sexta-feira, 27 de março de 2020


GRAVITANDO EM TORNO DE DEUS
Psicologia da Gratidão

DIGNIDADE E GRATIDÃO

Na pirâmide da autorrealização que Abraham Maslow o grande psicólogo apresentou  demonstra de forma cuidadosa uma hierarquia das necessidades humanas, iniciando pelas  fisiológicas, de preservação da vida como, alimento, água, oxigênio.

Para ele o ser humano, lutará sempre para atender essas necessidades fundamentais, em processos de seleção em níveis diferenciados até alcançar o das experiências limites, tornando-se o clímax do processo do amadurecimento psicológico saudável, portanto ideal.

Nessa grande busca, todas as experiências permitem conquistas novas, como  libertando-se de umas alcançando outras como necessidades assim abandonando o plano físico e se transformando em anseios emocionais e idealísticos superiores.

Já o dr. Frankl, adotou a proposta do significado existencial como a mais importante, considerando que, quando se atinge a autorrealização em determinada área, o indivíduo pode continuar incompleto em noutra, porém quando ele, se encontra vinculado a um sentido sociológico, torna-se-lhe mais fácil  o crescimento interior caminhando para a conquista da individuação.


Já Epicuro ensina que; “as pessoas felizes lembram o passado com gratidão, alegram-se com o presente e encaram o futuro sem medo”

Nessa atitude epicurista, o ser humano mantém a sua meta existencial, agradecendo tudo que lhe aconteceu no passado e tornou-se-lhe base para as alegrias de hoje, dispondo agora de coragem para os futuros enfrentamentos, certo da conquista da beleza, da ética, da harmonia.


Preparando-se no seu início para a vitória sobre as dores físicas, logo percorre o caminho da coragem ante os insucessos emocionais, morais e as demais vicissitudes, numa atitude hedonista que lhe favorece com alegrias contínuas e uma antevisão do porvir abençoado pela superação das ocorrências que o infelicitam.

Tal atitude reveste-se, de dignidade, desse valor moral que enriquece aqueles fieis aos princípios do dever e da honra.

Sendo a dignidade resultado das conquistas éticas decorrentes dos comportamentos baseados na justiça, na honradez e na honestidade.

Essa conduta digna é sempre a mesma, vigorosa e forte, que suporta as zombarias dos pigmeus morais, não se submetendo ao desconhecimento proposital proposto pelos servos da ignorância e áulicos das situações deploráveis.

Muitos dos desfrutadores das oportunidades mundanas sem o compromisso nem a responsabilidade de alimentar e dinamizar o progresso, sempre sorridentes e parecendo felizes nos carros alegóricos das fantasias, terminam vitimas da síndrome da ansiedade esquiva, que os leva aos conflitos  graves, especialmente porque tentam disfarçar os medos e as angustias que lhes sitiam o self, sem o caráter moral para o autoencontro, que traria o equilíbrio emocional.


 Pascal dizia :“A nossa dignidade consiste no pensamento. Procuremos, pois, pensar bem. Nisto reside o princípio da moral.”

Todas as construções começam pelo pensamento, na elaboração das ideias, na área psicológica. Quando a finalidade é o desenvolvimento dos tesouros morais, o pensamento enfloresce-se de corretas elaborações, as elaborações que promovem o bem, abrindo espaço para a conduta moral.

Com esse comportamento que é psicoterapêutico preventivo em relação a muitos transtornos  que são evitados, o ser amadurece emocionalmente, dispondo-se a enfrentar qualquer situações desafiadoras com coragem ética, não se utilizando de expedientes reprováveis para atingir as metas que busca.

Definindo a direção da arte de pensar, surgem as avenidas do bem viver, contribuindo de forma decisiva para o bem geral.

Fica então compreensível a necessidade do comportamento digno, construído e trabalhado pelos pensamentos e as ações saudáveis, incluindo o sentimento de gratidão que se encarrega de envolver tudo nas vibrações da afetividade. Sem essa afetividade que discerne os significados existenciais  e os bens decorrentes da experiência humana, desaparecia o sentido psicológico proposto para a jornada.

O homem e a mulher gratos são elementos decisivos na estrutura da sociedade, que mais se valoriza e engrandece, quando se compõe de seres que dignificam a própria condição de humanidade.

Já o ingrato, por sua vez, torna-se morbo no grupo em que vive, no conjunto social e em todos os grupos em que se encontra.

A sua presunção e conflitos, somados às tendências perturbadoras da inferioridade, trabalham pela decomposição do organismo geral, em que se encontra, como a planta parasita devastadora, que surge frágil e acaba destruindo o cavalo que a hospeda...

A educação com base em princípios de dignidade estatui a gratidão como norma de conduta saudável, sem ela torna-se difícil, senão impossível, a estruturação de um conjunto humano equilibrado.

Receber e não valorizar é um antigo hábito vicioso que se instala desde a infância nos indivíduos, visando sempre o preço, a grife, a aparência, como se tivesse direito a todos os sacrifícios dos outros, sem nenhuma consideração pelo que recebem, não demonstrando gratidão alguma.

Essa conduta egotista trabalha pela indiferença afetiva dos demais, que passam a desconsiderar esses ingratos, afastando-se deles e vacinando-se contra o hábito superior da gratidão... são muitas as pessoas que, após desconsideração dos rebeldes insensatos e cheios de si, desanimaram-se da vontade de bem servir e ajudar, temendo as recusas, os humores negativos, passando a cuidar dos próprios interesses.

Aquele que assim age, que valorizam a ingratidão dos enfermos espirituais, ainda não traz o sentimento nobre consolidado, estando em experiência, em exercício, aguardando resposta favorável do seu gesto. Mas é natural que assim aconteça, pois ninguém atinge o cume de um monte sem iniciar a caminhada pelas suas baixadas...

A medida que ocorre o amadurecimento psicológico e a dignidade atinge alto nível de emoção, nada diminui o comportamento honorável nem o sentimento gratulatório.

Um executivo costumava adquirir o jornal do dia, após o expediente, numa banca defronte ao edifício onde trabalhava. Sempre que pedia o jornal ao responsável, ele o jornaleiro o atirava com mau humor na sua direção, e ele o cliente retribuía o gesto infeliz com palavras de gratidão.

Um dia, um homem que trabalhava junto e que  cansou de ver a cena desagradável, perguntou ao cavalheiro:
- Por que o senhor volta sempre a adquirir o jornal na banca desse estúpido, que sempre o trata mal?

Após pensar um pouco, o gentil-homem respondeu:
- Por questão de princípio. Eu me impus a tarefa de não permitir que a sua grosseria me fizesse fugir ou me tornasse deseducado ou igual a ele, já que sou muito grato à vida por tudo quanto me tem favorecido.

O mal não afeta o bem, mesmo quando ultrajado ou desconsiderado, transforma-se sim no desafio de saúde moral no comportamento social, a fim de modificar, trabalhando por uma nova mentalidade que será estabelecida entre todos no futuro.

Divaldo Pereira Franco no livro, Psicologia da gratidão. Trabalhado e editado por Adáuria Azevedo Farias. 27/03/2020.

terça-feira, 3 de março de 2020


GRAVITANDO EM TORNO DE DEUS
Psicologia da Gratidão
Heranças perturbadoras

A indiferença moral por tudo que se recebe da vida, dos missionários do passado que contribuíram para os benefícios hoje utilizados como longevidade, conforto, saúde, ciência e tecnologia, repouso e convivências agradáveis, responde pela ingratidão.

O ingrato causa dissabores, sentimento de tristeza ,e desencantos que afetam o núcleo familiar e o grupo social onde se movimenta em ação.

Se a claridade é benção que facilita as realizações, a treva cria dificuldades para as mesmas atividades.

Assim é o ingrato, que respira prepotência e soberba, na sua condição de explorador do esforço alheio.

Um motorista de taxi percebeu que, quando deixou um cliente no aeroporto, ele deixou a pasta que ficou no banco traseiro. Preocupado, o motorista parou na volta para a cidade, parou o carro, olhou a pasta encontrando-a cheia de documentos e de valores. Temendo o transtorno para o desconhecido, fez a volta, acelerando, estacionou o veículo, correu ao terminal, e lembrando-se vagamente da companhia que o senhor apontou, à porta que deveria estacionar, correu na sua direção.

Muito feliz, encontrou o proprietário do objeto que havia acabado de fazer o cheque-in e parecia buscar a pasta entre as que tinha  nas mãos.

Sorridente, aproximou-se e entregou-lhe a maleta com os seus bens.

Ele não esperava retribuição. Estava feliz por fazer o bem. Mas, o passageiro, agressivo e insensível, olhou-o espantado, como se suspeitasse que ele havia guardado propositalmente o seu volume, e não lhe disse uma palavra sequer, saindo rapidamente para a sala de embarque...

O motorista sentiu um frio percorrer-lhe a espinha e uma angustia muito grande.

Meneou a cabeça, e tomou o carro para a cidade.

No mesmo momento em que dava-lhe a partida, outro passageiro sinalizou que necessitava do veículo, ele parou e o estranho entrou no carro.

Pediu o endereço e partiu.

Estava preocupado e, de quando em quando, como se estivesse num monólogo pesado, meneava a cabeça.

O passageiro perguntou o que estava ocorrendo.

Necessitado de desabafo, ele contou o que ocorreu, dizendo ainda:

_ Nunca mais devolverei qualquer coisa que fique no meu carro por esquecimento. E porque sou honesto, não ficaria para mim, mas vou preferir jogar no lixo do que voltar para entregar.

E disse:

_Eu não queria nada, nem o reembolso da despesa que me deu para lhe devolver. Tudo seria para ele somente prejuízo, porque ele nunca saberia onde procurar o seu volume, pois nem anotou o número da placa do meu carro...

Fez uma pausa e concluiu:

__O pior foi o seu olhar severo de dignidade ferida, como a dizer que eu fosse responsável pelo seu esquecimento, ou que lhe furtei a maleta...

A gratidão é combustível para a claridade da vida, como a cera para o pavio da vela manter-se aceso.
A ingratidão é bafio pestilento que contamina os outros com os seus miasmas podendo fazê-los semelhantes.

Por que alguém se atribui tanto mérito que não tem algumas palavras de agradecimento pelo que recebe? Onde está a sua superioridade que exige que os outros é que estejam sempre dispostos à servi-lo?

A ingratidão é síndrome de atraso moral e de perturbação emocional que infelizmente sempre grassou na sociedade de todos os tempos.

Herança perturbadora, que procede dos atavismos iniciais do processo evolutivo, mantem o indivíduo no estágio de predador e está demonstrado que o ser humano é o maior dentre todos os outros, causando sempre prejuízos à natureza, à comunidade, à família e a si próprio...

Esse patrimônio infeliz faz parte do conjunto de outros vícios morais e espirituais que fixam as suas vítimas no atraso social. Sombra perversa, prejudica o discernimento do self, demonstrando o estágio ancestral em que o indivíduo se detém. Presente em pessoas que  muito simpáticas em relação aos estranhos, com o fim de os conquistar, e são grosseiras com aqueles com os quais convivem, que as ajudam em silencio e dignidade, e que os detestam, porque lhes reconhecem a superioridade. A ingratidão descende da inveja mórbida que não consegue perdoar aqueles que tem recursos superiores aos que conduz. É rude de propósito, porque não podendo igualar-se, gera perturbação e desconfiança, para puxar para baixo quem se lhe encontra em situação melhor.

Egotista, o ingrato só sorrir quando busca lucro e apenas é gentil quando espera projeção do ego.

Sob o ponto de vista psicológico, a ingratidão é síndrome de insegurança e de graves conflitos íntimos que aprisiona o ser atormentado.

A gratidão deve ser treinada, para que se possa ser vivenciada.
Como as heranças perturbadoras predominam nos comportamentos humanos, pela duração do período em que se estabeleceram, é necessário que novos hábitos sejam fixados, substituindo os negativos, até poderem transformar-se em condutas naturais.

O convívio social torna-se, muitas vezes,  difícil, por causa dessas heranças perversas do ego, que recalcitra em abandoná-las, satisfazendo-se na censura, quando podia educar, na acusação, quando seria melhor socorrer, na maledicência, quando se torna perfeitamente viável a referencia enobrecida, desculpando os acidentes morais do próximo.
O ser humano está em constante evolução como tudo no planeta, melhor dizendo, no universo. Não há uma lei de estancamento, que  conspiraria com o fatalismo da evolução e do processo ininterruptos.

Tudo evolui, passando por muitas etapas do programa de crescimento.

Sob o ponto de vista moral, esse mecanismo proporciona sempre conquistas novas, enriquecimento interior se o indivíduo encontra-se lúcido para o registro em cada etapa, para a alegria e gratidão pelos novos passos que mais o aproximam da meta proposta, que busca alcançar.

Transformar, portanto, essas heranças doentias em experiências renovadoras é uma das metas a que se deve dedicar todo aquele que aspira ao bem, ao belo, ao amor, à vida...    

Divaldo Pereira Franco no livro, Psicologia da gratidão. Trabalhado e editado por Adáuria Azevedo Farias. 03/03/2020.