EXERCÍCIO
DA GRATIDÃO
Todas as conquistas do
conhecimento e da experiência de vida resultam do treinamento, do exercício.
Quando o self está em desenvolvimento, as emoções
ainda se caracterizam pelas heranças do instinto, que se vão modificando
lentamente, até atingir os patamares do amor e da gratidão. Não estranhe
que as condutas humanas durante esse processo apresentem-se afetadas pelo
egotismo gerador da ingratidão. O indivíduo atribui-se méritos que não tem e
tudo o que recebe considera como consequência do seu valor. A permanência da
sombra dificulta-lhe o discernimento, impondo-lhe situações embaraçosas e até
perversas. Esse movimento de curso demorado vai modificando-se de acordo com as
experiências edificantes vão acumulando-se como resultado do treinamento,
proporcionando clareza para a compreensão da felicidade após a descoberta do
significado existencial.
O único sentido, de ser
humano propõe como foco principal a emoção do amor que será alcançada. No oceano do amor, tudo se confunde em
plenitude, portanto em superação do ego e dos arquétipos perturbadores.
Há necessidade urgente e
inadiável de reservar-se espaço e tempo para treinar o perdão, assim como as
outras expressões do amor, para que se descubra a alegria que, resultante de
qualquer satisfação, seja um efeito do ato de amar.
Para que se possa alcançar
esse objetivo, torna-se urgente o dever de mergulhar no self (no Eu profundo, no Ser Espiritual) para o encontro com a
consciência, no começo em forma de monólogo e depois num diálogo construtivo e
iluminativo.
Jung estabeleceu cinco
etapas na direção da conquista da consciência, seu desenvolvimento na direção
da vitória plena.
A primeira etapa ele chama participation mystique refere à
conquista da identificação entre a consciência do ser e tudo que se lhe refere
no entorno da sua existência. Pois é difícil existir no mundo sem ocorrer esse
fenômeno de interdependência entre ele e o que está à sua volta. Nesse sentido,
a identificação é muito variada, considerando-se aqueles que, ainda vitimados
pelas sensações, permanecem vinculados aos objetos e vivenciam-nos, sorrindo ou
sofrendo. Alguém se identifica e se apaixona pela casa em que mora, pelo
instrumento de arte a que se dedica, pelo automóvel ou outro veículo qualquer,
e passa a experimentar os sentimentos do si-mesmo
em relação a cada objeto. Outros se vinculam às suas famílias da mesma forma e
experimentam sentimentos de introjeção e projeção, além da própria
identificação. Na segunda etapa, já
se expressa a consciência que distingue o eu e o outro. Ao alcançar esse
período em que se pode diferenciar o sujeito do objeto, o self que se é em relação ao do outro ser, passa a descobrir, a
identificar as diversidades de que cada um se constitui. Nessa fase, ainda
permanecem os resquícios fortes da projeção no outro, mas que se vai diluindo e
favorecendo a identidade. Na terceira
etapa, as projeções transferem-se para símbolos, lições, princípios éticos,
possibilitando a compreensão do abstrato, como
a realidade de Deus em alguma parte... O conceito vigente desse deus, quando
punitivo ou compensador, representa a projeção transferida dos pais para algo
mais transcendente ou até mesmo mitológico. Na quarta etapa, tem lugar a superação das projeções, mesmo que
assinaladas pela transcendência do abstrato e das ideias. Surge, então, o centro vazio, que poderíamos denominar
como o homem moderno em busca da sua
alma. O utilitarismo e o interesse imediato tomam conta do indivíduo, como
substitutos das anteriores projeções. Nesse comenos, há predomínio do prazer e
os desejos de fácil controle, podendo ocorrer, se não se permitem essas
sensações-emoções, desenvolvendo transtornos depressivos. Nesse mundo novo não
existem conteúdos psíquicos, fazendo que cada qual se sinta realista. Esse é o momento em que o ego
se sente como sendo o próprio deus, capaz de fazer e concluir sempre de maneira
pessoal com relação a tudo quanto lhe diz respeito, selecionando o que é
verdadeiro ou não, aquilo que merece consideração ou desprezo... Com tal
comportamento egóico, não é difícil cometer equívocos lamentáveis, derivados da
autopresunção, dos julgamentos precipitados a respeito dos demais, podendo
tornar-se megalomaníaco. Perde-se o anterior controle das convenções sociais em
relação aos demais indivíduos e aos padrões de comportamento aceitos e
convencionados. Nem todas as pessoas, no entanto, no desenvolvimento da sua
consciência, atingem essa etapa, permanecendo somente nas iniciais. Por fim, na quinta etapa, quando já se encontra
amadurecido psicologicamente, o indivíduo passa à reintegração da consciência
com a inconsciência, descobrindo os próprios limites – do ego -, alcançando o
que poderíamos denominar como sendo uma fase de atualidade, conseguindo a função transcendente e o símbolo unificador. Livre dos arquétipos
em imagens que caracterizam o outro, conforme
a experiência da etapa anterior, a
quarta, identifica os gloriosos poderes do inconsciente. nessa fase de
modernidade ou de atualidade, a consciência identifica a vida psíquica nas
projeções, não mais compostas dos substratos materiais ou mesmo deles formadas,
e sim a realidade de si mesma. O insigne mestre, no entanto, não se detém aí, e
há momentos em que ele parece propor mais outras etapas, cabendo-nos
determo-nos nessas, mais compatíveis com os objetivos do nosso trabalho.
Nessa fase em que a
consciência identifica o inconsciente e fundem-se, surgem as aspirações do
belo, do ideal, do uno, da individuação.
Para que seja conquistada
essa plenitude, o sentimento de gratidão à vida, a todos que contribuíram e
contribuem para que o mundo seja melhor e as dificuldades sejam sanadas, que
ofereceram sua ajuda no transcurso do desenvolvimento intelecto moral,
transforma-se num impulso para o estado numinoso, em que já não há mais sombra.
Embora, para culminar nesse objetivo, é indispensável o treinamento constante,
o exercício da gratidão.
No seu início, pode apresentar-se
como um dever, o de retribuição por tudo que desfruta, sem a presença do
sentimento por falta de maturidade psicológica interior. O hábito, que se
formará vai estimular a continuação da valorização de todos os acontecimentos, das
pessoas com as quais se convive, ampliando a percepção de que esse sentido de
fraternidade gentil e retributiva proporciona indescritível alegria de viver.
Criado o estímulo gratulatório,
tudo adquire significado importante, propiciando melhor entendimento a respeito
dos acontecimentos existenciais, mesmo os do sofrimento, que têm caráter momentâneo, afligente ou
desagradável, que pode ser superado com a visão de ser útil, de compreender o
esforço dos demais na construção do mundo melhor, entender-lhes os fracassos e
os insistentes sacrifícios para corrigir-se...
Frequentemente, o julgamento
a respeito da conduta dos outros, especialmente quando se refere a questões
perturbadoras contra alguém, logo se conclui de forma equivocada, a
manifestação da conduta do outro, do que se lhe fez inamistoso, fazendo uma
projeção inconsciente dos seus próprios conflitos... Todos os indivíduos tem
dificuldades de vencer as questões perturbadoras, especialmente quando vindas de
heranças do passado por onde passaram. A tolerância, que é uma expressão de
amizade inicial, faz entender que não sendo fácil para si mesmo a mudança para
melhor, não deve ser diferente quando se trata do outro.
Tentando-se, embora com
erros e acertos, exercitar a gratidão, chega o tempo em que o ser se enriquece
da alegria de ser gentil e agradecido, não apenas por palavras, mas
principalmente por atitudes, tornando a vida agradável e, assim, ampliando o
círculo de bem-estar em sua volta, mudando as paisagens emocionais
desorganizadas.
A gratidão tem esse importante
compromisso de tornar o mundo e as pessoas mais belas e mais queridas.
Trabalho baseado no cap.4, A CONQUISTADA DA PLENITUDE PELA GRATIDÃO,
NO LIVRO EM BUSCA DA VERDADE, escrito por Divaldo Franco , ditado pelo Espírito
Joanna de Ângelis. Postado dia, 29/12/13.