quarta-feira, 27 de agosto de 2014


 

PREDOMÍNIO DA SOMBRA

A presença da sombra no comportamento humano facilita a fragmentação da psique, nos dois eus, com isso o paciente perde a identificação entre os arquétipos do bem e do mal, do certo e do errado.

Herdeiro dos instintos agressivos,  predominantes na sua natureza íntima, o ser humano segue entre revoltado e medroso, herança das condutas passadas.

A preservação da vida leva ao imediatismo, a sensação do prazer, ao  desconhecimento dos valores ético-morais, ou ainda que os conhecendo, não considera aqueles que representam sacrifício, luta nobre, abnegação...

Levado ao prazer sensorial, assevaljado, as emoções superiores dos sentimentos, da beleza, do idealismo são dispensadas por não valorizar ou até pela falta do hábito de as vivenciar.

Nessa fase os sonhos, são tumultuados e os símbolos de que se revestem expressam as heranças perturbadoras e os sofrimentos sexuais, que se tornam condutas psicológicas doentias, ou somatizam em disfunções orgânicas com vária denominações.

Na parábola de Jesus, o ego do filho é perverso e ingrato.

Ao pedir a herança que diz pertencer-lhe, inconscientemente está buscando a morte do pai, acontecimento legal para adquirir a posse dos bens sem problema. Mascara o conflito dizendo que seria para aproveitar a juventude, já que mesmo envelhecido, o pai não morria...

Indo para um país longínquo querendo arrancar as raízes existenciais, as marcas, destruir a sua origem desagradável, ficando na ignorância de si mesmo, fugindo para o Éden onde parecia feliz.

O conflito traz uma carga psicológica de alta tensão nervosa destruidora.

O eu filial que percebe a necessidade de ficar no lar – aqui representado no domicílio carnal, o Paraíso – abre espaço emocional ao outro eu, o da fragmentação da psique, a sombra, leviano e distante dos sentimentos que enobrecem que ainda se encontram adormecidos no Self.

Esgotado pelas ambições e prazeres, o leviano se surpreende, mais tarde, pela solidão – a miséria econômica, a fuga dos companheiros que o exploraram, os excessos que agora o deixam abatido – somando à culpa que o censura, propondo reflexão, ou, a volta à segurança do lar que abandonou...

Para que ocorra o autoencontro sempre será imperioso vltar às origens, para o autoencontro.

Tomado, pelo instinto de autodestruição transforma-se em chiqueiro moral em direção da degradação máxima, do suicídio, quando tem um insight e pensa na generosidade do pai, o Self,  em despertamento, decide então voltar, sendo esse o primeiro passo para a autorrealização, a autoconscientização, uma possível integração das duas partes da fissura dolorosa da mente.

Essa fuga para um país estrangeiro e longínquo seria uma arquetípica busca do princípio da individuação, se surgisse de algum ideal, como diminuir a carga do pai, e não de desejar-lhe, ainda que inconsciente a morte.

Há, nesse conflito, o mundo do pai, o mundo do filho, o mundo do irmão, como sombras perturbadoras, efeito da fissura da psique com relação ao ego.

Jesus deixa transparecer na parábola o seu caráter terapêutico, no momento em que o filho volta buscando a paz (e a saúde), embora humilhado, mas certo de que será recebido.

O Self que se unifica em relação ao ego é o caminho seguro para a autocura, para o estado numinoso de tranquilidade e bem-estar.

Viajar para longe é uma busca arquetípica de heroísmo, da conquista do desconhecido, de infinito, que não se concretiza porque o objetivo consciente era o prazer, a não-responsabilidade, a violência do abandono ao pai idoso, a exuberância do egotismo e o desprezo do irmão mais velho que trabalha.

A viagem de volta ao lar que faz o filho mais jovem não é por amor ao pai, nem por qualquer sentimento nobre, mas porque passa fome e sabe que, no lar, terá mais conforto e alimento, assim como ocorre com os empregados da fazenda... A sua sombra interesseira vem do ego sofrido que não conseguiu unir-se ao Self.

Já, a sombra dolorosa no irmão que ficou faz dele um miserável que inveja o irmão jovem despudorado, que tem ciúme da atenção que o pai lhe dá, que se revolta, experimentando o conflito de inferioridade e as torturas no psiquismo.

Sente-se rejeitado, apesar de ter sido devotado, talvez para ficar com toda a herança, e não por ficar com o pai, já que se queixa que nunca recebeu um cabrito para festejar com os amigos.

Uma projeção inconsciente da raiva que guardou pelo abandono que sentiu quando o irmão fugiu, surge agora como desforço, recusando-se a participar da festa de boas-vindas.

O ego deve adquirir estrutura para conquistar consciência da sua realidade não permitindo conflito com o Self que o direciona, única maneira de libertar a sombra .

Na parábola, tem-se um arquétipo coletivo representando os interesses imediatos em prejuízo dos valores que libertam das paixões primárias, diante do egoísmo do filho jovem, o pai generoso não reclama, não transmite mágoa, embora sofrendo.

Assim é que as criaturas escapam da proteção segura da psique integrada que abre espaço ao ego daninho, da fragmentação, retardando a oportunidade para serem felizes.

A experiência, no país longínquo – desejo inconsciente de não ser encontrado, nem saber-se onde se encontra o fugitivo – acaba em desastre, porque toda extravagância acaba em prejuízo e toda malversação de valores, em perdas parciais ou totais, como no caso do jovem presunçoso.

A sua sombra leva-o ao gozo do prazer, da irresponsabilidade, da incontinência moral, porque os deveres nos cuidados dos sentimentos lhe desagradam.

A firmeza moral do irmão mais velho, trabalhando sem demonstrar cansaço nem aborrecimento, produz-lhe antipatia e faz que o deteste, deixando ao lado do pai idoso, sem considerar os laços de família, numa participação mística coletiva simbolizando a sociedade como um todo.

A totalidade da psique, representada pelo pai e o filho mais velho que cumpre o dever, incomoda o egoísta que vive insatisfeito porque quer cortar o vínculo, ser livre, cair no abismo de si mesmo como ocorrerá.

Como as experiências oferecem o despertar da iluminação, ele cai em si refletindo que no lar, até os servidores mais simples usufruem de apoio, alimento e segurança, enquanto ele nem com suínos pode desfrutar as alfarrobas que não lhe dão, resolvendo retornar.

Busca o mundo íntimo fragmentado e tem o insight de como agir.

O arrependimento é o alívio da culpa, reconhecendo que pecou contra o céu e contra ti (o pai), seguro de ser bem recebido, mesmo que não fosse digno de ter o nome de seu filho.

O indivíduo comum, não iluminado, perdido na ilusão, pode ser comparado ao Filho Pródigo, leviano e insensato, que apenas convive em busca de prazer pessoal e interesse mesquinho, afastado das propostas éticas e dos deveres morais.

Vítima da libido exagerada, entrega-se ao gozo na ilusória conduta de que nada se acaba e que as suas forças exaustas se renovam...

Esse arquétipo também pode surgir nos indivíduos inseguros, instáveis, solitários, que em ninguém confiam, perdendo grandes oportunidades de crescimento pela interiorização e reflexão, superando as heranças prejudiciais do processo evolutivo anterior.

De temperamento facilmente perturbado, vive com ressentimentos e invejas, enfermo interiormente, que não aceita o tratamento acreditando que não precisa, já que considera os outros responsáveis por sua situação psicológica, masoquistamente dizendo-se incompreendido e perseguido.

O querer fugir dos outros também é o sofrimento da fuga de si mesmo, pela dificuldade de autoenfrentar-se, de reconhecer a inferioridade e ser levado a trabalhá-la para conquistar a vitória.

Fica mais fácil jogar tudo para o alto (ou para baixo) numa atitude de libertação e seguir o sofrimento, para voltar andrajoso, imundo, humilhado...

O ego presunçoso acorda aos poucos da sombra para o estado numinoso, que precisa ser conquistado sob os instrumentos do sofrimento, que são os importantes recursos para a vitória.

Quando o genitor pede ao servo que lhe traga o anel, confirma psicologicamente o arquétipo da antiga Aliança de Deus com os homens, pelo Arco-Íris, demonstrando vinculação e amor.

As roupas limpas e novas, o novilho nutrido para a festa são os arquétipos que se encontram nos mitos, particularmente no panteão grego, quando os deuses comungavam com os homens e banqueteavam-se, chegando, algumas vezes, ao descontrole pelos excessos.

O pai abraçando o filho de volta é a luz do amor que nele dilui a sombra em que ele se debate.

Do livro em Busca da Verdade, de Divaldo Pereira Franco, pelo Espírito Joanna de Ângelis. Postado dia, 27/08/2014.

segunda-feira, 25 de agosto de 2014


 
 
 
 
A VIDA E A GRATIDÃO
 
Jung disse que a finalidade da vida não é a conquista da felicidade, mas a busca de sentido, de significado.
A felicidade, conforme se pensa, é a alegria, o júbilo por determinadas conquistas, é a vitória de algum empreendimento, ou a viagem ao país dos sorrisos.  Essas emoções que surgem no prazer e no bem-estar estão próximas da felicidade, que traz mais complexidades psicológicas do que se imagina.
No conceito junguiano, o sentido existencial, o seu significado transpessoal, é mais importante do que as sensações resultantes do ter e do prazer, e transformam-se as vezes em emoções que duram algum tempo.  Analisando-se o fenômeno, percebe-se  que tudo que traz prazer tem pouca duração, transforma-se, dá lugar a outros nem sempre felizes... A alegria de um dia transforma-se, muitas vezes, em preocupação, em desgosto.  Essa felicidade risonha de um encontro, de uma explosão de afetividade ou de interesse atendido, quase sempre transforma-se em véspera de dor de contrariedade, de arrependimento e de mágoa...
O sentido, o significado existencial caracteriza-se pela busca interna, pela transformação moral e intelectual do individuo ante a vida, pelo aproveitamento do tempo na identificação do self com o ego.  É um sentido profundo, no começo de autorrealização, depois de autoiluminação, de autoencontro.
É preciso estar atento para perceber melhor as sensações que produzem empatia e as emoções que trazem harmonia.  O ego prefere o mergulho nas sensações do poder, do gozar, do tocar e sentir, enquanto o self busca vivenciar e ser, ampliando os seus horizontes de gratidão.
Quando se busca o sentido, a pessoa não se detém para avaliar o resultado das conquistas imediatas, porque não cessa o significado das experiências vivenciadas e por experienciar.  Trabalha o ser interno, inundando-se do conhecimento e de vivência, vestindo-se de beleza e de saúde.  Mesmo que surja algum distúrbio orgânico, não impede a continuação da sua necessidade de sentido, por compreender que é natural próprio do processo em que se encontra, avançando em equilíbrio íntimo.
Esse significado estende-se a todas as formas de vida, às varias manifestações existenciais, dirigindo-se ao cosmo... 
Conta-se que há muito tempo um circo famoso, que se apresentava em Londres, tinha um elefante gentil, motivo da alegria das crianças, dos adultos, dos idosos, de todos que iam ao espetáculo em que ele era a atração.  Seu nome era Bozo, ele era muito dócil.  Bailava com o corpanzil, movia-se com suavidade, deitava-se e levantava-se com leveza...
Em determinado momento, para surpresa de todos, o paquiderme tentou atacar e matar o seu tratador, causando grande desgosto.  Porque agora urrasse colérico, ameaçando todos que se aproximavam da  jaula, transformou-se em perigo público, e as autoridades solicitaram ao proprietário do circo que o eliminasse.
Para não perder totalmente o dinheiro que Bozo representava, o seu dono resolveu utilizá-lo para um último espetáculo, quando ele deveria morrer publicamente, e, para isso, anunciou e vendeu ingressos para o trágico acontecimento.
No sábado marcado, pela manhã, antecipadamente anunciado, o circo estava repleto de curiosos e de insensíveis que ali estavam para ver a morte do animal que antes os distraía, numa demonstração cruel e selvagem de indiferença.
Na jaula circular, o animal movimentava-se agressivo, emitindo sons estranhos e arrepiantes.
Do lado de fora, os homens uniformizados, que se equipavam para o final terrível.
No momento, em que o proprietário anunciava o fatídico acontecimento que logo teria lugar, alguém dele se aproximou, tocou-lhe o ombro e disse quase com doçura:
- Não lhe seria mais útil se o senhor pudesse manter vivo o animal?
E o empresário respondeu, quase com rispidez:
- Não tenho como poupá-lo, ele enlouqueceu e pode matar alguém.
- Permita-me, então, entrar na jaula e acalmá-lo, num breve tempo em que lhe possa falar.
Estremunhado, o dono do circo olhou para aquele homem de pequena estatura e respondeu:
- Se eu permitisse uma loucura dessas, o elefante o faria picadinho, matando-o de forma impiedosa.
- Eu correrei o risco – afirmou o estranho – E para poupá-lo de problemas ou contrariedades, eu assinei este documento que lhe entrego, assumindo toda a responsabilidade por meu ato.
O empresário olhou o papel de relance, anunciou a proposta ao público, e a massa, buscando sensações fortes, tal qual um circo romano do passado, aplaudiu a anuência.
A porta de ferro abriu e o homem entrou na jaula.  O animal pareceu ficar mais irritado, parando o movimento circular, enquanto o visitante dizia baixinho, o que ninguém entendia, num tom melódico, lembrando uma canção mântrica.  Ouvindo-o, o animal foi-se acalmando, deixou de balançar-se, os olhos injetados recuperaram a expressão habitual, o estranho aproximou-se mais, tocou na tromba e delicadamente puxou o paquiderme, fazendo um círculo em torno da jaula, com a sua maneira característica muito conhecida.
O público, surpreso, aplaudiu o ato.
O visitante da jaula saiu calmamente como havia entrado, tomou o chapéu-coco e o paletó, vestiu e saiu, sem valorizar a mão estendida do agora feliz proprietário de Bozo.
Olhando para trás, disse:
- Bozo não é mau.  Ele estava apenas com saudades do hindustani, o idioma no qual foi amestrado após nascer.  Tratando-se de um elefante hindu, ele estava com saudade da sua terra, da língua materna, e acalmou-se, recuperando sua paz.
E não apertou a mão do diretor do circo.
Surpreso, o ambicioso proprietário olhou com mais cuidado o documento que tinha na mão e espantou-se, por estar assinado por Rudyard Kipling, o inesquecível amigo dos animais, que escreveu tantas histórias sobre eles que foram traduzidas em muitos idiomas.
A gratidão de Kipling ao animal saudoso devolveu-lhe a vida, enquanto Bozo, ouvindo a música doce do idioma a que estava habituado, expressou a sua gratidão, recuperando a calma.
Gratidão também é uma forma de sentido existencial, de significado da vida, que poucas pessoas sabem aplicar no seu desenvolvimento emocional.
Do livro, Psicologia da Gratidão, escrito por Divaldo Franco, pelo Espírito Joanna de Ângelis. Postado, dia 25/08/2014.
 
 

 

domingo, 24 de agosto de 2014


 

FRAGMENTAÇÕES MORAIS

Para imortalizar as Suas propostas de saúde e bem-estar, Jesus como Psicoterapeuta excepcional utilizou símbolos, que eram arquétipos nobres da época.

Trazendo as Boas novas de alegria, para uma época sofrida, marcada por criaturas perturbadas no desconhecimento, o Seu ministério trazia propostas libertadoras do primitivismo, de respeito a vida e pela harmonia dos sentimentos, em incomparável diretriz de identificação entre ego e  Self.

Compreendendo os sofridos conflitos dos indivíduos e das massas que constituíam, do inconsciente individual e coletivo cheios de heranças ancestrais primitivas, perturbadoras, sem possibilidades próximos de um superconsciente rico de harmonia, sabia que a única e eficaz maneira de trazer a libertação dos pacientes prisioneiros do egoísmo e do imediatismo, seria o autoconhecimento.

Diante da cultura religiosa fanática e atrasada – a sombra dominadora – e da falta de conhecimento sobre a vida, apenas possíveis nos santuários esotéricos, onde poucos iniciados tinham a oportunidade de conhecê-la, identificando a estrutura complexa do ser e as suas ricas possibilidades amortecidas pela matéria, Ele propôs  quebrar o obscurantismo com a luz da razão, usando permanentes símbolos que passaram à posteridade e continuam atuais.

Através de parábolas, era possível chegar ao desconhecido Self simples, mas  habilmente acordando-o,  para que dominasse o ego, a despeito das  imposições perversas do Seu tempo.

Vivendo para todas as épocas atemporais, deixou para as gerações futuras os inesquecíveis ensinos, superando os  antigos mitos, porque eram psicoterapêuticos, embora o objetivo aparentemente moral, social e religioso que ocultavam.

Por isso, foi veemente, quando falou nos Seus ensinos de que a letra mata, mas o espírito vivifica, fazendo o vinculo do eixo ego-Si mesmo, dizendo que, além da forma tosca trazia o conteúdo saudável e vivo para o processo da cura real de todas as doenças.

Entre as contribuições psicológicas, desse gênero, para o futuro, contou à parábola do Filho Pródigo, conforme Lucas, no capítulo 15 nos versículos 11-32.

A história fala da fragmentação da psique a respeito dos arquétipos dos valores morais no ser humano, nessa luta sem quartel entre o ego imediatista e dominador e o Self harmônico e totalizante.

Um homem tinha dois filhos – narrou Jesus - Disse o mais moço a seu pai: - Meu pai dá-me a parte dos bens que me toca. Ele repartiu os seus haveres entre ambos. Poucos dias depois o filho mais moço, ajuntando tudo o que era seu, partiu para um país longínquo, e lá dissipou todos os seus bens, vivendo dissolutamente. Depois de ter consumido tudo, sobreveio àquele país uma grande fome e ele começou a passar necessidades. Foi encontrar-se com um dos cidadãos daquele país e este o mandou para os seus campos guardar porcos. Ali desejava ele fartar-se das alfarrobas que os porcos comiam, mas ninguém lh’as dava. Caindo, porém, em si, disse: Quantos jornaleiros de meu pai têm pão com fartura, e eu aqui estou morrendo de fome! Levantar-me-ei, irei a meu pai e dir-lhe-ei: - Pai pequei contra o céu e diante de ti. Já não sou digno de ser chamado teu filho; trata-me como um dos teus jornaleiros. Levantando-se, foi para seu pai. Estando ele ainda longe, seu pai viu-o e teve compaixão dele, e, correndo, o abraçou, e o beijou. Disse-lhe o filho: - Pai pequei contra o céu e diante de ti. Já não sou digno de ser chamado teu filho. O pai, porém, disse aos seus servos: - Trazei-me depressa a melhor roupa e vesti-lh’a, e ponde-lhe um anel no dedo e sandálias nos pés; trazei também o novilho cevado, matai-o, comamos e regozijemo-nos, porque este meu filho era morto e reviveu, estava perdido e se achou. E começaram a regozijar-se. Seu filho mais velho estava no campo. Quando voltou e foi chegando a casa, ouviu a música e a dança, e chamando um dos criados, perguntou-lhe o que era aquilo. Este lhe respondeu: - Chegou teu irmão, e teu pai mandou matar o novilho cevado, porque o recuperou com saúde. Ele se indignou e não queria entrar; e saindo seu pai, procurava conciliá-lo. Mas ele respondeu a seu pai: - Há tantos anos que te sirvo, sem jamais transgredir uma ordem tua, e nunca me deste um cabrito para eu me regozijar com os meus amigos, mas quando veio este teu filho, que gastou os teus bens com meretrizes, tu mandas-te matar para ele o novilho cevado. Disse-lhe o pai: - Filho, tu sempre estás comigo, e tudo que é meu é teu; entretanto, cumpria regozijarmo-nos e alegrarmo-nos, porque este teu irmão era morto e reviveu, estava perdido e se achou. (tradução segundo o original grego pelas Sociedades Bíblicas Unidas. Rio de Janeiro, Londres, New York.)

Os arquétipos do bem e do mal, da sombra densa e suave, do ego e do Self conflitam-se, nessa narrativa, enfrentando-se, lutando ferozmente, e surgem grande quantidade de transtornos psicológicos, como a promiscuidade de conduta, a perversão, a fuga, o ressentimento, a ira e o desencanto, presente no comportamento dos dois irmãos, e o pai generoso apresenta a saúde pelo entendimento e compreensão com relação às quedas morais e à ignorância dos filhos, utilizando a compaixão e o perdão, a gratidão e o afeto.

O pai leva-os ao encontro com o arquétipo primordial tornando possível um reencontro terapêutico entre os dois irmãos, única forma possível do entendimento entre ambos, da fraternidade plena, da saúde geral.

Postagem do dia 24/08/2014.

Livro: Em Busca da Verdade, Divaldo Franco Pelo Espírito Joanna de Ângelis.

sábado, 23 de agosto de 2014


O SIGNIFICADO DA GRATIDÃO 

Gratidão é um termo que vem do latim que significa graça, gratos, agradável.   Reconhecimento por tudo que se recebe ou é concedido.
O entendimento da gratidão surge como a mais elevada expressão do amadurecimento psicológico do indivíduo, que leva à viver o sentimento enobrecido.
Os hábitos de receber ajuda e proteção desde a concepção, o desenvolvimento fetal até a idade adulta, sem consciência do que lhe servem ou recebe, constrói um ego interessado apenas em fruir sem   responsabilidades.
Somando favores que o promovem, só  compreende o que lhe é oferecido quando o discernimento apresenta-se na personalidade e o chama para a contribuição pessoal. Não habituado a repartir, torna-se arrogante e presunçoso, crendo ter méritos que  ainda não conquistou.
Quando os instintos abrem espaços para as emoções, o amor dá seus primeiros passos pela bondade, gentileza com os outros, exteriorizando o crescimento ético-moral. O amor apresenta-se, pelo desejo de servir, de contribuir, de ser grato...
Nessa fase, o significado existencial é muito importante, o que possibilita a mudança do comportamento egoísta e exterioriza as primeiras expressões de amabilidade, de dedicação ao próximo desinteressada.
O sentido de retribuição se expressa a medida que o sentimento afetivo se desenvolve. 
Inicia por uma emoção-dever, que o ajuda a libertar-se do acumular e reter. Que leva a compreender que no universo tudo é movimento, um dar e receber, conceder e retribuir, e que o não movimento responde pela instalação de doenças, desajustes e morte.
A recompensa, maneira simples de retribuir, é primeiro passo no caminho da gratidão.
Poucas vezes o adulto sente a emoção espontânea de agradecer, de bendizer aos que contribuíram de forma automática, é certo, mas também pela afetividade, para que ele estivesse hoje no patamar onde se encontra e movimenta. Quando se conscientiza dessa evocação, a alegria instala-se no seu ser. Não há exigência diante de qualquer carência ou reclamação por não ter usufruído benefícios que antes pareciam muito importantes. Pensa que age também por hábito em benefício de outras vidas, da ordem, do progresso, do bem, ou, infelizmente, pelos fenômenos perturbadores que invadem a sociedade... percebe-se no contexto social sem definição, sem sentido existencial feliz, deixando-se levar pelos acontecimentos...
O despertamento para a gratidão começa por uma forma de louvar a tudo e a todos.
O santo seráfico de Assis, ao atingir o estado numinoso, glorificou no seu canto de gratidão, ora doce, ora suave, o hino por todas as criaturas: irmão Sol, irmã Lua, irmã chuva, vegetais, animais e tudo que vibra e glorifica a criação.
Quanto mais exaltava o que a muitos parece insignificante ou sem valor, a sua riqueza gratulatória conseguia dignificar, exaltando lhes as qualidades.
Diz um filósofo popular, a beleza da paisagem está nos olhos de quem a contempla. Não é exatamente assim que acontece, mas há razão no conceito, porque somente quem possui beleza e harmonia pode ver e sentir onde estiver. Sem essa sensibilidade, não há como fazer a diferença entre o banal do especial, o grotesco do belo, e assim por diante.
A verdadeira gratidão pede que na intimidade do ser haja esse encanto pela vida, que a torna preciosa em qualquer forma que se apresente, que se compreenda a magia do existir, percebendo-se as dádivas que se multiplicam em muitas expressões de troca.
O ingrato se encontra no processo de primarismo, ainda não percebe o objetivo essencial da vida. Criança maltratada que se detém na injuria e nas circunstancias do começo do desenvolvimento ético e moral. Que se nega a crescer, trazendo ressentimentos de ocorrências de pequena ou grande monta, que tiveram aceitação profunda, marcando com revolta o desenvolvimento emocional. Ninguém cresce emocionalmente se reage aos fatores que oferecem o mecanismo de maturação. É preciso deixar-se triturar pelos acontecimentos e superá-los pela autoestima e o autorreconhecimento.
A gratidão é sempre com relação ao outro, aos fenômenos existenciais, nunca ao orgulho e à presunção. Como se pode ser reconhecido a si mesmo, sem cair no ego sem discernimento ou compreensão? Como ser grato ao ego, que ainda não conseguiu liberar o self, responsável pela grandeza do ser em aprimoramento? Vamos refletir na imagem da concha bivalve da ostra que não deixa seja retirada a pérola nela aprimorada. Para que tenha sentido real, rompe-se a crosta forte e esplende a gema pálida e notavelmente construída.
É através da ruptura, da fissão que vai-se encontrar além do exterior a pérola adormecida na intimidade de tudo: o diamante mergulhado no carvão grosseiro, a estrela escondida além da nuvem e da poeira cósmica...
Agradecer é inebriar-se de emoção lúcida e consciente da realidade existencial, mas não apenas pelo que se recebe, também pelo que se gostaria de conseguir e pelo que ainda não se é emocionalmente.
Libertando-se da escravidão da posse, irisa-se o ser de bênçãos que esparze em sinfonia de gratidão.
Agradecer o bem que se frui como o mal que ainda não aconteceu, e, quando ocorrer, fazer o mesmo, compreendendo que somente ocorre o que é necessário ao crescimento espiritual, conforme programado pela lei de causa e efeito.
Gratidão é como a luz na sua velocidade percorrendo os espaços e clareando o percurso, sem se dar conta, sem querer diluir-se no facho incandescente da sua conquista.
Um dos motivos básicos para a expressão da gratidão é o estímulo oferecido pela humildade para que se compreenda o quanto se recebe, desde o ar que se respira gratuitamente até os fenômenos automáticos do organismo, que preserva a vida.
Nessa compreensão da humildade, ressuma o sentimento de alegria por tudo quanto é feito pelos outros, mesmo que sem ter ciência, em favor, em benefício dos demais. Essa percepção traz o amadurecimento psicológico, permitindo compreender-se que ninguém é autossuficiente a ponto de não depender de nada ou de ninguém, numa soberba que mostra a fragilidade emocional.
Sem esse sentimento de identificação das manifestações gloriosas do existir, a gratulação não passa da presunção de devolver, de nada ficar-se devendo a outrem, de passar incólume pelos caminhos existenciais, sem débitos...
Quando se é grato, alcança-se a individuação que liberta. Para se atingir, esse nível, o caminho é longo, atraente, fascinante e desafiador.
Do livro PSICOLOGIA DA GRATIDÃO, de Divaldo Franco/Joanna de Ângelis. Postado, dia 23/08/2014

sexta-feira, 22 de agosto de 2014


A aquisição da totalidade

Depois de conquistar uma floresta densa, o primeiro passo vai ser abrir clareiras na sua escuridão e densidade, para entrar luz e haja espaço para a construção de posto avançado de serviço e repouso.

O inconsciente é como uma floresta densa, a parte submersa de um iceberg flutuando  no tumulto da existência física.

A maioria dos atos e comportamentos humanos, vem do inconsciente, sem  interferência da consciência lúcida.

Arquivados no inconsciente coletivo estão  a história da Humanidade, os diferentes períodos vividos, restando pequeno espaço para o inconsciente individual, responsável pelos registros atuais, desde a concepção até a atualidade.

É sensato e verdadeiro dizer, que o Self se estruturou através das reencarnações, por onde esse princípio inteligente desdobrou os conteúdos adormecidos em germe, seu Deus interno, até o momento da consciência.

As impressões que se referem às memórias coletivas nesse inconsciente procedem, porque dizem respeito às vivências individuais ou às informações transmitidas pelos contemporâneos ou ascendentes que as viveram.

Para integrar esses arquétipos predominantes  no ser humano, é indispensável o amor a si mesmo, conforme recomenda o sublime Psicoterapeuta Jesus-Cristo.

Conhecedor da sombra individual e coletiva, que perturbava o ser humano.

Na Sua proposta psicoterapêutica através do amor, Ele destacou o amor pessoal, a si mesmo, em razão dos escamoteamentos, quando se procura amar ao próximo, impossibilitado do que se deve a si mesmo, ao Self.

Essa é uma artimanha da sombra, disfarçando o transtorno da indiferença ou da animosidade contra o próprio ser, dos conflitos perturbadores no íntimo, em fuga espetacular para valorizar o outro com desprezo pelos próprios sentimentos, suas conquistas e seus prejuízos.

Quando o individuo não se ama, apaixona-se, deslumbra-se, admira o outro e diz ama-lo, até quando a convivência demonstra que se tratava apenas de uma explosão sentimental sem profundidade nem significado.

Muitos dizem amar, para logo apresentar-se decepcionados por perceberem que o outro lhes é semelhante, trazendo também os polos opostos, presos a dificuldades e limites, que o afetuoso gostaria que ele não tivesse, esperando compensações por suas fraquezas.

O amor a si mesmo deve ser centrado no autorespeito e na autoconsideração que cada um se merece, identificando a sua sombra, que é familiar aos demais, aceitando-a e diluindo-a, com a amizade e a compreensão.

Não é ficar contra as imperfeições - a sombra interior - mas identificá-la, para  reforçá-la, ou seja, conscientizar-se de que ela existe considerando-a parte da sua vida.

Lutar contra a sombra é desgaste inútil de energia. Quando é identificada, a energia volta à psique, e, conforme a mesma seja integrada, mas vigor conquista o ser consciente.

É preciso, uma atitude ativa, porque a passividade, a anuência com a ignorância, nada fazendo para modificar a sua estrutura, alterando-a e dissolvendo-a, alimenta a violência de todo tipo, que desagua entre os poderosos terrestres em guerras violentas, espalhando a sombra coletiva  a arbitrariedade e a prepotência.

O bem e o mal se originam na psique humana, como resultado de experiências anteriores vivenciadas pelo Self. Como a sombra, os antagonismos podem e devem ser enfrentados através de diálogos com os opostos, que esclarecem a sua finalidade e os seus gravames.

Nos relacionamentos entre amigos e parceiros, sempre ocorre a fragmentação, onde essa convivência é de curto prazo, mesmo quando começa com entusiasmo e ardor. De um para outro momento percebe que a sua voz interior não apenas critica-o, lamentando a conivência, informando da sua indignidade ou inferioridade com relação ao outro, mas também pelo surgimento de uma agressão ferina, de apontamentos desagradáveis sobre um amigo ou parceiro...

Essa ocorrência produz o comportamento exterior sem correspondente íntimo, abrindo espaço ao cansaço ou à indiferença, a uma saturação emocional, tirando o prazer que antes havia naquela convivência.

Não se deve desconhecer a voz interior, principalmente se crítica ou mordaz, responsável por comentários depreciativos da própria pessoa ou de outrem.

É necessário o seu enfrentamento lúcido e natural, diluindo a tensão que se estabelece entre o consciente e o inconsciente.

Normalmente, diante de uma bela performance exterior, surge a voz interna que censura, que abomina, que recalcitra com relação àquele desempenho.

Essa tormentosa sombra imanente na psique faz parte do ego que espera a importante contribuição do Self libertador.

Considere-se a sombra uma questão moral, não escondendo através de sacrifícios, sevícias ou autoflagelações para vencer o que se chamou de tentações, porque tais comportamentos são pertinentes a ela mesma que, submetida por algum tempo, um dia irrompe como desencanto ou  vulgaridade a que se entregam aqueles que, por muito tempo, impediram-na de manifestar-se, crendo falsamente na vitória sobre ela.

Devorar a sombra pela integração lúcida na psique também é uma forma de diluí-la, incorporando-a ao conjunto, trabalhando pela unidade.

Qualquer violência ou obstinação contrária, mais a reforça, enquanto toda expressão de amor e de humildade em relação à mesma, libera-a.

Reconhecer-se imperfeito, como realmente se é trazendo ulceras e cicatrizes morais, é  ato de humildade real, que se deve manter com dignidade, enquanto que, divulgá-los, demonstrando simplicidade, é maneira de permanecer-se no estágio de dominação pela sombra que apenas mudou de expressão e de comportamento.

Nada mais desagradável e doentio que a falsa humildade, que exclui o indivíduo dos valores éticos elevados, que o subestima, expressando, disfarçadamente, presunção, diferenciamento das outras pessoas.

Jesus, que é inabordável psicologicamente, porque se encontra acima de todas as criaturas, como biótipo especial, nunca se subestimou ou adotou epítetos depreciativos para demonstrar humildade. Ao contrário, sempre referiu-se como o Enviado, o Messias, o Filho de Deus, a Luz do mundo, o Pão da vida, etc., demonstrando a Sua autoconsciência.

Entre a humildade e o exibicionismo há grande diferença.

Muita aparência humilde são ostentação disfarçada, portanto, presença da sombra dominadora na conduta psicológica.

Em qualquer movimento religioso, que busca a superar os conflitos, vale  considerar que convivem no mesmo indivíduo o anjo e o demônio, que necessitam harmonizar-se, descendo um na direção do outro que ascende no rumo do primeiro.

Quando se reconhece essa dualidade existente na psique, que é representativa do ser humano, uma das suas características, torna-se fácil a terapia equilibradora, unindo-a em um ser lúcido psiquicamente e generoso emocionalmente.

A integração é necessidade de vivenciar-se um trabalho consciente, de amadurecimento psicológico, de conquista emocional e espiritual.

Texto estudado A aquisição da totalidade, Divaldo Pereira Campos, pelo Espírito Joanna de Ângelis. Postado em 22/08/2014.

segunda-feira, 18 de agosto de 2014


JESUS E O AMOR

De todos os ensinamentos de Jesus, de toda a Sua vivência profunda, o amor estabelece-se como ápice da manifestação humana, e ponto de convergência com o divino. “A Lei natural”, dirá Joanna de Ângelis, no livro Jesus e o Evangelho à Luz da Psicologia Profunda, na pg.15 e 87, “que vige em todo o Universo, é a de amor, que se exterioriza de Deus mediante a Sua criação...e na perspectiva da psicologia profunda o ser vive para amar e ser amado, iluminar a sombra e fazer prevalecer o Self.”

Recordou que o mandamento maior seria “Amar a Deus sobre todas as coisas”...e que um segundo se lhe derivava – “Amar ao próximo como a si mesmo”. O amor a si mesmo, ao contrario do que possa parecer, está longe de significar egoísmo. Não se trata de centrar-se no ego, mas centrar-se no Self, perceber-se portador de inúmeros recursos que se encontram adormecidos, e pela vinculação do sentimento do amor por si mesmo, investir todos os recursos que se façam necessários para tornar-se pleno, individuado.

A autocondenação, o autodesamor, o comportamento autodestrutivo, sinalizadores da baixa autoestima, transformam-se em algozes terríveis da criatura humana, que enquanto não se liberta dessas pulsões de morte - tânatos, permanece em comportamentos autodestrutivos. Isso afeta não somente a compreensão do nosso mundo interno, mas a relação com os outros, e como asseverou o filósofo Kierkegaard (apud May, 1972):

Se a pessoa não aprender com o cristianismo a amar a si mesma de maneira correta também não poderá amar aos seus semelhantes... amar a si mesmo corretamente e aos semelhantes são conceitos absolutamente análogos e, no fundo, são idênticos...”

Munidos do autoamor, nossas relações tornam-se mais profundas, verdadeiras, porque é a essência do nosso ser que delas participa, e não a persona, a superficialidade que marca os interesses escusos ou mascara nossa insegurança.

Jesus, por ser integral, pleno em si mesmo, dedicava-se ao próximo como nenhum outro o fez, e “na condição de peregrino do amor, demonstrou como é possível curar as feridas do mundo e dos seres humanos com a exteriorização do amor em forma de compaixão, de bondade, de carinho e de entendimento.” Jesus e o Evangelho à luz da Psicologia Profunda, pg.89

À lei de talião e do ódio ao inimigo, então vigentes, representantes do primitivismo e brutalidade nos quais se encontram as criaturas, Ele propõe um novo mandamento:

- “Ouvistes que foi dito: amarás o teu próximo e odiarás o teu inimigo. Eu, porém, vos digo: amai os vossos inimigos e orai pelos que os perseguem, para que vos torneis filhos do vosso Pai celeste, porque Ele faz nascer o Seu sol sobre os maus e bons e vir chuvas sobre justos e injustos”. (Mateus 5:43-46)

O Mestre sabia, no entanto, que não eram somente os inimigos externos que mereceriam nosso amor e compaixão, pois “os inimigos mais cruéis permanecem no imo das próprias criaturas, que as vitalizam com o orgulho, o egoísmo e o disfarce da acomodação social aparente” (ANGELIS, Jesus e Atualidade, p.114). Amar aos inimigos, canalizar a força da oração aos que nos perseguem, como Ele propôs, possibilita adicionalmente recolher a projeção dos nossos próprios conflitos, e solucioná-los na raiz, ou seja, em nosso mundo íntimo.

Esse amor desdobrava-se no perdão, não somente sete vezes, como questionava Pedro, “mas até setenta vezes sete” (Mateus 18:21-22). Diversos terapeutas da atualidade comprovam a eficácia do perdão, como a Dra. Robin Casarjian, estabelecendo que não se trata de negar os nossos sentimentos, como forma de se eximir da dor que às vezes eles trazem, mas, pelo contrário, poder a eles conectar-se de forma profunda e libertadora, desvinculando-se da força dos complexos gerados por situações embaraçosas e traumáticas.

Era necessário apresentar a “outra face”, a face luminosa do amor onde a sombra prevalecesse. Complementa Joanna de Ângelis, no livro, Jesus e o Evangelho à luz da Psicologia Profunda, p.77.

À luz da psicologia profunda, o perdão é superação do sentimento perturbador do desforço, das figuras de vingança e de ódio através da perfeita integração do ser em si mesmo, sem deixar-se ferir pelas ocorrências afligentes dos relacionamentos interpessoais.”

Quando o homem e a mulher conseguirem amar a si mesmos, ativando os recursos internos de que se fazer possuidores, e, logrando fazê-lo, direcionarem o amor ao próximo, tal qual Ele ensinou, poderemos finalmente Amar a Deus acima de todas as coisas, pois como muito bem estabeleceu o apóstolo João, o Evangelista (4:20), “se alguém disser: Amo a Deus, e odiar a seu irmão, é mentiroso; pois aquele que não ama a seu irmão, a quem vê, não pode amar a Deus, a quem não vê.”

E deixamos como reflexões finais deste capítulo as próprias palavras da benfeitora Joanna de Ângelis, no livro, Jesus e Atualidade, p.28, que em toda sua Série Psicológica estabelece o amor como sentimento sublime, e Jesus como representante máximo dessa vivencia:

Por amor, elegeu um samaritano desprezado, para dele fazer o símbolo da solidariedade.

Com amor, liberou uma mulher equivocada, tirando-lhe o complexo de culpa.

Pelo amor, liberou uma mulher equivocada, tirando-lhe o complexo de culpa.

Pelo amor, atendeu à estrangeira siro-fenícia que Lhe pedia socorro para a enfermidade humilhante.

De amor estavam repletos Seu coração e Suas mãos para esparzi-lo com os espezinhados, fosse um cobrador de impostos, uma adúltera, o filho pródigo, a viúva necessitada, ou a mãe enlutada.

Sempre havia amor em Sua trajetória, iluminando as vidas e amparando as necessidades dos corpos, das mentes, das almas.

Compadecia-se de todos; no entanto, mantinha a energia que educa, edifica, disciplina e salva.

Chorou sobre Jerusalém a hipocrisia e deu a própria vida em holocausto de amor.

Nunca se perdeu em sentimentalismos pueris ou agressividades rudes.

O amor norteava-Lhe os passos, as palavras e os pensamentos.

Tornou-se e prossegue como símbolo do amor integral em favor da Humanidade, à qual auspicia um sentimento humano profundo e libertador.”

Texto escrito por Cláudio Sinoti, no livro Refletindo a Alma. Postado dia, 18/08/14.

quinta-feira, 14 de agosto de 2014


A CONTÍNUA LUTA ENTRE O EGO E O SELF

Para Freud, o ego, é: A parte mais superficial do id, que, modificada, por influência do mundo exterior, por meio dos sentidos, e, em consequência, tornada consciente, tem por funções a comprovação da realidade e a aceitação, pela seleção e controle, de parte dos desejos e exigências vindas dos impulsos que emanam do id.

Nele estão, as imposições dos instintos que surgem do principio do prazer e da compulsão ao desejo.

Esses impulsos são resultado dos instintos que procedem dos estágios primários da evolução, que se destacam em oposição quase dominante contra a razão, a consciência de solidariedade, de fraternidade, de tolerância e de amor.

Dominador, o ego mascara-se no personalismo, onde se escondem as heranças grosseiras, que levam o indivíduo à prepotência, à dominar os outros, pela dificuldade de fazê-lo com relação a si mesmo, ou libertar-se da situação sofrida em que se encontra.

A luta interna dos dois polos é cruel, embora o ego aparente desconhecer, mantendo uma superficial consciência do valor que se atribui, do poder que exterioriza, da condição com que se apresenta.

Como o Self é o arquétipo básico da vida consciente, o princípio inteligente, é também a soma de todas as experiências evolutivas, caminhando na direção do estado numinoso.

Na dissociação dos polos, às vezes parece que o indivíduo, com grande esforço, conseguiu a integração, até quando se surpreende com o medo da fragmentação inesperada que o leva a um transtorno profundo, especialmente se viveu por um ideal que asfixiou o conflito, mas não o resolveu, acordando com impressão de inutilidade, de vazio existencial.

O ego pede destaque, compensação, aplauso, embora nos conflitos entre razão e instinto, surgindo como sede de água do mar, que não é saciada com razão.

Mesmo recebendo compensações de prazer, do impulso instintivo que leva à compulsão do desejo, a insatisfação que vem da ansiedade do poder, leva  sua vítima para a depressão, porque a sua ânsia de dominação acaba esvaziando-o interiormente.

O mesmo ocorre na vida monástica, quando diminuem o entusiasmo e o egotismo no postulante ou no religioso, no momento que é visitado pela melancolia que agrava com a depressão, erradamente interpretada como interferência demoníaca, pelo fanatismo ainda presente em muitos setores da fé espiritualista.

Para Alfredo Adler o instinto de dominação no indivíduo, quando não se sente compensado ou  reconhecido e aceito, foge, esconde-se na depressão, exteriorizando ali a agressividade e violência.

Nesse caso, o paciente não tem problema, já que o seu estado de alguma forma lhe faz bem, apresentando-se um problema para o grupamento social saudável, que busca manipular, dominando-o, tornando-se preocupação para os outros.

Conscientizar a sombra, diluindo-a, pela sua assimilação, e não desconhecê-la, é um avanço para a identificação entre ego e Self.

Jung percebeu esses dois eus no indivíduo, que seria resultante do Self, aquele que é bom e gentil, e do ego aquele que preserva o lado feroz, vulgar, licencioso, negativo.

O indivíduo teria duas almas em contínuo antagonismo no finito de si mesmo.

Essas expressões na conduta humana, apresentam-se quando em público, apresentando uma forma de ser, e quando, no lar, na família ou a sós, outra conduta diferente. A gentileza transforma-se em mal-estar, azedume e aspereza.

Aceitar-se esses opostos é recurso saudável, terapêutico, para melhor contribuir-se pela harmonia na disputa dos contendores, que são o ego e o Self.

No comportamento social não precisa mascarar-se de qualidades que não tem, embora não se deva expor as aflições internas, os tormentos do polo negativo.

Assumir a realidade do que se é, administrando, pela educação – fonte geradora dos valores edificantes e enobrecedores – os impulsos do desejo e do prazer, transforma-se em emoções de bem-estar e alegria, saindo da área das sensações dominantes, é eficiente para diminuir a luta que há entre os dois arquétipos básicos da vida humana.

Uma religião racional como o Espiritismo, sem fórmulas que escondam o seu conteúdo, que é otimista e não castradora, que leva o indivíduo a assumir as suas dificuldades, trabalhando-as com naturalidade, sem preocupar-se com parecer o que ainda não é, baseado na realidade do ser imortal, com as suas vitórias e limitações, é importante recurso terapêutico para a união de todos os opostos, que fundir-se-ão, abrindo espaço para um eu liberado dos conflitos, que se pode unir à Divindade, sem os artifícios que agradam aos indivíduos ligeiros e seus supérfluos comportamentos existenciais.

Então, a luta, que, existe entre ego e Self é saudável, por significar atividade contínua no processo de crescimento, e não postura estática, amorfa, que representa uma quase morte psicológica do ser existencial.

Humanizar-se, do ponto de vista psicológico, é integrar-se.

Jesus-Cristo foi incisivo, demonstrando a Sua perfeita integração com o Pai, quando enunciou: - Eu e o Pai somos um, expressando a perfeita identificação entre ambos, aos comportamentos nobres, às propostas libertadoras sem polos opostos.

Mais tarde, o apóstolo Paulo, superando suas lutas entre o ego dominante e o Self altruísta, universal, disse: - Já não sou eu quem vive, mas o Cristo quem vive em mim.

A sombra que nunca existiu em Jesus, fez dele a Luz do mundo e a que existia em Saulo, Paulo, iluminou-a, diluindo-a no amor.

Do livro Em Busca da Verdade de Joanna de Ângelis, pelo médium Divaldo Franco. Postado dia 14/08/2014.