segunda-feira, 2 de setembro de 2013


VOLTAR PARA CASA

Texto do cap.3 do livro EM BUSCA DA VERDADE

Divaldo Pereira Franco/Joanna de Ângelis

A volta para casa é uma viagem rica de alegria, de formosas expectativas, de lembranças queridas, das raízes, de segurança do conhecido ante o bravio mundo desconhecido.

O Pai misericordioso é apoio e amparo, mesmo na parábola, em momento algum ele recalcitra, seja no instante quando o filho deseja aventurar-se na loucura, iludindo-se com a possibilidade do autoencontro adiante, ou no da volta, sem nenhuma reprimenda.

Em casa, no conhecido lugar de desenvolvimento dos valores profundos do ego e da afirmação do Self, existe alegria em razão da simplicidade, dos recursos que propiciam a saúde e o bem-estar, mas também pode asfixiar ou afligir, por falta de liberdade total em que se possa expressar.

Não se pode ser livre in totum, em razão dos limites impostos pelas leis e mesmo pelo organismo que, de alguma forma, é um ergástulo necessário para a evolução.

Esse Pai, no entanto, deseja a felicidade do filho, ele pode estar configurado no superconsciente, em expectativa agradável de que tudo será resolvido, e para que isso ocorra, compreende as desilusões e as experiências malogradas que aquele viveu, não lhe aumentando a carga de culpa nem de remorso, antes liberando-o, para que possa estabelecer definitivamente na confiança e na renovação.
O filho, não sendo censurado, não sente vergonha, não experimenta constrangimento.

Mas aquele Pai misericordioso também não reclama da conduta do outro filho ciumento, em difícil trânsito da adolescência para a vetustez da maturidade, porque a dor que experimenta já é uma forma de punição em referencia à sua conduta. Esforça-se por diluir-lhe a mágoa, justificando que tudo que tem é dele, que ele tem estado ao seu lado, portanto, desfrutando de segurança e de alegria.

Merece consideração o detalhe da oferta de um anel que o pai faz ao transviado, esse elo de vinculação profunda, a fim de restabelecer a ligação que fora interrompida pelo ego inquieto, doentio. O anel será um símbolo de bem-estar, auxiliando na cura dos tormentos que se demoram no seu mundo interior.

As sandálias, que também lhe manda pôr aos pés, são de relevante significado, porque revelam prestígio social. Os descalçados são a representação da penúria e do desprezo, psicologicamente aqueles que não tem apoio para a marcha, que se acreditam destituídos de recursos emocionais para os enfrentamentos, já fracassados, porque perderam os chinelos de proteção aos pés andarilhos, agora impedidos de avanço, porque abertos em feridas, vitimados pelos espículos e pedrouços do caminho. Esses impedimentos são as atrações perturbadoras, os prazeres insanos, os gozos intoxicantes...

Por fim, chegando a casa, o filho recebe um manto que o iguala ao pai e ao irmão, um suspiro de confiança, torna-se, dessa maneira, um igual, alguém querido que merece respeito.

O Pai misericordioso abre-se ao self do filho e agasalha-o no manto de púrpura que ele próprio veste, assim como o possuem o outro filho e os seus convidados de destaque.

Em casa, não há lugar para a inferioridade do retornado, porquanto o amor a todos iguala, dando-lhes oportunidade de crescimento e de iluminação.

As criaturas tendem a manter posturas de tristeza, melancolias prolongadas, conflitos em torno do existir. Mesmo quando tudo convida à reflexão da alegria, desde um botão singelo de rosa que desabrocha aos beijos cálidos do Sol à magnitude gloriosa do nascer do dia.

A sombra densa dos atavismos reeencarnacionistas nelas permanece perturbadora, patológica, anulando a alegria natural da experiência de viver e de renascer, sendo cultivada em forma de transtorno masoquista e afligente.

Deus é o mais extraordinário exemplo de alegria, conforme Jesus sempre o decantou. É o Pai dos felizes e dos angustiados, a todos oferecendo a incomparável oportunidade de reencontrar-se na estrada evolutiva, de recomeçar quando evocado e de prosseguir enriquecido quando eficiente e produtivo.

A própria mensagem do Carpinteiro galileu é um hino de júbilo, porque Ele não possuía sombra, era todo numem, convidando à satisfação do desenvolvimento psicológico e social, de forma que todos pudessem desfrutar de felicidade, conforme a preconizava e vivia.
Postado em 02/09/2013.

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