quarta-feira, 20 de novembro de 2013


 

A INDIVIDUAÇÃO
(Continuação) 

Quando se inicia a identificação desses conteúdos graves, normalmente surgem a angústia, a rejeição de si mesmo, a surpresa com os significados mórbidos e perversos, vulgares e destituídos de sentimento que se encontravam adormecidos, podendo produzir alguns transtornos neuróticos... No entanto, perseverando-se no objetivo, passa-se a outro nível do inconsciente, com diferentes conteúdos amenos e estimulantes. É normal que isso tenha lugar, porque toda vez que se mergulha em águas acumuladas, chega-se até aos depósitos de lama, que após vencidos permitem a transparência cristalina do líquido armazenado.
No esforço empreendido, vão-se dando as transformações emocionais e os aspectos da saúde sob os vários ângulos considerada, constituindo grande motivo de prazer e de alegria, ante a perspectiva do encontro com o repouso, a paz, o Nirvana...
Após as primeiras experiências nirvânicas, a sede de progresso, de imortalidade, de sublimação retorna, e o trabalho interior prossegue, porque o repouso absoluto seria a negação da própria vida, a perda de sentido psicológico da evolução.
Não foi por outra razão que Jesus enunciou que o reino dos Céus está dentro de cada indivíduo, propondo a reflexão profunda e a autoconquista como meios para a libertação das anteriores aquisições alienantes e dos desejos do ego presunçoso.
O conceito, portanto, de individuação, de totalidade, abrange a conquista dos conteúdos possíveis de conscientização, que desaparecem nos significados psicológicos elevados que cada qual estabelece como sua meta existencial.
Esse tentame, naturalmente propõe novos paradigmas de comportamento que surpreendem, porque o novo e desconhecido são sempre motivo de preocupação e de mal-entendimento. Tais paradigmas, no entanto, estão ínsitos no ser, porque são uma visão nova de perspectivas de conduta e de aspiração de vida, interpretação diferenciada do aceito e comum, das circunstâncias caóticas que devem ser modificadas e do esforço pessoal em benefício do equilíbrio geral. Quando isso não ocorre, estabelece-se a neurose moderna como a que toma conta da sociedade atual.
Esse tipo de transtorno neurótico expressa-se em forma de ansiedade, de insatisfação, de frustração, de desconfiança e de solidão, asfixiando os mais belos ideais da humanidade intelectualizada, tecnologicamente rica e profundamente infeliz em seu sentimento pessoal.
Os efeitos imediatos são as depressões bipolares na área da afetividade, a síndrome do pânico, as fugas hediondas pelo suicídio, pelo homicídio, as opções tormentosas pela violência, pelo estupro, pelo esdrúxulo e primitivo no comportamento para chamar a atenção, em face do desprezo que as suas vítimas sentem por si mesmas. Ante a impossibilidade de considerar a sua valorização pelos significados nobres, assume as agressivas posturas que lhes atendem  ao desconforto interior, tornando-se temíveis, por saber que não são amadas,  em carência profunda e em estado de criança abandonada...
Desse modo, a busca da individuação é também a maneira psicológica de encontrar-se o melhor meio para o bom relacionamento com o Si-mesmo, com o outro, com a sociedade.
Não se pode viver de maneira saudável sem considerar-se a presença de outrem no contexto social, sendo, por sua vez, o outro daquele...
Algo somente passa a ter existência real na consciência quando é pela mesma detectado. Observar-se algo ou alguém é também ser observado por esse objeto ou pessoa em observação. Inevitavelmente, nesse momento, dá-se um relacionamento, um descobrimento do outro, a necessidade de intercambio com ele, a sua convivência, que constitui a forma de cada qual existir e ter valor no mundo.
Por tal motivo, o isolamento, o distanciamento da sociedade sob a justificativa de encontrar Deus e melhor serví-lO, oculta uma alienação defluente de algum conflito forte em relação ao próximo, uma agorafobia que pode ter razão profunda na libido atormentada, na culpa maldisfarçada. A fuga do mundo não impede que o indivíduo se leve até onde for procurar esconder-se.
No início da divulgação da doutrina cristã, especialmente no século lll d.C. houve uma epidemia de eremitas, de pessoas que buscavam a solidão, de processos autopunitivos ou de busca pela autoflagelação, caracterizando a morbidez da cultura e o alto indicie de tormentos que assolavam a ética e a sociedade que se comprazia no deboche e nos absurdos de conduta, fugindo para a libertação dos conflitos. Infelizmente, porém, tornaram-se mais exemplos de inutilidade e de egoísmo do que de serviço ao bem, às propostas de Jesus, que optou pela convivência com os infelizes, a fim de ajudá-los a libertar-se de si mesmos, das suas misérias, das suas dores.
Convivendo com a ralé, manteve a sua aristocracia espiritual, demostrando o mais elevado nível de individuação, do Self totalizado e em integração perfeita com Deus, em nome de Quem viera para amar e ensinar a conquista da saúde total e da felicidade às criaturas, constituindo-se o mais elevado exemplo de vitória sobre as circunstâncias e ocorrências de quem se tem notícias.
Seguir-Lhe o exemplo, reflexionar nas Suas palavras e sobretudo nos Seus exemplos, é a mais segura diretriz para encontrar-se a individuação.
Mediante a conquista da individuação, a fissão da psique torna-se unidade.
Encerrado o cap.8, A BUSCA DO SIGNIFICADO, do livro Em Busca da Verdade, escrito por Divaldo Franco pelo Espírito Joanna de Ângelis.

Postado no dia 20/11/13.     

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