conquistar.
Final do texto da pg 53; Um país longínquo, do livro Em Busca da Verdade; do cap3 ENCONTRO E AUTOENCONTRO: Joanna de Ângelis psicografia de Divaldo Franco.

quarta-feira, 28 de agosto de 2013


COMPROMISSOS DA GRATIDÃO
Cap. 3  do livro Psicologia da gratidão

Continuação da postagem do dia 26/08/2013.
NO INCOMPARÁVEL SERMÃO DA MONTANHA, APÓS O canto sublime das bem-aventuranças, Jesus enunciou com sabedoria e vigor:
“Amai aos vossos inimigos e orai pelo os que vos perseguem, para que vos torneis filho do vosso Pai que está nos céus, porque Ele faz nasceu o Seu Sol sobre maus e bons e faz chover sobre justos e injustos” (Mt. 5:44-45)
A recomendação em comum proposta pelo psicólogo incomparável surpreende, ainda hoje, a todo aquele que mergulha o pensamento na reflexão em torno dos textos escriturísticos evocativos da sua palavra.
A recomendação tradicional impunha o revide ao mal com equivalente mal, e ainda permanece essa conduta enferma em muitas legislações ensandecidas, impondo punições assinaladas pela crueldade em relação àqueles que são surpreendidos em erro, distanciadas da justiça e da reeducação do criminoso, o que são fundamentais.
Nos relacionamentos familiares e sociais, profissionais e artísticos, como nos demais, a conduta retributiva é firmada na injusta conduta ancestral diante dele, que permanece no inconsciente individual e coletivo, gerando graves transtornos pessoais e sociais.
Certamente, não se espera que o tratamento concedido ao perverso seja negligente em referencia aos seus atos ignóbeis, o que não se deve é proceder de maneira equivalente, aplicando-lhe penas que são compatíveis com seu nível primitivo de evolução, sendo lícito ensejar-lhe meios de reparar os danos causados, de recuperar-se perante as suas vítimas e a própria consciência, de reintegrar-se na sociedade...
Essa atitude, a de conceder-lhe oportunidade de agir com equilíbrio, é caracterizada pelo perdão às suas atitudes arbitrárias, sem conivência porem com o seu delito, mas também sem cerceamento da graça do amor que retira o criminoso da masmorra sem grades em que se encarcera, conduzindo-o à sociedade que foi ferida e aguarda-lhe a cooperação para ser cicatrizada, superando a sua hediondez.
De certa forma, a proposta de Jesus, no que concerne ao amor em retribuição ao mal, é também a maneira psicológica saudável da gratidão, pelo ensejar vivência da abnegação e da caridade. Não implica silenciar o deslize que foi praticado, porem reconhecer que este proporciona o surgir e expandir-se os sentimentos superiores da compaixão e da misericórdia que devem viger nos indivíduos e nos grupos sociais.
A gratidão é a mais sutil psicoterapia para os males que se instalam na sociedade constituída em grande parte por Espíritos enfermos.
Quando alguém consegue ofertá-la com espontaneidade e sem alarde, produz um clima psíquico de harmonia que o beneficia e aos demais que o cercam, porque não ressuma o morbo da revolta ou da queixa sistemática...
A gratidão deve transformar-se em hábito natural no comportamento maduro de todos os seres humanos. Para que seja conseguida, necessita de treinamento, de exercício diário, em razão da sombra vigilante que propele à conduta da distância, da indiferença ou mesmo da ingratidão.
O ingrato, além de imaturo psicológico, é vítima da inveja, da competitividade doentia, do primarismo evolutivo.
A ingratidão viceja nos grupamentos sociais onde predominam o egoísmo e a sordidez.
O grande desafio existencial é o de em viver-se e não o do pressuposto viver-se bem, entulhado de coisas e ansioso por novas aquisições entre tormentos íntimos e desconfianças afligentes. Nesse sentido, é muita grata a recomendação de Jesus, conclamando ao amor mesmo em relação aos adversários, porque eles, sim, são os doentes, pois que elegeram as atitudes agressivas e destrutivas, acumulando resíduos de inconformismo e de ira, que terminam  produzindo-lhes lamentáveis somatizações.
Quando se consegue não devolver o mal na sua idêntica e morbífica moeda, o self  exulta e o seu eixo com o ego torna-se menor em distância separatista, proporcionando-lhe a diluição lenta de suas fixações. Entretanto, quando se consegue amar o adversário, recordá-lo sem ressentimento, compadecer-se da alienação a que se entrega, todo um contingente de arquétipos perturbadores cede lugar a emoções saudáveis, que proporcionam alegria de viver e de lutar, estimulando o crescimento intero e a sua contínua ascensão ideológica. Pg.68.
Este texto prossegue na próxima postagem.

A CRISE DA MODERNIDADE E A PROPOSTA PSICOLÓGICA DE JOANNA DE ÂNGELIS
Artigo escrito por Gelson L. Roberto.

Capítulo 3º do livro Refletindo a Alma – Joanna de Ângelis, psicografia de Divaldo Pereira Franco

Continuação da pag. 63 postada em 27/08/2013.

Queremos trazer uma nova concepção de pensar no homem e sua psicologia, na qual qualquer aspecto da vida se torna o lugar da intimidade. E diante de um mundo tão celerado e desprovido de compaixão frente a uma onda de movimentos caóticos e superficiais, possamos recuperar a noção de eu a vida tem sentido. Um sentido e uma intimidade na relação entre o transitório e o transpessoal, entre o pessoal e o impessoal, entre o individual e o coletivo, entre o interno e o externo, entre consciência e inconsciente. Um lugar onde a vida não seja excluída da totalidade os eventos e significados da experiência. Como refere Jaffé:

O sentido é a experiência da totalidade. Qualquer descrição dele pressupõe a realidade vivida no tempo, tanto quanto a realidade de vida na intemporalidade; experiências pessoais e consciente, assim como um domínio que transcende a consciência e o mundo tangível. (Jaffé, Aniela. O mito do Significado. 1989, p. 15).

A proposta de Jaffé é parecida com a de Hillman, mas este propõe uma virada mais radical quando faz do ego um agente inserido numa paisagem determinada pela “alma do mundo”. Este autor tenta superar a noção usual de realidade psíquica fundamentada num sistema de sujeitos particulares animados e objetos públicos inanimados. A partir do conceito de anima mundi (alma do mundo do platonismo), desenvolvido por Plotino e outros filósofos neoplatônicos, e aprofundado por Marsílio Ficino, Hillman propõe a ideia de um mundo “almado” em lugar da usual noção acima descrita.

Lemos em Hillman (do livro Cidade & Alma, 1993a, p. 14) o seguinte trecho:

  (...) Imaginemos a anima mundi como aquele lampejo de alma especial, aquele imagem seminal, que se apresenta por meio de cada coisa em sua forma visível. Então, anima mundi aponta as possibilidades animadas oferecidas em cada evento como ele é, sua apresentação sensorial como um rosto revelando sua imagem interior – em resumo, sua disponibilidade para imaginação, sua presença como uma REALIDADE PSIQUÍCA. Não apenas animais e plantas almados como na visão romântica, mas a alma que é dada em cada coisa, as coisas da natureza dadas por Deus e as coisas da rua feitas pelo homem.

É justamente dentro dessa proposta que Joanna de Ângelis nos convida a reconhecer o nosso ser profundo e nos abrirmos para esse universo pleno da conquista interior num diálogo criativo com a vida. Divaldo, numa entrevista concedida a Katy Meira, em Nova Iorque, 13 de maio de 2000, nos revela que o Espírito Joanna de Ângelis o convidou para escrever uma série de livros que ela ambicionava e que seriam de grande utilidade para o movimento espírita. Por cinquenta anos, ela esteve estudando a psicanálise, a Psicologia e a psiquiatria no mundo espiritual, e desejava fazer uma ponte entre a Psicologia da quarta força, portanto a contemporânea, com o Espiritismo, em uma linguagem compatível com as necessidades do pensamento filosófico deste momento.
Divaldo comenta que o início foi a psicologia do livro de Jesus e a atualidade. Conta ele que é um estudo, uma releitura de alguns fatos da vida de Jesus, fundamentados essencialmente numa pergunta que Ele fazia àqueles que Lhe pediam para curá-los. Ele sempre interrogava: - “Tu crês que eu te posso curar?” ou “Que desejas de mim?” E ela vai mostrar que o indivíduo, enquanto não se autodescobre , está sempre tateando nas sombras. Jesus sabia, é claro, o que as pessoas dele desejavam, e sabia também que podia atender, mas respeitava as leis de causa e efeito, e somente quando o paciente estava disposto a uma crença real – esse querer que tudo transforma, porque a si próprio se transforma – que Ele atendia às solicitações. A maioria de nós, se não a quase totalidade, traz no cerne do ser os fatores predisponentes ao seu progresso e também aqueles (fatores) que são responsáveis pelo seu insucesso e pelas suas dificuldades e, se não conhecer esses fatores, estará sempre repetindo experiências sem sair de um círculo vicioso. Logo depois, ela escreveu o livro O Homem integral,  fazendo uma análise do homem Espírito, perispírito e matéria. Logo após, O Ser consciente.

A série culmina hoje com mais de 10 obras de estudos psicológicos, dos problemas, dos conflitos, dos desafios, da libido, da sombra psicológica de cada um, com uma ponte muito feliz com o Espiritismo.
Finalizando a entrevista, Divaldo compartilha que  nova perspectiva que desenha é de criar uma mentalidade capaz de não ficas apenas nos teoremas doutrinários, mais nas soluções comportamentais. Retirar o movimento espírita, que está encarcerado nas casas espíritas, para equacionar os problemas da criatura onde a criatura estiver. Levar a mensagem para mudar o mundo, através da mudança social, moral, econômica, porque – conforme Kardec – o espiritismo tem a ver com todos os ramos da ciência, não apenas da ética moral da Filosofia, mais também da psiquiatria, do comércio, da indústria, dos relacionamentos humanos, dos direitos humano. A proposta é colocar a base da doutrina no pensamento social pra mudar a sociedade. Esse é o novo desafio.

A ideia é então nos reconhecermos como Espirito imortais, realizando o caminho profundo para dentro de nós mesmos, a fim de conquistarmos esse reino interior. Como nos colocou Jesus, o reino está dentro de cada um e Cristo é a figura do Homem Integral. Jung acertadamente afirmou que “Cristo é o homem interior ao qual se chega pelo caminho do autoconhecimento”.

Joanna de Ângelis (na sua obra Bênçãos de natal. 1998) nos afirma que Jesus é o perene momento em que o Rei Solar mergulhou nas sombras terrestres, a fim de que nunca mais houvesse trevas na humanidade, possibilitando uma perfeita identificação entre a criatura e o seu Criador, para todo o sempre. A benfeitora nos coloca que Ele implantou o seu reino no país das almas, inaugurando a Era da renúncia dos bens terrenos.
Com a série psicológica, Joanna aprofunda essa proposta, oferecendo a busca do homem integral e a realização plena do Ser. Abrindo os horizontes do homem interior e nos mostrando o caminho da conquista individual, onde todos estão a partir dele autorizados e conscientes de que podem ser o Cristo.

Coloca-nos a benfeitora (no Autodescobrimento: uma busca interior), Jesus desejava a todos indivíduos a mesma posição que conseguiu, tendo o Pai como exemplo e foco a ser conquistado. Propôs que ninguém se satisfaça com o já conseguido, mas cresça, busque e se entregue ao esforço constante de libertação, ascendendo no rumo da Grande Luz.

Artigo concluído com esta postagem.

Postado em 28/08/2013.

terça-feira, 27 de agosto de 2013


 

A CRISE DA MODERNIDADE E A PROPOSTA PSICOLÓGICA DE JOANNA DE ÂNGELIS
Artigo escrito por Gelson L. Roberto.
Capítulo 3º do livro Refletindo a Alma – Joanna de Ângelis, psicografia de Divaldo Franco
Continuação da pag. 61 postada em 25/08/2013.

O resultado é que o indivíduo se entrega a viver apenas o presente e o prazer, ao consumo e ao individualismo. As pessoas se encontram perdidas, completamente atropeladas pela “correria da vida”, num lugar onde não há tempo para o encontro verdadeiro, para o entendimento e para a paz. O indivíduo acaba perdendo a noção do real e do limite de si mesmo e do mundo. Essa crise se estende tanto para os indivíduos como para todos os setores e componentes da vida, principalmente a vida urbana, que é a vida construída pelo homem. Os sintomas são: fragmentação, hiperespecialização, depressão, inflação, perda de energia, jargões e violências. Isso aparece também no mundo: nossos prédios são anoréxicos, nossos negócios, paranoicos, e nossa tecnologia, maníaca. Como diz Hillman:

“Sujar o mundo com lixo, construir  estruturas monstruosas, consumir e desperdiçar para distrair o tédio não é apenas ilegal, imoral ou antissocial e doentio. È vergonhoso, ofensivo para o mundo, nocivo para sua alma.”

Esse ambiente pós-moderno demonstra que estamos separados do mundo. E entre nós e o mundo estão os meios tecnológicos de comunicação com toda sua mídia. Eles não nos informa sobre o mundo; eles refazem o mundo como eles querem, simulam uma vida para nós e transformam o mundo num espetáculo. Há atualmente um princípio esvaziador. O sujeito vai perdendo os referenciais da realidade, perdendo a própria substância de si mesmo. É o que os filósofos chamam desreferencializador do real e dessubstancialização do sujeito. Esse princípio desfaz regras, valores, faz com que a realidade se degrade e que o indivíduo viva sem projetos, sem ideais, a não ser cultivar sua autoimagem e buscar a satisfação no aqui e agora.

O que vale são as vitrines, o culto ao corpo, o fantástico do momento, o consumo de tudo, até do outro. A “realidade”, o consumo de tudo, até do outro. A “realidade” da tv é mais fácil, mais viva, imagens nas quais, por exemplo, os carros são mais ágeis e nobres e passeiam por estradas magníficas com efeitos de cores e músicas especiais, doces e comidas que enchem os olhos, e aquele prazer de viver maravilhoso da coca-cola. Agora se perguntem: quando se consome um desses produtos, consegue-se capturar e sentir o que a imagem nos trouxe?

O que isso acarreta é um misto de fascínio e vazio, dando a falsa impressão de que se vive tudo aquilo que aparece, mas que na realidade não existe. A vida acaba ficando mais difícil do que  é, por ela ser um choque com o paraíso e facilidades oferecidos pela mídia.

Isso adoece qualquer um, principalmente se não temos uma sustentação espiritual. Se perdemos a fé, se não temos ideais, se vivemos uma vida superficial com uma imagem falsa que nos tira do contato mais íntimo com a vida, se perdemos a noção dos limites, o que pode nos acontecer? É o que a psicologia chama de “entorpecimento psíquico” que vem se acrescentar à “era da ansiedade”. Estamos cada vez mais acometidos pela síndrome do pânico, doenças autodesrutivas, nossos olhos estão opacos e vazios, nossos corações com uma dor surda...

Segundo Hillman :

“Existe um império imenso, feio e maligno trabalhando dia e noite para nos conservar dessa forma. A diversão e a televisão maniacamente saturadas, excessivas, sonoras e fortes, as informações da mídia, a bebida, o açúcar e o café, desenvolvimento e melhorias, consumismo, comprar, comprar, a indústria da saúde construindo músculos e não sensibilidade, a indústria médica no papel de boticário, pílulas para dormir, pílulas excitantes, tranquilizantes, lítio para crenças”.

Mas a crise não é só de terror e de incerteza. No refluxo dialético da vida, uma conspiração renovadora se instaura. Estamos entrando numa nova fase que podemos chamar de Homem Psi. Esta fase se caracteriza por uma conscientização da realidade espiritual e dos valores que buscam desenvolver as capacidades internas. Essa fase é a fase psicológica, não mais a ênfase no mundo e nas conquistas exteriores e sim no desafio de conquistar  a nós mesmos. ( esse artigo continua na próxima postagem, fique atento...)
Postado dia 27-o8-2013

segunda-feira, 26 de agosto de 2013


 

O SER MADURO PSICOLOGICAMENTE E A GRATIDÃO Cap. 2 . Continuação pag. 60

Livro Psicologia da gratidão

O sentimento da gratidão sempre deve estar desacompanhado da expectativa de qualquer forma de retribuição, sequer de um olhar ou de um sorriso, que expressariam reciprocidade. Havendo, é bem melhor, porque o outro igualmente se encontra em processo de amadurecimento psicológico e de contribuição valiosa à sociedade. Mas será uma exceção e não uma lei natural e constante.
Todo ato de generosidade, pela sua maneira de ser, dispensa gratulação e manifesta-se naturalmente. O amor aos filhos, aos cônjuges, os deveres para com eles e para com os outros são de natureza íntima de cada um, que se compraz em  proceder de acordo com as regras do bem viver e não apenas do viver bem, cercado de coisas, de carinho, de compensações.

Essas atitudes são logo esquecidas, pois que, toda vez que se espera reconhecimento, surge um encarceramento, por exemplo, no caso daquelas pessoas que asseveram que vivem para outras: filhos, parceiros, amigos , e que ficam desoladas quando estes alçam voos no rumo que lhes é o destino. A triste síndrome do ninho vazio em que se encarceram por prazer e por imaturidade psicológica induz os pacientes à amargura e ao desencanto por não receberem a compensação retributiva em relação ao que fizeram por interesse, não pelo prazer de realizá-lo.
Esse fenômeno é muito comum também no que tange aos labores enobrecedores que aguardam aprovação, recompensa da sociedade. Pessoas portadoras de alto nível de inteligência e de trabalho contribuem eficazmente em todos os setores do progresso social, através de descobrimentos, de invenções, de realizações grandiosas...No entanto, quando não são reconhecidas ou premiadas, mergulham na revolta ou no desânimo, na queixa ou na desistência de prosseguir, amarguradas e infelizes. Não são pessoas más, como é claro percebe-se, mas imaturas psicologicamente, vivenciando ainda o período dos elogios infantis, dos aplausos e dos comentários, dos quinze minutos de holofotes, mesmo que depois sofram o esquecimento, como é quase normal numa sociedade utilitarista como o é a hodierna. Embora disfarçado, encontra-se nesse caso o narcisismo, resultado de uma infância que não recebeu reconhecimento nem estímulos, nem entusiasmo nem acolhimento. O conflito defluente nasce na imaturidade psicológica.

Aqueles que assim procedem, em contrapartida, por mais que sejam bajulados, elogiados, aplaudidos, sempre tem sede de mais reconhecimento, dando lugar a um condicionamento que se poderia denominar como vício ou dependência de gratidão.
Quando não se recebe gratidão, não significa psicologicamente que a pessoas não é aceita, que é rejeitada. Tal ocorrência resulta igualmente de outros fatores psicológicos que dizem respeito aos demais, às circunstâncias, aos valores de cada cultura.

O ideal é viver-se em favor da gratidão mesmo sem a receber, valorizando o lado claridade da vida, as suas bênçãos e todos os contributos existenciais que nunca esperam receber aplauso.
Jesus, o Homem-luz, único ser que não tinha o lado sombra, maior exemplo de maturidade psicológica, fez da sua uma vida dedicada à gratidão, pelo amor com que enriqueceu a Terra desde então, vivendo exclusivamente para o amor e o perdão, a misericórdia e a compaixão.

Recebeu, antes, pelo contrário, por todo o bem que fez, pelas fabulosas lições de sabedoria que legou à posteridade, a negação de um amigo,  traição de outro, que se arrependeram certamente, a perseguição gratuita dos narcisistas e imaturos, temerosos e egotistas, a infâmia, o abandono, a exposição à ralé arbitrária, as chibatadas, a crucificação...mas retornou em triunfo de imortalidade exaltando a vida e Deus em estado numinoso.pg.62

Final do texto, porém o capítulo continua na próxima postagem.

ENCONTRO E AUTOENCONTRO cap3
Livro: Em Busca da Verdade
Um país longínquo – p53 

Existe um país longínquo onde a vida estua e tem início, ensejando o processo de crescimento espiritual, nas sucessivas experiências reencarnacionistas. Mesmo quando o viajante se encontra no país terrestre, por não se conhecer, ainda não havendo identificado as províncias emocionais por onde pode transitar com segurança ou não, deixa-se identificar pelas expressões mais grosseiras das necessidades fisiológicas, das sensações orgânicas, do imediato que lhe fere os sentidos.
Periodicamente, fascinado pelo brilho falso das ilusões, relaciona todos os haveres que estão ao seu alcance, mas que não lhe pertencem, e pede ao Pai que lhe permita usufruí-lo à saciedade, fugindo de casa, da segurança do lugar em que se encontra, para tentar ser feliz, conforme o seu padrão mentiroso.
Herdeiro dos recursos da inteligência e do sentimento, das tendências artísticas e culturais a que não dá valor, porque lhe exigem sacrifícios e desafios contínuos, reúne os tesouros da sensualidade, das ambições desmedidas, dos jogos dos sentidos primitivos, do acúmulo das forças juvenis e parte para outra região onde pode refestelar-se no prazer irresponsável, esquecidos dos compromissos mantidos com a vida.
Exaure-se, em companhia dos seus demônios internos e dos seus anseios desregrados, até que surge a fome, por escassear os meios de prosseguir na loucura, e termina por encontrar companhias nas pocilgas dos vícios mais perversos, alimentando-se dos miasmas e excentricidades que lhe chegam em decorrência do abandono dos parceiros emocionais...
É, então, quando tem um insight e dá-se conta de que não é aquilo, somente se encontra daquela forma, que não necessita de chafurdar mais fundo no chavascal da vergonha e do desdouro moral, quando tem um Pai generoso que trata bem aqueles que lhes servem, e pensa em voltar, pedir-lhe perdão, demonstrar o sofrimento que experimenta, a necessidade de recomeço, a submissão aos seus nobres deveres.
No processo da evolução, não são poucos os indivíduos que procedem de maneira diversa. A princípio, desejam a independência, sem mesmo saber o de que se trata, que anelam pela liberdade que confundem com libertinagem, que anseiam pelo prazer, que pensam derivar-se do poder, arrojando-se às aventuras doentias e perturbadoras, em que amadurecem psicologicamente no calor do sofrimento.
Dão lugar a provações severas como os metais que necessitam do aquecimento para se tornarem plasmáveis e aceitarem as imposições dos artífices, vivenciando um período angustiante, para somente então pensarem em voltar para casa.
Recordam-se que, na província de onde vieram, havia alegria, diferente, é certo, mas júbilo, e desejam fruí-lo, como é natural. Enquanto permanecem no gozo desgastante, desperdiçando a herança que conduziam, tudo é frustrante, o desespero é crescente, as perspectivas são negativas, o que os impele a uma nova tomada de decisão. Essa não pode ser outra, senão o retorno à casa, às raízes, a fim de recomeçar e renovar-se.
As províncias do coração humano são muitas e quase sempre estão sombrias, assinaladas pelo desconhecido, pelo não vivenciado, que favorecem as fantasias exclusivas do prazer e do gozo.
Toda província, no entanto, por melhor, por pior que seja, possui diversificadas paisagens que aguardam a contribuição daqueles que as habitam. Numas é necessário a remover o lodo acumulado, cavando valas para extravasar a podridão, enquanto que, noutras, alargam-se os horizontes para que mais brilhe o Sol da beleza e da estesia.
Esse país longínquo, olhado desde o mundo causal pode ser a Terra, para onde vêm os Espíritos com os bens herdados do Pai, a fim de desenvolverem os mecanismos da evolução e aplicarem os recursos de que são portadores, o que nem sempre acontece de maneira favorável aos que o alcançam.
Sob outro aspecto, pode ser o mundo espiritual onde se inicia a experiência evolutiva e se dispõe de recursos inapreciados para serem desenvolvidos mediante os esforços empregados, ocorrendo que, nas primeiras tentativas, o ouvido momentâneo da responsabilidade e os  demônios  internos que são sustentados pelas paixões primevas, estimulam o desperdício dos bens preciosos. Saúde, pureza de sentimentos, alegria espontânea constituem custo, da contaminação dos fatores dissolventes do novo país, porquanto, na volta para casa eles serão de altíssima significação, evitando os desastres emocionais e afetivos.
Analisando-se o núcleo arquetípico do ego, observa-se que ele não se modifica de um para outro instante, desde o momento em que ocorre a viagem ao país longínquo, predominando as tendências ancestrais que o direcionam para os interesses imediatistas, as conveniências, sem abrir espaço ao si-mesmo  que ambiciona o infinito.
Essa consciência do ego – a superfície da psique – sofre colisões  contínuas que procedem das emoções habituais e das aspirações de libertação, auxiliando no seu desenvolvimento, alterando-lhe a estrutura e abrindo-lhe campo para mais amplas realizações. (continua...)
Pg55 – postagem do dia 26-08-20013.  

domingo, 25 de agosto de 2013


A CRISE DA MODERNIDADE E A PROPOSTA PSICOLÓGICA DE JOANNA DE ÂNGELIS

Artigo escrito por Gelson L. Roberto

Capítulo 3º do livro Refletindo a Alma – Joanna de Ângelis, psicografia de Divaldo Franco

Continuação da pag. 59 postada em 04/08/2013.

Na pós-modernidade, a perversão e o estresse são sintomas resultados da falta da lei, da falta de tempo, e da falta de perspectiva de futuro, porque tudo se desmoronou (do muro de Berlim à crença nos valores e na esperança). “Tudo se tornou demasiadamente próximo, promíscuo, sem limites, deixando-se penetrar por todos os poros e orifícios”, diz Zizek em seu artigo O superego pós-moderno. In. Folha de São Paulo – cad. Mais!, 23/05/2003.

Nossa sociedade é regida mais do que pela ânsia de “espetáculo”; existe a ânsia de prazer a qualquer preço. Todos se sentem na obrigação de se divertir, de “curtir a vida adoidado” e de “trabalhar muito para ter dinheiro ou prestígio social”, não importando os limites de si próprio e dos outros. Não é sem motivo que os lugares de trabalho em que competição é mais acirrada, onde não existem limites definidos entre trabalho, estudo e lazer, que encontramos pessoas queixosas, infelizes, frequentemente visitando os médicos e hospitais. Se a modernidade prometia a felicidade através do progresso da ciência ou de uma revolução, a pós-modernidade promete um nada que pretende ser o solo para tudo.

Como podemos perceber, esta realidade que vivemos torna cada vez mais banal a vida e nos atira numa relação individualista e potencialmente destrutiva. Uma realidade que é um campo fértil para o estímulo e a manutenção de comportamentos compulsivos e destrutivos.

Realidade essa que provoca sintomas e conflitos de ordem complexa que aumentam cada vez mais a alienação e a dissociação do ser humano. Temos daí, a rotina, a ansiedade, o medo e a solidão engendrando homens-aparência, a fobia social, o ódio, entre outros males. Os jovens hoje se perdem em movimentos comportamentais baseados em filosofias absurdas, extravagantes, mais agressivas, mais primárias, mais violentas. Formam-se os guetos e o indivíduo se identifica por diversas lutas, formando pequenos fragmentos massificados na luta superficial e oca, sem um “se dar conta do por quê e para quê”. Numa sociedade onde a noção do sentido cada vez é menor, valorizando o desempenho, o ato-show do super, do imperfeito sem substância, desumaniza-se o indivíduo, entregando-se ao pavor, gerando-o, ou indiferente a ele. O ser humano se vê perdido no meio de tanta informação. Sem discernimento, ele, inseguro, agarra-se a amontoar coisas e cuidar do ego deixando de lado o seu desenvolvimento integral. Com tudo isso, não é difícil entender a indiferença pela ordem, pelos valores éticos, pelo asseio corporal. Como assevera Joanna de Ângelis, vivíamos antes numa época de hipocrisia, de uma falsa moral que mascarava os erros através de tabus e superstições, levando a fatores atuantes na desagregação da personalidade. A mudança de hábito possibilitou a mudança de algumas fobias, mas impôs outros padrões comportamentais de massificação, levando ao modismo, ao desequilíbrio de comportamentos extravagantes. Houve troca de conduta, mas não renovação saudável na forma de encarar-se a vida e de vivê-la.

Diante disso não se tem muita opção: ou se coloca numa postura competitiva, repressora, violenta e agressiva que chega às raias da perversão, ou o homem busca mecanismos de proteção emocional que o levam à acomodação, à agressão, por medo e busca da sobrevivência, pois se encontra com o receio de ser consumido, esmagado pela massa crescente ou pelo desespero avassalador. Perde-se o idealismo e o homem se vê comprimido onde todos fazem a mesma coisa, assumem iguais composturas, passando de um compromisso para outro numa ansiedade constante. Tem-se a preocupação de parecer triunfador, de responder de forma semelhante aos demais, de ser bem recebido e considerado, causando a desumanização do indivíduo, que se torna um elemento complementar do agrupamento social. Pg.61

Este é um artigo, portanto, tem continuação. Sugiro aguardar a próxima postagem.

Postado em 25/08/2013.

 

 

sexta-feira, 23 de agosto de 2013


ENCONTRO E AUTOENCONTRO

Cap.3 do livro Em Busca da Verdade
A parábola do Filho Pródigo é um manancial de informações psicológicas profundas, guardando um tesouro de símbolos e significados que merecem cuidadosa análise, a fim de retirar-se do seu conteúdo as lições de paz e de saúde necessárias para uma existência rica e abençoada.

Durante muito tempo o Evangelho de Jesus recebeu interpretações doentias e perturbadoras, conforme o equilíbrio emocional e espiritual dos seus tradutores, teólogos e pastores, mais interessados em projetar a sombra em que se debatiam do que as extraordinárias orientações de luz de que se revestia.
Propondo a humildade, levavam os seguidores a transtornos de conduta graves, estimulando o menosprezo à existência física, a desconsideração por si mesmos, o autodepreciamento, o culto ao masoquismo disfarçado de santificação como o caminho para a iluminação.

Como se pode considerar a vida, esse incomparável tesouro por Deus concedido ao ser humano, como desprezível, digna de ser desrespeitada nos seus mais nobres significados: alegria, bem-estar, utilização saudável do sexo, solidariedade e convivência, como negativos, impondo o isolamento, a severa abstinência sexual, o silêncio, o sofrimento, em nome da Boa Nova?!
Somente indivíduos emocionalmente castrados poderiam impor os seus tormentos aos demais, aos quais invejavam a saúde e comunicabilidade, de forma que se sentissem felizes com a desdita dos outros, em transtorno sadomasoquista, adulterando toda a proposta libertadora de Jesus, o Homem bom e nobre por excelência, que mais demonstrou amor e alegria na convivência com os desafortunados do que todos os demais.

Pregando dignidade, esses atormentados interpretes das Suas lições condenavam o erro, mascarando os equivocados, os que delinquem, os que aguardam apoio, por serem ignorantes ou enfermos, distanciados d’Aquele que é o pão da Vida e veio exatamente para os infelizes e até mesmos para os infelicitadores...
Felizmente, com o avanço da cultura, com a ruptura dos laços férreos que mantinham a sociedade jungida aos dogmas enfermiços, descobre-se, cada dia, a grandeza da mensagem cristã, conforme Jesus e os Seus primeiros discípulos a viveram e divulgaram, verdadeira canção musicoterapêutica, sinfonia de esperança e de consolação.

As Suas parábolas, por isso mesmo, mantém guardadas as respostas significativas e especiais para as perguntas inquietantes do comportamento humano.  

Nelas, somente existem libertação e bondade, harmonia e júbilo, guardando, nos seus símbolos, verdadeiros poemas de interpretação da incógnitas existenciais.
Nesse maravilhoso significado insere-se a do Filho Pródigo que, de alguma forma, somos todos nós.

Enquanto os fracos emocionais e os dependentes de punições nela encontram a baixa autoestima, o remorso, a angústia da volta, o que se constata é a irrestrita confiança no Pai generoso, a certeza da alegria de ser bem recebido, a recuperação moral pelo equívoco vivenciado, a expectativa do recomeço em novas paisagens de afeto e autorrealização.
Por muito tempo estabeleceu-se que a humildade deve ser vivida em forma de desprezo por si mesmo e pelos valores com que a vida social estabelece os seus relacionamentos, fomenta o progresso das massas e dos indivíduos.

O autoabandono, a autodesconsideração e o autodesprezo tinham prioridade na conduta do adepto religioso, no passado, em violência contra as leis naturais, impondo-se uma conduta incompatível com a mensagem de amor e de felicidade.
Pessoas amargas, que mantinham autorrejeição, refugiando-se em falsas justificativas religiosas, procuravam escamotear a mágoa em relação às demais, raiva contra si mesmas e os outros, negando-se a felicidade, que acreditavam não a merecer, porque se encontravam sob o impositivo da sombra  ancestral, defluente das culpas dos atos ignóbeis praticados em existências anteriores.

Negando-se a oportunidade do encontro com o Pai amoroso, por não sentirem a vigência do amor em si mesmas, ainda hoje recusam o autoencontro, numa análise profunda que lhes poderiam propiciar a visão mais saudável da Realidade.
Os seus mitos são as Parcas terríveis, as cóleras dos diversos deuses vingativos, as subjetivas ameaças de destruição apocalíptica, numa vingança generalizada, na qual o temor da morte desaparece, porque representa a destruição de tudo e de todos.

As advertências contínuas sobre o egoísmo, o orgulho, a prepotência e o encantamento das virtudes teologais, do altruísmo, da humildade, da fraternidade produzem, não poucas vezes, a virtude do autodepreciamento, da autodesconsideração, quase numa exibição forçada de triunfos que, em realidade, não existem no campo psicológico, porque ninguém pode comprazer-se na inferioridade, no engodo, na negação dos problemas existentes...
A Parábola do Filho Pródigo é todo um conjunto de lições psicoterapêuticas e filosóficas, de cunho moral e espiritual incomum.

Na sua mensagem não se encontram qualquer tipos de censura a nenhuma das atitudes dos dois filhos, nem reproche ou dissimulação diante das ocorrências. Tudo se dá de maneira natural, em júbilo crescente, porque aquele que estava perdido, foi encontrado, e porque estava morto, agora se deparava vivo.
A alegria de autoconsciência é esfuziante, porque ocorre depois do reencontro, na volta à casa, ao lar, ao abrigo emocional seguro, que é a conquista de paz e da correção dos atos.

O corpo é ainda um animal, algumas vezes insubmisso, que necessita das rédeas da aprendizagem para a disciplina espontânea e o comportamento correto que o direciona de acordo com as necessidades do  self criativo a caminho do numinoso.
O Espírito é herdeiro de todas as experiências que vivencia ao largo das sucessivas reencarnações, sendo natural que, não poucas vezes, predominem aquelas que mais profundamente assinalaram a conduta anterior, ressumando em forma de desejos e conflitos nem sempre identificados.

Por isso, uma análise dos símbolos oníricos, as associações e reflexões com o psicoterapeuta conseguem eliminar as fixações morbosas e as reminiscências angustiantes que se expressam como tristeza, insegurança, timidez, dificuldades de relacionamentos...
A identificação dos símbolos e sua interpretação exigem acuidade psicológica, experiência de consultório e interesse destituído de vinculação emocional, pra auxiliar o paciente no encontro com a vida e no autoencontro, descobrindo a sua realidade.

O manto com que o Pai amoroso manda vestir o ilho pródigo bem representa o apoio, a cobertura afetiva que lhe é ofertada, igualando-o a ele mesmo, que também o ostenta.
A primeira preocupação do genitor é com a aparência do filho de retorno, com os cuidados de higiene e de vestuário, de adorno – o anel – de apresentação, porquanto, agora já não havia razão para permanecer conforme chegara.

Não será admitido como servo, mas como filho que tem direito à herança e ao seu amor.
Por essa razão ele viera do país longínquo de retorno ao lar.

Continua o cap.3 na próxima postagem

Pg. 49-53 de Joanna de Ângelis psicografia de Divaldo Franco
Postagem do dia 23-08-2013.

terça-feira, 6 de agosto de 2013


Integração moral

(continuação)

Nessa fase inicial de despertar da consciência, não existem valores éticos  nem conceitos morais, exceto aqueles que decorrem das necessidades primitivas que ainda permanecem em a natureza humana.
O amadurecimento psicológico lento e seguro propicia a descoberta desses tesouros íntimos que direcionam o comportamento, ajudando a discernir como viver-se saudavelmente ou de maneira tormentosa.
O hábito arraigado de ser-se infeliz sob disfarces múltiplos conspira contra a identificação dos valores morais e a conquista do  si-mesmo.
Eis porque a parábola do misericordioso é possibilidades para a integração dos valores moris esparsos, destituídos até ali de significados real, esquecidos ou em choques contínuos conforme os interesses mesquinhos dos filhos...
Sem dúvida, na análise psicológica de cada indivíduo, ele pode assumir, ora a personalidade do filho pródigo, noutro momento a do irmão ciumento, raramente, porém, se encontrará integrado no genitor compreensivo e dedicado, que reúne os dois filhos, ambos necessitados, sob o manto da bondade e da compreensão.
Essa possibilidade, quase remota, por enquanto, pelo menos durante a fase de ajustamento do demônio com o anjo interiores, acontecerá quando o amor se despir do egotismo, e o símbolo de Eros assim como o de Cupido  adquirirem a abrangência do sentimento universal do amor que integra a criatura ao Seu Criador e a torna irmã de todos os demais seres sencientes que existem.
O Pai compassivo por excelência libera não mais o Filho Pródigo, porém, os filhos que se tornaram saudáveis, apoiados na compreensão dos seus deveres perante a vida e a sociedade, contribuindo em favor do progresso geral.
Nessa fase, toda a herança ancestral do primitivismo antropológico cede lugar à consciência do si-mesmo, proporcionando incontáveis bênçãos de que o ser tem carência, auxiliando-o na conquista da sua plenitude.
Não lhe será necessária a morte orgânica para desfrutar do Nirvana ou penetrar no Reino dos Céus, porquanto já os conduzirá no íntimo, em forma de autorrealização e de tranquilidade.
A doença, o infortúnio, a morte já não o impressionam, porque se dá conta de que esses acidentes de percurso fazem parte do processo de crescimento, e, à semelhança do diamante que reflete a luz da estrela, não lhe ficam as marcas do carvão bruto que era antes da lapidação.
Indispensável, portanto, compreender-se que o Pai deseja encontrar o filho perdido num país longínquo e reabilitar aquele que se perdeu em si mesmo, no país próximo-distante da afetividade doentia.
A integração dos valores morais resulta desse esforço realizado pela consciência profunda que busca a integração do ego imaturo, dando-lhe significado existencial, trabalhando pela harmonia dos sentimentos e dos comportamentos.
Jesus conhecia a psique humana em profundidade, os seus abismos, as suas heranças, os seus equívocos, as suas incertezas, todos os seus meandros, e porque identificava naqueles que O seguiam os tormentos que os infelicitavam, apresentou na parábola do Filho Pródigo o eficiente processo psicoterapêutico para as gerações do futuro, de forma que, em todas as épocas porvindouras, o amor e a compaixão, libertando dos traumas e dos ressentimentos, contribuíssem para a plenificação interior dos indivíduos.
Parte final do cap.3 –FRAGMENTAÇÔES MORAIS-
Do livro, Em Busca da Verdade, ditado pelo espírito Joanna de Ângelis, psicografado por Divaldo Franco.Postado em -06-08-2013.