segunda-feira, 4 de novembro de 2013


 

 

GRATIDÃO E ALEGRIA DE VIVER 

Na busca da solução dos conflitos, a aplicação da imaginação ativa é essencial, ao lado dos sonhos, para se encontrar a sua psicogênese. Na aplicação da imaginação ativa é imprescindível encontrar-se um nível que penetre na fronteira da consciência com o inconsciente e faculte a vivencia de muitas ocorrências que não foram realmente vividas. Transferidas automaticamente umas e outras como mecanismo de fuga da realidade, permanecem adormecidas e ressumam, não poucas vezes, como expressões perturbadoras.
Cada indivíduo é o resumo complexo de energias, possibilidades e arquétipos que não foram utilizados, isso porque um grande número tem caráter prejudicial, conforme a conceituação do ego, que tenta selecionar o que é positivo daquilo que lhe pode ser prejudicial, reprimindo-as imediatamente.
O devir, de alguma forma, fica vinculado a essas ocorrências que o impedem de realizar-se.
Considere-se alguém que dispõe de possibilidades para as artes, no entanto é atraído para uma profissão liberal através da qual adquire garantia financeira para manter a existência. É natural que essa tendência e todo o séquito de recursos fiquem reprimidos no inconsciente por falta de tempo, de ocasião para se expressar. O mesmo sucede com uma mulher que se dedica ao lar, embora sentisse imensa aptidão para atividades universitárias ou outras fora do ninho doméstico. Todas essas tendências irão permanecer-lhe no subsolo da consciência vibrando palidamente ou gerando desconforto no trato com a família, a sua escolhida realidade.
Certamente, um e outra poderão vivenciar essas tendências por intermédio da imaginação ativa, de maneira simbólica ou mesmo real, quando surgirem momentos adequados, sem nenhum prejuízo para os deveres já assumidos.
Assim, é possível viver essas potencialidades de maneira consciente no mundo dos relacionamentos sociais, tanto quanto intimamente no prazer de as realizar de forma simbólica, aplicando os seus recursos na atividade elegida.
Provavelmente os sonhos proporcionarão essa realização, como se a pessoa houvesse encontrado o roteiro de harmonia que tanto desejava, havendo ficado frustrada pela correspondente falta de vivencia.
Quando não se consegue a experiência vivida, podem surgir tons de amargura no comportamento feliz, assim como de incompletude, de traumas psicológicos...
É muito comum, numa vivencia pela imaginação ativa, sentir-se que teria sido ideal que a vida houvesse tomado outro rumo...
Muitas ocorrências dessas têm lugar no momento, por exemplo, da eleição dos vestibulares acadêmicos, quando o jovem inexperiente luta entre o que gostaria de realizar e aquilo que é mais lucrativo. Ao eleger a segunda possibilidade, durante o curso, porque se sente incompleto e incapaz, abandona-o, e volta a iniciar aquilo que lhe dita o inconsciente mediante a tendência predominante no mundo interior.
Encontram-se pessoas que tem uma vida acomodada, abonada pelos recursos financeiros, uma família bem estruturada, cumpridora dos deveres, e apesar disso são sempre levadas a devaneios da imaginação, vivendo outras condutas que lhe dão alegrias. Nesses momentos em que estão a sós e dão largas à imaginação sorriem, gesticula, expressam felicidade, logo retornando à realidade com frustrações...
Naturalmente, o ego, identificando que tal e qual comportamentos não são convenientes ou podem produzir dissabores, reprime essas possibilidades, empurrando-as para os porões do inconsciente onde ficam aguardando...
É perfeitamente lícita e ética a vivência, mesmo que através da imaginação ativa, dessas aspirações não realizadas. Não são prejudiciais – há, sem dúvida, exceção -, porquanto constituem estímulo para o prosseguimento da existência no labor eleito como mais produtivo.
Depois de vivenciar pela imaginação o real significado existencial, pode-se manter o compromisso assumido e também experimentar  viver  alguns momentos reais daqueles desejos reprimidos sem que se esteja cometendo nenhum crime. O executivo ou o profissional liberal bem situados na sociedade podem tentar a utilização da arte nos seus compromissos, pelo menos como hobby,  como divertimento terapêutico.
De igual maneira, a mãe e esposa dedicada deve reservar-se o direito de administrar a família de maneira racional, aplicando os seus conhecimentos na empresa doméstica ou mesmo, simultaneamente, após utilizar o tempo de que dispõe de maneira equânime, dedicar-se a qualquer empreendimento que a enriqueça interiormente, completando-lhe as aspirações saudáveis.
Inúmeras vezes a gratidão insinua-se no comportamento dos indivíduos que, por falta de hábito, por timidez e constrangimento, não se encorajam a expressá-la, reprimindo-a injustificadamente.
Como a gratidão necessita do combustível do amor para poder atingir o seu grau de completude, a pessoa deve exercitar a imaginação ativa vivenciando-a em todas as situações da sua existência, expressando-a intimamente, oferecendo-a com sorrisos silenciosos, sendo útil à comunidade que começa na intimidade da família, mediante os esforços para manter a gentileza e o carinho em qualquer circunstancia.
Também poderá fazê-lo através da oração direcionada ao seu próximo, em vibrações harmônicas de bondade e de desejos fervorosos em benefício dos outros.
A fé adquire expressão inesperada, capaz de emular o individuo a ações mais audaciosas e a atitudes mais eloquentes, nunca revidando mal por mal, porque descobre no aparente mal com que lhe desejam atingir um grande bem, pela possibilidade que se lhe desenha de superar a inferioridade moral que sempre reage, agindo com equilíbrio e compaixão pelo outro, o opositor.
Nesse capítulo, a fé deve ser sem dúvida racional, mas também momento chega em que ela ultrapassa o limite da lógica e entrega-se em totalidade. Assim procederam os mártires de todos os tempos e de todos os ideais... Doaram-se sem quaisquer excogitações.
Conta-se que um alpinista galgava um paredão desafiador à noite, quando derrapou no abismo e, durante a queda que seria fatal, foi salvo por um solavanco da corda de proteção cravada por grampos seguros na montanha.
Recuperando a calma e temendo morrer enregelado durante a madrugada, orou, afervorado, suplicando o socorro de Deus.
Ouviu uma voz que lhe propôs que cortasse a corda que o prendia à altura.
Parecendo-lhe inusitado o auxílio, receou que, ao fazê-lo, cairia no despenhadeiro em morte certa.
Não se encorajou a fazê-lo.
No dia seguinte, quando chegou o socorro e o encontrou congelado, os membros lamentaram que ele não tivesse cortado a corda, porquanto estava a menos de um metro do solo protetor, quando teria salvado a vida...
Final do cap. 10 TÉCNICAS DA GRATIDÃO, escrito por Divaldo Franco espírito Joanna de Ângelis no livro Psicologia da Gratidão.
Postado dia 04/11/13   

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