sábado, 9 de novembro de 2013


A BUSCA DO SIGNIFICADO
Continuação

Em todo período de crise, de indecisão e de perda de significado existencial da sociedade, ocorrem mudanças, algumas radicais, em relação ao já experienciado, ao conhecido, em forma de ânsia de libertação das imposições castradoras anteriores. 

Nesse processo inevitável da evolução, todo um expressivo número de artistas conseguiu quebrar os limites impostos pela tradição, para alcançar o além das formas definidoras de conteúdos. Isso se tornou possível em razão da viagem interior que foram convidados a fazer, após sentirem-se saturados pelo já apresentado, que as modernas conquistas da tecnologia poderiam fazer de maneira perfeita, em cópias iguais, portanto, sem necessidade da sua contribuição pessoal. 

Os mais audaciosos detiveram-se, a princípio, rompendo os velhos padrões, no realismo e no impressionismo, para depois darem o grande salto em novas concepções que desvelam o inconsciente de cada qual e abrem campo a novas observações numinosas e psicoterapêuticas libertadoras. 

Por intermédio de algumas dessas expressões artísticas, especialmente a pintura, a escultura, a música, pode-se penetrar nos conflitos dos pacientes e, utilizando-se de recursos curativos algo semelhantes, trabalhar-lhes as causas dos transtornos de conduta e de emoção. 

Com essa modificação na arte, particularmente na pintura, mais tarde em outros ramos culminando na música, na escultura, na literatura, no balé, nos mais diversos ramos do conhecimento, as denominadas realidades objetivas cederam lugar aos conteúdos metafísicos e transcendentais, ampliando as conquistas do pensamento humano sem limite nem forma... 

Graças a essa aventura em direção ao interior, ao inconsciente, a arte se transformou em um fenômeno místico, quase religioso pelo seu significado libertador, sem qualquer vínculo com denominação, mas dirigido à imensidão do Cosmo e da vida. 

Proibidas essas expressões durante o período religioso dominador e restritivo, todas as imagens que vinham desde a remota antiguidade, porque herança do primarismo, os artistas conseguiram romper com os cânones do denominado estático, belo, harmônico, convencionalmente aceitos, demonstrando outras expressões de significados idênticos, de acordo com a visão e a percepção de cada criatura.

O inconcebível pode ser externado de maneira própria, favorecendo a identificação de novos padrões de beleza. 

O que antes era tido como arte moderna de tal maneira se impôs tornando-se natural, que já não se atém às admiráveis expressões sob essa ou aquela denominação, estando presente na condição que lhe é própria, de arte reconhecida e aceita. 

O observador consciente e sincero, diante de alguma dessas expressões que romperam com o tradicional, identifica-se além da forma, em mensagens subliminais ou diretas, auxiliando-o a melhor entender-se, decifrar-se, em face dos padrões que o limitavam e lhe dificultavam a autocompreensão, atormentando-o e alienando-o... 

Ela provoca, de inicio, um choque, pela estranheza de que se reveste, em qualquer um dos seus aspectos, na variedade de expressões em que se manifesta, para logo, à medida que a atenção a focaliza ou a recebe, produz a identificação do inconsciente que libera informações e faculta a aceitação natural dos seus conteúdos, porque se encontram também nele mesmo. 

Costuma-se dizer que a maioria da arte contemporânea, expressa angústia, dor, sofrimento, discórdia, luta, o que, de certo modo, é verdade, porquanto, representa a visão da jornada longa da evolução e reflete a realidade existencial, muitas vezes disfarçada pela hipocrisia ou oculta pelos denominados multiplicadores de opinião. 

Observemos Guernica do espanhol Pablo Picasso e identificaremos a tragédia do bombardeio aéreo sobre a cidade infeliz e a degradação que tomou conta de tudo. 

De igual maneira, O Grito, do norueguês Edvard Munch, expressa nessa figura andrógena toda a sua angustia, resultante de uma infância infeliz, de insucessos afetivos, da visão tormentosa de um entardecer de sangue e de fogo, que ele tentou expressar em o Desespero, sem o haver logrado integralmente, o que conseguiu, logo depois, na outra obra que ficou imortal... 

Enquanto a ciência dirige-se ao intelecto e a reduzido numero de indivíduos, a arte, em face das suas expressões, é mais abrangente, sendo aceita por todos, não importando o nível de cultura ou de sentimento, ou de consciência em que se encontre, porque sempre traduz o que se passa no mundo interior dos seus autores, expressando a mesma ocorrência naqueles que se lhe vinculam.

Esta é também uma forma de enfrentamento com o inconsciente, no que o insigne mestre Jung denominou como a luta mítica contra o dragão, na representação tradicional de S, Jorge, o vitorioso, o herói. Nada obstante, essa é uma luta antiga realizada pelo Espirito que tem necessidade de superar os impedimentos da matéria em que se ergastula durante o processo da evolução, para desvelar as potencias nele adormecidas, o seu deus interno. 

O divino em cada luta inevitavelmente contra o humano, a força transcendente em alerta contra o poder do animal ególatra e escravizador. 

Pode-se dizer que se trata de um esforço imenso esse emergir da escuridão da ignorância para a claridade do discernimento e da razão. É a autoconquista realizada pelo Self cuja trajetória é interior. 

 A falta de sentido existencial, portanto, de significado, gera transtornos neuróticos muitas vezes confundido com outros motivos que seriam os responsáveis pelo desequilíbrio. 

Assim, a conquista de objetivo, de um significado básico para a existência é fundamental para o equilíbrio do eixo ego-Self.

Na atualidade generaliza-se essa problemática, definida por Jung, já, no seu tempo, como a neurose geral do nosso tempo,  em razão da constatação da inutilidade a que cada indivíduo se atribui tonando-se quase invisível no meio social onde se encontra. 

Final do texto, porém o cap. 8, A BUSCA DO SIGNIFICADO, escrito por Divaldo Franco, espírito Joanna de Ângelis, no livro EM BUSCA DA VERDADE, continuará na próxima postagem.
Postado dia 09/11/13.

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