quarta-feira, 13 de maio de 2020





GRAVITANDO EM TORNO DE DEUS
Psicologia da Gratidão
GRATIDÃO E ALEGRIA DE VIVER

Na solução dos conflitos, é essencial a aplicação da imaginação ativa, ao lado dos sonhos, para que se encontre a sua psicogênese.
Na aplicação da imaginação ativa é essencial se encontrar um nível que alcance a fronteira da consciência com o inconsciente e se permita viver momentos que não foram vividos realmente.

Transferidos automaticamente como mecanismo de fuga da realidade, ficando ali adormecidas e dali ressumando, muitas vezes, como expressões perturbadoras.

Cada indivíduo é o resumo de energias, possibilidades e arquétipos que não foram utilizados, por terem sido considerados pelo ego como prejudicial, que procura escolher o que é positivo do que lhe pode ser prejudicial, reprimindo-as imediatamente.

Ficando o devir, de alguma forma, ligado a essas ocorrências que não permite que se realize.

Como alguém com potencial para as artes, e faz uma escolha para uma profissão liberal na qual adquire garantia financeira e se mantem bem na vida. É natural que essa tendência e suas possibilidades fiquem reprimidos no inconsciente por falta de tempo, de oportunidade para se expressar.

A mesma coisa ocorre com uma mulher que se dedica ao lar, tendo imensa aptidão para atividades universitárias ou outras fora da atividade doméstica. Essas tendências ficarão  no subsolo da consciência vibrando ou criando desconforto no convívio com a família, a sua realidade escolhida.

Essas tendências poderão ser vivenciadas através da imaginação ativa, de forma simbólica ou real, quando surgirem momentos adequados, sem prejuízo para os deveres já assumidos.

Assim, é possível viver essas potencialidades de maneira consciente no mundo dos relacionamentos sociais, ou intimamente no prazer de as realizar de forma simbólica, aplicando os seus recursos na atividade escolhida.

É provável que os sonhos tornem possível essa realização, como se a pessoa tivesse encontrado o roteiro de harmonia que buscava, ficando frustrada pela falta de vivencia correspondente.

Quando não consegue a experiência vívida, podem surgir sinais de amargura, de incompletude, de traumas psicológicos no comportamento feliz...

É comum, numa vivencia de imaginação ativa, sentir-se que teria sido ideal que a vida tivesse tomado outro rumo...

É frequente, a escolha, por exemplo, dos vestibulares, quando o jovem precisa escolher entre o que gostaria de fazer e o que é mais lucrativo. Quando escolhe a segunda possibilidade, durante o curso, sentindo-se incompleto e incapaz, abandona o curso e volta a iniciar o que lhe fala o inconsciente pela tendência que predomina no mundo interior.

Pessoas que tem uma vida acomodada, em boas condições financeiras, tem uma família bem estruturada, cumprem os seus deveres, mas mesmo assim tem devaneios da imaginação, vivem outras condutas que lhe dão alegrias. Quando estão a sós e dão espaço à imaginação sorriem, gesticulam, expressam felicidade, voltando logo  à realidade com frustrações...

O ego, percebendo que tais comportamentos não são convenientes ou podem trazer dissabores, reprime essas possibilidades, empurrando-as para os porões do inconsciente onde ficam aguardando...

É justificável e ética a vivencia, mesmo que pela  imaginação ativa dessas aspirações não realizadas. Elas não são prejudiciais, havendo, sem dúvida, exceção, por ser um estímulo para continuar vivendo a vida no trabalho escolhido como mais produtivo.

Depois de vivenciar pela imaginação o significado real da vida, pode-se manter o compromisso assumido e também experienciar viver alguns momentos reais daqueles desejos reprimidos sem estar cometendo crime algum. O executivo ou o profissional liberal bem colocados na sociedade podem tentar a utilização da arte nos seus compromissos, pelo menos como hobby, como divertimento terapêutico.

A mãe e esposa dedicada pode se dar o direito de administrar a família de forma racional, aplicando os seus conhecimentos na empresa domestica ou, depois de usar o tempo que tem de maneira equânime, dedicar-se a qualquer empreendimento que enriqueça interiormente, completando-lhe as aspirações saudáveis.

Muitas vezes a gratidão penetra ou surge sutilmente no comportamento dos indivíduos que, por falta de hábito, por timidez e ou constrangimento, não se encorajam a expressá-la, reprimindo sem motivo.

Como a gratidão precisa do amor para se tornar completa, a pessoa deve exercitar a imaginação ativa, vivenciando-a em todas as situações da sua vida, expressando-a intimamente, oferecendo-a com sorrisos silenciosos, sendo útil à comunidade que começa na intimidade da família, com os esforços para manter a gentileza e o carinho em qualquer situação.

Pode fazer também através da oração dirigida ao seu próximo, em vibrações harmônicas de bondade e de desejos fervorosos em benefício dos outros.

A fé adquire expressão inesperada, leva o indivíduo a ações audaciosas e a atitudes  eloquentes, não revidando mal por mal, porque descobre que no aparente mal que lhe desejam afligir há um grande bem, pela possibilidade de superar a inferioridade moral que sempre reage, agindo com equilíbrio e compaixão pelo seu opositor.

Nesse capítulo, a fé deve ser racional, mas também chega o momento em que ela ultrapassa o limite da lógica e entrega-se em totalidade. Assim fizeram os mártires de todos os tempos e de todos os ideais... Doaram-se sem hesitar.

Conta-se que um alpinista subia um paredão desafiador à noite, quando caiu no abismo e, durante a queda que lhe seria fatal, foi salvo por um solavanco da corda de proteção cravada por grampos seguros na montanha.

Recuperando a calma e temendo morrer congelado durante a madrugada, orou fervoroso, suplicando o socorro de Deus.

Ouviu uma voz que lhe sugeriu que cortasse a corda que o prendia à altura.

Achou a sugestão incomum, temeu cair no despenhadeiro ao cortar a corda, sendo a sua morte fatal, por isso não seguiu a sugestão.


No dia seguinte, quando chegou o socorro e o encontrou congelado, os membros lamentaram que ele não tivesse cortado a corda, pois estava a menos de um metro do piso protetor, quando teria salvado a vida...

Divaldo Pereira Franco no livro, Psicologia da gratidão. Trabalhado e editado por Adáuria Azevedo Farias. 13/05/2020.

terça-feira, 5 de maio de 2020


GRAVITANDO EM TORNO DE DEUS
Psicologia da Gratidão
A GRATIDÃO COMO NORMA DE CONDUTA

Do ponto de vista teológico podemos considerar a gratidão uma virtude como a fé, a esperança, a caridade e outras, assim nos ensina Joanna de Angelis.

Mas, para que se seja grato, é necessário que se tenha fé, que se tenha certeza do significado da vida, dos seus valores e possibilidades, é preciso se acreditar no ser humano, considerando que, numa transição para patamares mais importantes, precisamos de apoio para nos auto superar, e alcançar o degrau da evolução mais elevado.

No ato gratulatório tem-se a esperança  considerando o futuro como meta a ser alcançada pelo exercício dos sentimentos nobres, e a certeza de que vale a pena todo esforço que dignifica.

Enfim o exercitar a caridade na sua essência como o agradecer expressando o amor por ser  vital em qualquer ação moral e espiritual. Sem isso, a gratidão conduz pouco vigor e pouca riqueza emocional.

Cada experiência no caminho da evolução, da mesma forma que com a gratidão, é  amadurecimento psicológico, que traz  harmonia interior e estimula o esforço para o auto crescimento.

O Self  vivenciando os atavismos, se apresentando como herança psicológica, sob a forma de comportamento e até mesmo na sua expressão biológica, se esforça para sublimar sua sombra, ao mesmo tempo influencia o ego quanto a necessidade de autotransformação das metas próximas para as transcendentes.

Desmaterializar as ambições egoicas para transcende-las como aspirações psicológicas profundas dando  significado à vida sob o esforço constante no seu relacionamento com a persona. Se encontra a persona presa aos interesses imediatos de respostas agradáveis, mesmo que não sejam verdadeiras, a persona se satisfaz em manter-se vibrante, ainda que perceba que não consegue esconder as necessidades emocionais daqueles que se submetem ao seu encantamento.

Assumir a realidade, retirando as fantasias e os mitos enganosos, deve ser a proposta do si profundo, por conhecer o que é legítimo e traz harmonia e o que é prazeroso, mas de resultados amargo e doentio para a emoção.

Ninguém pode viver escondendo a sua rearealidaderealirealidaderealidade, porque o realidade por isso o tempo, na sua marcha natural, tira os véus que disfarçam  os contornos da vida e escondem a sua autenticidade.

É essa teimosa fuga de si mesmo que leva as criaturas à conflitos e consequentemente a transtornos no comportamento, com o consumo de energia emocional para parecer, e não no esforço natural criativo e renovador para ser.

Arquétipos novos podem, ser gerados possibilitando os significados da evolução, e os outros os perturbadores vão abrindo espaço para novas formulações trazendo grande alegria pelo seu cultivo.

Ao ocorrer o autoenfrentamento sem receio e como uma ação do autoamor, muitos tesouros da emoção podem ser descobertos e a alegria de viver deixa de ser na busca do consumismo e da troca de quinquilharias para conteúdos de amor, de intercâmbio, de paz e de gratidão.

A gratidão envolve-se de força estimuladora para todos os empreendimentos vitais, tornando-se uma norma de conduta.

Quem é grato, é abençoado pela felicidade, pela saúde, distribuindo ondas de júbilo que o envolvem, contaminando a todos  que se aproximam. Nós nos referimos muito mais ao contágio do mal, das doenças, dos dissabores, da infelicidade. Mas da mesma forma tudo também ocorre no que se refere a alegria, a esperança, a comunicação jubilosa, ao serviço edificante assim como a conquista da saúde.

O convívio com pessoas saudáveis permite impregnar-se de estímulos que já não funcionavam. Diante de alguém que sorri, abençoado pela harmonia pessoal, todos querem alegrar-se também, querem participar do festival do júbilo, da mesma forma que ocorre ao botão de rosas que desata as pétalas, exteriorizando o perfume que lhe é próprio, abrindo-se delicadamente ao Sol.

A ultima etapa da imaginação ativa é  preciso que cada um tenha a sua própria experiência para que as verdades profundas sejam sentidas e se transformem em realidade.
A gratidão, também necessita ser vivenciada, pois ela não se define por palavras, é preciso que o outro a possa sentir  ou entender.

Para Kierkegaard ninguém pode dar a fé ao outro. Porque é uma conquista pessoal, intransferível. É possível, então, crer-se no inacreditável, encontrando-se todos os tabus e superstições presentes no inconsciente coletivo e que assumem realidade na imaginação dos que creem.

Essas heranças arquetípicas encontram-se tão vivas no inconsciente que, quando vem à tona, modificam-se para realidades que impregnam aos que as vivenciam.

Ocorre o mesmo com a gratidão. Como é  uma experiência pessoal, embora também ocorra coletivamente, não é resultado de uma herança arquetípica, mas sim uma conquista do self,  e expressa uma libertação do comportamento egoísta.

Há conquistas que se originam apenas na experiência, embora possam ser sugeridas teoricamente, porém apenas se tornam válidas quando se vivenciadas.

Jung dizia;“que cada avanço, mesmo o menor, através deste caminho de realização consciente, acrescenta muito para o mundo.”

Para que o indivíduo se liberte dos conflitos,  especialmente dos que geram a ingratidão, é necessário que tenha vida interior, que se organize internamente para expressar ao mundo o que quer e alcançará. Não tem porque ignorar-se o conflito, mas antes enfrenta-lo, envolvendo-o nos ideais e aspirações, reunindo a dualidade (gratidão e ingratidão) num todo harmônico, transformando-os em unidade (sentimento de gratidão) que passará a vigorar no dia a dia da existência.

Muitas vezes a gratidão se apresenta como um paradoxo. Por que se há de agradecer, quando se pode ficar no prazer? O prazer cansa, perde o sentido, produz o tédio, exige renovação.

Nenhum prazer tem espaço no consciente sem  uma perfeita liberação do inconsciente, identificação dos fatores que o produzem, as pessoas, as circunstancias envolvidas. Desconhecer  essas condições é se afastar da realidade, que se impõe pela própria razão de ser.

A gratidão, pode parecer paradoxal, por manifestar-se também quando cessa o prazer, quando surgem a dor e a desdita, como sentido natural da vida. Não fosse assim se viveria numa fantasia ativa que vai  alcançar a realidade existencial.

Nenhum paradoxo há, na gratidão em toda e qualquer circunstancia, contrário como sentimento de júbilo pela vida que vibra triunfante.

Consideremos por fim, o enunciado de Nietzsche, quando diz:
“ninguém pode construir em teu lugar as pontes que precisarás passar para atravessar o rio. Ninguém, exceto tu!”

  
Divaldo Pereira Franco no livro, Psicologia da gratidão. Trabalhado e editado por Adáuria Azevedo Farias. 05/05/2020.