A CONQUISTA DA PLENITUDE
PELA GRATIDÃO
4º Capítulo do livro PSICOLOGIA DA GRATIDÃO
Divaldo P. Franco/Joanna de
Ângelis, p. 96-100
APLICATIVOS
GRATULATÓRIOS.
Quando se pensa nos
aplicativos gratulatórios, o arquétipo correspondente organiza a história dos
acontecimentos para proporcionar um novo passo na conquista da consciência. Não
se trata de uma aquisição convencional, mas da possibilidade de melhor
entender-se a realidade. É uma forma de se reconhecer a grandeza da vida, sua
beleza e seu significado.
É natural que surja uma certa
nostalgia conceptual em torno da gratidão conforme a herança ancestral, devendo
ser superada pelo sentimento de ser útil e de participar ativamente no processo
de crescimento da sociedade como um todo assim como do indivíduo
particularmente.
O ser humano é um cocriador
dos reflexos da realidade na história da evolução moral e espiritual revelada
num todo que, muitas vezes, apresenta-se nas paisagens do inconsciente como
sonhos arquetípicos, que se transformam em desveladores das metas a serem
alcançadas.
Todas as criaturas tem
papeis de relevante importância a desempenhar no universo, permitindo que a
consciência reflita as ocorrências do cosmo e logre intrometa-las na
consciência individual, por fim na coletiva.
Herdeiro das experiências
pessoais, o ser humano é convidado a crescer em cada etapa do seu processo de
desenvolvimento ético-moral, experienciando pequenos valores que se transformam
em significados profundos. É natural que se deseje produzir realizações de
grande porte, capazes de provocar admiração, num processo de exaltação do ego, nada
obstante, são aquelas de aparente pequeno valor que aprimoram o caráter e
contribuem para a saúde emocional, por estarem mais vivas no dia a dia de cada
um e de todos em geral.
A solidariedade, por
exemplo, que fascina as massas, quando exaltada na comunicação midiática,
raramente é exercitada como aplicativo gratulatório, devendo ensejar o hábito
de ser-se útil, de estar-se vigilante e lúcido sempre para ajudar, contribuindo
em favor da mudança do status quo vigente
para um patamar histórico e moral mais elevado.
Redescobrir a solidariedade,
participando ativamente dos labores coletivos e auxiliando com os recursos da
compreensão, da bondade e do entendimento fraternal em torno das deficiências dos
outros e das dificuldades que são enfrentadas pela maioria, ainda na infância psicológica,
é conduta relevante e de alta magnitude. Essa cooperação expressa-se mediante o
interesse de tornar a existência na Terra mais feliz, diminuindo os nexos de
atrito e de desconforto moral social e econômico, através das pontes da
gentileza e do auxilio de qualquer natureza que se pode colocar à disposição
daquele que o necessita.
Esse esforço faculta consciência
ao ego sobre a sua responsabilidade de superar a sombra e vincular-se ao self em ação dinâmica portadora de
edificações significativas. Tal conduta favorece o indivíduo com a alegria de
viver, auxilia-o na libertação do estresse, evitando que tombe na neurastenia
ou na depressão.
Exercitando-se o sentimento
gratulatório, automatiza-se o comportamento que se fixa no inconsciente,
passando a exteriorizar-se noutras oportunidades sem nenhum esforço.
A consciência objetiva (a
psique) está sempre relacionada com a subjetividade do ego, sendo portanto
imprevisível, enquanto o inconsciente com os estereótipos arquivados reponde
com significação esperada e que se deseja.
Ampliando o elenco da
gratidão, vale considerar-se a ternura que vem perdendo espaço no comportamento
dos indivíduos armados contra as ocorrências perturbadoras, e praticamente só é
expressa nos relacionamentos mais íntimos, nos momentos de emoção afetiva
especialmente entre os familiares e amigos mais próximos. A ternura, no
entanto, deveria ser uma conduta natural, irradiando gentileza e prazer na convivência
com tudo quanto cerca o indivíduo: a natureza e suas expressões, os seres
humanos, mesmo aqueles inamistosos, que são atormentados pelos conflitos em que
se facultam permanecer.
A ternura é resultado da
cultura e da vivencia das ações superiores do amor, que estabelece paradigmas
de conduta enobrecedora, externando-se em curiosos fenômenos de simpatia e de
generosidade.
Todos os seres necessitam do
estímulo da ternura que mantém os relacionamentos nos momentos difíceis, as
afeições quando se vão desgastando, interrompendo o fluxo da animosidade quando
se apresenta.
Nas uniões sexuais, por
exemplo, um dos fatores de futuros desentendimentos é a falta de ternura com
que se relacionam os parceiros. Mais atraídos pelo prazer sexual, as pessoas
quase não valorizam a convivência, porque são carentes afetivos interiores que
esperam ser preenchidas pela outra, que também padece da mesma ausência de
afetividade pessoal. Passadas as sensações do prazer valorizado, surgem os
atritos dos solitários a dois, que se olvidam de ser solidários reciprocamente.
Não havendo a ternura que
estreita os vínculos do amor entre aqueles que constituem a parceria, o gozo
desfrutado é muito fugaz e dá lugar a aspirações diferentes, abrindo a mente a sonhos e ambições por outrem que lhe
proporcione mais do que a febre do desejo e da realização rápida. Em consequência,
nasce a insatisfação, a procura de alguém que seria o ideal mitológico da
perfeição, sem a preocupação pessoal do que esse buscado com ansiedade também
deseja.
Seria o caso comum de muitas
pessoas que dizem estar aguardando o ser ideal para se lhes vincular, tendo em
vista que essa é uma ambição generalizada. E como todos estão aguardando que
seja o outro o preenchedor do seu vazio existencial, aumenta o número dos
solitários e insatisfeitos em todo lugar, mesmo na multidão, na família, nas
vinculações da afetividade apressada...
A ternura propõe a
preocupação portadora de bem-estar, quando se pensa no outro, buscando a melhor
maneira de fazê-lo feliz, mantendo a comunicação jovial, os toques afetuosos demonstrativos
da necessidade da presença e da reciprocidade afetiva...
O tempo sem tempo de que todos se queixam na atualidade parece
responsável pelas carências de toda ordem, quando em verdade é exatamente a ausência
da afetividade que gera as fugas psicológicas, as transferências para as
coisas e os lugares, aplicando a oportunidade útil em buscas e em atividades
secundárias frustradoras.
É indispensável encarar-se a
própria deficiência afetiva e
procurar-se remontar às causas próximas e também remotas, reservando-se
momentos para o autoexame da consciência, para a transcendência, para o
encontro com o si profundo.
Toda vez que a sombra
mascara os sentimentos do indivíduo impedindo que a realidade assome, a fuga
mantém-no encarcerado no conveniente, naquilo que gostaria de ser, empurrando-o
para o medo de ser desvelado, gerando conflito totalmente desnecessário e de
fácil eliminação, usando a coragem do discernimento para se assumir como se é,
embora com limites e dificuldades, ou com as bênçãos e as realizações já
conquistadas.
A sombra sempre vigilante
está armada contra as aquisições novas, em mecanismo de autodefesa para a sobrevivência,
ocultando-se no ego. Nunca será demais o cuidado para a identificar e trabalhá-la,
diluindo a sua influencia e libertando-se para assumir a própria realidade.
A gratidão contribui para
essa batalha silenciosa que se trava na psique, porque oferece uma visão ampla
do mundo e profunda de todos aqueles que fazem parte do circulo das amizades
humanas.
Final do texto. Porém o
cap.4 – a conquista da plenitude pela gratidão continuará na próxima
postagem. (texto postado dia 24/09/2013).
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