segunda-feira, 18 de novembro de 2013


A INDIVIDUAÇÃO
 
A busca do significado da existência humana deve expressar-se no rumo da individuação, o que equivale dizer, da própria identidade, que não se circunscreve no conceito de individualismo, mas de individualidade, que induz ao conhecimento real do que se é e não apenas do que parece ser no turbilhão das exterioridades do ego.

Para o eminente Jung, o criador do termo, o significado é que a existência se realize como individualidade do Self, como perfeita integração do Si-mesmo, da sua totalidade, o que não significa sua perfeição, que constitui um ideal...

Trata-se do esforço que deve ser envidado para que se alcance a perfeita consciência da sua realidade, sem disfarces, como realmente cada um é, sem o conflito de somente apresentar-se com características que não são verdadeiras.

Compreende-se que se trata de um esforço titânico, porque o arquétipo numinoso do Self apresenta-se como um tentame que pode ter repercussão perturbadora inesperada, como no caso, da auto-presunção de desejar tornar-se um super-homem – Ubermensch – conforme sonhado por Frederico Nietczsche, no seu delírio masoquista, ou um homem-deus...

Indispensável evitar-se tais ambições, considerando que a conquista não pode levar a esquecer-se da realidade do ser individual que se é, os limites naturais de humanidade que o caracterizam.

Enquanto o Self é a expressão da divindade interna no ser humano, nessa busca, a individuação, deve apequenar-se até a postura do ego, tornando-se consciente da sua condição imensurável da psique, sendo, simultaneamente, o seu conteúdo mais significativo e real.

Isso exige um grande confronto em luta contínua com os constructu do inconsciente, eliminando, ou iluminando as pesadas condensações da sombra, das experiências dolorosas umas, infelizes outras, abençoadas algumas e frustrantes diversas...

Trata-se da conquista dos valores que se encontram programados para o vir-a-ser, e que podem ser logrados mediante o esforço de superação sobre o ego, por meio das renuncias e compreensão do significado existencial.

Não se consegue essa meta a golpes aventureirescos, sob entusiasmos e exaltações da persona, porém, mediante conquistas diárias, lentas e seguras, que vão sendo incorporadas no inconsciente, essa individuação pode apresentar-se num conteúdo espiritual, artístico, cultural, científico, de qualquer natureza, porquanto a sua meta é a ampliação da consciência além dos limites habituais em forma de compreensão da vida em todas as suas dimensões.

Isso se dá através das transformações dos conceitos existenciais, conduzindo o individuo à superação dos arquétipos perturbadores – persona, sombra, anima-us – em uma consciente integração.

Somente aceitando a vida – a realidade existencial – conforme é, e trabalhando para que se apresente melhor, desenvolvendo o autoamor – respeito por si mesmo, autotransformação, intelectualização e  moralidade – a fim  de poder entender e participar da convivência com as demais pessoa,.

Essa integração do Self com a realidade confere responsabilidade ao individuo que supera as injunções habituais dos percalços das enfermidades, das fugas psicológicas, das transferências da culpa, da criança maltratada, para lograr a maturidade libertadora.

Através do processo da evolução, houve alienação em referência aos instintos, por castração, por imposições de falsa moral, de reproche ao mundo, o que tornou a consciência distante da realidade, tornando-se necessário agora como impositivo o retorno à compreensão de todos os valores e à conduta saudável das ocorrências do cotidiano.

O desenvolvimento da inteligência contribui de maneira objetiva para a conquista da individuação, mas não através do intelectualismo sem a cooperação da conceituação moral, do sentido ético-filosófico do comportamento.

No conceito junguiano, a individuação plena e total não pode ser conseguida, por motivos óbvios, em face da sua transcendência à consciência, o que significa a momentânea impossibilidade de o Espírito alcançar os horizontes infinitos da perfeição, somente pertencente a Deus.

Dentro desses limites que lhe dizem respeito, a plenitude significa um estado de iluminação e de paz, não de conquista absoluta, na relatividade do seu processo evolutivo.

Cada indivíduo é portador da sua própria programação existencial, trabalhando pelos recursos defluentes das conquistas alcançadas no carreiro das reencarnações, não constituindo a etapa atual o ultimo passo, a situação definitiva, mas sendo, isto sim,, um segmento do conjunto que abarcará, um dia, quando conseguir libertar-se do impositivo da evolução.

Todo o seu esforço deve ser direcionado em favor da superação dos impulsos dos instintos agressivos e de natureza egóica, desenvolvendo os sentimentos de identificação com a harmonia e o bem-estar, com os labores da solidariedade que fomenta o progresso de todos, a autoiluminação.

Desse modo, o Self é específico e individual, embora o seu caráter coletivo, ainda no conceito junguiano, porque representa a unidade que deve ser conquistada como o destino que o aguarda.

Nessa realização individual, o Self reunirá os conteúdos inconscientes aos conscientes, conseguindo uma harmonia que faculta a perfeita lucidez da destinação humana sem os atavismos perturbadores do passado nem as ambições desenfreadas em relação ao futuro. Esse  trabalho é possível,  na razão direta em que o mesmo vai penetrando nos depósitos do inconsciente e libertando as fixações e imagens ancestrais, que respondem pela desorientação do individuo sempre quando emergem, gerando conflito com a consciência, com os valores éticos estabelecidos, com as necessidades que se impõem.

Dado, o tamanho do presente texto, transferimos para a próxima postagem a continuação e conclusão do mesmo.

Postado dia 18/11/13

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