A BUSCA DO SIGNIFICADO
Continuação
Em
todo período de crise, de indecisão e de perda de significado existencial da
sociedade, ocorrem mudanças, algumas radicais, em relação ao já experienciado,
ao conhecido, em forma de ânsia de libertação das imposições castradoras
anteriores.
Nesse
processo inevitável da evolução, todo um expressivo número de artistas
conseguiu quebrar os limites impostos pela tradição, para alcançar o além das
formas definidoras de conteúdos. Isso se tornou possível em razão da viagem
interior que foram convidados a fazer, após sentirem-se saturados pelo já
apresentado, que as modernas conquistas da tecnologia poderiam fazer de maneira
perfeita, em cópias iguais, portanto, sem necessidade da sua contribuição
pessoal.
Os
mais audaciosos detiveram-se, a princípio, rompendo os velhos padrões, no
realismo e no impressionismo, para depois darem o grande salto em novas
concepções que desvelam o inconsciente de cada qual e abrem campo a novas
observações numinosas e psicoterapêuticas libertadoras.
Por
intermédio de algumas dessas expressões artísticas, especialmente a pintura, a
escultura, a música, pode-se penetrar nos conflitos dos pacientes e,
utilizando-se de recursos curativos algo semelhantes, trabalhar-lhes as causas
dos transtornos de conduta e de emoção.
Com
essa modificação na arte, particularmente na pintura, mais tarde em outros
ramos culminando na música, na escultura, na literatura, no balé, nos mais
diversos ramos do conhecimento, as denominadas realidades objetivas cederam lugar aos conteúdos metafísicos e
transcendentais, ampliando as conquistas do pensamento humano sem limite nem
forma...
Graças
a essa aventura em direção ao
interior, ao inconsciente, a arte se transformou em um fenômeno místico, quase
religioso pelo seu significado libertador, sem qualquer vínculo com
denominação, mas dirigido à imensidão do Cosmo e da vida.
Proibidas
essas expressões durante o período religioso dominador e restritivo, todas as
imagens que vinham desde a remota antiguidade, porque herança do primarismo, os
artistas conseguiram romper com os cânones do denominado estático, belo,
harmônico, convencionalmente aceitos, demonstrando outras expressões de
significados idênticos, de acordo com a visão e a percepção de cada criatura.
O
inconcebível pode ser externado de maneira própria, favorecendo a identificação
de novos padrões de beleza.
O
que antes era tido como arte moderna
de tal maneira se impôs tornando-se natural, que já não se atém às admiráveis
expressões sob essa ou aquela denominação, estando presente na condição que lhe
é própria, de arte reconhecida e aceita.
O
observador consciente e sincero, diante de alguma dessas expressões que
romperam com o tradicional, identifica-se além da forma, em mensagens
subliminais ou diretas, auxiliando-o a melhor entender-se, decifrar-se, em face
dos padrões que o limitavam e lhe dificultavam a autocompreensão, atormentando-o
e alienando-o...
Ela
provoca, de inicio, um choque, pela estranheza de que se reveste, em qualquer
um dos seus aspectos, na variedade de expressões em que se manifesta, para
logo, à medida que a atenção a focaliza ou a recebe, produz a identificação do inconsciente
que libera informações e faculta a aceitação natural dos seus conteúdos, porque
se encontram também nele mesmo.
Costuma-se
dizer que a maioria da arte contemporânea, expressa angústia, dor, sofrimento,
discórdia, luta, o que, de certo modo, é verdade, porquanto, representa a visão
da jornada longa da evolução e reflete a realidade existencial, muitas vezes
disfarçada pela hipocrisia ou oculta pelos denominados multiplicadores de opinião.
Observemos
Guernica do espanhol Pablo Picasso e
identificaremos a tragédia do bombardeio aéreo sobre a cidade infeliz e a
degradação que tomou conta de tudo.
De
igual maneira, O Grito, do norueguês Edvard
Munch, expressa nessa figura andrógena toda a sua angustia, resultante de uma infância
infeliz, de insucessos afetivos, da visão tormentosa de um entardecer de sangue e de fogo, que ele tentou
expressar em o Desespero, sem o haver
logrado integralmente, o que conseguiu, logo depois, na outra obra que ficou
imortal...
Enquanto
a ciência dirige-se ao intelecto e a reduzido numero de indivíduos, a arte, em
face das suas expressões, é mais abrangente, sendo aceita por todos, não
importando o nível de cultura ou de sentimento, ou de consciência em que se
encontre, porque sempre traduz o que se passa no mundo interior dos seus
autores, expressando a mesma ocorrência naqueles que se lhe vinculam.
Esta
é também uma forma de enfrentamento com o inconsciente, no que o insigne mestre
Jung denominou como a luta mítica contra
o dragão, na representação tradicional de S, Jorge, o vitorioso, o herói. Nada obstante, essa é uma luta
antiga realizada pelo Espirito que tem necessidade de superar os impedimentos da
matéria em que se ergastula durante o processo da evolução, para desvelar as
potencias nele adormecidas, o seu deus interno.
O
divino em cada luta inevitavelmente
contra o humano, a força
transcendente em alerta contra o poder do animal ególatra e escravizador.
Pode-se
dizer que se trata de um esforço imenso esse emergir da escuridão da ignorância
para a claridade do discernimento e da razão. É a autoconquista realizada pelo Self cuja trajetória é interior.
A falta de sentido existencial, portanto, de
significado, gera transtornos neuróticos muitas vezes confundido com outros
motivos que seriam os responsáveis pelo desequilíbrio.
Assim,
a conquista de objetivo, de um significado básico para a existência é fundamental
para o equilíbrio do eixo ego-Self.
Na
atualidade generaliza-se essa problemática, definida por Jung, já, no seu
tempo, como a neurose geral do nosso
tempo, em razão da constatação da inutilidade
a que cada indivíduo se atribui tonando-se quase invisível no meio social onde
se encontra.
Final
do texto, porém o cap. 8, A BUSCA DO
SIGNIFICADO, escrito por Divaldo Franco, espírito Joanna de Ângelis, no
livro EM BUSCA DA VERDADE, continuará na próxima postagem.
Postado
dia 09/11/13.
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