sábado, 28 de março de 2015


A SOMBRA PERTURBADORA E A GRATIDÃO
Todos trazemos o lado sombra, lado obscuro da  existência, ou lado negativo do ser.
Essa sombra, responsável por muitas aflições no ego atormentando o self, conforme o dr. Friedrich Dorsch, é resultado de “traços psíquicos” do homem [e da mulher] alguns reprimidos,  outros não vividos, que, por questões sociais educativas e outras, foram excluídos do convívio.
A sombra traz valores e condições que podem ser usados de forma produtiva ou perturbadora,  e expressam-se de três formas: a) pessoal, cujos significados reprimidos são do próprio individuo; b) coletiva, representando os mesmos significados reprimidos em cada sociedade; c) e a arquetípica,  que tem caráter ancestral de destrutividade do ser humano, sem a possibilidade de diluir...
Para Jung é preciso ter consciência desses conteúdos reprimidos, pois só assim se alcançará a individuação. Após essa tentativa, é preciso trabalhar a sua integração no self ou eu profundo, ou seja esforçar-se pelo amadurecimento psicológico, não mascarando a responsabilidade pessoal mas aceitando-a conscientemente, entendendo as manifestações sombrias vividas.
Todo individuo tem aspirações que nem sempre consegue realizar, recalcando-as com mágoas e não conseguindo superá-las. Junto a esse conflito não exteriorizado, conduz a herança da cultura em que se movimenta como a presença arquetípica de autodestruição, como fuga da realidade.
Tais ocorrências vem de reencarnações, em que experimentou os conflitos gerados anteriormente e que ressumam, como sombra pessoal e coletiva, tomando o aspecto arquetípico característico dos movimentos primários antes do surgimento da consciência e da personalidade.
Com tal potencial negativo, a sombra responde pelas inconveniências que geram sofrimento e amargura, mantendo o ser na sua rede invisível e limitada.
Mas quando conscientizado desses fatores de perturbação, pode e deve trabalhar-se interiormente para superá-los pela redução da sua carga, aplicando-se contribuições edificantes e saudáveis, como otimismo, confiança no êxito, solidariedade,  esforço para manter as perspectivas de realização sem os receios injustificáveis.
A sombra pode ser vista como uma névoa ou uma ilusão que o sol da realidade dilui, proporcionando a visão do existir, onde todos estão situados. E porque as aspirações humanas saudáveis são crescentes, à medida que vão sendo superadas algumas dificuldades com o amadurecimento psicológico, ampliam-se os horizontes do equilíbrio e do despertamento para a individuação.
Há, um grande conflito entre o que se é e o que se deseja ser, no esforço por alcançar patamares em que a harmonia emocional torne-se uma realidade, proporcionando estímulos a serem conquistados.
Nada a estranhar, nessa aparente dualidade, já que existe o lado bom e o lado mau de todas as coisas, o alto e o baixo, o dia e a noite, a vida e a morte, yin e o yang, produzindo a integração, a unidade...
Em toda parte são identificadas as manifestações sombrias do ser humano, mas também o lado numinoso em toda a sua grandiosidade, resplandecente nos heróis do saber e do ser, do conquistar e do realizar, na ciência, na tecnologia, nas artes, na religião, no pensamento, na solidariedade, enquanto também vigorar o instinto de destruição pela agressividade, pelos vícios, pela ignorância, pela prepotência...
A civilização atual, rica de conquistas, ainda não conseguiu fazer feliz a criatura humana que, embora favorecendo alguns membros a viverem em grande conforto e desfrutando de comodidades, de belezas ao alcance da mão, em grande parte ainda continua insatisfeita, infeliz, invariavelmente caindo na drogadição, no alcoolismo, na busca desenfreada do prazer, pela ilusão. Aí encontramos o predomínio da sombra coletiva e arquetípica não trabalhada pelo conhecimento do ser em si mesmo e das suas imensas possibilidades, sempre conduzido para o gozo e o não pensar em profundidade, vivendo na superficialidade dos fenômenos humanos. Tem faltado a coragem social para romper essa cortina que impossibilita a visão da realidade psicológica da vida, e assim as suas aspirações não vão além dos limites sensoriais.
Apesar do esforço da psicologia social e de outras escolas, de algumas importantes doutrinas religiosas e filosóficas, o ser humano limita-se mais ao que toca e alcança do que deseja emocionalmente, nas sensações materiais sem fruir as emoções libertadoras.
Infelizmente, a educação atual trabalha mais por  preservar o medo ao lado sombra do indivíduo, que se propõe ignorá-la, para usufruir os bens que estão ao alcance, e quando defronta pensamentos ou acontecimentos infelizes, quer esquecê-los, não os enfrentar, como se fosse possível escondê-los num depósito que os asfixiaria. Quando reprimidos esses sentimentos e sucessos, na primeira oportunidade vem a tona com a carga aflitiva de que se constituem e nublam os céus dos iludidos.
A vida humana é um contínuo desafio que o ser profundo ou self tem pela frente e todo o seu esforço é buscar a integração da sombra no seu eixo.
Todos os indivíduos devem diluir a treva nele presente, com a mesma naturalidade que enfrenta a luz, considerar a dor e a frustração como normais que podem corresponder ao bem-estar e à sabedoria, logo sejam convertidos pela racionalização e pelo trabalho psicológico.
Todos os condutores da sombra – e todos o são -, em vez de a considerarem processo de crescimento, experimentam certa vergonha, ou constrangimento, e procuram disfarça-la.
Esse comportamento dá origem a uma sociedade hipócrita, artificial, incapaz de condutas maduras que beneficie a todos. Sempre é mais homenageado e querido aquele que disfarça melhor, produzindo nele mais sombra e conflitos, por sentir-se obrigado a continuar parecendo o que não é.
É preciso coragem para o autoenfrentamento, saindo da obscuridade em direção à claridade existencial.
A herança arquetípica diz no Gênesis, que Deus fez primeiro a luz, significando a Sua presença em plena escuridão, no momento obstaculizada pela sombra.
A cada passo, a cada conquista diluidora do lado treva, vai-se superando o medo do enfrentamento, o que exige a consciência da sombra que deve ser aceita sem reservas nem ressentimentos, oferecendo a cada lutador o seu poder de transformação e a sua tenacidade em alcançar a felicidade, a plenitude.
Dessa forma, a sombra transforma-se em arvore dadivosa, porque o medo (desgosto) do que se é, é superado pelo amor do que se deseja ser.
A batalha travada com a sombra, é contínua e  presente em todos os instantes da vida. Quando se ama, se respeita e se atende aos compromissos, a sombra perde, mas quando se reage, mantendo-se ressentimento, ódio, ciúme, sentimentos de amargura e de cólera ou outros do mesmo gênero, a sombra triunfa...
O amor que edifica é vitória sobre a sombra, enquanto o tormento afetivo que trai é glória da sombra.
Quando se é reconhecido à vida, se agradece e se trabalha pelo progresso, a sombra é vencida, no entanto, quando se é desagradecido e soberbo, triunfa a sombra.
A sombra (das paixões inferiores) é o maior obstáculo psicológico à vivencia da proposta da gratidão, responsável pela integração das duas partes do ser na sua realização unívoca. (ou seja a integração entre ego e self).
Texto trabalhado a partir do livro Psicologia da Gratidão pelo Espírito Joanna de Ângelis, através do médium Divaldo Pereira Franco. Dia 28,03,2015.

sábado, 14 de março de 2015


EM BUSCA DO ENCONTRO E AUTOENCONTRO

A parábola do Filho Pródigo traz uma fonte de informações psicológicas profunda, com símbolos e significados importantes merecendo cuidadosa e profunda observação, para retirar do seu conteúdo as lições de paz e de saúde necessárias para uma vida cheia de bênçãos.

O Evangelho de Jesus por muito tempo foi compreendido de forma doentia e perturbadora, conforme o equilíbrio emocional e espiritual dos seus tradutores, teólogos e pastores, mais preocupados e interessados em apresentar a sombra em que se encontravam do que a luz que o envolvia.

Propondo humildade, e caminho para a iluminação, levavam os adeptos a condutas graves, estimulando o menosprezo pela vida física, por si mesmo, o autodepreciamento, o culto ao masoquismo como sendo santificação.

Como considerar a vida, esse incomparável tesouro doado por Deus ao ser humano, desprezível,  com desrespeito aos seus mais nobres significados, como: alegria, bem-estar, utilização saudável do sexo, solidariedade e convivência, como negativos, impondo isolamento,  abstinência sexual, silêncio, sofrimento, em nome da Boa Nova?!

Somente indivíduos emocionalmente castrados poderiam impor os seus tormentos aos demais, aos quais invejavam a saúde e comunicabilidade, para se sentirem felizes com a infelicidade dos outros, em perturbação sadomasoquista, alterando a proposta libertadora de Jesus, o Homem bom e nobre por excelência, que demonstrou amor e alegria no convívio com os desafortunados.

Pregando dignidade, esses sofredores interpretes das Suas lições condenavam o erro, massacrando os equivocados, os que delinquem, que esperam apoio, por serem ignorantes ou enfermos, afastados d’Aquele que é o pão da Vida e veio exatamente para socorrer os infelizes e os infelicitadores...

Graças ao desenvolvimento da cultura, com a quebra das correntes que mantinham a sociedade aprisionada aos dogmas doentios, descobre-se a cada dia, a grandeza da mensagem cristã, conforme Jesus e os Seus primeiros discípulos a viveram e divulgou, verdadeira canção musicoterapêutica, sinfonia de esperança e de consolo.

As Suas parábolas, trazem as respostas para as perguntas afligentes do comportamento humano. Trazendo apenas libertação e bondade, harmonia e alegria, conduzindo, nos seus símbolos, verdadeiros poemas de interpretação das incógnitas da vida.

Nessas maravilhosas parábolas vamos encontrar a do Filho Pródigo que, de alguma forma, somos todos nós.

Os fracos emocionais e os dependentes de punições encontram nela a baixa autoestima, o remorso, a angústia da volta, o que encontramos é a irrestrita confiança no Pai generoso, a certeza de ser bem recebido, a recuperação moral pelo equívoco vivido, a expectativa do recomeço em novas oportunidades de afeto e autorrealização.

Por muito tempo estabeleceu-se que a humildade deve ser vivida como desprezo por si e pelos valores com que a vida social estabelece os seus relacionamentos, alimenta o progresso das massas e dos indivíduos.

O autoabandono, a autodesconsideração e o autodesprezo tinham prioridade na conduta do adepto religioso, no passado, em violência contra as leis naturais, impondo-se uma conduta incompatível com a Sua mensagem de amor e de felicidade.

Pessoas amargas, com autorrejeição, refugiando-se em justificativas religiosas, escondendo a mágoa em relação as outras pessoas, conduzindo raiva contra si e os outros, não se permitindo felicidade, por acreditar não a merecer, por se encontrar sob a determinação da sombra  ancestral, vindas de culpas dos atos sem nobreza praticados em encarnações passadas.

Tais pessoas estão a si negar a oportunidade do encontro com o Pai amoroso, por não sentirem o amor em si mesmo, recusando ainda hoje o autoencontro, numa análise profunda que lhes poderiam oferecer visão mais saudável da Realidade.

Os seus mitos são as cóleras dos deuses vingativos, as subjetivas ameaças de destruição apocalíptica, numa vingança generalizada, onde o medo da morte desaparece, porque representa a destruição de tudo e de todos.

Os alertas constantes sobre o egoísmo, o orgulho, a prepotência e o encantamento das virtudes teologais, do altruísmo, da humildade, da fraternidade produzem, muitas vezes, a virtude do autodepreciamento, da autodesconsideração, quase numa exibição forçada de vitórias que, não existem no campo psicológico, porque ninguém pode satisfazer-se na inferioridade, no engodo, na negação dos problemas que existem.

A Parábola do Filho Pródigo é na realidade um conjunto de lições psicoterapêuticas e filosóficas, de cunho moral e espiritual.

Na sua mensagem não existe censura a nenhuma atitude dos dois filhos, em qualquer momento. Tudo é natural, em alegria crescente, porque aquele que estava perdido foi encontrado, e o que estava morto, agora estava vivo.

A alegria da autoconsciência é imensa, vem após o reencontro, na volta para casa, para o lar, ao abrigo emocional seguro, que é a conquista da paz e da correção dos atos.

O corpo é ainda um animal, as vezes insubmisso, que carece desenvolver a disciplina espontânea e o comportamento correto que o direciona conforme as necessidades do  self criativo a caminho do numinoso.

O Espírito é herdeiro das experiências vivenciadas nas reencarnações passadas, sendo natural que, muitas vezes, predominem as que mais profundamente marcaram a conduta anterior, surgindo como desejos e conflitos nem sempre identificado.

Por isso, uma análise dos símbolos oníricos, as associações e reflexões com o psicoterapeuta eliminam as fixações doentias e as lembranças dolorosas que surgem e como a tristeza, insegurança, timidez, dificuldades nos relacionamentos...

Identificar e interpretar os símbolos pede acuidade psicológica, experiência de consultório e interesse sem vinculo emocional, para ajudar ao paciente no encontro com a vida e no autoencontro, descobrindo a sua realidade.

O manto que o Pai amoroso manda o filho pródigo vestir representa o apoio, a cobertura afetiva que lhe é ofertada, igualando-o a ele mesmo, que também o ostenta.

A primeira preocupação do pai é com a aparência do filho de volta, com os cuidados de higiene e de vestuário, de adorno – o anel – de apresentação, pois, já não havia mais motivo para continuar como chegou. Não será admitido como servo, mas como filho que tem direito à herança e ao seu amor. Por isso ele veio do país longínquo de volta ao lar.

Conteúdo do livro Em Busca da Verdade, psicografia de Divaldo Pereira Franco, pelo Espírito Joanna de Ângelis. 13/03/2015.