segunda-feira, 11 de novembro de 2013


 

O BEM E O MAL

Desde quando a razão e a consciência começaram a desenvolver-se no ser humano, a dicotomia do bem e do mal se apresentou de maneira conflitiva.
Antes, no período da vivência no mitológico Jardim do Éden, a  inocência não pôde identificar o que significava o bem, o que representava o mal, em razão do estado paradisíaco de total ignorância moral. No momento em que os impulsos, especialmente os da sexualidade, quebraram a harmonia existente, impondo-se, tudo era natural, porque defluente das necessidades biológicas. Lentamente, porém, os sentimentos e o discernimento apresentaram-se para estabelecer o que era edificante em relação ao que se fazia perturbador e destrutivo. Nesse surgimento do Self,  percebeu-se a necessidade de estabelecer-se critérios, iniciando-se pela condenação do incesto, proibindo-se e impedindo-se comportamentos que se consideravam perniciosos, dando lugar ao claro-escuro da fronteira entre o bem e o mal.
Com a sucessão do tempo, estabeleceram-se diretrizes definidoras do que representa um como o outro valor.
As diversas doutrinas religiosas do oriente e as filosofias do ocidente apresentaram normativas de significação para a felicidade e a vivencia do que se considerava o bem em detrimento dos comportamentos que produzem o mal.
O maniqueísmo, por exemplo, criado por Manés, nascido na Pérsia, no século lll d.C. depois do aparecimento de um anjo, por duas vezes, levou-o a selecionar os princípios de algumas doutrinas orientais existentes, do zoroastrismo e do cristianismo, estabelecendo que o bem e o mal estão presentes na vida de todos os indivíduos e que o mundo encontra-se dividido exclusivamente nessas duas constantes, sendo o objetivo da existência a vitória da luz contra a treva, da verdade contra a impostura...
O maniqueísmo espalhou-se com muita facilidade pelo mundo de então, apresentado os dois lados do comportamento em forma de sombra e de claridade, no qual os justos, que a tudo renunciassem, lograriam a plenitude.
Embora o cristianismo, muito antes, mantivesse, de certo modo, a mesma observância, o conceito de Jesus a esse respeito é mais amplo, demonstrando que todas as experiências humanas contribuem para o processo de libertação do ser, da ignorância que nele predomina, sendo o mal uma conjuntura transitória, na qual somente o bem tem prevalência. O apóstolo Paulo, por sua vez, prescreveu que se deve vencer o mal com o bem.
Essas propostas, especialmente a maniqueísta, ainda em voga, são portadoras de comportamentos fanáticos, definitivos, gerando graves conflitos na cultura, na sociedade, porque, aquilo e aquele que são bons, que representam o bem para determinado segmento humano, são maus para outro...
Condutas consideradas aceitas e dignas em um povo recebem reproche de outro, que as tem em condição de agressividade e de primitivismo.
Esses conceitos, portanto, não podem ser considerados de modo absoluto.
O que significa, porém, o bem? Tudo aquilo que contribui em favor da vida, do seu desenvolvimento ético e moral, a sua construção edificante e propiciadora de satisfações emocionais, é considerado como o bem. Necessário, no entanto, evitar confundir o de natureza física com a emoção de harmonia, de equilíbrio interior, de felicidade que se adquire por meio de pensamentos, palavras e ações dignificantes, não geradoras de culpa.
O mal, por sua vez, é tudo quanto gera aflição, que se transforma em problema, que trabalha pelo prejuízo de outrem e do grupo social, levando ao desconforto moral, à destruição... Entretanto, do ponto de vista educacional, se for observada criteriosamente essa ocorrência, poder-se-á constatar que muito mal de determinado momento, administrado corretamente pode transformar-se em grande bem. Por outro lado, o que pode parecer um mal para determinado indivíduo, proporciona-lhe o despertar da consciência, o caminho que o levará ao autodescobrimento.
A dificuldade, muitas vezes, em diferenciar-se no íntimo, o que é bem e o que é mal, dá origem à sombra, que também tem raízes no ego dominador e arbitrário.
Allan Kardec, em O Livro dos Espíritos, interrogou os Espíritos superiores, conforme a questão de nº 630:
Como se pode distinguir o bem do mal?
E eles responderam:
“O bem é tudo o que é conforme à lei de Deus; o mal, tudo o que lhe é contrário. Assim, fazer o bem é proceder de acordo com a lei de Deus. Fazer o mal é infringi-la.”
O ser humano é portador de fenômenos lógicos, que nem sempre sabe discernir, que se apresentam conscientes e inconscientes. Inicialmente, no processo evolutivo era todo instinto e paixão adquirindo através do desenvolvimento antropológico da evolução a consciência de si, a conquista da razão, dentro de uma área restrita, que ainda não pode abarcar a totalidade das ocorrências interiores e emocionais, auxiliando-o no comportamento mais compatível com o estágio de lucidez alcançada.
No seu íntimo estão os desejos do prazer ou gozo e a realidade, conforme as conclusões do eminente Freud. Esses impulsos dominadores têm, no entanto que enfrentar a cultura de cada época, os hábitos estabelecidos, os códigos impostos, dando lugar a que as pulsões fossem erradamente consideradas como manifestações demoníacas, forças que o arrastariam para o sofrimento, mais tarde decodificado como o Inferno das religiões castradoras.
Para superar o mal que nele existe, vem-se tornando necessário que estabeleça variados símbolos de transferência ou de projeção, para superar a situação incomoda em que transita. Por essa razão, os sentimentos perversos do ódio, dos desejos irrefreáveis, dos ciúmes, das ambições desmedidas levam-no a transferi-los para outros indivíduos que passam a figurar como as representações demoníacas ou satânicas, suas adversárias. É certo que esse mecanismo ocorre de maneira inconsciente, em forma de fuga da situação vigente para a transformação dirigida ao bem que busca inconscientemente.
Nessa visão torpe e insensata, surge a luta feroz, mediante a qual o bem deve destruir o mal, na qual se devem envidar todos os esforços, mesmo os mais infames para a vitória, que não passa de derrota interior, porque os mecanismos de batalha são nefastos, portanto, igualmente maus...

Aqui damos uma pausa no texto, prometendo na próxima postagem retomar o mesmo. Fiquem atentos pois o tema é bastante interessante.

Postado dia 11/11/13.

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