domingo, 13 de outubro de 2013


 

SER-SE INTEGRALMENTE

Cap. 5 – CONVIVER E SER, do livro, EM BUSCA DA VERDADE

Divaldo Franco/Joanna de Angelis 

A DICOTOMIA PSICOLÓGICA DO TER-SE E DO SER-SE constitui grave questão no comportamento individual e social da Humanidade. 

Educa-se a criança, invariavelmente, para ter, para triunfar na vida e não sobre a vida com as suas dificuldades, mas para possuir e gozar. 

Como felizmente, a existência não se constitui exclusivamente das sensações, mas especialmente das emoções, e o ser é mais psicológico do que fisiológico, mesmo quando o ignora, é natural que esse conflito esteja presente em todos os instantes nas reflexões, nas ambições, nas programações existenciais. 

Como consequência dessa falsa concepção tem-se uma visão neurótica do mundo e de Deus, que teriam como função precípua e exclusiva atender aos desejos e caprichos do ser humano, destituindo-o da faculdade de pensar e de agir, como alguém numa viagem fantástica por um país utópico, no caso, o planeta terrestre. 

Quando algo constitui uma incitação à luta em favor do crescimento intelecto-moral, ao desenvolvimento espiritual, a conduta neurótica espera que tudo lhe seja solucionado a passe de mágica, pelo fenômeno absurdo da crença religiosa, mediante um milagre, por exemplo, ou uma concessão especial, que lhe constitua privilégio, como se fosse um ser excepcional...Como todos assim pensam, resulta que o conceito em torno desse deus apaixonado e antropomórfico, transferência inconsciente da imagem do pai que foi superada durante o desenvolvimento orgânico e mental, sofrem o impacto da descrença, da decepção, da amargura, que dão lugar a conflitos perturbadores. 

Se a educação infantil se preocupasse em preparar a criança para tornar-se um ser integral, sem fraccionamentos, utilizando-se de todos os preciosos recursos de que é constituída, à medida que evoluísse não experimentaria os tormentos das frustrações defluentes das lutas pelo ter e pelo poder. 

Ao mesmo tempo, o conceito de Deus inerente e transcendente a tudo e a todos, como a força inicial e básica de todo Universo, evitaria a transferência do conceito paterno, mantendo-lhe, não obstante, a aceitação da Causalidade absoluta. 

O Si-mesmo com facilidade identificaria os objetivos reais da existência, evoluindo com os processos orgânicos e psíquicos, sem apequenar-se diante das necessidades que se apresentam durante o crescimento espiritual. 

Esse programa educativo evitaria a criança interior ferida pela negligencia ou superproteção dos pais, facultando-lhe um desenvolvimento compatível com o nível de evolução em que estagia cada Espírito. 

O conceito de culpa seria examinado sem castrações, demonstrando que é perfeitamente normal a sua presença, resultado inevitável do cair em si  após comportamentos irregulares, aceitando-a e libertando-a por intermédio da reabilitação, do processo de recomposição dos danos que foram causados pela presunção ou pela ignorância. 

Uma vida saudável estrutura-se no ser e não naquilo que se tem e com frequência muda de mãos. 

O ter e o poder transformam-se em algozes do indivíduo, porque se transferem do estado de posse para tornar-se possuidores, escravizando-o na rede vigorosa do egoísmo e dos interesses subalternos. Produzem conceitos falsos nos relacionamentos humanos, porque dão a impressão de que não são amados, sendo que, todos aqueles que se acercam estão mais interessados nos seus recursos do que naqueles que lhes é detentor. De certo modo, infelizmente assim ocorre na maioria das ocasiões, havendo exceções respeitáveis. 

O indivíduo não é o que tem ou o que pensa administrar, mas são os seus valores espirituais, a sua capacidade de amar, os tesouros inalienáveis da bondade, da compaixão, do sentido existencial. 

Em face da ilusão em torno da perenidade da vida material, os apegos às posses levam aos conflitos, à insegurança, às suspeitas, muitas vezes, infundadas, porque são fugidios e o que proporcionam é de efêmera duração. Sai-se de uma experiência dominadora para outra mais escravista, tendo os interesses fixados no ego e nos fenômenos dele decorrentes, quais sejam a ambição de mais ter e de mais poder, responsáveis pela prepotência, pela arrogância, que são seus filhos espúrios, ao invés da luta para conseguir alcançar a realidade interna. 

O presente texto continuará na próxima postagem, aguardem...
Postado em 13/10/13.

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