sexta-feira, 22 de março de 2019


GRAVITANDO EM TORNO DE DEUS
O SER HUMANO PERANTE A SUA CONSCIENCIA

Os arquétipos ego e self surgiram logo depois da fissão da psique, e junto com os sinais de consciência surgiram também sinais de despertamento das emoções várias e significado psicológico.

As primeiras manifestações de medo e da ira se fizeram seguir de outras expressões dos sentimentos adormecidos, propondo a continuação dos instintos de conservação e de reprodução da vida orgânica, possibilitando superação dos agressivo-defensivos, ou dando uma direção mais eficaz, assim escolhendo os que trazem prazer e harmonia e não os de sofrimento e desequilíbrio.

A dor brutal do princípio permitiu  manifestações menos grosseiras, culminando nos fenômenos morais afligentes que o conhecimento tem o dever de suavizar, à medida que a consciência conquista os níveis superiores a que está destinada.

No Oriente, o discernimento que proporcionou o surgimento da consciência é encontrado na tradição do Bagavad Gita, parte do Mahabarata, quando o mestre Krishna, dialogando com o discípulo Ardjuna, o ajudou a penetrar na vida mística, especialmente na luta que deveria travar com destemor entre as virtudes (de pequeno numero) e os vícios (bem mais numerosos), com a aplicação das forças nobres da consciência.

No judaísmo surgiram os vislumbres do bem e do mal, nos livros mais antigos dos profetas, especialmente em alguns que foram considerados heréticos a partir do Concílio de Nicéia, no ano 325 d.C., convocado imperador Constantino. Entre esses destacamos o Livro de Enoque, em cujas lições Jesus teria encontrado apoio para o seu ministério, e os apóstolos João, Tiago, Lucas, nos Atos, e Paulo se inspiraria para a elaboração de importantes páginas que aplicaram nas suas propostas evangélicas e epistolares...

A dualidade arquetípica da sombra e da luz apresenta-se como Satã e Cristo, o Ungido, que vem das tradições orais, detestado o primeiro pela sua perversão e maldade – o outro lado da psique, o lado que se procura ignorar -, e o Cristo – a luz da verdade, do bem, da plenitude...

De maneira equivalente expressou-se o pensamento socrático-platônico no ocidente,  apresentando a virtude como consequência dos valores morais ante os vícios de todo porte que degradam, impedindo o desenvolvimento do logos interno presente em todos os seres humanos...

Nas reencarnações, o Espírito aprimora os valores ético-morais e intelectuais, que  desenvolve as faculdades da beleza, da estética, da arte em diversas manifestações que possibilitam superar os impulsos do primarismo pela espontânea escolha dos sentimentos morais elevados.

Vivenciando, em cada reencarnação, uma ou várias faculdades éticas, as suas variantes enriquecidas do bem sobrepõem-se à anteriores tendências, fixando os valores espirituais que culminarão na plenitude do ser.

Esses períodos, alguns marcados por grandes turbulências emocionais, despertam a consciência do ego para o conhecimento do si-mesmo, permitindo-lhe compreender a finalidade da existência carnal.

À medida que supera os episódios vivenciados no pavor, dando lugar as manifestações da afetividade, a princípio em forma de posse e domínio, e depois em atitudes de renuncia pelo bem-estar do outro, a ampliação da consciência objetiva impulsiona o Espírito para as conquistas de natureza cósmica.

Nesse momento, surge o nobre sentimento da gratidão com as suas mais simples expressões de alegria pelo que se recebe da vida, e mais adiante pela necessidade de retribuir, libertando-se da posse enfermiça e da paixão desequilibrante, antes orquestradas pelo ego e pelo arquétipo sombra.

Sentindo essa doce emoção de agradecer, ele é impulsionado para a cooperação edificante no grupo social para melhor e mais feliz, no qual a saúde real independe dos processos de desgastes pelas enfermidades ou pela senectude.

A consciência grata é risonha e saudável, e predomina em qualquer idade somática do ser humano.

Existem crianças e jovens com exuberância de saúde física, mas frios dos sentimentos de afeto, ingratos, mudando de atitude somente quando se encontram em jogo os seus interesses imediatos de significado egotista. Também destacamos valores de enriquecimento de gratidão em anciãos e enfermos que, mesmo passando por circunstancias e ocorrências orgânicas, tornam-se exemplo vivos de alegria, de luminosidade, de bem-viver ...Nem a aproximação da morte biológica os aflige ou atemoriza, mas sim alegra-os em agradável anuncio de libertação lhes tornando possível a individuação antes ou após a morte...

O sentimento de gratidão, portanto, não se deve apresentar apenas quando tudo é satisfatório, quando os fenômenos psicossociais, emocionais e orgânicos encontram-se em clima de satisfação de alegria, mas também nas adversidades. Reagir-se de maneira grata aos sucessos é normal e natural, e se assim não se procede é porque se é arrogante, soberbo, vivendo em conflitos desgastantes. O desafio à gratidão ocorre nos tempos difíceis, quando surgem as adversidades que também fazem parte do processo desafiador da evolução, já que nem sempre os céus humanos estarão adornados de astros, sendo todos chamados a atravessar a noite escura da alma com a luz do sentimento reconhecido a Deus pela oportunidade de experienciar novas maneiras de viver.

Normalmente, o sofrimento mata a gratidão e o indivíduo foge para a lamentação, para a autoacusação ou autojustificação, e faz uma comparação com as pessoas que  parecem felizes e sem inquietação.

Sem as experiências dolorosas, ninguém pode avaliar as benignas por faltar parâmetros de avaliação. É preciso nesses momentos mais difíceis liberar-se da raiva, da mágoa, evitando a ingratidão pelos bens armazenados e pelas horas felizes vividas antes, continuando dessa forma a amar a vida mesmo nessas circunstancias que são indispensáveis.

O mito de Jó deve ser modelo de aprendizado, pela coragem e gratidão a Deus mesmo quando tudo lhe havia sido tirado: rebanhos, servos e escravos, filhos e recursos financeiros, ficando em estado lamentável, mas sem revolta.

A lenda diz que aquilo foi resultado da interferência de Satanás, que lhe invejando a felicidade e o amor a Deus propôs ao Criador que ele se mostraria igual as outras criaturas, rebelde, ingrato e desnorteado.

Aceitando o desafio proposto, o Senhor da Vida testou o afeto de Jó, cobrindo-o de chagas e de miséria, que reagiu de forma oposta à sombra, sendo fiel em todos os momentos e grato pelas provações, apesar da revolta da sua mulher...

Ele apenas perguntou:
- Por que eu?

E depois de muitas reflexões felizes concluiu que não existe bem sem mal, felicidade sem sofrimento, colocando Deus – o arquétipo primordial – acima de tudo e aceitando-Lhe as imposições sem revolta.

Em consequência, Deus mostrou a Satanás que Jó tinha sido fiel no  teste e devolveu a ele tudo que lhe havia tirado...

Dilatando-se a consciência empobrecida pela lucidez, os arquivos do self  (ser Espiritual, ser imortal, eu verdadeiro) liberam os arquétipos celestes, que procedem do primordial (que é Deus), e a gratidão também se torna o estado numinoso que proporciona a conquista cósmica recomendada por Jesus como a instalação do reino dos céus  nos corações.
Texto de Joanna de Ângelis, psicografado por Divaldo Pereira Franco no livro, Psicologia da gratidão. Trabalhado e editado por Adáuria Azevedo Farias. 22/03/2019.

sábado, 2 de março de 2019


A GRATIDÃO COMO ROTEIRO DE VIDA


Passando por níveis diferentes de discernimento e de lucidez, a conquista da consciência é o grande desafio da vida. Pode-se mesmo transformar essa conquista no sentido, no significado que Jung propõe se dever buscar,  substituindo mesmo a ilusão da felicidade, fugidia, que a realidade dilui logo depois de ser  alcançada. ...

Causado pelos diferentes estágios de consciência fisiológica (comer, dormir, reproduzir-se,) ou psicológica (comer, dormir, reproduzir mas também pensar e agir com discernimento e segurança ético-moral), o sentimento de gratidão apresenta-se também na capacidade de compreender e de sentir o valor da existência terrena.
                                                      
Algumas culturas modernas conservam ainda o conceito marxista e primário de que a gratidão é um sentimento feminino, emoção específica da mulher, não devendo ser cultivada pelo homem.

Com esse entendimento, quando um homem expressa gratidão, dizem, que se encontra em conflito de sexualidade predominando aí a anima no comportamento.

Nessa teoria ultrapassada o homem, deve caracterizar-se pela força, entendida como brutalidade, vigor de sentimentos e quase total ausência das emoções superiores da ternura, da bondade, da abnegação, sendo o sacrifício mais um gesto estoico e másculo do que a entrega ao ideal, ao sentido de viver.

Como consequência, essa manifestação natural  da emotividade cheia de amor é recalcada e desprezada, dando origem a culpa inconsciente pela instalação da ingratidão, que é o seu oposto.

Numa linguagem poética, a flor e o fruto, o lenho e a sombra são a gratidão  da planta a benção da vida.

A pureza generosa e refrescante é a gratidão da nascente reconhecida por existir.

O grão que se deixa triturar é a gratidão  presente nele para se transformar em pão e  dessa forma em manutenção da vida.

Porque pensa e sente, o humano é constituído pelas emoções que, na fase primária, são agressivo-defensivos e, à medida que evoluir, transformam-se em reconhecimento e retribuição. Não seria como uma devolução equivalente ao que recebeu, como um pagamento pelo que lhe foi dado, mas  como alegria, reconforto, pelo que conseguiu.

Todo crescimento pessoal cultural, moral e espiritual dirige-se para o sentimento de gratidão, da oferta, da participação no conjunto, tornando-se o indivíduo também útil e importante.

A gratidão individual é uma nota harmônica contribuindo na sinfonia universal, ampliando-se e tornando-se um sentimento coletivo que proporciona o equilíbrio social e espiritual da humanidade.

É correto pensar-se que gratidão seja  instrumento de afeição, mas o seu significado vai além ele deve transformar-se numa forma de viver-se, de entregar-se ao processo de crescimento interior, de realização do progresso.

Desejar-se a gratidão como flor espontânea que medra em determinados momentos e logo emurchece, não é o suficiente.

Ela deve ser treinada, exercida como forma de comportamento, externando-se em todas as situações em forma de alegria e de satisfação.

Normalmente, os portadores de transtornos de conduta, os psicóticos e aqueles que sofrem de psicopatologias tornam-se ingratos, perdem o contato com a realidade dos sentimentos e  voltam ao primarismo egoísta e soberbo das atitudes negativas. É claro que esse tipo de enfermidades, resultantes de problemas na área das neurocomunicações, apresentam carência de serotonina, de noradrenalina, de dopamina, amortecendo-lhe as emoções superiores e castrando as comunicações da afetividade. Mas esse tipo de ocorrência, encontra-se atrelada ao estágio evolutivo do paciente, às suas construções mentais quando esteve saudável, aos mecanismos de ansiedade e de desconfiança, de fácil irritabilidade e enfado.

O exercício, da afeição que se gratula e se expressa gentil, enriquece a emotividade superior, empobrecendo o egoísmo e desenvolvendo o self que se libera de algumas das imposições do ego, facilitando a comunicação no eixo entre ambos...

Não é sempre, que, o indivíduo sente a gratidão, por vários motivos: infância infeliz, família turbulenta e difícil, relacionamentos malsucedidos, solidão, complexo de inferioridade ou de superioridade que embrutecem os sentimentos, desenvolvendo  ferramentas de autodefesa.

Isso não deve preocupar. Constatar que não se sente gratidão já é uma forma de compreendê-la, de percebê-la na sua manifestação inicial. À medida porém que as emoções se expandem e o inter-relacionamento pessoal permite a ampliação do convívio com outras pessoas, aparecem os pródromos do bem viver, da comunhão fraternal, do desinteresse imediatista contrárias às condutas doentias, e vai surgindo espontaneamente o reconhecimento de amor e de ternura à vida e a tudo quanto existe.
                                                         
Não havendo ninguém autossuficiente, que seja desvinculado de outrem, que não necessite da contribuição de outras pessoas individualmente e da sociedade em geral, é inevitável que a busca de companhia, o descobrimento de valores que existem nas outras pessoas, a grandeza moral de que muitos dão excelentes mostras  despertem o sentimento de gratidão como retribuição mínima ao contexto social no qual se vive.

A psicoterapia da gratidão, preventiva aos males e curadora de conflitos, está presente em todas as obras relevantes da humanidade, tanto nas de natureza filosófica ou religiosa, seja nos comportamentos dos grandes construtores da sociedade, mártires ou santos, pensadores ou místicos, legisladores ou profetas... Porque ninguém consegue vincular-se a um ideal de engrandecimento humanitário sem arrastar outros pela emoção do seu exemplo e da sua bondade para as fileiras da sua trajetória.

O sentimento da gratidão é de natureza psicológica e imediatamente aciona o gatilho, se transformando em emoção e sensação orgânica.

Quando se experimenta o sabor da gratidão, aumenta-se o desejo de servir mais e melhor contribuir no grupo social em que cada qual se encontra e na humanidade em geral.

Inevitável é, portanto, a presença da gratidão no cerne das vidas humanas.
  
Texto de Joanna de Ângelis, psicografado por Divaldo Pereira Franco no livro, Psicologia da gratidão. Trabalhado e editado por Adáuria Azevedo Farias. 02/03/2019.