A
VIDA E A GRATIDÃO
Jung disse que a finalidade
da vida não é a conquista da felicidade, mas a busca de sentido, de
significado.
A felicidade, conforme se
pensa, é a alegria, o júbilo por determinadas conquistas, a vitória de algum
empreendimento, a viagem ao país dos sorrisos.
Essas emoções que se originam no prazer e no bem-estar estão próximas da
felicidade, que traz mais complexidades psicológicas do que se imagina.
No conceito junguiano, o
sentido existencial, o seu significado transpessoal, é mais importante do que
as sensações resultantes do ter e do prazer, e transformam-se em
emoções que duram algum tempo. Analisando-se
o fenômeno, pode-se constatar que tudo
que traz prazer tem pouca duração, transforma-se, dá lugar a outros nem sempre felizes...
A alegria de um dia transforma-se, muitas vezes, em preocupação, em desgosto. Essa felicidade risonha de um encontro, de
uma explosão de afetividade ou de interesse atendido, quase sempre se constitui
véspera de dor, de contrariedade, de arrependimento e de mágoa...
O sentido, o significado
existencial caracteriza-se pela busca interna, pela transformação moral e
intelectual do individuo ante a vida, pelo aproveitamento do tempo na
identificação do self com o ego.
É um sentido profundo, no começo de autorrealização, depois de
autoiluminação, de autoencontro.
É preciso estar atento para perceber
melhor as sensações que produzem empatia e as emoções que trazem harmonia. O ego
prefere o mergulho nas sensações do poder, do gozar, do tocar e sentir,
enquanto o self busca vivenciar e ser, ampliando os seus horizontes de
gratidão.
Quando se busca o sentido, a pessoa não se detém para
avaliar o resultado das conquistas imediatas, porque não cessa o significado das
experiências vivenciadas e por experienciar. Trabalha o ser interno, inundando-se do
conhecimento e da vivência, vestindo-se de beleza e de saúde. Mesmo que se lhe surja algum distúrbio
orgânico, não lhe impede ao
prosseguimento da sua necessidade de sentido, por compreender que é natural próprio
do processo em que se encontra, avançando em equilíbrio íntimo.
Esse significado estende-se
a todas as formas de vida, às varias manifestações existenciais, dirigindo-se
ao cosmo...
Conta-se que há muito tempo um
circo famoso, que se apresentava em Londres, tinha um elefante gentil, motivo da
alegria das crianças, dos adultos, dos idosos, de todos que iam ao espetáculo em
que ele era a atração. Seu nome era
Bozo, ele era muito dócil. Bailava com o
corpanzil, movia-se com suavidade, deitava-se e levantava-se com leveza...
Em determinado momento, para
surpresa de todos, o paquiderme tentou atacar e matar o seu tratador, causando
grande desgosto. Porque agora urrasse
colérico, ameaçando todos que se aproximavam da jaula, transformou-se em perigo público, e as
autoridades solicitaram ao proprietário do circo que o eliminasse.
Para não perder totalmente o
dinheiro que Bozo representava, o seu dono resolveu utilizá-lo para um último
espetáculo, quando ele deveria morrer publicamente, e, para isso, anunciou e
vendeu ingressos para o trágico acontecimento.
No sábado marcado, pela
manhã, antecipadamente anunciado, o circo estava repleto de curiosos e de
insensíveis que ali estavam para ver a morte do animal que antes os distraía,
numa demonstração cruel e selvagem de indiferença.
Na jaula circular, o animal
movimentava-se agressivo, emitindo sons estranhos e arrepiantes.
Do lado de fora, os homens
uniformizados, que se equipavam para o final terrível.
No momento, em que o
proprietário anunciava o fatídico acontecimento que logo teria lugar, alguém
dele se aproximou, tocou-lhe o ombro e disse quase com doçura:
- Não lhe seria mais útil se
o senhor pudesse manter vivo o animal?
E o empresário respondeu,
quase com rispidez:
- Não tenho como poupá-lo, ele
enlouqueceu e pode matar alguém.
- Permita-me, então, entrar
na jaula e acalmá-lo, num breve tempo em que lhe possa falar.
Estremunhado, o dono do
circo olhou para aquele homem de pequena estatura e redarguiu:
- Se eu permitisse uma
loucura dessas, o elefante o faria picadinho, matando-o de forma impiedosa.
- Eu correrei o risco –
afirmou o estranho – E para poupá-lo de problemas ou contrariedades, eu assinei
este documento que lhe entrego, assumindo toda a responsabilidade pelo meu ato.
O empresário olhou o papel
de relance, anunciou ao público a proposta, e a massa informe, desejosa de
sensações fortes, como no circo romano do passado, aplaudiu a anuência.
A porta de ferro foi aberta
e o homem entrou na jaula. O animal
pareceu irritar-se ainda mais, parando do movimento circular, enquanto o
visitante falava-lhe baixinho, palavras que ninguém entendia, num tom melódico,
fazendo lembrar uma canção mântrica.
Ouvindo-o, o animal foi-se acalmando, deixou de balançar-se, os olhos
injetados recuperaram a expressão habitual, o estranho aproximou-se mais,
tocou-lhe na tromba e delicadamente puxou o paquiderme, fazendo um círculo em
torno da jaula, com a sua maneira característica muito conhecida.
O público, surpreso, aplaudiu
o ato.
O visitante da jaula saiu
calmamente como entrara, tomou o chapéu-coco e o paletó, vestiu e saiu, sem dar
importância à mão estendida do agora feliz proprietário de Bozo.
Voltando-se para trás,
explicou:
- Bozo não é mau. Ele estava apenas com saudades do hindustani,
o idioma no qual foi amestrado após nascer.
Tratando-se de um elefante hindu, ele estava com saudade da sua terra, da língua materna, e acalmou-se, recuperando
sua paz.
E não apertou a mão do
diretor do circo.
Surpreso, o ambicioso
proprietário olhou com mais cuidado o documento que tinha na mão e espantou-se,
porque estava assinado por Rudyard Kipling, o inesquecível amigo dos animais,
que escreveu muitas histórias sobre eles e que foram traduzidas em muitos
idiomas.
A
gratidão de Kipling ao animal saudoso devolveu-lhe a vida,
enquanto Bozo, ouvindo a música doce do idioma a que estava acostumado,
expressou a sua gratidão, recuperando
a calma.
Gratidão é
também uma forma de sentido existencial,
de significado da vida, que poucas
pessoas sabem aplicar no seu desenvolvimento emocional. (grifos nosso)
Texto estudado da obra PSICOLOGIA DA GRATIDÃO, pelo espírito
Joanna de Ângelis, psicografado por Divaldo Pereira Franco.pp.30-34..cap.1, A
BENÇÃO DA GRATIDÃO.
Postado em 25/11/13
Um comentário:
Texto maravilhoso!! Muito grata.
Marisa Fonte
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