quinta-feira, 31 de outubro de 2013


 

VIDA

Se morrer é doloroso para o ego, a partir da ótica transpessoal, centrada no Espírito, trata-se apenas de uma experiência dentre tantas outras de morrer e renascer. A vida ganha, portanto, uma dimensão muito mais ampla e profunda a partir desse prisma, incluindo a reencarnação.
A crença na reencarnação não é nova, e provém desde as antigas tradições orientais, plenamente difundidas na Índia, na Ásia e no Egito. Tradições milenares como o Bhagavad Gita (2002) já contemplava: “Assim como a alma, vestindo este corpo material, passa pelos estados de infância, mocidade, virilidade e velhice, assim, no tempo devido, ela passa a um outro corpo, e em outras encarnações, viverá outra vez”.
A Psicologia, adentrando-se na análise da reencarnação, amplia consideravelmente a sua ótica, libertando-se de premissas que a distanciavam da verdadeira compreensão da psique. Na avaliação de Joanna de Ângelis no livro O Homem Integral, p.156 diz:
“a introdução do conceito reencarnacionista na Psicologia dá-lhe dimensão invulgar, esclarecimento das dificuldades na argumentação em torno do Inconsciente, individual e coletivo, dos arquétipos, estudando o homem em toda a sua complexidade profunda e, mediante a identificação do seu passado, facultando-lhe o descobrimento e a identificação das suas possibilidades, do seu vir-a-ser.”
Englobando a pluralidade existencial, os conflitos e traumas rompem o círculo estreito de uma única experiência, sem deixar, no entanto, de contemplá-la em sua análise. Certamente que as experiências atuais são importantes, mas não são as únicas nem serão as últimas do Espirito em jornada evolutiva.

Grof, no trabalho, Emergência Espiritual: Crise e Transformação Espiritual, p.39, estabelece que “quando emerge plenamente na consciência, o conteúdo de uma experiência cármica pode fornecer, de súbito, uma explicação de muitos aspectos de outro modo incompreensíveis da vida cotidiana”. Ódios injustificáveis, doenças congênitas, fobias sem uma causa aparente, dentre outros exemplos, teriam suas explicações em existências passadas.
Brien Weiss, renomado psiquiatra norte-americano, chegou de forma casual às experiências de vidas passadas. Através de sessões de hipnose com sua paciente “Catherine”, que após um ano de terapia convencional não houvera logrado melhoras, induziu-a a viajar às origens da fobia, fazendo-a regressar à infância. Para sua surpresa, no entanto, a paciente começou a narrar com minúcias de detalhes uma experiência de quatro mil anos atrás. O seu preconceito acadêmico, no entanto, somente conseguiu se dobrar após uma melhora completa dos sintomas da paciente, após as sessões regressivas, o que levou o Dr.Weiss a declarar, no livro, Os Espelhos do Tempo, p.14 : “afirmo com convicção e tranquilidade que a terapia de vidas passadas oferece um método rápido de tratamento de sintomas físicos e emocionais...”
A Psicologia Espírita, como não podia deixar de ser, estabelece uma análise profunda a respeito das experiências de vidas passadas, porquanto considera que
“Nos alicerces do Inconsciente profundo, encontram-se os estratos das memórias pretéritas, ditando comportamentos atuais, que somente uma análise regressiva consegue detectar, eliminando os conteúdos perturbadores, que respondem por várias alienações mentais.” (ANGELIS, O Homem Integral.p.156)
Quando, portanto, energias específicas do ser ficam retidas em traumas passados, essas experiências podem ser revividas, liberando a carga emocional dos conflitos. Ressalta-se, no entanto, que esses conteúdos não devem ser abordados a título de curiosidade, porquanto por serem portadores de energias complexas, muitas vezes capazes de desestruturar o ego, devem ser conduzidas apenas por profissionais habilitados.
Final do texto, porém o cap.7, DA PSICOLOGIA HUMANISTA À PSICOLOGIA TRANSPESSOAL; a 3ª e a 4ª FORÇAS EM PSICOLOGIA, escrita por Claudio Sinoti, no livro REFLETINDO A ALMA, continuará na próxima postagem..
Postado dia 31/10/13.

GRATIDÃO A CURTO E A LONGO PRAZO

As emoções constituem reflexos do self, exteriorizando as construções e ideações mentais.
Quanto mais diluída a sombra que se lhe integra ao largo da evolução, mais fortes emoções tornam-se factíveis.
Ressumando as fixações perturbadoras do inconsciente pessoal assim como do coletivo, mais imperioso faz-se administrá-las mediante a sua substituição por formulações opostas, que irão superando-as no transcurso do tempo, através da repetição. O exercício de qualquer função é sempre o meio mais hábil para que se faça a sua fixação valiosa, tornando-se um hábito novo que se insculpe no comportamento.
Nisso consiste a educação mental que proporciona a renovação moral.
A saúde emocional, desse modo, faz-se consequência do empenho do self, quando se resolve pela mudança de atitude perante a vida não mais aceitando os condicionamentos perniciosos, os vícios morais, as atitudes de agressividade e de perturbação.
Os conflitos, que são as heranças doentias do ego e da sombra, quando delinquiram, são psicoterapeuticamente transformados em segurança pessoal, em harmonia do comportamento – mente e emoção -, graças ao empenho do self dando lugar ao bem-estar que se expressa como saúde interior.
Eis porque os velhos refrões: pensa no bem e o bem te acontecerá, tanto quanto pensa no mal e o pior te tornarás transformam-se em fenômenos da conduta do self na manutenção dos equipamentos delicados da emoção.
O pensamento é desse modo um dínamo gerador de ondas que movimentam a maquinaria orgânica, exteriorizando-se dos neurônios cerebrais em direção ao sistema nervoso central, que as envia às glândulas endócrinas, e, por fim, vibrando no sistema imunológico, por extensão, repercutindo no emocional e dando lugar a efeitos perfeitamente equivalentes.
Pensamento é força dinâmica e vital.
O que se fixa no pensamento, a vida responde em forma de ideoplastia ou concretiza-se inconscientemente, desde que o automatismo da repetição na mente faz-se responsável pela condução a que o indivíduo se entrega.
No que diz respeito aos fenômenos psicológicos de pequena ou de grande monta, ei-los que se traduzem como sentimentos de variada expressão, desde aqueles que consomem as energias, resultando em depressões, distúrbios do pânico, pavores diversos, síndromes de Parkinson e de Alzheimer ou esperança, alegria, equilíbrio, gratidão...
A gratidão moral é de suma importância para o engrandecimento do self. Isto é: a lúcida compreensão da conduta irregular de outrem, ao lado da tolerância e da humildade pessoal proporcionam o reconhecimento de que cada qual se comporta de acordo com o seu nível de consciência e o seu estágio intelecto-moral.
Compreende-se, desse modo, que um gênero de gratidão desconhecido é o perdão real.
Para que se expresse esse sentimento nobre – o perdão! -, é imprescindível maturidade emocional, compreensão da realidade da existência, respeito ético pelo próximo, cultura de compaixão, sem o que muito dificilmente pode ser exercido.
Quando o amor se expande, o perdão torna-se um fenômeno natural, porquanto ao espraiar-se a afetividade supera qualquer limite imposto pelas convenções para se tornar um oceano de generosidade.
Quando alguém se permite a preservação do ressentimento em relação a outrem que lhe não haja correspondido à expectativa, acreditando-se em postura melhor, supondo-se merecedor de mais cuidadosa consideração, realmente se encontra no mesmo nível, porque a mágoa é escara moral de inferioridade e de presunção...
 A diferença, portanto, entre aquele que perdoa e o que vai perdoado é que o primeiro se encontra em superior patamar de evolução, podendo estar aberto ao retorno do ofensor, sem nenhuma censura ou reprimenda, o que corresponde ao legítimo esquecimento do mal para somente recordar do bem edificante.
O perdão dignifica aquele que o favorece, como necessidade de conceder ao outro o pleno direito de caminhar conforme as próprias possibilidades.
A luz sempre dilui sem alarde a sombra da ignorância, da maldade, da perversidade...
A gratidão a curto prazo logo se faz um verdadeiro automatismo, no receber e no retribuir, no oferecer antes de conseguir, no ato de estar-se livre para a vida.
Quando, ao contrário, espera-se a retribuição, vive-se a síndrome de Peter Pan, mantendo-se interessado em coisas e negando-se ao amadurecimento, à reflexão, à autodoação que dignificam.
A largo prazo, a gratidão irisa-se de sabedoria para enriquecer a sociedade com as bênçãos do conhecimento e do amor, como resultado de um grande esforço para atingir a meta que lhe faculte servir com abnegação e devotamento.
O profissional de qualquer área que aplica largo período da existência preparando-se para adquirir conhecimentos e habilidades específicas para serem aplicadas posteriormente, alcança o patamar da gratidão que ajuda a satisfação pessoal, o progresso dos demais indivíduos e, por extensão, da humanidade.
De maneira pessimista, alguém enunciou que a Terra é um grande hospital, sem dar-se conta de que essa conclusão é resultado de uma ótica moral distorcida a respeito da realidade, que é sempre promissora e rica de oportunidades felizes.
Pode-se, isso sim, afirmar de maneira correta que a Terra é uma escola de bênçãos, na qual ocorre o aprimoramento moral e espiritual do ser no rumo do estado numinoso que o aguarda.
Esse estado é o nível superior de integração do eixo ego-self alcançando a sua plenitude.
Todo esforço, portanto, direcionado à conquista do padrão de equilíbrio emocional mediante os sentimentos edificantes deve ser tido em consideração para o encontro com o si profundo, transmudando as experiências perturbadoras em aquisições relevantes, capazes de alterar toda a estrutura do comportamento.
O self possui condições inatas para essa realização, porque procede de conquistas contínuas no larguíssimo processo de desenvolvimento das suas possibilidades de realização plena.
Final do texto, porém o cap.10 TÉCNICAS DA GRATIDÃO, do livro Psicologia da Gratidão, escrita por Divaldo Franco, Espírito Joanna de Ângelis, continuará na próxima postagem.
Postado dia 31/10/13  

 

A CONQUISTA DO SI

 

Toda a vilegiatura carnal do Espírito deve ser direcionada para a conquista do Si-mesmo. 

Herdeiro das experiências evolutivas tem viajado longamente dos instintos à razão, ao discernimento, à aquisição da consciência, descobrindo a sua realidade de ser imortal, cuja trajetória ilimitada prossegue além da vestidura carnal... 

O inconsciente coletivo que nele se encontra ínsito, na maioria das vezes é resultado das próprias vivências nos referidos períodos antropológicos, quando em trânsito de uma para outra faixa  da evolução, seja física, moral ou transcendental. 

Armazenadas no Self são essas incontestáveis tentativas de acerto e de erro, que lhe delineiam as novas caminhadas corporais. Por isso mesmo, a sombra resultante dos conflitos instalados nos refolhos da psique, normalmente surge-lhe ameaçadora gerando dificuldades de raciocínio, de comportamento saudável, de harmonia. 

Iniciando o desenvolvimento do Si-mesmo, na condição de simples e ignorante, destituído de conhecimentos, de habilidades e de treinamentos, a pouco e pouco, à semelhança da semente no seio generoso da mãe-terra, vão-se-lhe desenvolvendo os germes da sabedoria adormecida, experienciando os jogos dos sentidos, em avanço para a lógica e o raciocínio, dando lugar aos atavismos primitivos que devem ser ultrapassados sem traumas nem choques emocionais. 

À medida que se lhe tornam mais complexas as admiráveis possibilidades de que dispõe para evoluir, surgem-lhe as marcas dos hábitos ancestrais que teimam em prendê-lo no já conhecido, no já desfrutado, confundindo os valores de qualidade com as comodidades do prazer. 

Atraído pelo Deotropismo da sua origem, não se pode furtar ao conflito entre o que tem sido e o que lhe aguarda. Nem sempre, porém, aspira por situação ou condição melhor de vida, bastando-lhe o atendimento das necessidades fisiológicas básicas, em olvido proposital ou não daquelas de natureza psicológica essenciais para a individuação. 

Quando descobre o significado existencial e ainda não dispõe da maturidade emocional indispensável, pretende a transformação interior a golpes de exigências descabidas e de sacrifícios que se impõe, sem dar-se conta de que a violência não faz parte da programação orgânica para uma existência feliz.

Em face da desorientação religiosa do passado, e que, infelizmente ainda vige em muitos setores da sociedade, impõe-se a fuga do mundo, buscando o isolamento, que constitui tremendo adversário do bem-estar humano, desde quando, gregário, necessita da convivência, do relacionamento com o seu próximo, que resulta em profundas frustrações interiores que levam a desastres psicológicos ou ao abandono da opção... 

Outras vezes, entregando-se ao transtorno masoquista, propõe-se sofrimentos injustificáveis, que mais ampliam o desconforto emocional e o desequilíbrio psicofísico. 

A existência humana deve ser vivenciada dento de uma pauta de deveres morais e espirituais, ademais dos sociais, familiares e para com o corpo, estabelecidos para cada indivíduo, a fim de que a carga imposta não lhe seja superior às forças interiores, assim evitando os desastres nos insucessos. 

O comportamento dentro das diretrizes convencionalmente denominadas como normalidade, constitui-lhe caminho de segurança para o avanço contínuo na direção da meta estabelecida.

Ao invés de imposições de fora para dentro, da aparência dentro dos padrões estabelecidos pelo grupo social, a lúcida interpretação das próprias necessidades e a condução tranquila quão equilibrada de cada função ou ocorrência vivencial, a fim de conseguir o estado saudável e progressista na marcha da iluminação. 

Compreendendo que a sombra é presença normal e constante na psique, a sua fusão natural no Self  é o objetivo do autoconhecimento, da conquista que o desaliena, ensejando-lhe melhor visão da realidade e do muito que o cerca. 

Tal identificação – do que deve fazer e como realizá-lo, superando as sequelas do passado – abre-lhe espaços mentais e emocionais para ser feliz. 

Nesse labor consciente, reacional e objetivo, a individualidade cresce e desenvolve-se, facultando o surgimento de outros valores dantes não considerados, que constituem elementos superiores para uma vivência com sentido enobrecido. 

Nem sempre se compreende o significado da conquista do Si-mesmo, supondo-se que esse labor diz respeito a questões da mística religiosa ou das tradições filosóficas orientais do passado. Certamente, tem razão no significado, mas não na proposta, porque as doutrinas orientais, descobrindo a realidade do ser que se é, encontraram na meditação, na yoga, nas diversas técnicas da concentração e da abstração em relação ao tempo e aos sentidos, um excelente instrumento pedagógico para a autoconquista. Por outro lado, algumas religiões, com boas intenções, sem dúvida, procuraram auxiliar o ser na superação dos conflitos, e ignorando-lhes a intensidade bem como a sua gênese, estabeleceram normativas, umas felizes, outras nem tanto, para que o fiel tivesse um fio de Ariadne para sair do labirinto existencial em que se encontra. A partir das regras estabelecidas, entre outros, por Inácio de Loyola, os exercícios espirituais tem produzido excelentes resultados naqueles que os praticam de maneira racional e sem fanatismos.

Aqui interrompo a transcrição do texto, ao qual darei continuidade na próxima postagem, o que ocorrerá provavelmente amanhã dia 01/10, portanto confiram.

Postado dia 31/10/13.

quarta-feira, 30 de outubro de 2013


 
 
AS BASES TEÓRICAS DA PSICOLOGIA TRANSPESSOAL
A Quarta Força contempla em seu corpo teórico dois aspectos básicos: o dinâmico e o estrutural. Na análise de Saldanha A Psicoterapia Transpessoal, p.39, esses dois aspectos subdividem-se da seguinte forma:
Aspecto Estrutural – Contempla os seguintes conceitos: Unidade, Vida, Ego, Estados de Consciência e Cartografia da Consciência.
A Unidade Fundamental do Ser é o que, em Psicologia espirita, chamamos de Espírito. É a base indivisível, o que “resta” quando tudo aquilo que é impermanente se esvai. É o que efetivamente somos além do ego que estamos. Existe ainda a Unidade Cósmica, designada pelo termo Absoluto por Ken Wilber, e pelas religiões através dos nomes: Brahma, Deus, Inteligência Suprema, dentre outros.
Avalia Saldanha na p.43 que “quando o homem ignora que faz parte da unidade, se apega aos objetos de prazer, tem medo de perdê-los, se os possui; medo de não vir a tê-los ou de não os reaver, se os perdeu”.
Na ótica transpessoal, torna-se fundamental que o ser sintonize-se, em primeiro lugar, com sua própria unidade fundamental, manifestando suas possibilidades e potencialidades. Essa vinculação é importante para que, através do desenvolvimento da consciência, possa alcançar a unidade cósmica, como forma de preservar ou de conquistar a saúde. As manifestações religiosas, em seu sentido amplo e não dogmático, passam a ser uma necessidade do ser, e não patológicas como consideram outras correntes psicológicas.
Essa proposição encontra ampla análise na Psicologia espírita, que através de Joanna de Ângelis em O Ser Consciente p.65 propõe:
“(...) considerando-se a origem espiritual do indivíduo e a Força Criadora do Universo, nele permanece o germe de religiosidade aguardando campo fecundo para desabrochar. Expressa-se, esse conteúdo intelecto-moral, em forma de culto à arte, à ciência, à filosofia, à religião, numa busca de afirmação-integração da sua na Consciência Cósmica.”
Final do texto, porém o cap.7, DA PSICOLOGIA HUMANISTA À PSICOLOGIA TRANSPESSOAL; a 3ª e a 4ª FORÇAS EM PSICOLOGIA, escrita por Claudio Sinoti, no livro REFLETINDO A ALMA, continuará na próxima postagem. Postado dia 30/10/13.
 
 

 

TÉCNICAS DA GRATIDÃO

A gratidão pode ser considerada como uma condição para ser feliz, conforme a definiu Albert Schwetzer, informando que ela era o segredo da vida.
Ele, mas do que qualquer outra pessoa, sempre bendizia a vida, apesar daqueles dias nem sempre confortáveis em Lambaréné, na África Equatorial Francesa, onde mantinha a sua obra de dignificação humana.
Europeu da cidade de Kaysersberg, na Alsácia, ao transferir-se com a esposa para aquela região hostil, experimentou o áspero clima tropical, a elevada humidade do ar, na floresta densa, as condições quase inóspita para alguém que sempre vivera em região fria e civilizada, a falta de recursos para qualquer tipo de comodidade, e, apesar de tudo, manteve o sentimento de gratidão viva em sua existência, cantando louvores a Deus.
Foi ali, em condições desafiadoras que ele escreveu duas obras monumentais: A busca do Jesus histórico e um tratado de ética dos mais belos do século XX.
A sua ética estava expressa no conceito: respeito pela vida, que ele defendia com sacrifícios até o máximo possível.
Uma análise das bênçãos que a existência física proporciona seria suficiente para se agradecer por se estar vivo no corpo; pelo ar que se respira; a água, o pão que a natureza fornece, ao lado das maravilhas de que se veste o cosmo; as noites estreladas, a poderosa força mantenedora do Sol e a tranquilidade magnética da lua, a brisa refrescante, a chuva generosa, a temperatura agradável... tudo que vibra e que merece gratidão.
É certo que existem os desastres sísmicos, as tormentas de vário porte, que também são dignos de reconhecimento,  facultando a valorização do que é saudável e dignificante.
Fossem apenas agradáveis todos os fenômenos existenciais e não haveria mecanismo válido para se promover o progresso moral do ser assim como o desenvolvimento científico e tecnológico da sociedade.
Envolto no escafandro material, o self é candidato à superação das circunstancias, trabalhando-se com afinco para alcançar a plenitude da sua função indestrutiva.
Inspirando o ego a modificar a estrutura do comportamento, faculta-lhe, ao largo do tempo, a visão inspiradora do desenvolvimento interno, diluindo a sombra que também se lhe torna motivação para a conquista de novas experiências, proporcionando-se bem-estar, que é essencial para uma existência compensadora.
A busca dessa sensação de alegria e de satisfação transforma-se num motivo estimulante ao ego, mesmo que relutante, porque a ausência desses pequenos prazeres aumenta o sentimento de culpa, frustra a autorrealização, empurra para transtornos complexos e mórbidos, que se transformam em enfermidades orgânicas por somatização.
É nesse embate que surge a necessidade da gratidão, não apenas em relação ao que se recebe, mas, sobretudo pelo que é possível oferecer-se, participando do espetáculo da vida em sociedade na condição de membro atuante e não de parasita prejudicial.
Sempre há quem justifique não possuir muito para repartir, olvidando-se que a maior doação é aquela que nasce na grandeza do pouco, qual a referência evangélica em torno da oferenda da viúva pobre. Mesmo ela possuía algo para doar ao templo, cumprindo a lei que assim o estatuía.
Dádivas outras, não menos valiosas, consistiam na oferta do trabalho de limpeza do santuário, dos lugares em que os outros pisavam, na conservação dos objetos do culto, nos cuidados reservados a tudo que dizia respeito ao templo, em razão de não possuírem sequer a liberdade ou porque rastejassem nas situações humilhantes do serviço detestado pelos vãos e orgulhosos sacerdotes, ricos de presunção e pobres de sentimentos...
A gratidão pode também se expressar de forma especial, como sendo respeito e apreço, consideração e amizade, singelos padrões de comportamento social que devem existir em todo grupo humano.
O hábito de retribuir dádivas restringiu o sentimento gratulatório, tirando-lhe a beleza emocional. Claro está que dividir o que se tem com quem também oferece representa um passo avançado na psicologia da gratidão. Entretanto, merece que seja considerada a oferta que nasce do coração, sem nenhuma outra motivação material que seja retribuição, transformando-se em oferta da gentileza, da alegria de viver, porque se faz parte da orquestra viva da sociedade.
Esses gestos espontâneos contribuem para a felicidade que se aspira, gerando situações positivas na existência, por modificarem os sentimentos do gentil doador, que se aureola de harmonia, porquanto o doar é sempre acompanhado pela imensa satisfação de assim proceder.
Todo aquele que aspira alcançar o planalto da saúde e da harmonia é convidado a exercitar-se na arte de oferecer e de oferecer-se.
 Em Atos dos apóstolos, dentre muitos outros há um momento encantador, quando Pedro e João saem do Templo de Jerusalém e os pobres, os enfermos, os aflitos distendem-lhes as mãos, suplicando auxilio monetário, especialmente um coxo que aguardava a esmola em forma de moeda.
Percebendo-se destituído desses recursos, Pedro, com ênfase, olhando João, disse ao sofredor: “Não tenho prata nem ouro, mas o que tenho isso te dou: em nome de Jesus Cristo, o Nazareno, anda!” (At 3:6)
Ante o assombro geral, o enfermo recuperou os movimentos, deslindou os membros paralisados e ergue-se jubilosamente...
A partir daí, dessa dádiva de amor, as pessoas colocavam os seus pacientes por onde os dois passavam, a fim de que “a sua sombra cobrisse alguns deles” (At 5:15), na expectativa de que os curasse.
Todas as coisas são boas e merecem respeito, no entanto aquelas que são conseguidas como dádivas do sentimento, que não são compradas, possuem um valor emocional muito maior.
Desse modo, ninguém se pode escusar de oferecer algo de si mesmo, contribuindo para o bem-estar geral, que começa no ato da oferta.
É sempre melhor doar do que receber, porquanto aquele que doa é possuidor, ocorrendo com quem recebe a situação de devedor, e uma das maiores dívidas que existem é a da gratidão, porque um socorro em momento especial define todo rumo da existência, que passa a dignificar-se, a crescer, a produzir, após esse instante significativo.
Quando se mata a fome ou a sede, oferece-se segurança e trabalho a quem os necessita, doa-se paz e alegria de viver àquele que se encontra à borda do desespero suicida, tudo quanto lhe vem a suceder é fruto daquele gesto salvador.
A dívida, pois, ao que recebeu não pode ser resgatada senão por outra vida.
Narra-se que um indiano, que tivera o filho assassinado por um paquistanês, nos hórridos dias da guerra entre as duas nações, buscou o Mahatma Gandhi e contou-lhe a tragédia que se permitiu, rogando-lhe ajuda, orientação.
O sábio mestre meditou e respondeu:
- A única maneira de resgatar o seu crime é educar uma criança órfã paquistanesa como se fora seu filho.
O interrogante argumentou:
- Mas somos inimigos e um deles matou o meu filho.
Tranquilo, redarguiu o mestre:
- Tornamo-nos inimigos uns dos outros porque isso nos compraz. Somente porque o alucinado matou o seu filho, você não tem nenhum direito de retribuir-lhe o crime, tornando-se igualmente homicida.
O homem, sensibilizado, adotou uma criança paquistanesa e dela fez um cidadão de bem.
Final do texto, porém o cap. 10,  TÉCINICAS DA GRATIDÃO, escrita por Divaldo Franco Espírito Joanna de Ângelis, no livro PSICOLOGIA DA GRATIDÃO, continuará na próxima postagem.

A PARÁBOLA DOS TALENTOS

(continuação) 

A experiência do significado e do bem-estar proporciona tal alegria que o paciente recuperado não se basta, não fica indiferente ao que acontece à sua volta, porque sente-se membro do conjunto e sabe que da mesma forma que uma célula enferma compromete o órgão, a saudável trabalha pela sua reconstituição. 

Embora a significativa e volumosa parte das ações humanas e das suas aspirações procedam do inconsciente, o despertar da consciência consegue valiosos contributos para a harmonia e a vivência saudável em todos os grupos sociais nos quais venha a viger a identificação do eixo ego-Self, cooperando pelo ajustamento de todos os membros à mesma conquista. 

Muitos pacientes adquirem conflitos e complexos, especialmente de inferioridade, em decorrência da constelação familiar, na qual se encontram humilhados submetidos aos caprichos dos distúrbios do grupo doméstico. Nada obstante, a vítima da circunstância deve desenvolver a esperança e relativizar as circunstâncias e os acontecimentos danosos, tentando recomeço, psicoterapia apropriada e descobrirão como são portadores de elevados talentos, que foram soterrados pelos desavisados membros do clã. Com muita facilidade perceberá que os tesouros enterrados podem ser recuperados e multiplicados em abundancia, superando as limitações e conflitos até então dominantes. A consciência lúcida, dando-se conta do esforço empreendido, dirá: - Entra no gozo do teu senhor. E esse lhe conferirá outros tantos talentos, ampliando o seu campo de possibilidades inimagináveis. 

O indivíduo é o que se faz a si mesmo, no entanto, em face do seu instinto gregário e da sua necessidade social, não se podem evitar os efeitos da sua convivência no grupo no qual nasceu, se educou ou permanece vivendo. 

Embora a ocorrência, o Self pode suprir as carências, demonstrando que a sintonia com o divino que se encontra nele próprio diluirá a  sombra  perturbadora que o enjaula no conflito de qualquer natureza. 

Quando as mulheres e os homens contemporâneos utilizarem-se dos bens da vida com o desejo honesto de ser fiéis à alma, uma religiosidade espiritual assomará do inconsciente profundo trabalhando a sua realidade emocional e impulsionando-os ao desenvolvimento da saúde e do bem-estar em forma de contribuição interior para o equilíbrio e exterior para o grupo no qual se encontra.

Tem-se, portanto, o grupo familiar que se impõe como necessidade para o desdobramento dos valores morais, resultando nas ações pretéritas das existências passadas, que proporcionam as facilidades ou os problemas que devem ser enfrentados sem pieguismo nem ressentimento para o amadurecimento interno que conduz à individuação. 

Essa conscientização deve ser iniciada pelos membros da sociedade em crise existencial, moral e espiritual. 

A perda do significado pode ser reparada mediante a renovação dos sentimentos, os empenhos para equilibrar-se interiormente, pelas tentativas do silêncio mental, abrindo campo aos divinos insights. 

Ante a conturbação que assola, as pessoas tímidas receando o enfrentamento com os alucinados enterram os talentos, dissimulando as virtudes, ocultando-as com medo de serem ridicularizadas, levadas à zombaria ou tidas por débeis mentais. 

Sucede que, em tempo de loucura a razão parece deslocada, enquanto que o desvario é o estado aceito e prescrito. 

Partindo-se para um outro país de experiências multifárias e realizações incomuns, é natural que sejam repartidos os haveres com aqueles que permanecem no cotidiano da existência, sem motivações ou estímulos para o próprio crescimento intelecto-moral, proporcionando-lhes os talentos que deverão ser investidos ou aplicados nos bancos da produção espiritual, a fim de que sejam beneficiados pelos juros do equilíbrio. 

A saúde, neste capítulo, é um dos mais valiosos talentos que o Senhor oferece ao Espírito no seu processo de evolução, em face das valiosas possibilidades que enseja ao seu possuidor, que tem por dever preservá-la, multiplicando as experiências iluminativas e o crescimento intelecto-moral. Nem todos, porém, agem com esse discernimento, sendo a grande maioria constituída por aqueles que a malbaratam, nem sequer a preservam, vivenciando cada hora no desperdício do tesouro que se lhes vai esgotando até o desaparecimento completo. 

Chegará, também, para esses, o momento da prestação de contas, e constatando as leviandades praticadas, a conduta irresponsável vivenciada, sofrer-lhes-ão os efeitos graves, em batalha interna para reconquistá-la, o que não é fácil, sendo pela consciência atirados às trevas exteriores, em reencarnações pungentes e aflitivas. 

Todos os talentos são valiosos porque, multiplicados, proporcionam a fortuna do bem-estar, da alegria de haverem sido utilizados com sabedoria. 

A palavra, por exemplo, é um talento, que nem todos aplicam conforme deveriam, porquanto, através dela se produzem as rixas e as brigas, as intrigas e maledicências, as infâmias e as acusações, muitas vezes culminando em guerras infernais... quando a sua finalidade é exatamente o contrário. 

À sua semelhança, o discernimento, a razão constituem valores inapreciados, em razão das infinitas possibilidades que oferecem, como permitir o conhecimento do Cosmo, a identificação dos valores elevados da vida, do serviço de edificação moral e espiritual do próprio possuidor, assim como da Humanidade como um todo. 

A existência física é uma viagem de curto prazo pelos caminhos do planeta terrestre, porque transitória e finita, constituindo-se parte fundamental da vida no seu caráter de imortalidade, pois que, desde quando criado o Espirito não mais se extingue, abençoado pelo vir e volver ao Grande Lar onde é avaliado pela própria consciência e pelos seus Guias espirituais que se encarregam de o auxiliar no processo evolutivo. 

Os talentos, pois, de que dispõe cada um, tanto podem ser renovados como retirados, de acordo com a aplicação que se lhes dê. 

São empréstimos divinos que o Senhor coloca à disposição de todos, sem exceção, com generosidade e confiança, mas sob a condição de serem prestadas contas da sua utilização. 

Mesmo o sofrimento, quando bem pensado, é um talento valioso, pelo que oferece de dignidade e de libertação dos compromissos infelizes, facultando a perfeita identificação do eixo ego-Si mesmo, com a integração da sombra e o logro da individuação. 

É claro que todo empreendimento exige esforço, vigilância, cuidados, não sendo diferente naqueles que dizem respeito ao caráter moral, ao significado espiritual. 

Analisando-se Jesus, como possuidor dos talentos de vida eterna, descobrir-se-á facilmente como os aplicou em todos os dias da Sua existência terrenal, especialmente durante o período de Sua vida pública, enriquecendo o mundo com sabedoria e liberdade, com beleza e esperança de plenitude. 

E quando foi traído, negado, julgado insensatamente, condenado e crucificado, o tesouro da Sua misericórdia e cordura transformou-se em bênção que vem atravessando os séculos como a única maneira de encontrar-se a felicidade, que é conseguida somente pelo amor, por amor-terapia.  

Final do texto, porém o cap.7, A POSSÍVEL SAÚDE INTEGRAL, continuará na próxima postagem.

Postado dia 30/10/13.

terça-feira, 29 de outubro de 2013


PSICOLOGIA TRANSPESSOAL UMA QUARTA FORÇA EM PSICOLOGIA

Se a Psicologia Humanista agregou importantes conquistas para o conhecimento em torno do ser, faltava ainda integrar a sua dimensão espiritual para tornar a análise mais completa. Isso ocorreu logo após, com a constituição da Psicologia transpessoal ou Quarta Força. O próprio Maslow, no livro Introdução à Psicologia do Ser, no seu prefácio, precursor das duas correntes, considerou o seguinte:
Devo também dizer que considero a Psicologia humanista, ou Terceira Força da Psicologia, apenas transitória, uma preparação para uma Quarta Psicologia ainda “mais elevada”, transpessoal, transumana, centrada mais no cosmo do que nas necessidades e interesses humanos, indo além do humanismo, da identidade, da individuação...”
Apoiando-se na valiosa contribuição da ancestralidade orientaI em torno do ser espiritual, a Quarta Força estruturou-se oficialmente a partir do ano de 1968, nos Estados Unidos, tendo como fundadores: Abraham Maslow, Viktor Frankl, Stanislav Grof, Antony Sutich e James Fadiman. Certamente outros teóricos já haviam lançado as bases para que a Psicologia transpessoal viesse a se constituir, tais quais: Fritjof Capra, Carl G.Jung, Pierre Weil e Roberto Assagiogli, dentre outros.
O campo de atuação da Psicologia transpessoal é definido por Pierre Weil, no seu livro, A Morte da Morte, p. 55, da seguinte forma:
“(...) trata do estudo de consciência em que se dissolve a aparente fronteira entre o “eu” e o mundo exterior, em que desaparece o que chamamos de pessoa e surge uma vivência que está além. Daí vem a designação “transpessoal”, já utilizada por C.G. Jung em sua obra, tendo o termo “Psicologia transpessoal” sido oficialmente adotado nos Estados Unidos em meados de 1969.”
Verificamos nesse aspecto a importância do caminhar da Psicologia até aquele momento, em especial quando Freud e Jung conseguiram romper o campo de observação para além das fronteiras do ego, estabelecendo os pródromos de uma análise transpessoal. Na condição de um dos seus fundadores, Stanislav Grof considera que:
“(...) A nova ênfase residia no reconhecimento da espiritualidade e das necessidades transcendentais como aspectos intrínsecos da natureza humana e no direito de cada individuo escolher ou mudar seu caminho. Muitos renomados psicólogos humanistas  mostraram crescente interesse por várias áreas, antes negligenciadas, e por tópicos de psicologia como experiências místicas, transcendência, êxtase, consciência cósmica, teoria e prática da meditação ou sinergia interespécie e interindividual.” (Emergencia Espiritual: Crise e Transformação Espiritual p.138).
A integração da dimensão espiritual possibilita um enorme avanço da Psicologia em direção à essência do ser, que preexiste e sobrevive à morte. Além disso, as experiências místicas e mediúnicas deixam de ser consideradas patológicas por natureza, e revelam novas formas de perceber a vida e se relacionar com o mundo, nesta e em outras dimensões, condições intrínsecas ao Espírito que somos.
Com o advento da Psicologia transpessoal, portanto, diversos temas e conceitos passaram a ser mais amplamente discutidos, possibilitando a sua desmistificação. Dentre eles destacamos:
- A dimensão espiritual do ser, antes atributo exclusivo das religiões;
- os estados alterados de consciência;
- os níveis de consciência, partindo do estado de “sono” até à consciência cósmica;
- experiências de vidas passadas;
- experiências de Quase Morte;
- fenômenos mediúnicos enquanto manifestação de diferentes estados do ser, e não mais como patologia.
Final d texto, porém o cap.7 , DA PSICOLOGIA HUMANISTA À PSICOLOGIA TRANSPESSOAL; a 3ª e a 4ª FORÇAS EM PSICOLOGIA, escrita por Claudio Sinoti,no livro  REFLETINDO A ALMA, continuará na próxima postagem. Postado dia 29/10/13.

DIGNIDADE E GRATIDÃO 

Na pirâmide demonstrativa da autorrealização apresentada por Abraham Maslow, o eminente psicólogo tem o cuidado de estabelecer uma hierarquia das necessidades humanas, iniciando-as por aquelas de natureza fisiológica, portanto de preservação da vida (alimento, água, oxigênio,). O ser humano, segundo ele, lutará sempre para atender essas necessidades que são fundamentais, num processo de seleção em níveis diferenciados até alcançar o das experiências limites, que passa a ser o clímax do processo de amadurecimento psicológico saudável, portanto ideal.
Nesse grandioso afã, todas as experiências permitem conquistas novas, libertando-se de umas para outras necessidades que abandonam o plano físico para se transformarem em anseios emocionais e idealísticos superiores.
O dr. Frankl, por sua vez, adotou a proposta do significado existencial como de maior relevância, considerando que, atingido um patamar de autorrealização em determinada área, o indivíduo pode permanecer incompleto noutra, quando, no entanto, se vincula a um sentido psicológico, mais fácil se lhe torna o crescimento interior rumando na conquista da individuação.
Asseverava Epicuro que
“ As pessoas felizes lembram o passado com gratidão, alegram-se com o presente e encaram o futuro sem medo .”
Nessa atitude epicurista, o ser humano mantém a sua meta existencial, agradecendo tudo quanto lhe aconteceu no pretérito e tornou-se-lhe base para as alegrias da atualidade, dispondo de coragem para os futuros enfrentamentos, certo da conquista da beleza, da ética, da harmonia.
Preparando-se inicialmente para conseguir a vitória sobre as dores físicas, logo percorre o caminho da coragem ante os insucessos emocionais, morais e as demais vicissitudes, numa atitude hedonista que lhe faculta alegrias contínuas e antevisão do porvir abençoado pela superação das ocorrências que infelicitam.
Uma atitude de tal monta reveste-se, sem dúvida, de dignidade, desse valor moral que enriquece aqueles que permanecem fiéis aos postulados do dever e da honra.
Pode-se acrescentar que a dignidade é o resultado das aquisições éticas decorrentes dos comportamentos que se fixam na justiça, na honradez e na honestidade.
Essa conduta digna é sempre a mesma, vigorosa e forte, que suporta a zombaria dos pigmeus morais, não se submetendo ao desconhecimento proposital imposto pelos servos da ignorância e áulicos das situações deploráveis.
Grande número de desfrutadores das oportunidades mundanas sem nenhuma responsabilidade de fomentar o progresso, sorrindo sempre e parecendo felizes nos carros alegóricos das fantasias, terminam vitimados pela síndrome da ansiedade esquiva, que os atira aos calabouços de conflitos muito graves, especialmente porque tentam disfarçar os medos e as angústias que lhes sitiam o self, sem o caráter moral para o autoenfrentamento, do que resultaria o equilíbrio emocional.
Pascal afirmava com sabedoria que “A nossa dignidade consiste no pensamento. Procuremos, pois, pensar bem. Nisto reside o princípio da moral “.
Evidente é, pois, que todas as construções têm início no pensamento, na elaboração das ideias, na área psicológica. Quando têm por finalidade o desenvolvimento dos tesouros morais, o pensamento enfloresce-se de corretas elaborações, daquelas que promovem o bem, abrindo espaço para a conduta moral.
Mediante esse comportamento que é psicoterapêutico preventivo em relação a muitos transtornos que são evitados, o ser amadurece emocionalmente, dispondo-se a enfrentar quaisquer situações desafiadoras com coragem e ética, jamais se utilizando de expedientes reprováveis para lograr as metas que almeja.
Definindo os rumos da arte de pensar, logo se desenham as avenidas do bem proceder, contribuindo decisivamente para o bem geral.
Torna-se compreensível a necessidade do comportamento digno, elaborado mediante os pensamentos e as ações saudáveis, incluindo o sentimento de gratidão que se encarrega de envolver tudo nas vibrações de afetividade. Sem essa afetividade que discerne os significados existenciais e os bens decorrentes da experiência humana, desaparecia o sentido psicológico proposto para a jornada.
O homem e a mulher gratos são elementos decisivos na estrutura da sociedade, que mais se valoriza e engrandece, quando se compõe de seres que  dignificam a própria condição de humanidade.
O ingrato, por sua vez, torna-se morbo no clã onde vive, no conjunto social e em todos os grupos em que se movimenta.
 A sua presunção e conflitos, somados com as tendências perturbadoras da inferioridade, estimulam a decomposição do organismo geral, no qual se encontra, na condição de planta parasita devastadora, que surge débil e culmina destruindo o cavalo no qual se hospeda...
A educação firmada em princípios de dignidade estatui a gratidão como sendo norma de conduta saudável, sem a qual se torna difícil, senão impossível, a estruturação de um conjunto humano equilibrado.
Velho hábito vicioso instala-se nos indivíduos desde a infância, que é o de receber dádivas e não as valorizar, sempre tendo em vista o preço, a grife, a aparência, como se fora credor de todos os sacrifícios dos outros, sem nenhuma consideração pelo que recebem, não demonstrando nenhuma gratidão. Essa conduta egotista trabalha em favor da indiferença afetiva dos demais, que passam a desconsiderar esses ingratos, deles afastando-se e vacinando-se contra o hábito superior da gratidão... Não são poucas as pessoas que, após a desconsideração dos insensatos rebeldes e cheios de si, desanimaram-se nos propósitos de bem servir e de ajudar, receando as recusas, os humores negativos, passando a cuidar dos próprios interesses.
Certamente, aquele que assim procede, dando validade à ingratidão dos enfermos espirituais, ainda não consolidou o sentimento nobre, estando em experiência, em exercício, aguardando resposta favorável ao seu gesto. Mas é natural que assim aconteça, porquanto ninguém atinge o acume de um monte sem iniciar a caminhada pelas suas baixadas...
À medida que ocorre o amadurecimento psicológico e a dignidade atinge alto nível de emoção, nada diminui o comportamento honorável nem o sentimento gratulatório.
Conta-se que certo executivo tinha o hábito de adquirir o jornal do dia, após o expediente, em uma banca fronteira ao edifício em que trabalhava. Sempre que solicitava ao responsável o periódico, este atirava-o com mau humor na sua direção, e ele retribuía o gesto infeliz com palavras de gratidão.
Certo dia, um homem que trabalhava junto e que se cansara de ver a cena desagradável, perguntou ao cavalheiro:
- Por que o senhor volta sempre a adquirir o jornal na banca desse estúpido, que sempre o trata mal?
Depois de reflexionar um pouco, o gentil-homem respondeu:
- Por uma questão de princípio. Eu me impus a tarefa de não permitir que a sua grosseria me fizesse fugir ou me tornasse deseducado e igual a ele, já que sou muito grato à vida por tudo quanto me tem favorecido.
O mal não afeta o bem, que lhe é o antídoto.
Perseverar na conduta correta, mesmo quando ultrajado ou desconsiderado, transforma-se no desafio da saúde moral no comportamento social, a fim de o modificar, trabalhando em favor de uma nova mentalidade, que se há de estabelecer entre todos no futuro.
Fim do texto, mas também final do cap.9, A PSICOLOGIA DA DIGNIDADE, escrito por Divaldo Franco, Espírito Joanna de Ângelis.
Postado dia 29/10/13.

A PARÁBOLA DOS TALENTOS
 
...Pois é assim como um homem que, partindo para outro país, chamou os seus servos e lhes entregou os seus bens: a um deu cinco talentos, a outro dois e a outro um, a cada qual segundo a sua capacidade; e seguiu viagem. O que recebera cinco talentos foi imediatamente negociar com eles e ganhou outros cinco; do mesmo modo o que recebera dois, ganhou outros dois. Mas o que tinha recebido um só, foi-se e fez uma cova no chão e escondeu o dinheiro do seu senhor. Depois de muito tempo voltou o senhor daqueles servos e ajustou contas com eles. Chegando o que recebera cinco talentos, apresentou-lhe outros cinco, dizendo: - Senhor, entregaste-me cinco talentos; aqui estão outros cinco que ganhei. Disse-lhe o seu senhor: - Muito bem, servo bom e fiel, já que foste fiel no pouco, confiar-te-ei o muito. Entra no gozo do teu senhor. Chegou também o que recebera dois talentos, e disse: - Senhor, entregaste-me dois talentos; aqui estão outros dois que ganhei. Disse-lhe o seu senhor: - Muito bem, servo bom e fiel, já que foste fiel no pouco, confiar-te-ei o muito. Entra no gozo do teu senhor. Chegou, por fim, o que havia recebido um só talento, dizendo: - Senhor, eu soube que és um homem severo, ceifas onde não semeaste, e recolhes onde não plantaste; e atemorizado, fui esconder o teu talento na terra; aqui tens o que é teu. Porém o seu senhor respondeu: - Servo mal e preguiçoso, sabias que ceifo onde não semeei, e que recolho onde não joeirei? Devias, então, ter entregado o meu dinheiro aos banqueiros e, vindo eu, teria recebido o que é meu com juros. Tirai-lhe, pois, o talento e dai-o ao que tem os dez talentos; porque a todo o que tem, dar-se-lhe-á, e terá em abundancia; mas ao que não tem, até o que tem, ser-lhe-á tirado. Ao servo inútil, porém, lançai-o nas trevas exteriores; ali haverá o choro e o ranger de dentes. (Mateus 25:14-30.)

Na arte de contar histórias, como em todos os Seus atos, Jesus foi inexcedível. Tomando de imagens simples e comuns, conhecidas e vivenciadas por todos, conseguiu penetrar nos arquivos profundos do inconsciente para desmascarar  os conflitos e a culpa, estabelecendo diretrizes para a conquista da autoconsciência, produzindo a perfeita identificação do ego com o Self.

A parábola em estudo é psicoterapêutica por ensejar reflexões profundas e lógicas a respeito do comportamento de todos com a consciência – o senhor que ofereceu os talentos - e que sempre se encarrega de exigir a aplicação dos recursos que são destinados ao indivíduo.

Todas as criaturas são aquinhoadas com talentos morais, intelectuais, do sentimento, das aptidões, que devem ser aplicados em favor do próprio enriquecimento, desenvolvendo habilidades próprias e pertinentes à capacidade de utilização de cada qual. Tendo-se em consideração os diferentes níveis de evolução nasce-se com os preciosos recursos que constituem a sua fortuna emocional, e que devem ser utilizados de maneira correta, dando lucros em forma de engrandecimento interior.

A parábola dos talentos refere-se aos indivíduos mais aquinhoados na existência, que souberam multiplicar a concessão com que foram honrados e dignificados pela alegria de entrar no gozo do seu senhor, o estado de harmonia emocional e de crescimento mental .

O outro, que recebeu menos, negligente e avaro, receoso e incapaz, enterrou a moeda preciosa, dominado pela preguiça moral de a multiplicar, também temeroso da justiça do seu senhor, que era severo. Todos os valores que sejam sepultados no solo da indiferença e da falsa justificativa, se transformam em sofrimento interior, porque a culpa que se apresenta no momento da prestação de contas, leva-o às lágrimas e às lamentações...

Merece, no entanto, analisar que a parábola não se refere aos servos que não foram aquinhoados, o que nos conduz à reflexão de que todos os seres humanos encontram-se portadores de bens que devem ser multiplicados, nunca se justificando a não posse, porque ninguém é destituído de oportunidades para evoluir. Mesmo no caso dos impossibilitados mentais, físicos e emocionais desestruturados, nos refolhos do inconsciente profundo encontram-se as razões da aparente carência, sendo a sua falta o talento de recuperação pelo haver malbaratado nas existências transatas.

Quando o senhor parte para outro país e deixa os seus bens nas mãos dos seus servos de confiança, o fato, à luz da psicoterapia, representa a não interferência da consciência nas decisões que definem o rumo da aplicação dos talentos, momentaneamente sob a governança da sombra. O Self sempre vigilante aciona os mecanismos da inteligência e estimula aqueles que se tornaram portadores de maior responsabilidade a que multipliquem os haveres recebidos, embora correndo riscos de os perder. Todo empreendimento experimenta a circunstância do êxito ou do insucesso, cabendo ao investidor eleger a aplicação, no caso em tela, mais rendosa, menos perigosa, conforme o fizeram os dois servos dedicados.

Todos os dons pertencem à vida, vêm de Deus e são concedidos como empréstimos, como experimento, a fim de que se possam fixar na realidade, produzindo os efeitos correspondentes.

A vida é dinâmica, não se permitindo vacuidades e desleixos sob pena de consequências afligente para os levianos e irresponsáveis, que sempre tem enterrado aquilo que deveriam e poderiam aplicar ampliando as suas possibilidades de crescimento. Por isso, reencarnam-se em penúria, em tormentos e angústias que lhes são impostos pela consciência, o senhor severo que colhe onde não semeou, porque a sua seara é o Universo que a precedeu, possuidor de todos os haveres imaginados.

Esse acomodado guardador da moeda, embora houvesse agido de maneira equivocada, poderia ter se complicado, perdendo-a no jogo, usando-a de forma incorreta, o que lhe acarretaria situação mais deplorável, como acontece com todos aqueles que se utilizam dos valores de que são investidos para a degradação, as aventuras perturbadoras, os prazeres desarvorados...

As heranças atávicas geradoras da sombra e a infância emocional que teima em permanecer como criança ferida em muitos comportamentos, fazem dos indivíduos pacientes piegas ou astutos, que se negam o esforço na esperança de que outrem lhes ofereça o que lhes cabe conquistar. Tornam-se egoístas e displicentes.

Era comum essa dicotomia entre pessoas que antes alugavam casas: plantar ou arrancar árvores.

Algumas, quando se mudavam, deixavam as árvores que plantaram no terreno que lhes não pertencia, enquanto outras as arrancavam, demonstrando e insensibilidade.

Diversas evitava plantá-las porque o solo não era delas e afirmavam que não iriam trabalhar, justificavam-se, para o bem de estranhos, no entanto, alegravam-se quando encontravam verdadeiros pomares que foram preparados por outras que não conheceram, mas os fizeram para o futuro...

Se cada qual realizar a sua parte, pensando nos bens do futuro, não importando quem seja aquele que colhe onde não semeia, seus talentos estarão sempre aumentados e receberão outros mais que lhes são confiados...

O servo bom, do bom trabalho retira a prosperidade, enquanto que o ocioso converte a ação em penúria, vindo a sofrer a restrição do prazer e da harmonia.

Os servos diligentes são todos aqueles que não se detêm atemorizados ante as dificuldades existenciais e trabalham a fim de removê-las, facilitando a oportunidade dos que se encontram na retaguarda. Sempre se viverá beneficiado ou não pelos ancestrais, aqueles que caminharam antes pelas veredas por onde agora peregrinam. Foram eles que abriram as picadas, facilitando a primeira experiência na mata fechada, depois outros alargaram os caminhos, vieram mais tarde muitos outros que asfaltaram ou não a estrada agora percorrida com facilidade.

Quando se tem consciência desse valor dos antepassados, ao conseguir-se a cura das neuroses, logo surge o interesse por servir, auxiliar os familiares, os mais próximos, treinando fraternidade e generosidade para com todos os demais seres humanos.

7º capítulo – A possível saúde integral – do livro Em Busca da Verdade.

Continua na próxima postagem.

Postado em 29-10-2013.