Amar
para ser feliz
(continuação do cap. 3
ENCONTRO E AUTOENCONTRO)
Do livro EM BUSCA DA VERDADE
Divaldo
Franco/Joanna de Ângelis
A
Parábola do Filho pródigo faz parte da trilogia narrada por Jesus, em
resposta ao farisaísmo hipócrita e perseguidor.
Era-Lhe hábito conviver com
os pecadores
e os publicanos, que se sentiam atraídos
pelos Seus ensinamentos libertadores.
Os doentes do corpo buscavam
a cura que lhes restaurasse a saúde.
Os seus enganos eram tidos
como graves compromissos pela intolerância religiosa e social da sociedade castradora
e perversa. A sombra coletiva pairava
sobre Israel e os seus servidores mais credenciados, os fariseus, os levitas,
os escribas, os sacerdotes viviam da aparência enganosa.
Mantinham a preocupação de
atender aos 613 preceitos que diziam respeito ao corpo e à sociedade, embora
interiormente se encontrassem deteriorados pela morte do sentimento e pela
presunção de coisa nenhuma.
Os seus conflitos eram
mascarados porque lhes importavam os falsos prestígios e distinções, os
comentários bajulatórios e a extravagância da aparência, quanto possível
impecável, embora apodrecendo de inveja, de insatisfação, enfermos em espírito
com mais dificuldade para a recuperação.
Nas parábolas
psicoterapêuticas narradas por Jesus, percebe-se que os Seus inimigos não
censuravam a conduta daqueles que foram excluídos da vida social, por serem
pecadores e cobradores de impostos sempre detestados, mas a do Mestre em
conviver com eles. Olvidavam-se que era natural que o Homem integral, Aquele
que não tinha sombra nem qualquer
tipo de conflito acercasse-se dos impuros,
a fim de os recuperar, de os integrar na vida.
Haviam-se esquecido, por
conveniência e pela perversidade em que se compraziam, da grandeza do amor, da
poderosa proposta libertadora de que se reveste, do significado profundo de que
é portador.
Por isso, pode-se considerar
que as três parábolas dos perdidos, a
do homem que deixa o rebanho para buscar a ovelha que se perdeu, a da mulher que perdeu
uma dracma e a do Filho pródigo, que
se perdeu, podem ser consideradas
como as do encontro e do autoencontro.
Sob outro aspecto, pode-se denomina-las
como as mensagens de júbilos e de misericórdias, porque todos, ao encontrarem o
que haviam perdido, ao encontrar-se exultavam, convidando todos, servos e
amigos, para que se banqueteassem, para que sorrissem, para que se rejubilassem
com os resultados felizes.
A saúde é jovial e
enriquecedora de alegria, promovendo a tranquilidade e ampliando a capacidade
de amar.
O pai misericordioso em todos os momentos da narrativa profunda ama,
tanto àquele que foge em busca da autorrealização e fracassa, quanto ao outro
que fica ao lado, vivendo emocionalmente distante do carinho e do sentimento de
ternura para com o genitor.
Em momento algum demonstra
afeto, porque está morto na sua conduta formal, pusilânime, que aparenta
fidelidade, mas é apenas interesseiro, porquanto não se refere àquele que
retorna humilhado e destroçado interiormente, como seu irmão. Usa de uma
expressão dura para com o pai e ferinte para com o sofrido, dizendo: - Esse teu filho aí...
Havia um proposital
desprezo, um ciúme doentio e um indescritível sentimento de vingança. O irmão
era visto agora como competidor, que estava reabilitado, que voltava a ter
direito aos haveres do pai, que iria disputar com ele a herança...
O pai, no entanto, redargui
com paciência amorosa, sem lhe censurar a conduta e o ressentimento: - Filho (menino), tu estás sempre comigo, e
tudo o que é meu é teu.
O Self do pai sabia a razão do
despeito do ego do filho mais velho e procurou tranquilizá-lo, sem o conseguir de
imediato. Então aduziu: - Mas era preciso
que festejássemos e nos alegrássemos, pois esse teu irmão estava morto e tornou
a viver; ele estava pedido e foi encontrado!
Somente um sentimento de
amor profundo e desinteressado poderia concluir de tal maneira, na análise do
comportamento do filho que retornou,
ao mesmo tempo, demonstrando o significado da alegria.
O amor do pai é automático
em expressar-se, em oferecer-se em júbilo.
Ao ver o filho de longe correu e encheu-se
de compaixão, lançou-se-lhe ao pescoço, cobrindo-o de beijos.
Esse beijo na face é
incontestável sinal de perdão e de compaixão, de renascimento e de vida. Não
deu tempo ao filho ingrato de justificar-se, demonstrando-lhe que estava
novamente no seu lar.
Somente então o desertor
confessou que pecou contra ele e contra o céu, não sendo mais digno de ser
considerado filho.
Esperava ser tratado como
empregado, porque a culpa estava nele insculpida, em face da deserção, do
desinteresse pelo pai idoso, quando mais necessitava de apoio e de segurança.
O amor é, sem dúvida, a
terapia eficiente para os males que afligem os indivíduos em particular e a
sociedade em geral, porque desperta a reciprocidade, arrancando do esconderijo
do egoísmo esse sentimento que é inato, mas necessita de estimulo, de ser despertado,
de ser trabalhado, de ser aceito.
O filho mais velho ficara
com os sentimentos ressequidos, entregando-se ao trabalho rotineiro e não
compensador de amealhar, não para o pai,
na expectativa da herança, portanto, para ele mesmo. Por consequência, não
seria a manifestação do amor de maneira alguma, o que o tornava doente
emocionalmente, mesquinho e distante.
Negando-se a entrar em casa e rejubilar-se, mantinha-se
preso ao instinto de conservação dos sentimentos doentios, não dando
oportunidade ao Self de
desenvolver-se, mantendo-se distante e cerrado.
É necessário entrar-se na
casa dos sentimentos e renová-los com a alegria, com a satisfação pela
felicidade dos demais. É comum chorar-se com quem chora, poucas vezes, porém,
sorrir-se com os júbilos dos outros, porque a inveja, filha dileta do egoísmo,
não se permite compreender a vitória, a real alegria do outro...
Provavelmente, na sua
solidão, o filho mais velho ambicionasse adquirir independência após a morte do
pai, atrair amigos e afetos, pensando que somente o poder e o ter conseguem
companhia e participação nas júbilos. Interiormente, prosseguiria ressequido,
desejando ser amado, levado em consideração, desfrutando o destaque, superando
o complexo de inferioridade em que se debatia por depender do pai sem o amar...
Não se encontra a felicidade
fora do amor, que é o elã sublime de ligação entre todas as forças vivas da Natureza,
é o alimento das almas, fortalecimento da psique, é vida e força espiritual.
Enquanto não viger o amor
natural, o ser humano rumará perdido num país
longínquo, gastando haveres que transitam de mãos e sempre deixam solitário
aquele que deseja a multidão de presenças exteriores, igualmente vazias de
companheirismo.
Quem almeja o encontro,
mesmo que inconsciente do Self, deve
perceber que somente através de um mergulho interior, na reflexão silenciosa, é
possível descobrir e dominar os tesouros adormecidos, trazendo-os para a ponte
que facilitará a comunicação entre os dois eus, realizando a identificação do ego com os valores legítimos da vida.
As heranças ancestrais de
precaver-se para sobreviver, de agredir antes de ser atacado, de manter-se na
retaguarda são todas deploráveis experiências que perturbam a saúde emocional e
psíquica dos indivíduos.
Abrindo-se ao amor, cada um
descobre que qualquer tipo de fuga é perturbador, enquanto que todo avanço na
direção do serviço fraternal, da solidariedade, do amor constitui próximo
encontro com a saúde.
Por outro lado, o estado de
semianiquilamento físico e moral do filho
mais moço demonstra que toda fantasia em torno da vida constitui perigo, e
a entrega ao prazer desmedido se transforma em frustração, em desgaste e culpa.
A autoconsciência é o
elemento que deve ser buscado sempre e de forma lúcida, a fim de poder
eleger-se o que se deve fazer e se pode realizar em detrimento daquilo que se
pode, mas não se deve, ou se deve mas não se pode executar.
Aquele filho mais velho possui a religião formal, aquela aparência social,
mas ainda não encontrara o sentido existencial, o significado do amor em toda a
sua plenitude e na mais variada expressão.
Na censura que faz, esse filho mais velho esquece-se da justiça,
pensando em ser justo, pelo menos para com ele mesmo, porque acredita ser o
único merecedor de todas as homenagens. Assim procedem todos os egoístas.
Olvida-se que os haveres são
do pai, e que, mesmo idoso, enquanto viva, tem o direito de reparti-los, de
utilizá-los conforme lhe aprouver, pois que foram os seus braços que deram
início ao patrimônio, foram a sua administração e a sua constância no trabalho
que mantiveram os recursos agora disputados tenazmente pelo infiel que se dizia
fiel...
A sociedade ainda vive de
maneira farisaica, sempre censurando os pecadores e os cobradores de impostos,
requerendo cada membro mais atenção e cuidado, no inconsciente com inveja dos
prazeres que esses experimentam e eles não se encorajavam a vivenciar, em face
dos preconceitos vigentes...
Não seja de estranhar que
alguém seja censurado por uma atitude, veementemente combatido porque quebrou
algum tabu social, não porque se permitiu a leviandade, mas porque o seu censor
gostaria de estar no seu lugar e não tem as forças para fazê-lo, vindo, no entanto,
mais tarde, a viver de maneira equivalente, demonstrando o conflito em que
vivia, a exulceração oculta superficialmente, mas igualmente pútrida.
Provavelmente, esse filho mais velho via o pai como um
fornecedor dos haveres de que desfrutaria no futuro, não como o pai generoso e
amigo que também participa da vida, das suas alegrias, das suas tristezas,
embora traga o coração angustiado pela saudade do filho perdido...
O amor abarca o mundo, e por
mais se divida, jamais diminui de intensidade, conseguindo multiplicar-se e
ampliar-se ao infinito.
Somente no amor está a
felicidade, porque nele se haure vida e
vida em abundancia, facultando o encontro com a consciência de si, o
autoencontro com o Self.
Final do cap.3 – Postado em
18/09/2013.
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