sexta-feira, 29 de novembro de 2013


 

FÉ E RELIGIÃO

O ser humano é, na sua essência, um animal religioso. A sua busca de religiosidade leva-o a vincular-se às diferentes correntes doutrinárias, procurando segurança e harmonia na trajetória física. As suas experiências de fé religiosa concedem-lhe vigor e dão-lhe coragem nas situações difíceis e ante os desafios.
Pode-se afirmar que nesse indivíduo a fé é quase de natureza genética. Há uma crença universal em Deus, não importando o nome que se Lhe dê, a forma como se O compreenda. Atavicamente, o arquétipo divino que nele se expresse através do Self é um fenômeno natural. A crença religiosa, no entanto, é resultado de fatores educacionais, mesológicos, familiares. Dessa forma, têm-se a crença natural e a religião que foi aprendida. Na infância, no período lúdico, as fantasias em geral também se alargam em torno da religião, dando-lhe colorido especial ou criando terror de acordo com o conteúdo de cada uma delas. À medida que a razão e o discernimento substituem a ignorância e a ingenuidade, os conflitos que surgem também entram em confronto com a conduta religiosa, especialmente se é castradora, imposta, ou se tem o caráter policialesco de vigiar todos os passos com ameaças de punição.
A racionalidade que tomou conta dos primeiros pensadores do século XVll, abrindo campo para os enfrentamentos entre as ciências nascentes e as doutrinas religiosas dominantes, atingiu o seu apogeu no fim do XlX, quando, aparentemente, o ser humano afirmou estar distante de Deus, presumivelmente apoiando-se no arrogante conceito de Nietzsche, a respeito de Sua morte ou dos  muitos outros filósofos niilistas e materialistas, ou mesmo de eminentes cientistas. Apesar disso, quanto mais se realizavam avanços nas ciências e a tecnologia de ponta mais ampliava os horizontes da compreensão do mundo, curiosamente surgiu um paradoxo, facultando que inúmeros cientistas começassem a voltar a Deus e à crença no Espírito, como únicas maneiras de entenderem o Cosmo e a vida em si mesma.
Após a proposta darwiniana a respeito da evolução vegetal, animal e o surgimento do homem, mediante a seleção natural, facultando a negação dos conceitos criacionistas bíblicos, que reinaram soberanos por vários séculos, com o advento das moderníssimas conquistas a respeito da decodificação do genoma humano, uma ponte foi lançada entre uma teoria e outra, demonstrando que se encontram verdades em ambas e facultando entendimento de como Deus criou a vida.
Já não é blasfêmia um cientista confessar a sua crença em Deus, assim como a sobrevivência do Espírito à disjunção molecular do corpo.
As incontáveis investigações em torno da paranormalidade humana, realizadas nos séculos XlX e XX, por excelentes cientistas das diversas áreas do conhecimento, têm oferecido material exuberante e incontestável para confirmar que a morte não destrói a vida e que o Espírito não sucumbe, quando desaparece o seu envoltório material.
A mediunidade, após vencer os preconceitos e as superstições que a mistificavam, tornou-se objeto de estudos sérios e consagrados por homens e mulheres dos mais diversos seguimentos da cultura e da civilização, que se renderam à sua legitimidade como instrumento probante da imortalidade do Espírito.
Ciências que derivaram da Psicologia, como área experimental, no caso, a Parapsicologia, mais tarde, a Psicotrônica, a Psicobiofísica, ofereceram campo vasto para os estudos sérios em torno dessas questões, ensejando evidencias e fatos que não podem ser contestados e merecem todo respeito, em face daqueles pesquisadores sérios que se deram ao trabalho de pesquisar, de experimentar, de comparar...
A ruptura com as colocações extremistas de alguns cientistas em relação à religião e aos fenômenos dela defluentes, já não mais existe com a mesma firmeza de antes. Neurocientistas e astrofísicos, matemáticos e biólogos, psicólogos e psiquiatras, assim como outros profissionais dos diferentes ramos do conhecimento científico tem defrontado a realidade transpessoal e adotado comportamento compatível com a filosofia imortalista, como a mais avançada conclusão das suas experiências nos campos de trabalho nos quais operam.
Chegou o momento em que as questões metafísicas podem ser discutidas nos laboratórios sem nenhum pejo para os estudiosos, em tentativas de grande validade para descobrirem o que se encontra escondido além das chamadas leis naturais, pelo menos aquelas que já estão detectadas.
Nesse sentido, Jung foi um dos primeiros acadêmicos a não valorizar em demasia o aspecto racionalista absoluto em torno do Universo, abrindo caminhos dantes não percorridos, para melhor entender-se a criatura humana em sua profundidade e a realidade na qual todos se encontram.
O ser humano não pode fugir do seu arquétipo psicóide, em razão do inconsciente coletivo, onde permanecem todos os constructos da sua existência, naturalmente, também, as exuberantes expressões da fé, no seu sentido mais amplo, da religião e de Deus... Esse extraordinário inconsciente encontra-se fora do conhecido mundo consciente, sendo constituído por um campo-primordial-de-espaço-tempo.
A Psicologia, desse modo, tem por meta entender os fenômenos pertinentes à psique e às suas manifestações, não estando vinculada a qualquer compromisso com os comportamentos religiosos, sem que, no entanto, deles deva abdicar, especialmente quando estudando os diversos distúrbios que aturdem os seus pacientes, as suas alucinações e delírios também de natureza espiritual...
A fé religiosa, quando saudável, estruturada na filosofia da razão, que pode enfrentar a dúvida em todas as épocas do pensamento, contribui de forma significativa para a saúde mental e emocional do indivíduo, dando-lhe sustentação nos momentos de debilidade e coragem nos instantes de desafio.
A fé apresenta-se natural, sem subterfúgio, em tudo que se acredita sem haver sido investigado, e ninguém vive sem essa experiência psicológica que se expressa como fidúcia, aceitação automática... Também resulta das lutas entre razão e o sentimento, o fato e outas explicações, passando pelo crivo da lógica, da observação, tornando-se racional, robusta.
Graças à fé natural, desenvolvem-se as aptidões humanas e os projetos desenhados para a existência transformam-se em realidade, porquanto os estímulos e a fortaleza que dela se derivam, proporcionam os meios para o prosseguimento nos tentames até quando concluídos.

O texto terá sua continuidade na próxima postagem. Postado dia 29/11/13.

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