O
milagre da gratidão
Os
sentimentos inferiores, herança do processo evolutivo
vivido no período do instinto dominador,
são prisões sem grades que limitam o
movimento emocional e espiritual do ser, constrangendo o processo iluminativo e
gerando sofrimentos.
São responsáveis pelo ressentimento, pela raiva, pelo ciúmes que se
transformam em conflitos graves no comportamento humano. Esse ego primitivo têm
obrigação consciente de eleger o
bem-estar e a saúde como diretrizes que lhe traga a harmonia, possibilitando a identificação com as aspirações do self em estágio superior de apercebimento da finalidade existencial.
Ficando como sombra morbosa, abre espaço à
instalação de emoções também primárias,
que a razão bem dirigida deve superar.
Emergindo
frequentemente do inconsciente pessoal, afastam o paciente do
convívio social saudável, fazendo que os seus relacionamentos domésticos sejam
desagradáveis, de agressividade ou de indiferença, de distanciamento ou de
introspecção rancorosa.
Graças a conquista da
consciência, o ser humano, está
destinado à individuação que alcançará pela perfeita fusão do eixo ego-self, à completude, na qual retornará à unidade
que sofreu fissão durante o processo antropossociopsicológico
da evolução através das reencarnações.
Jung afirmou
que, a individuação é o “processo de
diferenciação que busca o desenvolvimento da personalidade individual e da
consciência do ser único, indivisível e distinto da coletividade,” quando o
self atinge a culminância da sua
realidade imortal ...
Deve ser colocado a serviço
do equilíbrio, da harmonia emocional e psíquica, todo esforço para combater as
imperfeições morais
Nessa abordagem clinica, a gratidão tem função psicoterapêutica muito importante por entender os acontecimentos
do dia a dia, mesmo os perturbadores, não interferindo no comportamento
equilibrado, que resulta da consciência de responsabilidade ante a vida. O amadurecimento psicológico desperta a
consciência para a sua realidade
transcendental, superando os impositivos imediatos dos instintos e
ampliando as percepções dos valores existenciais.
Não se pode evitar as aflições
no transito humano, tendo-se em vista os atavismos pessoais, a convivência
social e familiar desafiadora, propiciando aprimoramento dos
sentimentos, particularmente a
tolerância, a compaixão, o interesse afetivo, a solidariedade...
Normalmente acredita-se que a gratidão é um sentimento sublime que opera os milagres
do amor, diante do seu caráter retributivo. Porém esse conceito, limita-o
ao reconhecimento pelo bem que se recebe
e pelo desejo de devolvê-lo. Na análise de Joanna de Ângelis, muito sutil e
mais profunda, vai além da compensação pelo que se recebe e se vivencia.
Quando
alguém consegue a experiência da gratulação, mesmo em relação aos
insucessos, que podem ser considerados
experiências que ensinam a agir com responsabilidade e retidão, alcança o patamar em que deve ser vivida.
O
sentido psicológico da reencarnação é conseguir-se a transformação moral do self e a liberação dos seus conteúdos ocultos ou
que se encontram em germe, capacitando-o aos enfrentamentos com outros
arquétipos inquietadores, especialmente
quando se tornam imperiosos e dominantes no comportamento. Uma conscientização
do ser que se é possibilita renovação
das forças morais para diluir a
sombra e desenvolver as experiências
renovadoras.
A arte da gratidão que é a ciência da afetuosa emoção pelo
existir leva a condutas que parece paradoxal, como no caso das
aflições e dos desaires...
Há
um século e meio quase. Santo Agostinho, Espírito, conclamava os que sofriam à
coragem e à resignação, ante as aflições, mesmo as de aparência cruel,
propondo: “as provas rudes ouvi-me bem,
são quase sempre indício de um fim de sofrimento e de um aperfeiçoamento do
Espírito, quando aceitas com o pensamento em Deus.”
As provações, bênçãos que a vida oferece
ao calceta, que
cometeu no passado e/ou na atual existência arbitrariedades, ferindo a harmonia das leis universais,
comprometendo a consciência, para
que disponha de meios de recuperar-se da culpa inscrita na intimidade do ser,
vivenciando a contribuição do sofrimento que o dignifica, já que a relatividade orgânica está sempre
sujeita a essa sinuosidade com altibaixos na saúde e no bem-estar...
O processo da evolução,
é como uma correnteza que enfrenta obstáculos por onde corre até alcançar o seu destino, um lago,
um mar, um oceano...
Não cessando de
prosseguir, quando enfrenta dificuldades, acumula as águas com tranquilidade até ultrapassá-los, pois
a sua meta está à frente, aguardando-a.
Assim também, as
experiências evolutivas do ser humano ocorrem em programação marcada por
variadas e sucessivas etapas até alcançar o estado numinoso.
A gratidão pelos insucessos aparentes é o reconhecimento por entender como parte da aprendizagem e a sua ocorrência como dores, sofrimentos morais consequentes à traição, à calúnia, ao abandono de
antigos afetos, tem razão de ser.
Melhor sofrê-los, vivenciá-los com resignação quando se apresentam, do que
ignorá-los, envolvê-los em máscaras ou postergá-los...
Num olhar superficial, acredita-se
que seja uma patologia pelo sofrimento em transtorno masoquista. Na realidade,
tal conduta traduz maturidade saudável,
por não ser uma escolha do sofrimento, mas uma aceitação consciente e natural
do fenômeno-dor, como parte do curso evolutivo.
Gratidão, em qualquer situação, boa ou má, como dizia o apóstolo Paulo, que era sempre o mesmo na alegria, no bem-estar, no
sofrimento, no testemunho, mantendo a integridade do self, em razão da
consciência do dever nobremente cumprido, considerando as dificuldades e os
sofrimentos fenômenos naturais no seu processo de integração com o Cristo.
Quando se conquista o hábito
de agradecer, os morbos emocionais
da ira que se converte em ódio, da
mágoa que se torna desejo de vingança, da inveja que quer a destruição do outro, não
encontram áreas na psique para tornarem-se sofrimentos... A alegria de ser-se grato permite entender-se a pequenez do
ofensor, a jactância e fatuidade
do perverso, a fragilidade do
adversário... Uma emoção de
tranquilidade preenche todos os espaços íntimos do self, onde se desenvolveriam os sentimentos inferiores.
Da mesma forma, quando se recebe a notícia de uma doença
irreversível, de um acontecimento grave e mutilador, a gratidão possibilita
viver-se plenamente cada momento, ante a convicção racional da sobrevivência ao
corpo somático, credor de toda a gratidão por conduzir-se como um doce jumentinho do self, conforme o denominou o irmão
alegria de Assis, o numinoso sempre grato a Deus por tudo,
inclusive pelo momento em que se aproximou a irmã morte.
Livro: Psicologia da Gratidão, psicografia Divaldo Pereira Franco, pelo Espirito Joanna de Ângelis
Postado dia 20/09/2014.