quinta-feira, 17 de outubro de 2013


 

PSICANÁLISE E ESPIRITISMO
Freud e a estrutura psíquica: descobrindo o inconsciente -  artigo escrito por Marlon Reikdal

Capítulo 5º do livro Refletindo a Alma – A psicologia espirita de Joanna de Ângelis.

Continuação p.122

Outro aspecto a ser ressaltado é que a consciência freudiana – superego – que auxilia na administração do ser é uma instância que restringe, proíbe e julga o comportamento humano. É um modelo de conduta baseado no cerceamento. Em nossa análise, poderíamos comparar o superego a um deus mosaico – aquele deus punitivo, agressivo, que julga, proíbe e condena o homem; o deus do terror, do medo, da culpa e da opressão. Porém a consciência da visão espírita, inspirada em Jesus, é a vivencia de um Deus amor – o Pai, que é justo e bom. Não somente justo, pois poderia ser punitivo, nem somente bom, pois seria permissivo. Este deus interno que nos habita, faz viver as leis em nós, mas não pelo simples cumprimento de suas leis, e sim pela destinação que nos reserva à perfeição relativa.
Dessa forma, percebemos que Joanna de Ângelis considera a possibilidade de superação da fase de conflitos, na qual o indivíduo constata a excelência dos resultados dos esforços envidados, ora manifestando-se como bem-estar. Neste processo vitorioso, o Espirito se despe das escamas pesadas do ego, resultantes das reencarnações e consolida o eixo ego-Self, que alcançará as cumeadas dos altiplanos, para levantar voos mais audaciosos na direção de Deus, que o aguarda através dos milênios.

Mas em contrapartida às discordâncias, deixamos aqui registrada a grande contribuição do eminente psicanalista, abrindo as portas para a Metapsicologia, adentrando o campo da psicologia profunda ao estrutural conceito de inconsciente e a possibilidade de contato e descoberta do inconsciente.

O processo de adentrar este mundo desconhecido é o trabalho essencial da psicanalise: uma técnica e uma ética frente ao sujeito que sofre. Freud, em inúmeros textos, discute longamente este percurso ao inconsciente (Joanna corrobora estas técnicas, acrescentando a visão espirita, no cap. “Descobrindo o Inconsciente”, do livro Desafios e Soluções ). Para Freud, a divisão do psíquico em o que é consciente e o que é inconsciente constitui a premissa fundamental da psicanalise.  Gostaríamos de ressaltar a insatisfação de Freud com as pessoas que não “aceitam” a ideia do inconsciente, tendo em vista que certamente não se aprofundaram nos fenômenos psíquicos :

Se eu pudesse supor que toda pessoa interessada em Psicologia leria este livro, deveria estar também preparado para descobrir que, neste ponto, alguns de meus leitores se deteriam abruptamente e não iriam adiante, pois aqui temos a primeira palavra de teste da psicanalise. Para muitas pessoas que foram educadas na Filosofia, a ideia de algo psíquico que não seja também consciente é tão inconcebível que lhes parece absurda é refutável simplesmente pela lógica. Acredito que isso se deve apenas a nunca terem estudado os fenômenos pertinentes da hipnose e dos sonhos, os quais – inteiramente à parte das manifestações patológicas – tornam-se necessária esta visão. A sua psicologia da consciência é incapaz de solucionar os problemas dos sonhos e da hipnose. (Freud, no livro O Ego e o Id, p.25)

A dimensão dos sonhos e da hipnose, à época, mostrava um mundo desconhecido do próprio sujeito. E assim, entendemos que o conceito do inconsciente que Freud nos outorgou auxilia-nos a aceitar que existe muito de nós que nós mesmos desconhecemos.

Por isso Joanna afirma :”É muito difícil dissociar o inconsciente das diferentes manifestações da vida humana, porquanto ele está a ditar, de forma poderosa, as realizações que constituem os impulsos e atavismos existenciais. “ (Ângelis, Vida Desafios e Soluções, p.85)

Pelo mesmo motivo Joanna afirmará, na continuidade do texto, que o grande desafio da existência humana é conseguir explorar este universo desconhecido de nós mesmos, para retirarmos dele todos os potenciais que nos possibilitem a felicidade e a realização. No entanto, nos recomenda que percebamos aí a presença do Espírito que exerce a sua função na condição de inconsciente, pois ele é o depósito real de todas as experiências.

Ou como explica Emmanuel:

“Somente à luz do Espiritismo poderão os métodos psicológicos apreender que essa zona oculta, da esfera psíquica de cada um, é o reservatório profundo das experiências do passado, em existências múltiplas da criatura, arquivo maravilhoso onde todas as conquistas do pretérito são depositadas em energias potenciais, de modo a ressurgirem em momento oportuno. “ (Emmanuel, O Consolador, p.42)

A grande contribuição freudiana, principalmente para nós espiritas que tentamos compreender a transformação moral e o desenvolvimento do ser humano, é entender que não existe possibilidade de anular um sentimento ou esquece-lo, tendo como ilusão que está tudo resolvido.

Lembramos do apóstolo Paulo que dizia em Carta aos Romanos 7:19-20 “realmente não faço o bem que quero, mas o mal que não quero. Se faço o que não quero, então não sou eu quem age.” Identificamos o vão de nossa personalidade entre o que sabemos e o que fazemos, anunciado há quase dois milênios.

Embora este ‘outro que age em mim’ seja nominado de diferentes formas, ainda na atualidade, o insigne psicanalista chamou de inconsciente e com isso deu novos rumos ao processo de libertação, identificando em nós mesmos o problema e a alternativa que nos conduza à felicidade.

Ao que Freud chamou de inconsciente a Psicologia chama de Espirito, e como ele mesmo mostrou, não é apenas um depósito de experiências passadas, arquivadas como se estivessem num baú, anuladas. Não. É algo extremamente dinâmico, impulsionando nossas atitudes, agora nos dominando, caso não tenhamos contato com ele, caso não façamos a grande viagem interior para dentro de nós mesmos.

Enquanto nós, espíritas, ainda sofremos preconceitos pela crença no transcendente, tentamos visualizar o período em que – há mais de 100 anos – impulsionado pela coragem e pela determinação de seus estudos, Sigmund Freud agiu fiel às suas descobertas em oposição ao socialmente aceito.

Apresentou-se à sociedade científica com teorias consideradas por muitos como absurdas. E até hoje a psicanalise e seus seguidores sofrem preconceito como se, ao falarem de algo que não é material ou palpável, estivessem aceitando absurdos; e ao falarem da sexualidade humana, estivessem abordando algo repugnante.

Ao questionarmos a benfeitora Joanna de Ângelis sobre a principal contribuição da psicanalise para a Psicologia espirita, ela responde: “Graças à coragem e valor moral de Sigmund Freud, quebrando os tabus que envolviam o sexo no fim do sec. XlX, abriram-se as fronteiras do desconhecido nessa área, facultando melhor entendimento das necessidades humanas. A psicanalise tem contribuído valiosamente para o entendimento de muitos conflitos que desarmonizam as criaturas terrestres,  ensejando ajustamentos nessa área que jazia ignorada pela superstição, pela falsa pudicícia, por interesses religiosos escusos...”

Fim do cap.5, FREUD E A ESTRUTURA PSIQUICA: DESCOBRINDO O INCOSCIENTE , escrita por Marlon Reikdal, no livro Refletindo a alma.

Um comentário:

Unknown disse...

Jesus nos chama aos seus braços, a fim de nos aliviar a pesada carga - mas somente conhecendo nossos limites poderemos melhor lidar com os conflitos.
Muita paz.
Francisco Almeida