sexta-feira, 25 de outubro de 2013


 

O SER HUMANO PLENO 

Frederico Nietzsche, dominado por terrível pessimismo, atormentado por contínuas crises de depressão e amargura, concebeu o super-homem como aquele que poderia vencer o niilismo e com a sua sede de poder tudo conquistar. Esse verdadeiro arquétipo que predomina em muitos indivíduos, estimulando-os à conquista desse símbolo representado na personagem fictícia americana do Superman, é um sonho atormentado que não encontra respaldo nos conteúdos psicológicos e somente vige na imaginação. 

Ao conceber esse protótipo, Nietzsche não imaginou o modelo ariano como ideal, que, de certo modo detestava, mas um alguém que superasse o homem morto, do Assim falava Zaratustra, que talvez não suportasse os imensos conflitos gerados à sua volta. Por algum tempo, esse conceito gerou incompreensão em torno do autor, quando sua irmã, aquela que conviveu com ele nos últimos tempos, ofereceu a Hitler uma bengala que lhe havia pertencido, deixando transparecer simpatia do filosofo pelo nazismo... 

Idealizar-se um super-homem é tentativa frustrada de desprezar-se o homem e todas as potências que se lhe encontram em germe. 

Porque o seu processo de experiências é realizado por etapas caracterizadas por incertezas e dificuldades, aspira-se, inconscientemente, à possibilidade mitológica de tornar-se alguém inacessível aos fenômenos dos sofrimentos, das angústias e da morte, conforme a concepção em voga em torno do Superman. 

A conquista dessa robustez e grandeza moral somente é possível pela inversão de valores, que se apresentam no mundo exterior como portadores de poder e de gloria, estando adormecidos no Si-mesmo, que deve ser conquistado com decisão, em processos vigorosos de reflexão e de ação iluminativa, de forma que nenhuma sombra consiga predominar na aquisição da plenitude. 

A conquista de humanidade conseguida pelo psiquismo após os bilhões de anos de modificações e estruturações, transformações e adaptações, faculta, nesse período da inteligência e da razão, a fantástica conquista do pensamento, essa força dinâmica do Universo que o sustenta e revigora incessantemente.

Não foi sem sentido psicológico profundo que o astrofísico inglês Sir James Jeans declarou: O universo parece mais um pensamento do que uma máquina, coroando-se com a declaração do nobre Eddington informando que : A matéria-prima do universo é o espirito. 

Por isso mesmo, quando o ser humano autoexamina-se, percebe-se como um todo com possibilidades especiais independentes de qualquer outra condição externa, mas ao abrir os olhos dá-se conta do meio ambiente, das circunstâncias e das imposições sociais, tornando-se parte do conjunto, embora mantendo alguma independência. Surgem-lhe, então, as necessidades de autoafirmação, de autorrealização, buscando a integração no conjunto sem perder a sua identidade, a sua individualidade, o Si-mesmo. 

Logo se lhe manifestam as ambições pelo poder, pelo ter, que o estimulam à luta, impulsionando-o a vencer os obstáculos que se interpõem na marcha, tentando dificultar-lhe a conquista dos seus objetivos. 

A insistência que dá mostra fortalece-o auxiliando-o a definir os rumos do progresso, para logo depois, à medida que amadurece psicologicamente, dar-se conta de que essas conquistas do ego são interessantes, proporcionadoras de comodidade, de prazeres, porém insuficientes para sua plenificação. 

Amadurecido, sem tormento de frustrações, mas por análise das ocorrências e das posses descobre outra ordem de valores interiores, de aspirações mais significativas, de sentido mais lógico e grandioso para a existência, passando a aspirar pela plenitude, esse estado de samadi, preservando a dinâmica de intérmino crescimento. 

Considerando-se que o processo de evolução é infinito, quanto mais consciente se encontra o ser humano, a mais aspira e melhores anelos trabalham-lhe o íntimo, porque a sua concepção da realidade é abrangente e compensadora. 

Quem anda num vale tem limitada a visão, nada obstante a beleza da paisagem. A esforço, começando a ascensão montanha acima, amplia-se-lhe o horizonte observado, apesar de permanecerem distantes os contornos dos montes e dos abismos... No entanto, quando atinge o acume, sente-se triunfante e pequeno ante a grandeza do que abarca visual e emocionalmente, não se contentando somente em  observar, mas em ser também parte significativa desse conjunto, que não existia para ele até o momento em que pôde contemplar...

O observador existe quando detecta o que antes não tinha vida para ele, que, por sua vez, passa a ser observado pelo que observa. 

No pandemônio dos conflitos existenciais, o ser humano apequena-se e parece consumido pelas situações psicológicas em que se vê envolvido, como alguém num vale em sombras, sem perspectivas mais amplas que lhe facultem os horizontes de infinita alegria e de bem estar. 

Os tormentos cegam a razão, o egoísmo limita os passos, estreitando as aspirações que pretendem abarcar tudo, sem possibilidade de fruí-lo, o que é lamentável, tornando o possuidor possuído pela posse possuidora...
 
Quando se liberta dos tentáculos que arrasta tudo de maneira constritora para o centro do ego, respira  o oxigênio saudável da alegria inefável por estar livre das conjunturas tormentosas do ter e do temer perder, do ser admirado pelo que possui, não pelo que é, de ser visto como triunfador de fora, no que é admirado, mas raramente amado...Livre de qualquer tipo de dependência factual do cotidiano das coisas, pode voar pela imaginação e pelos sentidos em qualquer direção, sem medo nem ansiedade, porque se encontra pleno.

Por ser bastante extenso aqui interrompo o texto, porém convido-os a ficarem atentos já que será concluído na próxima postagem, momento em que também estaremos encerrando o cap.6, O SER HUMANO EM CRISE EXISTENCIAL  escrito por Divaldo Franco ditado pelo Espírito Joanna de Ângelis, no livro Em Busca da Verdade.

Postado dia 25/10/13.

 

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