O
SER HUMANO PLENO
Frederico
Nietzsche, dominado por terrível pessimismo, atormentado por contínuas crises
de depressão e amargura, concebeu o super-homem
como aquele que poderia vencer o niilismo e com a sua sede de poder tudo
conquistar. Esse verdadeiro arquétipo que predomina em muitos indivíduos,
estimulando-os à conquista desse símbolo representado na personagem fictícia
americana do Superman, é um sonho
atormentado que não encontra respaldo nos conteúdos psicológicos e somente vige
na imaginação.
Ao
conceber esse protótipo, Nietzsche não imaginou o modelo ariano como ideal,
que, de certo modo detestava, mas um alguém que superasse o homem morto, do Assim falava Zaratustra, que talvez não suportasse os imensos
conflitos gerados à sua volta. Por algum tempo, esse conceito gerou
incompreensão em torno do autor, quando sua irmã, aquela que conviveu com ele
nos últimos tempos, ofereceu a Hitler uma bengala que lhe havia pertencido,
deixando transparecer simpatia do filosofo pelo nazismo...
Idealizar-se
um super-homem é tentativa frustrada de desprezar-se o homem e todas as potências
que se lhe encontram em germe.
Porque
o seu processo de experiências é realizado por etapas caracterizadas por
incertezas e dificuldades, aspira-se, inconscientemente, à possibilidade mitológica
de tornar-se alguém inacessível aos fenômenos dos sofrimentos, das angústias e
da morte, conforme a concepção em voga em torno do Superman.
A
conquista dessa robustez e grandeza moral somente é possível pela inversão de
valores, que se apresentam no mundo exterior como portadores de poder e de gloria,
estando adormecidos no Si-mesmo, que
deve ser conquistado com decisão, em processos vigorosos de reflexão e de ação
iluminativa, de forma que nenhuma sombra consiga
predominar na aquisição da plenitude.
A
conquista de humanidade conseguida pelo psiquismo após os bilhões de anos de
modificações e estruturações, transformações e adaptações, faculta, nesse
período da inteligência e da razão, a fantástica conquista do pensamento, essa
força dinâmica do Universo que o sustenta e revigora incessantemente.
Não
foi sem sentido psicológico profundo que o astrofísico inglês Sir James Jeans declarou:
O universo parece mais um pensamento do que
uma máquina, coroando-se com a declaração do nobre Eddington informando que
: A matéria-prima do universo é o
espirito.
Por
isso mesmo, quando o ser humano autoexamina-se, percebe-se como um todo com possibilidades
especiais independentes de qualquer outra condição externa, mas ao abrir os
olhos dá-se conta do meio ambiente, das circunstâncias e das imposições sociais, tornando-se parte do conjunto, embora
mantendo alguma independência. Surgem-lhe, então, as necessidades de autoafirmação,
de autorrealização, buscando a integração no conjunto sem perder a sua
identidade, a sua individualidade, o Si-mesmo.
Logo
se lhe manifestam as ambições pelo poder, pelo ter, que o estimulam à luta,
impulsionando-o a vencer os obstáculos que se interpõem na marcha, tentando
dificultar-lhe a conquista dos seus objetivos.
A
insistência que dá mostra fortalece-o auxiliando-o
a definir os rumos do progresso, para logo depois, à medida que amadurece
psicologicamente, dar-se conta de que essas conquistas do ego são interessantes, proporcionadoras de comodidade, de prazeres,
porém insuficientes para sua plenificação.
Amadurecido,
sem tormento de frustrações, mas por análise das ocorrências e das posses
descobre outra ordem de valores interiores, de aspirações mais significativas,
de sentido mais lógico e grandioso para a existência, passando a aspirar pela
plenitude, esse estado de samadi, preservando
a dinâmica de intérmino crescimento.
Considerando-se
que o processo de evolução é infinito, quanto mais consciente se encontra o ser
humano, a mais aspira e melhores anelos trabalham-lhe o íntimo, porque a sua
concepção da realidade é abrangente e compensadora.
Quem
anda num vale tem limitada a visão, nada obstante a beleza da paisagem. A esforço,
começando a ascensão montanha acima, amplia-se-lhe o horizonte observado,
apesar de permanecerem distantes os contornos dos montes e dos abismos... No
entanto, quando atinge o acume, sente-se triunfante e pequeno ante a grandeza
do que abarca visual e emocionalmente, não se contentando somente em observar, mas em ser também parte
significativa desse conjunto, que não existia para ele até o momento em que pôde
contemplar...
O
observador existe quando detecta o que antes não tinha vida para ele, que, por
sua vez, passa a ser observado pelo que observa.
No
pandemônio dos conflitos existenciais, o ser humano apequena-se e parece
consumido pelas situações psicológicas em que se vê envolvido, como alguém num
vale em sombras, sem perspectivas mais amplas que lhe facultem os horizontes de
infinita alegria e de bem estar.
Os
tormentos cegam a razão, o egoísmo limita os passos, estreitando as aspirações
que pretendem abarcar tudo, sem possibilidade de fruí-lo, o que é lamentável,
tornando o possuidor possuído pela posse possuidora...
Quando
se liberta dos tentáculos que arrasta tudo de maneira constritora para o centro
do ego, respira o oxigênio saudável da alegria inefável por
estar livre das conjunturas tormentosas do ter e do temer perder, do ser
admirado pelo que possui, não pelo que é, de ser visto como triunfador de fora,
no que é admirado, mas raramente amado...Livre de qualquer tipo de dependência
factual do cotidiano das coisas, pode voar pela imaginação e pelos sentidos em
qualquer direção, sem medo nem ansiedade, porque se encontra pleno.
Por ser bastante
extenso aqui interrompo o texto, porém convido-os a ficarem atentos já que será
concluído na próxima postagem, momento em que também estaremos encerrando o
cap.6, O SER HUMANO EM CRISE EXISTENCIAL escrito por Divaldo Franco ditado
pelo Espírito Joanna de Ângelis, no livro Em
Busca da Verdade.
Postado dia 25/10/13.
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