terça-feira, 29 de outubro de 2013


DIGNIDADE E GRATIDÃO 

Na pirâmide demonstrativa da autorrealização apresentada por Abraham Maslow, o eminente psicólogo tem o cuidado de estabelecer uma hierarquia das necessidades humanas, iniciando-as por aquelas de natureza fisiológica, portanto de preservação da vida (alimento, água, oxigênio,). O ser humano, segundo ele, lutará sempre para atender essas necessidades que são fundamentais, num processo de seleção em níveis diferenciados até alcançar o das experiências limites, que passa a ser o clímax do processo de amadurecimento psicológico saudável, portanto ideal.
Nesse grandioso afã, todas as experiências permitem conquistas novas, libertando-se de umas para outras necessidades que abandonam o plano físico para se transformarem em anseios emocionais e idealísticos superiores.
O dr. Frankl, por sua vez, adotou a proposta do significado existencial como de maior relevância, considerando que, atingido um patamar de autorrealização em determinada área, o indivíduo pode permanecer incompleto noutra, quando, no entanto, se vincula a um sentido psicológico, mais fácil se lhe torna o crescimento interior rumando na conquista da individuação.
Asseverava Epicuro que
“ As pessoas felizes lembram o passado com gratidão, alegram-se com o presente e encaram o futuro sem medo .”
Nessa atitude epicurista, o ser humano mantém a sua meta existencial, agradecendo tudo quanto lhe aconteceu no pretérito e tornou-se-lhe base para as alegrias da atualidade, dispondo de coragem para os futuros enfrentamentos, certo da conquista da beleza, da ética, da harmonia.
Preparando-se inicialmente para conseguir a vitória sobre as dores físicas, logo percorre o caminho da coragem ante os insucessos emocionais, morais e as demais vicissitudes, numa atitude hedonista que lhe faculta alegrias contínuas e antevisão do porvir abençoado pela superação das ocorrências que infelicitam.
Uma atitude de tal monta reveste-se, sem dúvida, de dignidade, desse valor moral que enriquece aqueles que permanecem fiéis aos postulados do dever e da honra.
Pode-se acrescentar que a dignidade é o resultado das aquisições éticas decorrentes dos comportamentos que se fixam na justiça, na honradez e na honestidade.
Essa conduta digna é sempre a mesma, vigorosa e forte, que suporta a zombaria dos pigmeus morais, não se submetendo ao desconhecimento proposital imposto pelos servos da ignorância e áulicos das situações deploráveis.
Grande número de desfrutadores das oportunidades mundanas sem nenhuma responsabilidade de fomentar o progresso, sorrindo sempre e parecendo felizes nos carros alegóricos das fantasias, terminam vitimados pela síndrome da ansiedade esquiva, que os atira aos calabouços de conflitos muito graves, especialmente porque tentam disfarçar os medos e as angústias que lhes sitiam o self, sem o caráter moral para o autoenfrentamento, do que resultaria o equilíbrio emocional.
Pascal afirmava com sabedoria que “A nossa dignidade consiste no pensamento. Procuremos, pois, pensar bem. Nisto reside o princípio da moral “.
Evidente é, pois, que todas as construções têm início no pensamento, na elaboração das ideias, na área psicológica. Quando têm por finalidade o desenvolvimento dos tesouros morais, o pensamento enfloresce-se de corretas elaborações, daquelas que promovem o bem, abrindo espaço para a conduta moral.
Mediante esse comportamento que é psicoterapêutico preventivo em relação a muitos transtornos que são evitados, o ser amadurece emocionalmente, dispondo-se a enfrentar quaisquer situações desafiadoras com coragem e ética, jamais se utilizando de expedientes reprováveis para lograr as metas que almeja.
Definindo os rumos da arte de pensar, logo se desenham as avenidas do bem proceder, contribuindo decisivamente para o bem geral.
Torna-se compreensível a necessidade do comportamento digno, elaborado mediante os pensamentos e as ações saudáveis, incluindo o sentimento de gratidão que se encarrega de envolver tudo nas vibrações de afetividade. Sem essa afetividade que discerne os significados existenciais e os bens decorrentes da experiência humana, desaparecia o sentido psicológico proposto para a jornada.
O homem e a mulher gratos são elementos decisivos na estrutura da sociedade, que mais se valoriza e engrandece, quando se compõe de seres que  dignificam a própria condição de humanidade.
O ingrato, por sua vez, torna-se morbo no clã onde vive, no conjunto social e em todos os grupos em que se movimenta.
 A sua presunção e conflitos, somados com as tendências perturbadoras da inferioridade, estimulam a decomposição do organismo geral, no qual se encontra, na condição de planta parasita devastadora, que surge débil e culmina destruindo o cavalo no qual se hospeda...
A educação firmada em princípios de dignidade estatui a gratidão como sendo norma de conduta saudável, sem a qual se torna difícil, senão impossível, a estruturação de um conjunto humano equilibrado.
Velho hábito vicioso instala-se nos indivíduos desde a infância, que é o de receber dádivas e não as valorizar, sempre tendo em vista o preço, a grife, a aparência, como se fora credor de todos os sacrifícios dos outros, sem nenhuma consideração pelo que recebem, não demonstrando nenhuma gratidão. Essa conduta egotista trabalha em favor da indiferença afetiva dos demais, que passam a desconsiderar esses ingratos, deles afastando-se e vacinando-se contra o hábito superior da gratidão... Não são poucas as pessoas que, após a desconsideração dos insensatos rebeldes e cheios de si, desanimaram-se nos propósitos de bem servir e de ajudar, receando as recusas, os humores negativos, passando a cuidar dos próprios interesses.
Certamente, aquele que assim procede, dando validade à ingratidão dos enfermos espirituais, ainda não consolidou o sentimento nobre, estando em experiência, em exercício, aguardando resposta favorável ao seu gesto. Mas é natural que assim aconteça, porquanto ninguém atinge o acume de um monte sem iniciar a caminhada pelas suas baixadas...
À medida que ocorre o amadurecimento psicológico e a dignidade atinge alto nível de emoção, nada diminui o comportamento honorável nem o sentimento gratulatório.
Conta-se que certo executivo tinha o hábito de adquirir o jornal do dia, após o expediente, em uma banca fronteira ao edifício em que trabalhava. Sempre que solicitava ao responsável o periódico, este atirava-o com mau humor na sua direção, e ele retribuía o gesto infeliz com palavras de gratidão.
Certo dia, um homem que trabalhava junto e que se cansara de ver a cena desagradável, perguntou ao cavalheiro:
- Por que o senhor volta sempre a adquirir o jornal na banca desse estúpido, que sempre o trata mal?
Depois de reflexionar um pouco, o gentil-homem respondeu:
- Por uma questão de princípio. Eu me impus a tarefa de não permitir que a sua grosseria me fizesse fugir ou me tornasse deseducado e igual a ele, já que sou muito grato à vida por tudo quanto me tem favorecido.
O mal não afeta o bem, que lhe é o antídoto.
Perseverar na conduta correta, mesmo quando ultrajado ou desconsiderado, transforma-se no desafio da saúde moral no comportamento social, a fim de o modificar, trabalhando em favor de uma nova mentalidade, que se há de estabelecer entre todos no futuro.
Fim do texto, mas também final do cap.9, A PSICOLOGIA DA DIGNIDADE, escrito por Divaldo Franco, Espírito Joanna de Ângelis.
Postado dia 29/10/13.

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