GRAVITANDO EM TORNO DE
DEUS
VIVER COM ESTOICISMO
Uma existência humana pautada
nas diretrizes do Evangelho de Jesus enfrenta contínuos desafios que acabam sendo
oportunidades excepcionais para propiciar a auto-iluminação.
Vivendo-se numa
sociedade hedonista por um lado e pessimista por outro, a escolha de uma
conduta estoica torna-se o caminho mais viável para a conquista da paz e dos
estímulos que propicionam a correta desincumbência dos deveres.
Consciente de que o
processo da evolução desenvolve-se do interior para o exterior do ser, o
candidato ao crescimento espiritual não pode furtar aos testemunhos que exigem coragem e robustez de ânimo.
Nascido praticamente nas
reflexões de Heráclito, o estoicismo se radica na crença da substancia; portanto, de algo que não
morre quando sucede o fenômeno biológico da desintegração orgânica, constitui-se
uma doutrina que, de alguma forma, adota o comportamento socrático-platônico.
Embora os mais belos
exemplos de estoicismo na filosofia hajam sido demonstrados por Lúcio Anneo
Sêneca, preceptor de Nero que, alucinado, invejoso e ciumento, propôs-lhe o
suicídio duplo, cortando as artérias dos braços, tendo os pés em água morna,
para que a morte seja mais rápida e logo sorvendo cicuta, já avançado em anos. Epícteto
e Marco Aurélio, que escreveu pensamentos de grande beleza na batalha, em diversos postulados lembra o
Evangelho de Jesus, sem a profundidade do exemplo proposto pelo Mestre
nazareno.
Na acepção do termo
estóico, a morte, não inspirando medo, não pode ser solução para o abandono dos
compromissos terrenais, conforme considerava o próprio Sêneca...
O exemplo de coragem
demonstrado por Sêneca pode, também, ser considerado medo ao devasso imperador,
que dominava através da impunidade de que se achava investido como divino.
Nero, que governou com
equidade nos primeiros cinco anos do seu império, demonstrou a sua demência quando
passou a viver os delírios do poder, inclusive quando, mandou assassinar sua
mãe Agripina, que, já havia, assassinado o imperador Cláudio, seu marido,
depois de fazê-lo adotar o sicário que se fez imperador... E esse filho mandou mata-la,
só porque ela censurou a sua concubina...
Um regime de
indignidade e ostentação, de crimes hediondos como aquele, precisava de políticos
nobres e cidadãos valorosos para os enfrentamentos, desapeando do poder o
atormentado algoz do império.
Mas, logo depois do incêndio
e da sua incriminação contra os cristãos, querendo reconstruir e embelezar
Roma, as suas arbitrariedades atingiram tão terrível patamar que, perseguido,
fugiu da cidade e, perseguido, sem coragem de suportar os efeitos da sua
trágica vida, pediu ajuda a um escravo para encerrá-la de forma não menos
ultrajante.
Um estóico, jamais se
deixa abater ou desiste da luta honrosa na qual se encontra, trabalhando os metais do caráter social para que sejam
atingidos os fins enobrecedores da vida.
A
vida estoica é desenvolvida em amplo campo de luta contínua contra a degradação
moral, a fraqueza dos sentimentos, a desonestidade, o crime,
a submissão.
As
virtudes desempenham um papel fundamental, especialmente
destacando-se o bem, a clemência, o valor moral...
A
proposta do estoicismo é a de viver-se de acordo com a natureza,
seguindo-lhe os códigos soberanos.
O
estoico é alguém que encontrou o sentido existencial e reconforta-se nos
severos compromissos de auto-aprimoramento, descobrindo as
fontes de uma vida digna por meio da prática das virtudes e vivendo-a em todos
os passos da caminhada enobrecida.
Embora as não poucas
atitudes sofistas de Sócrates, o seu idealismo levou-o a um julgamento
arbitrário, infame, que enfrentou com dignidade, e à morte perversa, que
aceitou estoicamente, sem queixas, consciente da sua imortalidade.
Nunca
a cultura precisou tanto de valores estoicos para serem vivenciados como nestes
dias.
Quando a decadência ética
permeia os mais graves compromissos morais e sociais, destacando a corrupção como ocorrência natural no comportamento dos
indivíduos, a exaltação do dever e da dignidade pelo exemplo é de necessidade imediata.
O ser social, muitas
vezes enfraquecido nas lutas, fortalece-se
no exemplo dos cidadãos que se fazem paradigmas da lealdade, do dever, da
moral.
Ao lado das demonstrações
de que era Filho de Deus, que tanto deslumbrou os Seus coetâneos, Jesus
permanece como o exemplo máximo da incorruptibilidade, da fidelidade ao dever
assumido perante o Pai em favor das criaturas humanas.
Em momento algum
demonstrou fraqueza moral, e mesmo as Suas resistências orgânicas nos momentos
extremos, ao apresentar-se debilitadas, não O impediram de tornar-se o maior
exemplo de estoicismo por amor de que se tem notícia.
Buscar assemelhar-se-Lhe
é o dever de todos que buscam uma vida harmoniosa, precedendo à vida real,
quando por ocasião da imortalidade em triunfo.
Certamente, esta
conduta não será plasmada de um para outro momento, mas através de contínuos
acertos e erros, que irão estruturando a personalidade para o mister, ao tempo
em que se desenvolvem os sentimentos morais em moldes próprios para o
empreendimento.
Iniciam as experiências
em nonadas, como a melhor forma de treinamento, para alcançar-se os
investimentos mais importantes que tenham representação na economia moral e
emocional de cada um.
Buscando-se o essencial,
tudo que é secundário cede lugar a benefício da meta.
Nessa circunstancia, o
amor desata as suas infinitas possibilidades em adormecimento, ampliando a
capacidade de servir e de plenificar.
O estoicismo, faz parte
da proposta ética do Cristianismo, por ser o método filosófico mais conforme
com a moral do Evangelho de Jesus.
Perseverar no bem,
quando outros desistem, manter a fidelidade, quando se extingue o entusiasmo,
sustentar o dever, mesmo quando tudo parece conspirar contra os ideais
elevados, confortar os caídos na retaguarda, reerguendo-os para o avanço, são
conquistas importantes no processo da auto-iluminação, na construção do ser que
se deseja transformar em modelo...
Começa a vida estóica
no cultivo do solo do coração, onde se colocam as sementes da bondade e da
esperança, para que se formem círculos de afetividade combativa, na dinâmica de
bem servir com esquecimento da presunção pessoal e do orgulho.
O estóico, como o
cristão, desconhece-se, não se acreditando melhor do que os outros, também não
se considerando pior, mantendo a consciência plena da função existencial e de
quanto deve realizar para atingir o objetivo da sua imortalidade.
Texto de Joanna de
Ângelis, psicografado por Divaldo Franco, no livro, Libertação do Sofrimento,
trabalhado por Adáuria Azevedo Farias.
29/04/2017