VOLTAR
PARA CASA
Texto do cap.3 do livro EM
BUSCA DA VERDADE
Divaldo Pereira
Franco/Joanna de Ângelis
A volta para casa é uma viagem rica de alegria, de formosas
expectativas, de lembranças queridas, das raízes, de segurança do conhecido
ante o bravio mundo desconhecido.
O Pai misericordioso é apoio e amparo, mesmo na parábola, em momento
algum ele recalcitra, seja no instante quando o filho deseja aventurar-se na
loucura, iludindo-se com a possibilidade do autoencontro adiante, ou no da
volta, sem nenhuma reprimenda.
Em
casa, no conhecido lugar de desenvolvimento dos valores
profundos do ego e da afirmação do Self, existe alegria em razão da
simplicidade, dos recursos que propiciam a saúde e o bem-estar, mas também pode
asfixiar ou afligir, por falta de liberdade total em que se possa expressar.
Não se pode ser livre in totum, em razão dos limites impostos
pelas leis e mesmo pelo organismo que, de alguma forma, é um ergástulo
necessário para a evolução.
Esse Pai, no entanto, deseja
a felicidade do filho, ele pode estar configurado no superconsciente, em
expectativa agradável de que tudo será resolvido, e para que isso ocorra,
compreende as desilusões e as experiências malogradas que aquele viveu, não lhe
aumentando a carga de culpa nem de remorso, antes liberando-o, para que possa
estabelecer definitivamente na confiança e na renovação.
O filho, não sendo
censurado, não sente vergonha, não experimenta constrangimento. Mas aquele Pai misericordioso também não reclama da conduta do outro filho ciumento, em difícil trânsito da adolescência para a vetustez da maturidade, porque a dor que experimenta já é uma forma de punição em referencia à sua conduta. Esforça-se por diluir-lhe a mágoa, justificando que tudo que tem é dele, que ele tem estado ao seu lado, portanto, desfrutando de segurança e de alegria.
Merece consideração o detalhe
da oferta de um anel que o pai faz ao transviado, esse elo de vinculação
profunda, a fim de restabelecer a ligação que fora interrompida pelo ego inquieto, doentio. O anel será um
símbolo de bem-estar, auxiliando na cura dos tormentos que se demoram no seu
mundo interior.
As sandálias, que também lhe
manda pôr aos pés, são de relevante significado, porque revelam prestígio
social. Os descalçados são a representação da penúria e do desprezo, psicologicamente
aqueles que não tem apoio para a marcha, que se acreditam destituídos de
recursos emocionais para os enfrentamentos, já fracassados, porque perderam os
chinelos de proteção aos pés andarilhos, agora impedidos de avanço, porque
abertos em feridas, vitimados pelos espículos e pedrouços do caminho. Esses
impedimentos são as atrações perturbadoras, os prazeres insanos, os gozos
intoxicantes...
Por fim, chegando a casa, o
filho recebe um manto que o iguala ao pai e ao irmão, um suspiro de confiança,
torna-se, dessa maneira, um igual, alguém querido que merece respeito.
O Pai misericordioso abre-se
ao self do filho e agasalha-o no manto
de púrpura que ele próprio veste, assim como o possuem o outro filho e os seus
convidados de destaque.
Em casa, não há lugar para a
inferioridade do retornado, porquanto o amor a todos iguala, dando-lhes
oportunidade de crescimento e de iluminação.
As criaturas tendem a manter
posturas de tristeza, melancolias prolongadas, conflitos em torno do existir.
Mesmo quando tudo convida à reflexão da alegria, desde um botão singelo de rosa
que desabrocha aos beijos cálidos do Sol à magnitude gloriosa do nascer do dia.
A sombra densa dos atavismos reeencarnacionistas nelas permanece
perturbadora, patológica, anulando a alegria natural da experiência de viver e
de renascer, sendo cultivada em forma de transtorno masoquista e afligente.
Deus é o mais extraordinário
exemplo de alegria, conforme Jesus sempre o decantou. É o Pai dos felizes e dos
angustiados, a todos oferecendo a incomparável oportunidade de reencontrar-se
na estrada evolutiva, de recomeçar quando evocado e de prosseguir enriquecido quando
eficiente e produtivo.
A própria mensagem do
Carpinteiro galileu é um hino de júbilo, porque Ele não possuía sombra, era todo numem, convidando à satisfação do desenvolvimento psicológico e
social, de forma que todos pudessem desfrutar de felicidade, conforme a
preconizava e vivia.
Postado em 02/09/2013.
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