A
coragem de prosseguir em qualquer circunstância
Cap.
5 do livro, EM BUSCA DA VERDADE
Divaldo Franco/Joanna
de Angelis
A existência humana pode ser comparada ao curso de um rio que busca o mar. A sua
nascente com aparente insignificância, não, poucas vezes, vai formando singelo
curso que aumenta de volume à medida que recebe a contribuição de afluentes,
vencendo obstáculos, arrastando-os, seguindo a fatalidade que o aguarda, que é
o mar ou oceano...
As
experiências da aprendizagem que ampliam a capacidade interior do discernimento
e do conhecimento, constituem afluentes que favorecem o crescimento individual
do ser humano, à medida que surgem dificuldades e problemas que não podem parar
o fluxo. A força do seu volume, em forma de amadurecimento psicológico,
proporciona a capacidade para superar os impedimentos de toda ordem que são
encontrados pela frente.
Toda
ascensão exige sacrifícios. O tombo no rumo do abismo é quase normal, em face
da lei da gravidade moral, enquanto
que a elevação interior, a coragem de descer ao íntimo para subir ao
entendimento, constitui um dos desafios existenciais mais complexos, em face do
hábito resultante da acomodação em torno do já experienciado, do já conhecido,
sem a aspiração impulsionadora para romper com a rotina e superar o estado de
modorra em que se demora.
A
busca e preservação da saúde é meta que deve priorizar, dando sentido
psicológico à existência.
Desse
modo, as perdas impõem a necessidade urgente do encontro mediante os riscos
naturais que toda viagem heroica exige.
Mede-se
a estrutura moral da criatura não somente pelos êxitos alcançados, mas pelo
empenho no prosseguimento das lutas desafiadoras, ferramentas únicas
responsáveis pelo crescimento ético-moral e espiritual ao alcance da vida.
A
busca do Cristo interior, nesse
cometimento assume um papel de relevante importância, que é o esforço pela
conquista da superconsciência. Quando se consegue essa integração com o ego, alcança-se a individuação.
Conceituou-se,
por muito tempo, que a saúde seria a falta de enfermidade, e que os indivíduos
portadores desse requisito eram mais bem aquinhoados que os demais.
Constatou-se, porém, através das experiências, que a saúde não é apenas o
efeito da harmonia orgânica, da lucidez mental e da satisfação psicológica, porque
outros fatores, como os de natureza socioeconômica, desempenham também
importante papel na sua conquista e preservação.
Enquanto
se movimenta na argamassa celular o Espírito estará sempre defrontando as
consequências das suas realizações passadas, que lhe impõem compromissos
reparadores quando se equivocou, e estímulos de crescimento quando se manteve
dentro dos padrões do equilíbrio e do dever.
A
harmonia, portanto, que deve existir entre todos os fatores, nem sempre ocorre
de maneira perceptível, apresentando-se em formas variáveis de achaques, de
melancolias, de estresses, todos temporários, sem que se constituam problemas
perturbadores, transtornos na área da saúde.
Pode-se
estar saudável, embora portando-se disfunções orgânicas ou doenças em tratamento...
O
equilíbrio da emoção responde pelo comportamento enquanto se manifestam os
fenômenos das alterações celulares, das transformações que se operam em quase
todos os órgãos como resultado do seu funcionamento, das agressões internas e
externas, sem que afetem o bem-estar geral que deve ser mantido.
Outras
vezes, instabilidades emocionais defluentes de expectativas naturais do
processo de crescimento, preocupações em torno das necessidades que constituem
o mapa da conduta social, aspirações idealísticas, dores morais internas,
insatisfações com alguns resultados de empreendimentos não exitosos, contribuem
para a ansiedade, porém sob controle da mente administradora, que prossegue
estimulando a produção das monoaminas
responsáveis pela alegria, pela felicidade: dopamina, serotonina,
noradrenalina...
O
vento que vergasta o vegetal dá-lhe também resistência e vigor.
De
igual maneira, os fenômenos, às vezes, desagradáveis, que tem curso durante a
jornada humana, contribuem para vitalizar os sentimentos e fortalecer a
coragem, proporcionando valores dignificantes.
Ninguém,
que se movimentando no corpo físico, não esteja sujeito a tropeços e quedas, de
igual maneira, ao soerguimento e à continuação da marcha.
Como
elemento vitalizador da luta evolutiva, o amor é de principal importância,
mesmo quando proporciona preocupações e desencantos. É natural que se ame
desejando algum retorno, em face da precariedade dos sentimentos ainda não
desenvolvidos. Ideal, no entanto, será que o amor se manifeste como efeito da
alegria de viver e de expandir as emoções, os regozijos de que a pessoa se
sente possuída, por descobrir esse dom precioso – a dracma pedida no desconhecimento – que é muito mais benéfico para
quem o possui.
O
conceito, entretanto, vigente em torno do amor, é que ele aprisiona, reduz a
capacidade de entendimento em torno dos valores da vida, elege ídolos de pés de barro que não suportam o peso da
própria jactância e arrebentam-se, destruindo o herói. O medo de amar ainda encarcera muitas mentes e corações que
se estiolam em distancia, fugindo desse impulso de vida que é vida.
No
entanto, somente através do amor, isto é, a serviço dele, é que se estruturam
os ideais edificantes e enobrecedores da sociedade. Não é o amor que aprisiona,
senão a insegurança do indivíduo que transfere para outrem os seus medos, as
suas inquietações, as suas ansiedades, aguardando tê-los resolvidos sem o
esforço que se faz exigido para tanto.
Quando
se estabelece o sentimento de amor e de amizade entre duas ou varias pessoas,
há um enriquecimento interior muito grande porque o ego se expande, dilui-se, e o sentimento da fraternidade solidária
alcança o Self, proporcionando o bem-estar, no qual o
indivíduo sente-se realizado, operando cada vez mais em favor do grupo, sem olvido
de si mesmo.
Nesse
expandir de sentimento afetivo, há valorização sem exorbitância do Si-mesmo, que passa a merecer
consideração emocional, libertando-se das traves que lhe impedem o
desenvolvimento. Quanto mais se ama, muito mais se ampliam os seus horizontes
afetivos.
É
através do amor que a Divindade penetra a consciência humana, por meio dos seus
desdobramentos em forma de interesse pelo próximo, pela vida, do labor em favor
de melhores condições para todos, incluindo o planeta ora quase exaurindo...
Esse
Deus está muito além da superada manifestação antropomórfica, sendo a inteligência suprema e a causa primeira do
Universo. Não necessita de qualquer tipo de culto externo, de manifestações
formais, das celebrações que deslumbram, dos comportamentos extravagantes...
Deus encontra-se na atmosfera, que é a fonte de vida, nutrindo tudo quanto
existe, mas também nos ideais, e mais além, em toda parte, nos sacrifícios, na
abnegação de santos e de mártires, de cientistas e de trabalhadores, de
intelectuais e de idiotas, em todas e qualquer expressões de vida, desde o
protoplasma ao complexo humano. É através d’Ele que se alcança o processo de
individuação.
Supõe-se
que a individuação irá ocorrer somente por meio dos momentos exitosos, das
vitórias sobre a sombra, da
autoconsciência conseguida. Sem dúvida, que assim ocorre, mas também, nesse
processo de individuação, surgem períodos muito difíceis, que são defluentes
das alterações orgânicas, em face do avanço da idade, de conjunturas
psicológicas, algumas delas afligentes, de inquietações mentais, no entanto,
instrumentos hábeis para o amadurecimento interior, para a visão correta em
torno da existência, para o trabalho de autoburilamento.
Aqui interrompo a
transcrição do texto, continuarei na próxima postagem.
Postado dia 07/10/2013.
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