domingo, 7 de outubro de 2018


GRAVITANDO EM TORNO DE DEUS  
O SER MADURO PSICOLOGICAMENTE E A GRATIDÃO

Conforme o indivíduo vivencia os sentimentos de alegria e de gratidão, curam-se nele os males que o afligem na imaturidade psicológica, libertando-o dos conflitos que desgastam o comportamento, possibilitando o aprofundamento da persistência, da sabedoria, da compreensão da vida e da sua finalidade.

Tudo que parecia desafiador, passa a ser continente conquistado, crescendo para o infinito por descobrir e incorporar ao patrimônio interno.

Os melindres e as manifestações de criança maltratada foram superados, e no seu lugar a confiança em si próprio e o respeito pelos outros, a consciência dos atos. Vencendo as síndromes anteriores de desconforto íntimo, que agora permitem a espontânea alegria de viver e de lutar.

A calma substitui a ansiedade antes motivo de desequilíbrio emocional, a bondade surge natural, como uma luz que se irradia sem alarde, e o indivíduo torna-se centro de convergência de interesses das outras pessoas.

O ser imaturo psicologicamente não venceu a infância que transferiu para a idade adulta levando toda a carga de conflitos não resolvidos que se manifestam no relacionamento, sempre escondendo a personalidade insegura e doentia.

A ambivalência do comportamento, desejar e não fazer, pensar e desistir, é o efeito imediato dessa imaturidade, expressando o não saber agir corretamente mesmo na afetividade.

“Deverei dizer que amo? E se for incompreendido?” – é um dos pensamentos da conduta ambivalente no ser imaturo, sempre retardando as atitudes psicológicas saudáveis, pelo medo da opinião alheia. Embora numa crise emocional, não sinta pejo de dizer: “Eu detesto o mundo e não quero ver ninguém na minha frente!”

O processo de amadurecimento psicológico avança com a facilidade de expressar gratidão por tudo que ocorreu e o que venha a acontecer em relação ao ser humano.

Ninguém é totalmente autossuficiente, só os narcisistas, que se consideram especiais na criação, há uma imperiosa necessidade de parceria, de acompanhamento, de dependência, por isso é um ser gregário desde o começo da evolução. Mas essa parceria e dependência,  estarão em nível de companheirismo, de ajuda reciproca, de cooperação e não de submissão.

Duas crianças, respectivamente de 7 e de 8 anos, caminhavam para a escola fundamental sem dizerem uma palavra, cada uma no seu próprio mundo infantil. A mais velha estava em conflito muito grande porque não conseguia comunicação com os colegas, sendo discriminada por sua origem humilde, pela cor da pele...

Pararam, antes de atravessarem a rua, porque o semáforo estava no sinal vermelho. Quando mudou para verde, ambas avançaram, mas a sacola abarrotada de livros e de cadernos do mais velho abriu-se e alguns caíram, obrigando-o a abaixar-se raivoso para apanhá-los outra vez. Nesse momento, o menor, vendo-o em dificuldade, aproximou-se, abaixou-se também e perguntou-lhe, enquanto agia:
 - Posso ajuda-lo? Eu gosto muito de você...
Os dois sorriram e foram conversando na direção da escola.
Passados vinte e cinco anos, quando um cidadão afrodescendente atingiu o topo administrativo de uma grande empresa, sendo elogiado, afirmou no discurso de agradecimento:
 - Eu devo a minha vida a um garotinho de sete anos, que um dia me ajudou a guardar livros e cadernos que me haviam caído da sacola ao atravessar a rua e disse que me queria bem... Naquele dia eu havia resolvido suicidar-me, mas o seu gesto inocente e jovial modificou totalmente a minha vida. A ele, pois, eu sempre agradeci haver sobrevivido, e agora agradeço novamente por haver chegado ao ´posto em que me encontro, e, por antecipação, por tudo de bom que me venha ou não a acontecer...

O sentido de parceria, de acompanhamento e de dependência no grupo social, não diz respeito aos conflitos e aos medos de crescimento, mas a uma necessidade de ajuda recíproca, de participação no grupo social, de vida em ação, de união de interesses em favor de todos e, por consequência, pela sociedade, pelo ecossistema, pela indescritível alegria de viver.

Quando Confúcio disse, “Aja com bondade mas não espere gratidão”, queria demonstrar que os sentimentos nobres devem estar envolvidos em renuncia, sem os interesses imediatistas da compensação, do aplauso, da admiração dos outros.

A gratidão, tem um caráter de amadurecimento psicológico, porque aquele que assim age descobriu que tudo que lhe acontece depende de muitos que o ajudaram a chegar no lugar em que se encontra.

Quanto custa o ar puro da natureza, a água dos córregos e das fontes, a beleza da paisagem, o clima saudável? Quando o alimento vem à mesa, quantas pessoas participaram no anonimato de toda essa cadeia mantenedora da vida? A realização de uma viagem exitosa, quanto dependeu das pessoas e fatores que não foram observados pelo automatismo da existência? Enfim tudo, que acontece está vinculado à dependência de um a outro indivíduo ou circunstancia que propiciaram esse momento.

Quantos acidentes, desencantos, enfermidades e mortes marcaram vidas que se entregaram às descobertas, à colonização dos países, às transformações para que se convertessem em comunidades felizes!?  A todos esses anônimos, a gratidão deve ser oferecida com ternura e gentileza.

O amadurecimento psicológico elimina a negatividade teimosa do ser humano desconfiado e inseguro, que se permite sempre suspeitas de que mesmo a amizade é acompanhada de interesses subalternos daqueles que dão ou que buscam a estima.

Grande obstáculo à gratidão madura é esperar resposta pelo ato gentil, esperar que o outro, o que foi beneficiado, reconheça o que recebeu e retribua. Essa é uma forma de narcisismo, quando se faz algo e se exige gratidão, decepcionando-se pela falta dessa resposta, o que leva muitos ansiosos às atitudes infantis de que nunca mais farão nada mais por ninguém, pois que não o merecem.

O sentimento da gratidão sempre  deve estar desacompanhado da expectativa de qualquer forma de retribuição, nem de um olhar ou de um sorriso, que expressariam reciprocidade. Havendo, é melhor, porque o outro também se encontra em processo de amadurecimento psicológico e de contribuição valiosa à sociedade. Mas é uma exceção e não uma lei natural e constante.

Todo ato de generosidade, por sua maneira de ser, dispensa gratulação e manifesta-se naturalmente. O amor aos filhos, aos cônjuges, os deveres para com eles e para com os outros são da natureza intima de cada um, que se compraz em agir conforme as regras do bem viver e não apenas do viver bem, cercado de coisas, de carinho, de compensações.

Essas atitudes são logo esquecidas, toda vez quando se espera reconhecimento, surge um aprisionamento, como, aquelas pessoas que dizem que vivem para outras: filhos, parceiros, amigos, e que ficam decepcionadas e sofrem quando eles levantam voos na direção do que lhe é o destino. A triste síndrome do ninho vazio em que ficam presos por imaturidade psicológica leva os pacientes à amargura e ao desencanto por não receberem a compensação retributiva em relação ao que fizeram por interesse, não pelo prazer de realiza-lo.

Esse fenômeno também é comum no que se refere aos trabalhos enobrecedores que esperam aprovação, recompensa da sociedade. Pessoas com alto nível de inteligência e de trabalho contribuem eficazmente em todos os setores do progresso social, através de descobrimentos, de invenções, de realizações grandiosas... Mas, quando não são reconhecidas ou premiadas, mergulham na revolta ou no desanimo, na queixa ou na desistência de continuar, amarguradas e infelizes. Não são pessoas más, como se percebe, mas imaturas psicologicamente, vivendo ainda o período dos elogios infantis, dos aplausos e dos comentários, dos quinze minutos de holofotes, mesmo que depois sejam esquecidas, como é quase normal numa sociedade utilitarista como o é a de hoje. Embora disfarçado, encontra-se aí o narcisismo, resultado de uma infância que não recebeu reconhecimento nem estímulos, nem entusiasmo nem acolhimento.
Esse conflito nasce na imaturidade psicológica.
Aqueles que assim procedem, em contrapartida, por mais que sejam bajulados, elogiados, aplaudidos, sempre tem cede de mais reconhecimento, abrindo espaço para um condicionamento que poderia ser chamado de vício ou dependência de gratidão.

Quando não se recebe gratidão, não significa psicologicamente que a pessoa não é aceita, que é rejeitada. Tal ocorrência também resulta de outros fatores psicológicos que se referem aos demais, às circunstancias, aos valores de cada cultura.

O ideal é viver-se em favor da gratidão mesmo sem receber, valorizando o lado claridade da vida, as suas bênçãos e todos os contribuições existenciais que nunca esperam receber aplauso.

Jesus, o Homem-luz, único ser que não tinha o lado sombra, maior exemplo de maturidade psicológica, fez da sua uma vida dedicada à gratidão, pelo amor com que enriqueceu a Terra desde então, vivendo exclusivamente para o amor e o perdão, a misericórdia e a compaixão.

Recebeu, ao contrário, por todo o bem que fez, pelas lições de sabedoria que legou à posteridade, a negação de um amigo, a traição de outro, que se arrependeram certamente, a perseguição gratuita dos narcisistas e imaturos, temerosos e egotistas, a infâmia, o abandono, a exposição à ralé arbitrária, as chibatadas, a crucificação...mas retornou em triunfo de imortalidade exaltando a vida e Deus em estado numinoso.  
Texto de Joanna de Ângelis, psicografado por Divaldo Pereira Franco no livro, Psicologia da gratidão. Trabalhado e editado por Adáuria Azevedo Farias. 07/10/2018.