quarta-feira, 18 de setembro de 2013


 

Amar para ser feliz
(continuação do cap. 3 ENCONTRO E AUTOENCONTRO)
Do livro EM BUSCA DA VERDADE
Divaldo Franco/Joanna de Ângelis 

A Parábola do Filho pródigo  faz parte da trilogia narrada por Jesus, em resposta ao farisaísmo hipócrita e perseguidor.
Era-Lhe hábito conviver com os  pecadores e os publicanos,  que se sentiam atraídos pelos Seus ensinamentos libertadores.
Os doentes do corpo buscavam a cura que lhes restaurasse a saúde.
Os seus enganos eram tidos como graves compromissos pela intolerância religiosa e social da sociedade castradora e perversa. A sombra coletiva pairava sobre Israel e os seus servidores mais credenciados, os fariseus, os levitas, os escribas, os sacerdotes viviam da aparência enganosa.
Mantinham a preocupação de atender aos 613 preceitos que diziam respeito ao corpo e à sociedade, embora interiormente se encontrassem deteriorados pela morte do sentimento e pela presunção de coisa nenhuma.
Os seus conflitos eram mascarados porque lhes importavam os falsos prestígios e distinções, os comentários bajulatórios e a extravagância da aparência, quanto possível impecável, embora apodrecendo de inveja, de insatisfação, enfermos em espírito com mais dificuldade para a recuperação.
Nas parábolas psicoterapêuticas narradas por Jesus, percebe-se que os Seus inimigos não censuravam a conduta daqueles que foram excluídos da vida social, por serem pecadores e cobradores de impostos sempre detestados, mas a do Mestre em conviver com eles. Olvidavam-se que era natural que o Homem integral, Aquele que não tinha sombra nem qualquer tipo de conflito acercasse-se dos impuros, a fim de os recuperar, de os integrar na vida.
Haviam-se esquecido, por conveniência e pela perversidade em que se compraziam, da grandeza do amor, da poderosa proposta libertadora de que se reveste, do significado profundo de que é portador.
Por isso, pode-se considerar que as três parábolas dos perdidos, a do homem que deixa o rebanho para buscar a ovelha que se perdeu, a da mulher que perdeu uma dracma e a do Filho pródigo, que se perdeu, podem ser consideradas como as do encontro e do autoencontro.
Sob outro aspecto, pode-se denomina-las como as mensagens de júbilos e de misericórdias, porque todos, ao encontrarem o que haviam perdido, ao encontrar-se exultavam, convidando todos, servos e amigos, para que se banqueteassem, para que sorrissem, para que se rejubilassem com os resultados felizes.
A saúde é jovial e enriquecedora de alegria, promovendo a tranquilidade e ampliando a capacidade de amar.
O pai misericordioso em todos os momentos da narrativa profunda ama, tanto àquele que foge em busca da autorrealização e fracassa, quanto ao outro que fica ao lado, vivendo emocionalmente distante do carinho e do sentimento de ternura para com o genitor.
Em momento algum demonstra afeto, porque está morto na sua conduta formal, pusilânime, que aparenta fidelidade, mas é apenas interesseiro, porquanto não se refere àquele que retorna humilhado e destroçado interiormente, como seu irmão. Usa de uma expressão dura para com o pai e ferinte para com o sofrido, dizendo: - Esse teu filho aí...
Havia um proposital desprezo, um ciúme doentio e um indescritível sentimento de vingança. O irmão era visto agora como competidor, que estava reabilitado, que voltava a ter direito aos haveres do pai, que iria disputar com ele a herança...
O pai, no entanto, redargui com paciência amorosa, sem lhe censurar a conduta e o ressentimento: - Filho (menino), tu estás sempre comigo, e tudo o que é meu é teu.
O Self  do pai sabia a razão do despeito do ego do filho mais velho e procurou tranquilizá-lo, sem o conseguir de imediato. Então aduziu: - Mas era preciso que festejássemos e nos alegrássemos, pois esse teu irmão estava morto e tornou a viver; ele estava pedido e foi encontrado!
Somente um sentimento de amor profundo e desinteressado poderia concluir de tal maneira, na análise do comportamento do filho que retornou, ao mesmo tempo, demonstrando o significado da alegria.
O amor do pai é automático em expressar-se, em oferecer-se em júbilo.
Ao ver o filho de longe correu e encheu-se de compaixão, lançou-se-lhe ao pescoço, cobrindo-o de beijos.
Esse beijo na face é incontestável sinal de perdão e de compaixão, de renascimento e de vida. Não deu tempo ao filho ingrato de justificar-se, demonstrando-lhe que estava novamente no seu lar.
Somente então o desertor confessou que pecou contra ele e contra o céu, não sendo mais digno de ser considerado filho.
Esperava ser tratado como empregado, porque a culpa estava nele insculpida, em face da deserção, do desinteresse pelo pai idoso, quando mais necessitava de apoio e de segurança.
O amor é, sem dúvida, a terapia eficiente para os males que afligem os indivíduos em particular e a sociedade em geral, porque desperta a reciprocidade, arrancando do esconderijo do egoísmo esse sentimento que é inato, mas necessita de estimulo, de ser despertado, de ser trabalhado, de ser aceito.
O filho mais velho ficara com os sentimentos ressequidos, entregando-se ao trabalho rotineiro e não compensador de amealhar, não para o  pai, na expectativa da herança, portanto, para ele mesmo. Por consequência, não seria a manifestação do amor de maneira alguma, o que o tornava doente emocionalmente, mesquinho e distante.
Negando-se a entrar em casa e rejubilar-se, mantinha-se preso ao instinto de conservação dos sentimentos doentios, não dando oportunidade ao Self de desenvolver-se, mantendo-se distante e cerrado.
É necessário entrar-se na casa dos sentimentos e renová-los com a alegria, com a satisfação pela felicidade dos demais. É comum chorar-se com quem chora, poucas vezes, porém, sorrir-se com os júbilos dos outros, porque a inveja, filha dileta do egoísmo, não se permite compreender a vitória, a real alegria do outro...
Provavelmente, na sua solidão, o filho mais velho ambicionasse adquirir independência após a morte do pai, atrair amigos e afetos, pensando que somente o poder e o ter conseguem companhia e participação nas júbilos. Interiormente, prosseguiria ressequido, desejando ser amado, levado em consideração, desfrutando o destaque, superando o complexo de inferioridade em que se debatia por depender do pai sem o amar...
Não se encontra a felicidade fora do amor, que é o elã sublime de ligação entre todas as forças vivas da Natureza, é o alimento das almas, fortalecimento da psique, é vida e força espiritual.
Enquanto não viger o amor natural, o ser humano rumará perdido  num país longínquo, gastando haveres que transitam de mãos e sempre deixam solitário aquele que deseja a multidão de presenças exteriores, igualmente vazias de companheirismo.
Quem almeja o encontro, mesmo que inconsciente do Self, deve perceber que somente através de um mergulho interior, na reflexão silenciosa, é possível descobrir e dominar os tesouros adormecidos, trazendo-os para a ponte que facilitará a comunicação entre os dois  eus, realizando a identificação do ego com os valores legítimos da vida.
As heranças ancestrais de precaver-se para sobreviver, de agredir antes de ser atacado, de manter-se na retaguarda são todas deploráveis experiências que perturbam a saúde emocional e psíquica dos indivíduos.
Abrindo-se ao amor, cada um descobre que qualquer tipo de fuga é perturbador, enquanto que todo avanço na direção do serviço fraternal, da solidariedade, do amor constitui próximo encontro com a saúde.
Por outro lado, o estado de semianiquilamento físico e moral do filho mais moço demonstra que toda fantasia em torno da vida constitui perigo, e a entrega ao prazer desmedido se transforma em frustração, em desgaste e culpa.
A autoconsciência é o elemento que deve ser buscado sempre e de forma lúcida, a fim de poder eleger-se o que se deve fazer e se pode realizar em detrimento daquilo que se pode, mas não se deve, ou se deve mas não se pode executar.
Aquele filho mais velho possui a religião formal, aquela aparência social, mas ainda não encontrara o sentido existencial, o significado do amor em toda a sua plenitude e na mais variada expressão.
Na censura que faz, esse filho mais velho esquece-se da justiça, pensando em ser justo, pelo menos para com ele mesmo, porque acredita ser o único merecedor de todas as homenagens. Assim procedem todos os egoístas.
Olvida-se que os haveres são do pai, e que, mesmo idoso, enquanto viva, tem o direito de reparti-los, de utilizá-los conforme lhe aprouver, pois que foram os seus braços que deram início ao patrimônio, foram a sua administração e a sua constância no trabalho que mantiveram os recursos agora disputados tenazmente pelo infiel que se dizia fiel...
A sociedade ainda vive de maneira farisaica, sempre censurando os pecadores e os cobradores de impostos, requerendo cada membro mais atenção e cuidado, no inconsciente com inveja dos prazeres que esses experimentam e eles não se encorajavam a vivenciar, em face dos preconceitos vigentes...
Não seja de estranhar que alguém seja censurado por uma atitude, veementemente combatido porque quebrou algum tabu social, não porque se permitiu a leviandade, mas porque o seu censor gostaria de estar no seu lugar e não tem as forças para fazê-lo, vindo, no entanto, mais tarde, a viver de maneira equivalente, demonstrando o conflito em que vivia, a exulceração oculta superficialmente, mas igualmente pútrida.
Provavelmente, esse filho mais velho via o pai como um fornecedor dos haveres de que desfrutaria no futuro, não como o pai generoso e amigo que também participa da vida, das suas alegrias, das suas tristezas, embora traga o coração angustiado pela saudade do filho perdido...
O amor abarca o mundo, e por mais se divida, jamais diminui de intensidade, conseguindo multiplicar-se e ampliar-se ao infinito.
Somente no amor está a felicidade, porque nele se haure vida e vida em abundancia, facultando o encontro com a consciência de si, o autoencontro com o Self.
Final do cap.3 – Postado em 18/09/2013.

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