quarta-feira, 30 de dezembro de 2015

A BUSCA DO SIGNIFICADO

O sentido profundo da vida humana é a busca do significado, a plenificação do Self – a imago Dei – a substância divina que orienta a vida e dignifica-a.

Ninguém, passa pela Terra, sem um sentido existencial que se estenda além das necessidades imediatas, que deixam de atender as exigências emocionais, vividas.

Por isso, a experiência interior é muito importante, sem ela as realizações externas perdem o significado, porque são possuídas sem atender as exigências emocionais, que, não atendidas, originam o vazio existencial.

Nessa viagem interna, uma aventura interior, a consciência amplia-se ao infinito, e vai além dos limites habituais limitados aos desejos do ter e do prazer.

Essa busca profunda apresenta-se na criatividade da arte ou na abnegação da crença religiosa, como recurso para a conquista do infinito e do indefinível.
No inconsciente coletivo estão adormecidos esses dois anelos originados na fase primitiva da evolução, quando o ser humano começou a entender a grandeza da vida, sua beleza,  suas ameaças presentes na Natureza, e a entrega às forças desconhecidas que pareciam manejar-lhes os destinos, permitindo surgir o mito religioso, como mecanismo de fuga das angústias e perturbações, atendendo aos caprichos que se impunham como soluções imediatas.

O esforço desse ser primitivo em comunicar-se com o outro e desenvolver a consciência pela escrita e a pintura rupestre, são as expressões iniciais da criatividade e do processo de comunicação consciente, organizada, que continuarão na sua trajetória antropológica.

Sendo a vida humana a materialização do mundo cósmico, os Espíritos que desencarnavam naquele período, ignorantes da sua realidade, ao manifestar-se aos contemporâneos nas cavernas, iniciaram as primeiras expressões do culto religioso, sem  desejarem, tornando-se deuses bárbaros uns e gentis, benévolos outros, que iriam povoar o imaginário das gerações sucessivas, inscrevendo-se no panteão das culturas terrestres.
Reavivar essas imagens e decodificá-las é a proposta da psicologia profunda, retirando-lhes a sombra perniciosa e ameaçadora da tradição, de  forma que, em estágio de consciência lúcida, conquistem o seu sentido, que é a imortalidade.

Porque a fase de primarismo não permitia o raciocínio logico, o natural culto de respeito e de devoção, mais pelo temor do que pelo amor, revestiu-se do mágico, do imaginoso, do sobrenatural, necessitando das excentricidades que se tornaram complexas como cerimonias e sacrifícios, inclusive humanos, para depois, de natureza animal e racional e, por fim, vegetal, por meio das flores, como preito de amor e de gratidão, de respeito, de súplica... O inconsciente ficou de tal forma sobrecarregado do fetiche criado e transferido de uma para outra geração que, mesmo na fase do discernimento, as heranças dominadoras, continuam levando ao temor, ao respeito exagerado, às fugas espetaculares para livrar-se da culpa, resgatando-a pelas oferendas e  sacrifícios...

O mergulho interior, desmistificando esses  condicionamentos e atavismos de natureza mágica, irá contribuir para o encontro com a religiosidade real, esse sentimento engrandecido que é a identificação com a imago Dei, com a manifestação de Deus. Não o deus antropomórfico – arquetípico, não real – humanoide, caprichoso, mítico, mas sim a inteligência suprema, causa primária de todas as coisas. Esse conceito está identificado com a definição do filósofo holandês Baruc Spinosa, que diz que Deus é a natura naturans.

Deus está além de qualquer conceito que o limite e o transforme em conteúdo, quando, em razão da Sua indecifrável realidade, é o Continente que tudo envolve.

A viagem religiosa, leva ao sentimento de religiosidade, de encontro com o divino que se encontra no Si-mesmo, esperando compreensão e vivência da sua realidade, que vai além do culto externo ou da submissão temerária.

Nessa incursão, a mente sutiliza-se e descobre significados desconhecidos que motivam à vida para ser vivida com alegria e irrestrita confiança nos resultados futuros.

Ao invés de significar uma fuga, uma transferência da imagem do pai para a Divindade, representa o encontro com a Consciência universal, identificando-se com ela e tentando plenificação.

As maneiras de realizar a religiosidade pela fé, a abnegação, a concentração nos postulados da vida, na prece, na integração solidária na beneficência e na caridade, dão sentido à existência física, trazendo alegria e bem-estar pelo prazer de contribuir em favor da satisfação geral, da diminuição do sofrimento, da miséria, das necessidades em qualquer lugar...

A criatividade, nesse momento, é também grandiosa, numa explosão de imagens que precisam ser exteriorizadas, abrindo espaço para a arte que se transforma em recurso de beleza, traduzindo as fixações presentes no inconsciente, em transito das formas grotescas ao classicismo e chegando às profundas manifestações do modernismo, do cubismo, do surrealismo, do abstracionismo, porque não podem, na pintura, na música, na escultura, por exemplo, ficar contidas nas formas... Todo limite, dificulta-lhes a expansão, a libertação do inconsciente coletivo.


Em todo período de crise, de indecisão e de perda de significado existencial da sociedade, ocorrem mudanças, algumas radicais, em relação ao já experienciado, ao conhecido, como ânsia de libertação das imposições castradoras do passado.

Nesse processo inevitável da evolução, muitos artistas quebraram os limites da tradição, para atingir o além das formas definidoras de conteúdos. Tornando possível a viagem interior que precisaram fazer, após sentirem-se saturados pelo já apresentado, que as modernas conquistas da tecnologia poderiam fazer de forma perfeita, em cópias iguais, portanto, sem a contribuição pessoal.

Os mais ousados, a princípio, rompendo os velhos padrões no realismo e no impressionismo, depois dando o grande salto em novas concepções que mostram o inconsciente de cada qual e abrem campo a novas observações numinosas e psicoterapêuticas libertadoras.

Através dessas expressões artísticas, como a pintura, a escultura, a música,  pode-se penetrar nos conflitos dos pacientes e, com recursos curativos, trabalhar-lhes as causas dos transtornos de conduta e de emoção.

Com essa modificação na arte, particularmente na pintura, depois noutros ramos culminando na música, na escultura, na literatura, no balé, nos vários ramos do conhecimento, as realidades objetivas abriram espaço para os conteúdos metafísicos e transcendentais, ampliando as conquistas do pensamento humano sem forma nem limite.

Graças a essa aventura em direção ao interior, ao inconsciente, a arte se transformou em fenômeno místico, quase religioso por seu significado libertador, sem vincular-se com denominação, dirigido ao Cosmo e a vida.

Proibidas essas expressões no período religioso dominador e restritivo, as imagens vindas da antiguidade, porque herança do primarismo, os artistas romperam com o estético, belo, harmônico, convencionalmente aceitos, apresentando outras expressões com o mesmo significado, de acordo com a visão e percepção de cada um.

O inconcebível pode ser externado de forma própria, favorecendo a identificação de novos padrões de beleza.

O que era arte moderna se impôs de tal forma que tornou-se natural, não se prendendo às admiráveis expressões sob essa ou aquela denominação,  presente como arte reconhecida e aceita.

O observador consciente e sincero, diante de alguma dessas expressões que romperam com o tradicional, identifica-se além da forma, em mensagens subliminais ou diretas, auxiliando-o a melhor entender-se, decifrar-se, causado pelos padrões que o limitavam e lhe dificultavam a autocompreensão, atormentando e alienando-o...

No começo ela causa, um choque, pela estranheza que a envolve, em qualquer um dos seus aspectos, na variedade de expressões em que se manifesta, à medida que a atenção a focaliza ou a recebe, produz a identificação do inconsciente que libera informações permitindo a aceitação natural dos seus conteúdos, porque também estão nele.

Costuma-se dizer que a maioria da arte contemporânea, expressa angústia, dor, sofrimento, discórdia, luta, no que tem razão, por representar a visão da longa caminhada da evolução e reflete a realidade existencial, disfarçada às vezes pela hipocrisia ou escondida pelos multiplicadores de opinião.

Vejamos Guernica do espanhol Pablo Picasso e identificaremos a tragédia do bombardeio aéreo sobre a cidade infeliz e a resultante degradação em tudo.

O Grito, do norueguês Edvard Munch, expressa a sua angustia, resultante de uma infância infeliz, de insucessos afetivos, da visão de um entardecer de sangue e de fogo, que ele tentou expressar em o Desespero, sem conseguir integralmente, conseguindo, logo depois, na outra obra que ficou imortal...

Enquanto a ciência dirige-se ao intelecto e a um pequeno numero de pessoas, a arte, é mais abrangente, sendo aceita por todos, independente do nível de cultura, de sentimento, ou de consciência, porque sempre traduz o que se passa no mundo interior dos seus autores, expressando o mesmo naqueles que se lhe vinculam.

O que é também uma forma de enfrentamento com o inconsciente, o mestre Jung chamou de a luta mítica contra o dragão, representada por S, Jorge, o vitorioso, o herói.  É uma luta antiga realizada pelo Espirito que precisa superar as dificuldades da matéria em que se ergastula durante o processo da evolução, para exteriorizar as potencias nele adormecidas, o seu deus interno.

O divino em cada luta inevitavelmente contra o humano, a força transcendente em alerta contra o poder do animal ególatra e escravizador.

É um esforço imenso o de emergir da  ignorância para o discernimento e a razão. É a autoconquista feita pelo Self cujo caminho é interior.

 A falta de sentido existencial, de significado, cria transtornos neuróticos confundido às vezes com outros motivos responsáveis pelo desequilíbrio.

A conquista de objetivo, de um significado básico  é fundamental para equilibrar o eixo ego-Self.
Essa problemática, é definida por Jung no seu tempo, como a neurose geral do nosso tempo,  por se sentir inútil e quase invisível no meio social em que vive.


Texto do livro Em Busca da Verdade de Joanna de Ângelis, Psicografado por Divaldo Pereira Franco. Trabalhado por Adáuria AzevedoFarias. 30/12/15.

sábado, 26 de dezembro de 2015

SENTIMENTOS DE MÁGOA E DE DESENCANTO
No ser humano há um sentimento perverso e de autodestruição fazendo-o guardar mágoas e desencantos, como se fossem importantes para o seu desenvolvimento existencial.
O que é uma conduta masoquista, em que o individuo passa psicologicamente da alegria de ser para a satisfação de sofrer, vivendo atitude de vítima. Não conseguindo, por debilidade de valores morais, superar as situações menos felizes acomoda-se como sofredor, buscando compaixão, quando deveria lutar para despertar o sentimento do amor.
Numa vida prolongada percebe-se que as mágoas e desencantos, por serem muito comentados, parecem mais numerosos do que os momentos de risos, de felicidade, de harmonia, de aspirações belas e generosas...
Vê-se que as pessoas preferem a postura de não amadas do que a de pessoas amorosas.
A pessoa lamenta-se de nunca ter vivido a felicidade, embora tenha casado, foi mãe... Se lhe disser que foi amada, talvez antes do casamento, e que também amou, mesmo depois, quando começaram as dificuldades, foge para a bengala psicológica, perguntando:
- Que adiantou, se logo vieram as decepções e as mágoas?
Afirmando-se-lhe que a felicidade de ter sido mãe, mesmo sob o ponto de vista fisiológico, enriqueceu-na de momentos de alegria e prazer, busca o falso mecanismo defensivo:
- Deus sabe quanto são ingratos e indiferentes tais filhos...
Com essa conduta doentia, só foram registradas as angústias e frustrações, talvez trazidas por ela mesma.
Dessa forma, o sentido existencial  transformou-se em contínuo sofrimento, pelo predomínio do ego em toda a jornada.
O sofrimento é fundamental em todas as vidas,  ninguém se livra de sua presença, pela transitoriedade do corpo físico.
Podemos ver o sofrimento de dois modos: pelo ego marcado por complexos inferiores, ou pelo self idealista. O ego só anota decepção e dor, porque os valoriza, sem pensar que tal fenômeno é normal está presente na estrutura orgânica de todos, e o self extrai os melhores efeitos da reflexão enquanto dura, o significado moral, os recursos aplicados para superá-lo ou sofre-lo sem martírio, sem projeção do ego renitente e doentio.
Não precisa ser religioso para esse comportamento, porque é também logoterapêutica, por oferecer sentido existencial ao ser humano.
Muitas propostas filosóficas e psicológicas  estão enraizadas nos princípios religiosos mais antigos, desempenhando o papel dessas doutrinas antes que as mesmas fossem formuladas. Com o crescimento intelectual e tecnológico se desdobraram, como ocorreu,  com a psiquiatria que se ampliou na psicologia e que por sua vez se ampliou em várias escolas de comportamento, de terapia, de estruturação da psique e da personalidade.
Por isso, aqueles que acham que a psicologia é uma doutrina nova, resultado da elaboração  recente, enganam-se, porque os seus princípios modernos tem raízes nas religiões da Antiguidade como nos postulados da filosofia e das crenças populares de todos os tempos.
O ser humano é o enigma de si mesmo e, sempre houve interesse de conseguir-se a sua interpretação para melhor entendê-lo.
Primeiro os filósofos buscaram compreender o fenômeno da morte para decifrar os conflitos e os medos que se instalavam.
Os chamados mortos se preocuparam de desmistificar a ocorrência apavorante, demonstrando que a vida continuava em outras condições vibratórias. Daí, surgiram as primeiras comunicações entre encarnados e desencarnados, sem se perceber a grandiosidade dos acontecimentos na intimidade das furnas primitivas onde se escondiam os perigos... O temor foi a primeira reação emocional diante do estranho. Para expulsar esses inesperados visitantes, que os assustavam, as práticas exorcistas, através de tudo que a sua imaginação e sensibilidade acreditavam ter poder mágico de os libertar dos  desaparecidos pela morte e, mesmo assim, voltavam. Nessa fase surgiram, os cultos religiosos, alguns temíveis, conforme com o estágio antropológico que viviam, sutilizando-se  até quando foi possível a concepção dos recursos imateriais, de grande importância emocional, como a oração, a prática do bem, o sentimento de fraternidade em relação a todos, a ação nobre da caridade...
Apesar dessa bela conquista psicológica, os atavismos perturbadores sempre ressumam no processo da evolução, sendo necessário que os compreendam e os combatam, com o esforço da autoconfiança, da autoresponsabilidade, da autoiluminação.
A mágoa corrói os mecanismos eletrônicos do cérebro que passa a sofrer as ondas sucessivas de energia destrutiva, abrindo espaço para distonias no conjunto das reflexões e do comportamento, influenciando os sistemas nervoso simpático e parassimpático, e outros distúrbios. O ressentimento é ferrugem nas engrenagens da alma, que precisam do lubrificante da confiança e da alegria de viver, possibilitando bem-estar e alegria pessoal.
Todo indivíduo lutador, atento ao cumprimento dos deveres, com a mente cheia de ideias edificantes e de preocupações positivas, dispõe de um arsenal de recursos para os enfrentamentos e as incompreensões que encontra pelo caminho. Ninguém passa pela Terra por caminhos sempre floridos e, mesmo quando há muitas rosas, há também muitos espinhos com finalidade de protege-las.
Querer uma vida física sempre risonha e fácil é imaturidade psicológica, estado de infância não vivida, transferida para a idade adulta, pois em tudo e em todo lugar o processo de crescimento é um contínuo parto que proporciona vida, mas que traz também um quantum de dor.
Todos que alcançaram o equilíbrio emocional e espiritual passaram por pântanos morais entre amigos, correligionários e adversários, sem se deixar abater ou continuar nas faixas de sofrimento. Superaram muitos desertos e experimentaram solidão e quase ficaram desamparados. Mas, por ter se mantido com o pensamento no êxito e não só no caminho a percorrer, alcançaram os degraus róseos do sentido existencial, da vida plena, sem ressentimento, porque perceberam que a alegria sempre esteve presente no período difícil de esforço e de sacrifício.
Compreenderam que a semente que quer ser árvore deve arrebentar-se para atingir o destino que lhe está reservado. E, quando o faz, veste-se de vitalidade e ferve, crescendo e ficando bela, até quando explodir em flores e frutos, sementes e lenho a que está destinada.
Assim é o homem, que precisa vivenciar as transformações naturais que o arrancam do estágio de criança maltratada para o da maturidade de adulto realizado.
Nesse processo está embutida a gratidão à vida e à oportunidade de ser pleno.
Texto trabalhado do livro Psicologia da Gratidão, de Joanna de Ângelis, psicografado por Divaldo Pereira Franco. Elaboração de Adáuria Azevedo Farias. Publicado em 26/12/15.




sexta-feira, 25 de dezembro de 2015

Andei pensando, o que oferecer hoje aos queridos amigos que nos acompanham nas  leituras? Lembrei então que todos temos junto de nós, vivendo conosco, algum ente muito querido que se encontra viajando por essa fase solene da vida, chamada entre nós de idade da velhice. Recorri então ao grande pensador considerado o Apóstolo do Espiritismo, o francês Léon Denis. Vamos ver o que ele nos diz na sua linguagem tão poética que caracteriza os seus escritos e embala nossas almas; dizendo e, ao mesmo tempo, ensinando com doçura . Vamos aprender com ele a viver e a conviver conosco e ou com os nossos entes tão queridos que vivenciam fase tão importante e rica da grande lei circulatória da vida evolutiva, como o Espiritualismo Moderno nos aponta. Vejamos então Léon Denis diz assim:
Perdoem-me eu apenas o copiei. Não foi permitido alguns ajustes e acertos

"A velhice é o outono da vida; no último declínio, a vida está no inverno.  Somente com o pro-nunciar esta palavra — velhice — sente -­se já o frio que sobe ao  coração; a velhice, segundo o modo de ver comum dos homens, é a decrepitude, a  ruína; ela recapitula todas as tristezas, todos os males, todas as dores da vida; é o  prelúdio melancólico e aflitivo do último adeus. Há aí um grave erro. Em regra geral  nenhuma fase da vida humana é inteiramente deserdada dos dons da Natureza, e  muito menos das bênçãos de Deus. Por que o derradeiro quartel da existência, o que  precede imediatamente a coroação do destino, será mais triste que os outros? Seria  uma contradição — e esta não pode existir na obra divina — onde tudo é harmonia  comparável à da composição viva de um concerto impecável.  Ao contrário, a velhice é bela, é grande, é santa. Vamos estudá ­la um instante,  à luz pura e serena do Espiritualismo.  Cícero escreveu um eloquente tratado sobre a velhice. Sem dúvida, tornamos  a encontrar nessas célebres páginas alguma coisa do gênio harmonioso desse grande  homem; é, no entanto, uma obra puramente filosófica, e que só contém vistos frios,  uma resignação estéril e abstrações puras.  Precisamos colocar­nos em outro ponto de vista, para compreender e admirar  a peroração augusta da existência terrestre.  A velhice recapitula todo o livro da vida; resume os dons das outras épocas da  existência, sem as ilusões, nem as paixões, nem os erros.  O ancião viu o nada de tudo quanto deixa; entreviu a certeza de tudo o que há  de vir; é um vidente. Sabe, crê, vê, espera. Em torno da fronte, coroada de cabeleira  branca qual a faixa hierática dos antigos pontífices, paira majestade sacerdotal. A  falta de reis, entre certos povos, eram os velhos que governavam.  A velhice é ainda, e apesar de tudo, uma das belezas da vida, e certamente  uma de suas mais altas harmonias.  Diz­se  muitas  vezes:  que  belo  velho!  Se  a  velhice  não  tivesse  estética  especial, por que tal exclamação? Entretanto, é preciso não esquecer de que, em  nossa época, “há — já o dizia Chateaubriand—muitos velhos, o que não é a mesma  coisa, e — poucos anciães!” O ancião, com efeito, é bom, indulgente, estima e  encoraja a mocidade; seu coração não envelheceu. Os velhos, porém, são ciumentos,  malévolos e severos; e, se nossas gerações novas perdem o culto de outrora pelos

antepassados,  não  é,  precisamente,  porque  os  velhos  deixaram  de  ter  a  alta  serenidade, a benevolência amável que fazia, primitivamente, a poesia dos antigos  lares?  A velhice é santa, pura quanto à primeira infância; por isso, aproxima­-se de  Deus e vê mais claro e mais longe nas profundezas do Infinito.  Ela  é,  em  realidade,  um  começo  de  desmaterialização.  A  insônia,  característico  ordinário  dessa  idade,  disso  oferece  a  prova  material.  A  velhice  assemelha­se à vigília prolongada, à vigília da eternidade, e o velho é uma espécie  de sentinela avançada, na extrema fronteira da vida; já tem um pé na terra prometida  e vê a outra margem, a segunda vertente do destino. Daí essas ausências estranhas,  essas distrações prolongadas que costumamos tomar por enfraquecimento mental e  que são, em realidade explorações momentâneas no Além, isto é, fenômenos de  expatriação passageira. Eis o que nem sempre se compreende. A velhice tem­se dito  muitas vezes, é à tarde da vida, é à noite. À tarde da vida, em verdade; mas, há  tardes belas e poentes com reflexos de apoteose.  É à noite; mas, a noite é tão bela, com o seu ornato de constelações!  Igual  à  noite,  a  velhice  tem  suas  vias­lácteas,  suas  estradas  brancas  e  luminosas, reflexo esplêndido de longa vida, cheia de virtude, de bondade, de honra!  A velhice é visitada pelos Espíritos do Invisível, tem iluminações instintivas; um  dom maravilhoso de adivinhação e profecia; é a mediunidade permanente, e seus  oráculos são os ecos da voz de Deus.  Eis por que são duplamente santas as bênçãos do ancião.  Devem­se guardar no coração os últimos transportes do ancião que morre  qual o eco longínquo de uma voz amada de Deus e respeitada pelos homens.  A velhice, quando é digna e pura, assemelha­se ao nono livro da Sibila que,  por si só, vale o preço de todos os outros, porque os recapitula e, resumindo todo o  destino humano, anula os outros livros.  Prossigamos nossa meditação sobre a velhice, e estudemos o trabalho interior  que nela se estabelece.  “De todas as histórias — diz­se — a mais bela é a das Almas”. Isso é  verdade. É belo penetrar nesse mundo interior, e surpreender as leis do pensamento,  os movimentos secretos do amor.  A Alma do ancião é uma cripta misteriosa, esclarecida pela Alba inicial do  sol do outro mundo. De igual forma que as antigas iniciações se davam nas salas  profundas  das  pirâmides,  longe  do  olhar  e  do  ruído  dos  mortais,  abstratos  e  inconscientes, paralelamente, na cripta subterrânea da velhice dão­se as iniciações  sagradas, que preludiam as revelações da morte.  As transformações, ou melhor, as transfigurações operadas nas faculdades da  Alma, pela velhice, são admiráveis. Esse trabalho interior resume­se em uma única  palavra: a simplicidade.

A velhice é eminentemente simplificadora de tudo. Simplifica, a principio. O  lado­material da vida; Suprime todas as necessidades irreais as mil necessidades  artificiosas que a mocidade é a idade madura nos tenham criado e que faziam. De  nossa existência complicada, verdadeira escravidão, servidão, tirania. Já o dissemos  acima: que é um começo de espiritualização.  Dá­se  o  mesmo  trabalho  de  simplificação  na  inteligência.  As  coisas  adquiridas tornam­se mais transparentes; no fundo de cada palavra, encontra­se a  idéia, entrevê­se Deus.  O ancião tem uma faculdade preciosa: a de esquecer. Tudo que lhe foi fútil,  supérfluo na vida, apaga­se; só conserva na memória, qual o fundo de um cadinho, o  que foi substancial.  A fronte do velho não tem mais a atitude altiva e provocadora da mocidade, a  da idade viril; ela pende, sob o peso do pensamento, lembrando um fruto maduro.  O ancião curvo a testa e inclina­se sobre o coração. Procura converter em  amor tudo quanto lhe resta de faculdades, de vigor, de lembranças. A velhice não é  uma decadência: é realmente um progresso. Caminhada avante para o termo; e esse  título é uma das bênçãos do Céu.  A velhice é o prefácio da morte; é o que a torna santa, igual à vigília solene  que faziam os iniciados antigos, antes de levantar o véu que cobria os mistérios. A  morte é, pois, uma iniciação.  Todas as religiões e todas as filosofias têm tentado explicar a morte; bem  poucas lhe têm conservado o verdadeiro caráter.  O  Cristianismo  divinizou-­a;  seus  santos  encararam-­na  nobremente,  seus  poetas cantaram­na por uma libertação. Entretanto, os santos do Catolicismo só  viram nela as exonerações da servidão da carne, o resgate do pecado, e, por isso  mesmo, os ritos funerários da liturgia católica espalham uma espécie de terror sobre  essa peroração, aliás, tãonatural, da existência terrestre.  A morte é simplesmente um segundo nascimento deixamos o mundo pela  mesma razão por que nele entramos, segundo a ordem da mesma lei.  Algum  tempo  antes  da  morte,  um  trabalho  silencioso  se  executa.  A  desmaterialização já está começada. Poderiam verificá-­la por certos sinais, quantos  rodeiam o moribundo, se não estivessem distraídos pelos fatos externos. A moléstia  goza aqui de papel considerável. Ela acaba em alguns meses, em algumas semanas,  em alguns dias, apenas, o que o lento trabalho da idade havia preparado: é a obra I  de “dissolução” de que fala o Apóstolo Paulo. Essa palavra dissolução é muito  significativa: indica nitidamente que o organismo se desagrega, e que o perispírito se  “desliga”do resto da carne em que estava envolvido.  Que se passou nesse momento supremo, a que todas as línguas chamam  “agonia”, isto é, o último combate? Pressente-­se, adivinha-­se.  Um grande poeta moribundo traduziu tal instante solene neste verso:

“É este o combate do dia e da noite”.  Com efeito, a Alma entra em um estado crepuscular, está no limite extremo,  na fronteira dos dois mundos e é visitada pelas visões iniciais daquele em que vai  entrar. O mundo que deixa, envia­lhe os fantasmas da lembrança e todo um cortejo  de Espíritos lhe aparece do lado da aurora.  Ninguém morre só, pela mesma forma que ninguém nasce só. Os invisíveis  que o conheceram, que o amaram, que o assistiram aqui, em nosso orbe, vêm ajudar  o moribundo a desembaraçar­se das últimas cadeias do cativeiro terrestre.  Nessa hora solene, as faculdades aumentam; a Alma, já meio desprendida,  dilata­se; começa a entrar em sua atmosfera natural, a retomar a vida vibratória  normal, e é por isso que, nesse momento, se revelam, em alguns agonizantes,  fenômenos curiosos de mediunidade.  A Bíblia está cheia dessas revelações supremas. A morte do patriarca Jacó é o  tipo perfeito da desmaterialização e de suas leis. Os doze filhos estão reunidos em  torno do leito, formando uma viva coroa funerária. O ancião recolhe­se e, depois de  reconstituir o passado, as lembranças, profetiza a cada uma deles o futuro da família  e de sua raça.  A vista se lhe estende mais longe ainda: percebe na extremidade dos tempos  aquele que deve um dia recapitular toda a mediunidade secular do velho Israel: o  Messias, e mostra, por último rebento de sua raça, aquele que resumirá toda a glória  da posteridade de Jacó.  Nenhum Faraó, em seu orgulho, morreu com tanta grandeza quanto esse  velho obscuro e ignorado, que expirava a um canto da terra de Gessen.  Voltemos ao atoda morte. A desmaterialização está completa; o perispírito se  desprende do invólucro carnal, que vive ainda algumas horas, talvez, de uma vida  puramente  vegetativa.  Assim,  os  estados  sucessivos  da  personalidade  humana  desenrolam­se  em  ordem  inversa  àquela  que  preside  ao  nascimento.  A  vida  vegetativa, com que o ser havia começado no seio maternal, é agora a última a  extinguir­se; a vida intelectual e a vida sensitiva são as duas primeiras que partem.  Que se passa então? O Espírito, isto é, a Alma e seu envoltório fluídico e, por  consequência, o eu leva a última impressão moral e física que teve na Terra, e a  conserva durante um tempo mais ou menos prolongado, conforme o grau respectivo  de sua evolução. Eis por que convém rodear a agonia dos moribundos de palavras  doces e santas, de pensamentos elevados porque são estes últimos gestos, essas  últimas imagens que se imprimem nas folhas do livro subliminal da consciência; é a  linha última que o morto lerá desde sua entrada no Além, ou antes, desde quando  tiver consciência de seu novo modo de ser.  A  morte  é,  pois,  em  realidade,  uma  passagem,  uma  transição  e  uma  translação. Se devermos tomar à vida moderna uma imagem, comparemo­la a um

túnel.  Com  efeito,  a  Alma  avança  no  desfiladeiro  da  morte,  mais  ou  menos  lentamente, segundo seu grau de desmaterialização e espiritualidade.  As Almas superiores, que sempre viveram nas altas esferas do pensamento e  da  virtude,  atravessam  essa  obscuridade  com  a  rapidez  do  trem  expresso  que  desemboca, em um instante, na plena luz do vale, mas é esse um privilégio de  pequeno número de Espíritos evoluídos; são os eleitos e os sábios.  Não  falaremos  aqui  dos  criminosos,  dos  seres  animalizados,  de  instintos  grosseiros, que viveram, ou antes, vegetaram toda uma existência nos pântanos do  vício e na enxurrada do crime. Para estes é à noite, a noite cheia de terríveis  pesadelos. Temos dificuldade, entretanto, em crer que as fronteiras do Além e os  caminhos da vida errática estejam povoados desses seres terríveis a que os ocultistas  chamam elementais. Só se poderiam ver aí símbolos e imagens, reflexos, de paixões,  vícios, crimes que os perversos cometeram na Terra.  Encaremos  aqui,  apenas,  as  vidas  ordinárias,  as  existências  que  seguem  tranquilamente as fases lógicas do seu destino. É a condição comum da maior parte  dos mortais.  A Alma entrou na sombria galeria: aí fica em obscuridade, ou antes, em uma  penumbra  próxima  da  luz.  É  o  crepúsculo  do  Além.  Os  poetas,  com  muita  felicidade, têm pintado esse estado e descrito esse meio­dia, esse claro­escuro do  mundo extraterrestre.  Aqui, as analogias entre a vida e a morte são impressionantes. A criança  permanece muitos dias sem fixar a luz e sem ter conhecimento do que a rodeia; seus  olhos ainda não se abriram, e assim a irradiação do pensamento.  O recém­nascido no mundo invisível fica também ele, algum tempo sem  tomar conhecimento do seu modo de ser e de seu destino. Ele ouve, ao mesmo  tempo, os murmúrios próximos ou remotos dos dois mundos; entrevê movimentos e  gestos, que não poderia precisar, nem definir. Meio entrado na quarta dimensão,  perde a noção precisa da terceira, na qual havia até então evolvido. Não dá mais  tento, nem da quantidade, nem do número, nem do espaço, nem do tempo, pois que  seus sentidos que, quais outros tantos instrumentos de óptica, o ajudavam a calcular,  a medir, a pesar, se fecharam de repente, qual uma porta para sempre condenada.  Que estado estranho, esse da Alma, que tateia cega, nas estradas do Além! E, no  entanto, esse estado é real.  Nesse  momento,  as  influências magnéticas da prece,  das  lembranças,  do  amor, podem gozar um papel considerável e apressar o advento das claridades  reveladoras que vão iluminar essa consciência ainda adormecida, essa Alma “em  trabalhos” do seu destino. A prece, nesse caso, é uma verdadeira evocação; é o grito  de apelo à Alma indecisa e flutuante. Eis porque o esquecimento dos mortos e a  negligencia  de  seus  cultos  são  reprováveis  e  nos  acarretam mais  tarde  olvidos  semelhantes..

Esse período de transição, entretanto, e essa parada no túnel da morte são  absolutamente  necessários,  em  preparo  da  visão  de  luz  que  deve  suceder  à  obscuridade. É preciso que o sentido psíquico se vá adaptando proporcionalmente ao  novo foco que o vai esclarecer.  Uma passagem súbita, sem transição nenhuma desta vida à outra, seria um  deslumbramento que produziria perturbação prolongada. Natura non facit saltus,  disse  o  grande  Lineu;  essa  lei  rege  igualmente  os  graus  progressivos  do  desprendimento espiritual.  É  preciso  que  a  visão  da  Alma  se  engrandeça,  que  a  ave  noturna,  impossibilitada de encarar a aurora, fortaleça as pupilas, e possa igual à águia, olhar  de  face  o  Sol,  com  olhar  intrépido.  Esse  trabalho  de  preparação  executa-­se  progressivamente,  durante  a  demora, mais  ou  menos  prolongada, no  túnel  que  precede a vida errática propriamente dita. Pouco a pouco, vai à luz sendo feita; a  princípio muito pálida, Alba inicial que se ergue sobre a crista dos montes; depois, à  Alba sucede a aurora; aqui, a Alma entrevê o mundo novo em que habita; ela pode  ler em si mesma, e se compreende, graças a uma luz sutil que a penetra em toda a  sua essência. Gradualmente, todo o seu destino, com as vidas anteriores, e, antes de  tudo, com a noção consciente e reflexa da última, vai revelando­-se, qual em um  clichê cinematográfico vibratório e animado. O Espírito, então, compreende o que é,  onde está e o que vale.  As Almas, por instinto infalível, vão para a esfera proporcionado a seu grau  de evolução, à sua faculdade de iluminação, à sua aptidão atual de perfectibilidade.  As afinidades fluídicas conduzem-­na, qual doce, mas imperiosa brisa que  impele um batel, para outras Almas similares, com as quais vai unir­-se em uma  espécie  de  amizade,  de  parentesco  magnético;  e,  assim,  a  vida,  uma  vida  verdadeiramente social, mas de grau superior, reconstitui­-se, tal qual outrora na  Terra, porque a Alma humana não poderia renunciar à sua natureza. A estrutura  íntima, sua faculdade de irradiação, lhe impõe a sociedade que merece.  No  Além,  as  famílias,  os  grupos  de ­  Almas  e  os  círculos  de  Espíritos  reformam­-se segundo as leis de afinidade e simpatia.  O purgatório é visitado pelos anjos, dizem os místicos teólogos. O mundo  errático é visitado, dirigido, harmonizado pelos Espíritos superiores, dizemos nós.  Aqui, em nosso orbe terráqueo, entre os eleitos pelo gênio, pela santidade e pela  glória, houve  e haverá sempre iniciadores. São predestinados, missionários que  receberam por encargo fazer progredir o mundo na Verdade e na Justiça, com o  preço de seus esforços, de suas lágrimas e, algumas vezes, de seu sangue.  As altas missões da Alma jamais cessam. Os Espíritos sublimes, que têm  instituído e melhorado seus semelhantes na Terra, continuam em mundo superior,  em quadro mais vasto, seu apostolado de luz e sua redenção de amor.


Conforme  dissemos  no  início  destas  páginas,  é  assim  que  a  História  eternamente recomeça e se torna cada vez mais universal. A lei circulatória que  preside ao eterno progresso dos Estados e dos mundos desenrola-­se sem cessar em  esferas e mundos cada vez mais engrandecidos; tudo recomeça no Alto, em virtude  da mesma lei que faz tudo evolver no plano inferior. Todo o segredo do Universo aí  está.  As Almas, a quem a consciência acusa de haver falhado na última existência,  compreenderam a necessidade de reencarnar, e preparam-­se para isso. Tudo se agita  tudo se move nessas esferas, sempre em vibração, sempre em movimento. É a  atividade incessante, ininterrupta, progressiva, eterna. O trabalho dos povos na Terra  nada é, em comparação com esse labor harmonioso do Universo. Lá em cima,  nenhum empecilho material, nenhum obstáculo  carnal faz parar os surtos, nem  entibia ou enfraquece o voo. Nenhuma hesitação, nenhuma ansiedade, nenhuma  incerteza. A Alma vê o fim, sabe os meios, precipita­-se no sentido em que se deve  dirigir.  Quem nos poderá descrever a harmonia dessas inteligências puras, o esforço  dessas vontades firmes, o impulso desses amores mais fortes que a morte?  Que  linguagem  poderá  jamais descrever  a  comunhão  sublime  e  fraternal  desses Espíritos que mantém entre si diálogos ardentes quanto o éa luz, sutis quanto  o são os perfumes, onde cada vibração magnética tem eco no próprio imo de Deus?  Tal é a vida celeste; tal é a vida eterna; são essas perspectivas que a morte abre  definitivamente diante do Espírito! O homem! Compreende, pois, teu destino, sé  altivo e feliz de viver; não blasfemes da lei de amor e beleza que abre diante de ti  caminhos tão amplos e radiosos! Aceita a vida tal qual são, com as suas fases,  alternativas,  vicissitudes;  ela  é  o  prefácio,  o  prelúdio  de  uma  outra  vida  mais  elevada, onde planara qual águia na imensidade, depois de haveres penosamente  rastejado em um mundo material e imperfeito.  Não é, pois, com um hino fúnebre que devemos acolher a morte, e sim com  um cântico de vida, porque não é o astro da tarde que se ergue cruel, mas a estrela  radiosa da verdadeira manhã.  Canta ó alma, o hino triunfal, o hosana do novo século, no qual tudo irá  nascer para destinos mais gloriosos. Sobe sempre mais alto na pirâmide infinita da  luz; e, semelhante ao herói da legenda do Excelsior, vai fixar tua tenda nos Tabores  radiosos do Incomensurável, do Eterno!" 
Livro: O Grande Enígma Escrito por Léon Denis Dia 25/12/2015

quinta-feira, 24 de dezembro de 2015


BINÔMIO SAÚDE-DOENÇA

Todas as pessoas devem alcançar primeiro a saúde real integral.

Caracterizada pelo bem-estar emocional, equilíbrio psíquico, harmonia fisiológica e normalidade socioeconômica, a saúde deve ser considerada um tesourotalento – sua estabilidade  resulta, principalmente do comportamento moral. Apesar da hereditariedade ser fundamental, a sua constituição genética é influenciada pelo Espírito no seu programa reencarnatório, em vista das necessidades evolutivas impostas pelas Leis.

Como o Espirito é o responsável pelos seus atos, especialmente os negativos, aqueles que  causam sofrimentos e dor aos outros, eles desenham-se nos tecidos do períspirito, e ali imprimem o mapa das necessidades reparadoras que serão impressos no código genético, onde estão os recursos materiais para se exteriorizar.

Surgem as anormalidades, deficiências mentais, limitações orgânicas, dificuldades psicológicas, sofrimentos físicos, sistema imunológico incapaz de defender o organismo que o hospeda pelo renascimento, contraindo, enfermidades várias, como mecanismos de reparação moral e espiritual necessários à paz.

Quando os fatores que causam a doença não  vem do descuido e abusos da atualidade, como é comum, especialmente com relação a observação da preservação do equilíbrio e do desenvolvimento psiquicofísico, são responsáveis pelas dores e desgastantes que surgem como doenças crônicas, passageiras, repetitivas, eventuais..., as heranças do passado.

O corpo sofre alterações conforme o usa, tanto na sua estrutura orgânica, na natureza mental ou emocional. Essa tríade que forma a realidade do ser – mental emocional e fisiológica – é regida pelo Self (o Ser real, o Espírito imortal) que, dominado pelo ego sob os impulsos do primarismo, mantendo o desequilíbrio abre espaço a disfunções normais, como um veículo mal utilizado ou com precária manutenção.

A doença também resulta do processo natural de envelhecimento celular, do desgaste neuronal e do seu contínuo desaparecimento, do enfraquecimento do fluido vital que mantem o equilíbrio geral, apontando o fenômeno inevitável da morte. Mesmo assim, é possível, mesmo com as disfunções e diminuição de forças, manter-se em estado saudável, harmonioso, que traga alegria e atividades responsáveis pelo ajustamento do indivíduo no grupo social.

Em razão da anterioridade das experiências humanas e de relacionamentos, renasce-se no grupo familiar, onde estão geneticamente os elementos básicos possíveis para o programa de elevação moral e espiritual, e não do que se gostaria de viver. Nesse grupo, tem-se também os familiares inamistosos de ontem que voltam a reunir-se para reorganizar-se, trabalhando as imperfeições, corrigindo a direção dos sentimentos vis do passado, pela fraternidade, o respeito que deve haver entre todos.

Por tudo isso o cérebro não é, uma folha de papel em branco, como pensam alguns estudiosos da psicologia. Na sua constituição, não traz marcas,  mas serão registradas mais tarde pelo Espírito em processo de reencarnação...

Pelas várias situações criadas nas vidas passadas, enfrenta-se uma mãe perversa ou descuidada, uma super-mãe ou uma inimiga obstinada que agride e magoa sem  dó. Às vezes, é o pai irresponsável ou atormentador, alcoólatra ou déspota, que parece descontar a sua infelicidade na prole, especialmente nesse ou naquele descendente, o mais comprometido, no grupo doméstico. Há também, irmãos e outros membros do grupo que serão formados por companheiros de caminhada anterior, nem sempre feliz ou digna, abrindo espaço  à felicidade do grupo ou aos mal-entendidos repetidos produzindo desgostos e crimes, às vezes, hediondos: todo tipo de abusos, como a pedofilia, parricídio, infanticídio, uxoricídio, perseguições sistemáticas...

Por isso, há as famílias vinculadas pelos laços espirituais e as resultantes dos fenômenos biológicos, consanguíneas.
Nas duas estão presentes as necessidades da evolução.

Quando se tem consciência disso, percebe-se que a saúde é um talento precioso que o Senhor da Vida oferece ao Espirito reencarnado, e cuja aplicação vai ser cobrada mais tarde. Quem desperdiça a oportunidade de um corpo harmônico, de um conjunto emocional e psíquico lúcido sem experiências expiatórias ou provas, é como o servo mal, negligente, que enterrou o talento sendo o mesmo um pouco mais irresponsável porque desperdiçou o valor, aplicando-o negativamente...

Com esse conhecimento das ocorrências que contribuem para a saúde ou abrem espaço para as doenças, congênitas ou adquiridas ao longo do curso existencial, o despertar do Self torna-se uma aflição para o ego totalitário e dominador. Mas, na segunda fase da vida, quando vem a maturidade  e o individuo já estagia na extroversão ou  introversão, é necessário o discernimento que o chama para refletir sobre a sua realidade em relação ao passageiro da vida.

Quase ninguém normal, pode viver na inconsciência de si mesmo indefinidamente. Os mecanismos que regem o corpo e a mente propiciam  o despertar dos interesses para o que já não atende aos hábitos, porque se repetem, sem sentido psicológico, monótono, despertando o herói adormecido que precisa ir a um país longínquo, onde as experiências são novas e desafiadoras.

É preciso investir os recursos da mente e da emoção, como, talentos preciosos, para que se multipliquem e tragam ou rendam saúde e paz.

Quando isso não ocorre, a saturação e a indiferença pelos familiares e amigos surge, trazendo patologias.

Na parábola dos talentos, vê-se o Senhor que emprestou os recursos aos servos, como o Self condutor de infinitas potencialidades, que as distribui, para canaliza-las para multiplicação de resultados bons.

É importante, que o Self, como deus interior, que é permita uma crença, religiosa de preferencia, sem fanatismos nem cultos extravagantes, para melhor desenvolver-se, contribuindo para diluir toda a sombra, harmonizando o anima-us para vivenciar os benefícios da vida.

A crença em Deus, o conhecimento de Jesus, não mais como arquétipos, mas, como realidades que transcendem a compreensão imediata do ego e que se encontram no Self, traz imensa satisfação de viver e de lutar, por poder-se considerar a grandeza do Homem de Nazaré e Suas vitórias como exemplo para todos, representando a saúde integral.

O cientista como o artista, mesmo sem vinculo com  crença religiosa, tem uma experiência também religiosa pela adesão do Self (do Eu profundo, do Eu real, do Espírito) com os objetivos existenciais a que se entrega, vivendo autorrealização e alegria de viver responsáveis pela saúde.

São também talentos importantes, que devem ser considerados como de maior importância entregue pelo Senhor – o Self  - ao servidor da vida...

O confronto, entre Self e ego, normalmente na segunda fase da vida do ser humano, período de conscientização, é inevitável, com todas as  consequências benéficas para a saúde.

Nessa fase, pode ocorrer os efeitos colaterais dessa força, que é o Self, surgindo alguns desconfortos emocionais e físicos, que não deve ser considerada doenças, mas resultado das transformações que vêm acontecendo no mundo íntimo do indivíduo que se conscientiza da realidade. Como o ego é perseverante, pode aproveitar a circunstância e incutir entusiasmo exagerado, quase narcisista, cuja necessidade de buscar a tranquilidade da natureza, a meditação, a prece, apresentando-se a tentação de o mesmo transformar-se em guia e líder de outros, infelizmente sem estrutura plena para empreendimento desse tipo.

Nessa fase, em contínuo esforço para a filtragem entre o inconsciente coletivo e o Self, surge a personalidade-mana, cuja energia poderosa que invade o ser precisa ser orientada. A criatividade, é mecanismo saudável para diminuí-la, pela sua aplicação, dando uma canalização bem dirigida, que harmoniza o indivíduo. Essa criatividade pode vir do períspirito – como inconsciente coletivo – onde estão registradas as experiências passadas, que agora se expressam como arte, pensamento, ciência, tecnologia... Nesse despertar do mana, a consciência tem papel importante, que é estabelecer parâmetros elevados para que sejam alcançados os objetivos que,  transformam-se em saúde e libertação de doenças.

Para atingir tais metas vem os desafios, que animam à avançar e são constantes, vencido um,  surge outro mais amplo e complexo, impondo a necessidade de encontrar um significado psicológico grandioso para a vida.

Nesse processo de estruturação da realidade psicológica e espiritual do ser, após o enfrentamento da sombra e sua aceitação, harmonizando o anima-us, torna-se possível conectar-se com todas as coisas existentes, em contínuos fluxos de sentimentos, como montanhas, vales, vegetais e animais, as criaturas humanas...

Assim, o Self torna-se a única razão da natureza essencial do ser – o Espirito imortal!
A busca da saúde, transforma-se em objetivo próximo, insuficiente, para alcançar-se a totalidade, a individuação, que se amplia no sentido existencial em relação ao mundo em que se vive.

As aspirações multiplicam-se, quebrando as amarras do egoísmo e libertando as manifestações altruísticas responsáveis pelo progresso da sociedade e do indivíduo.

Nesse sentido, para conseguir o êxito, a educação dos sentimentos é muito importante para uma vida saudável, ou seja, um comportamento jovial e feliz nas várias situações, quando enfermo ou não.

Como a saúde não pode ser considerada como falta de doença, mas um estado agradável de vida, onde ocorrências internas podem ser administradas, sem danos ou prejuízos para as atividades normais, muitas vezes ocorrem desgastes que, mais tarde, se apresentam como desestruturações dos equipamentos orgânicos pedindo tratamento e equilíbrio emocional.

No processo que leva ao numinoso, o binômio saúde-doença abre espaço à saúde integral, que resulta do equilíbrio interior do ser humano.

Nem sempre, o individuo consegue esse estado de harmonia só, precisando de ajuda especializada, para ter coragem de avançar guiado pelo país longínquo, para evitar os transtornos que lhe deram experiência, mas muito martirizaram o filho pródigo, filho pródigo que todos são na busca da sua realidade.

O Self distribui talentos e cobra a sua aplicação, deixando de ser prepotente, como era na fase primária, revelando o ser que é, em outra hipótese, o que poderá ser, nessa formosa aventura da autoconquista.

Saudável, o ser encontra a plenitude...


Texto do livro Em Busca da Verdade de Joanna de Ângelis, Psicografado por Divaldo Pereira Franco. Trabalhado por Adáuria AzevedoFarias. 24/12/15.