quinta-feira, 7 de novembro de 2013


A BUSCA DO SIGNIFICADO 

O sentido profundo da existência humana é a busca do significado, a plenificação do Self – a imago Dei – a substância divina que orienta a existência e dignifica-a. 

Ninguém, portador de consciência, pode peregrinar pela Terra, sem um sentido existencial que se espraie além das denominadas necessidades imediatas, que deixam de atender as exigências emocionais, logo que são vivenciadas. 

Por essa razão, a experiência interior torna-se de relevante significado, sem a qual todas as realizações externas perdem a significação, porque passam a ser possuídas sem atender as exigências emocionais, que, não resolvidas, desencadeiam o vazio existencial. 

Nessa viagem interna, que pode ser comparada a uma aventura interior, a consciência amplia-se ao infinito, portanto, indo muito além dos limites habituais adstritos aos desejos do ter e do prazer. 

Invariavelmente, essa busca profunda apresenta-se na criatividade da arte ou na abnegação da crença religiosa, como recursos hábeis para a conquista do infinito e do indefinível.

No mais profundo do inconsciente coletivo estão adormecidos esses dois anelos que tiveram origem na fase primitiva da evolução, quando o ser humano começou a entender a grandeza da vida, sua beleza e suas ameaças contínuas presentes em a Natureza, e a entrega às forças desconhecidas que pareciam manejar-lhes os destinos, facultando o surgimento do mito religioso, na condição de mecanismo de fuga das angústias e perturbações, atendendo aos caprichos que se impunham como soluções imediatas. 

O esforço desse ser primitivo em comunicar-se com o outro e desenvolver a consciência mediante a escrita e a pintura rupestre, são as expressões iniciais da criatividade e do processo de comunicação consciente, organizada, que permanecerão em toda sua trajetória antropológica. 

Não sendo a vida humana senão a materialização do mundo cósmico, os Espíritos que desencarnavam naquele período, profundamente ignorantes da sua realidade, ao manifestar-se aos contemporâneos na intimidade das cavernas, deram início às primeiras expressões do culto religioso, sem o desejarem, tornando-se deuses bárbaros uns e gentis, benévolos outros, que iriam povoar o imaginário das gerações sucessivas, inscrevendo-se no panteão de todas as culturas terrestres.

Reavivar essas imagens e decodificá-las, é a proposta da psicologia profunda, retirando-lhes a sombra perniciosa e ameaçadora da tradição, de tal forma que, em estágio de consciência lúcida, adquiram o seu exato sentido, que é a imortalidade. 

Porque a fase de primarismo não permitia o raciocínio logico, o natural culto de respeito e de devoção, mas pelo temor do que pelo amor, revestiu-se do mágico, do imaginoso, do sobrenatural, necessitando das excentricidades que se tornaram complexas em forma de cerimonias e de sacrifícios, inclusive humanos, para depois, de natureza animal e racional e, por fim, vegetal, por meio das flores, como preito de amor e de gratidão, de respeito, de súplica... De tal maneira o inconsciente ficou sobrecarregado do fetiche criado e transferido de uma para outra geração que, mesmo na fase do discernimento, permanecem as heranças dominadoras, induzindo ao temor, ao respeito exagerado, às fugas espetaculares para livrar-se da culpa, resgatando-a por meio de oferendas e de sacrifícios... 

O mergulho interior, desmistificando essa miscelânea de condicionamentos e de atavismos de natureza mágica, irá contribuir para o encontro com a religiosidade real, esse sentimento engrandecido que é a identificação com a imago Dei, com a manifestação de Deus. Certamente, não será o deus antropomórfico – arquetípico, não real – portanto, humanoide, caprichoso, mítico, mas aquele que é a inteligência suprema, causa primária de todas as coisas. Esse conceito está perfeitamente identificado com a definição apresentada pelo filósofo holandês Baruc Spinosa, quando afirma que Deus é a natura naturans. 

Desse modo, Deus está além de qualquer conceito que o limite e o transforme em conteúdo, quando, em razão da Sua indecifrável realidade, é o Continente que tudo envolve. 

A viagem, portanto, de caráter religioso, deságua no sentimento de religiosidade, de encontro com o divino que se encontra no Si-mesmo, aguardando compreensão e vivência da sua realidade, além de qualquer tipo de culto externo ou de submissão temerária. 

Nessa incursão, a mente sutiliza-se e descobre significados desconhecidos que dão motivações à existência para ser vivenciada com alegria e irrestrita confiança nos resultados futuros. 

Ao invés de significar uma fuga, uma transferência da imagem do pai para a Divindade, representa o encontro com a Consciência universal, com ela identificando-se e tentando plenificação. 

As várias maneiras de realizar a religiosidade mediante a fé, a abnegação, a concentração nos postulados da vida, na prece, na integração solidária nos serviços de beneficência e de caridade, dão sentido à existência física, enriquecendo-a de alegria e de bem-estar pelo prazer de  contribuir em favor da satisfação geral, da diminuição do sofrimento, da miséria, das necessidades que assolam em toda parte... 

Imediatamente a criatividade, nesse momento, também se expressa grandiosa, numa explosão de imagens que necessitam de ser exteriorizadas, dando lugar à arte que se transforma em poderoso recurso de beleza, traduzindo as fixações que se encontram no inconsciente, transitando das formas grotescas ao classicismo e chegando às profundas manifestações do modernismo, do cubismo, do surrealismo, do abstracionismo, porque não podem, na pintura, na música, na escultura, por exemplo, ficar contidas no reduzido das formas... Todo limite que se lhes imponha, impede-lhes a expansão, a libertação dos abismos do inconsciente coletivo.  

Esse texto terá sua continuidade na próxima postagem
Postado dia 07/11/13.

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