terça-feira, 24 de setembro de 2013


A CONQUISTA DA PLENITUDE PELA GRATIDÃO
4º Capítulo do livro PSICOLOGIA DA GRATIDÃO
Divaldo P. Franco/Joanna de Ângelis, p. 96-100
 
APLICATIVOS GRATULATÓRIOS.
Quando se pensa nos aplicativos gratulatórios, o arquétipo correspondente organiza a história dos acontecimentos para proporcionar um novo passo na conquista da consciência. Não se trata de uma aquisição convencional, mas da possibilidade de melhor entender-se a realidade. É uma forma de se reconhecer a grandeza da vida, sua beleza e seu significado.
É natural que surja uma certa nostalgia conceptual em torno da gratidão conforme a herança ancestral, devendo ser superada pelo sentimento de ser útil e de participar ativamente no processo de crescimento da sociedade como um todo assim como do indivíduo particularmente.
O ser humano é um cocriador dos reflexos da realidade na história da evolução moral e espiritual revelada num todo que, muitas vezes, apresenta-se nas paisagens do inconsciente como sonhos arquetípicos, que se transformam em desveladores das metas a serem alcançadas.
Todas as criaturas tem papeis de relevante importância a desempenhar no universo, permitindo que a consciência reflita as ocorrências do cosmo e logre intrometa-las na consciência individual, por fim na coletiva.
Herdeiro das experiências pessoais, o ser humano é convidado a crescer em cada etapa do seu processo de desenvolvimento ético-moral, experienciando pequenos valores que se transformam em significados profundos. É natural que se deseje produzir realizações de grande porte, capazes de provocar admiração, num processo de exaltação do ego, nada obstante, são aquelas de aparente pequeno valor que aprimoram o caráter e contribuem para a saúde emocional, por estarem mais vivas no dia a dia de cada um e de todos em geral.
A solidariedade, por exemplo, que fascina as massas, quando exaltada na comunicação midiática, raramente é exercitada como aplicativo gratulatório, devendo ensejar o hábito de ser-se útil, de estar-se vigilante e lúcido sempre para ajudar, contribuindo em favor da mudança do status quo vigente para um patamar histórico e moral mais elevado.
Redescobrir a solidariedade, participando ativamente dos labores coletivos e auxiliando com os recursos da compreensão, da bondade e do entendimento fraternal em torno das deficiências dos outros e das dificuldades que são enfrentadas pela maioria, ainda na infância psicológica, é conduta relevante e de alta magnitude. Essa cooperação expressa-se mediante o interesse de tornar a existência na Terra mais feliz, diminuindo os nexos de atrito e de desconforto moral social e econômico, através das pontes da gentileza e do auxilio de qualquer natureza que se pode colocar à disposição daquele que o necessita.
Esse esforço faculta consciência ao ego sobre a sua responsabilidade de superar a sombra e vincular-se ao self em ação dinâmica portadora de edificações significativas. Tal conduta favorece o indivíduo com a alegria de viver, auxilia-o na libertação do estresse, evitando que tombe na neurastenia ou na depressão.
Exercitando-se o sentimento gratulatório, automatiza-se o comportamento que se fixa no inconsciente, passando a exteriorizar-se noutras oportunidades sem nenhum esforço.
A consciência objetiva (a psique) está sempre relacionada com a subjetividade do ego, sendo portanto imprevisível, enquanto o inconsciente com os estereótipos arquivados reponde com significação esperada e que se deseja.
Ampliando o elenco da gratidão, vale considerar-se a ternura que vem perdendo espaço no comportamento dos indivíduos armados contra as ocorrências perturbadoras, e praticamente só é expressa nos relacionamentos mais íntimos, nos momentos de emoção afetiva especialmente entre os familiares e amigos mais próximos. A ternura, no entanto, deveria ser uma conduta natural, irradiando gentileza e prazer na convivência com tudo quanto cerca o indivíduo: a natureza e suas expressões, os seres humanos, mesmo aqueles inamistosos, que são atormentados pelos conflitos em que se facultam permanecer.
A ternura é resultado da cultura e da vivencia das ações superiores do amor, que estabelece paradigmas de conduta enobrecedora, externando-se em curiosos fenômenos de simpatia e de generosidade.
Todos os seres necessitam do estímulo da ternura que mantém os relacionamentos nos momentos difíceis, as afeições quando se vão desgastando, interrompendo o fluxo da animosidade quando se apresenta.
Nas uniões sexuais, por exemplo, um dos fatores de futuros desentendimentos é a falta de ternura com que se relacionam os parceiros. Mais atraídos pelo prazer sexual, as pessoas quase não valorizam a convivência, porque são carentes afetivos interiores que esperam ser preenchidas pela outra, que também padece da mesma ausência de afetividade pessoal. Passadas as sensações do prazer valorizado, surgem os atritos dos solitários a dois, que se olvidam de ser solidários reciprocamente.
Não havendo a ternura que estreita os vínculos do amor entre aqueles que constituem a parceria, o gozo desfrutado é muito fugaz e dá lugar a aspirações diferentes, abrindo a mente a sonhos e ambições por outrem que lhe proporcione mais do que a febre do desejo e da realização rápida. Em consequência, nasce a insatisfação, a procura de alguém que seria o ideal mitológico da perfeição, sem a preocupação pessoal do que esse buscado com ansiedade também deseja.
Seria o caso comum de muitas pessoas que dizem estar aguardando o ser ideal para se lhes vincular, tendo em vista que essa é uma ambição generalizada. E como todos estão aguardando que seja o outro o preenchedor do seu vazio existencial, aumenta o número dos solitários e insatisfeitos em todo lugar, mesmo na multidão, na família, nas vinculações da afetividade apressada...
A ternura propõe a preocupação portadora de bem-estar, quando se pensa no outro, buscando a melhor maneira de fazê-lo feliz, mantendo a comunicação jovial, os toques afetuosos demonstrativos da necessidade da presença e da reciprocidade afetiva...
O tempo sem tempo de que todos se queixam na atualidade parece responsável pelas carências de toda ordem, quando em verdade é exatamente a ausência  da afetividade que gera as  fugas psicológicas, as transferências para as coisas e os lugares, aplicando a oportunidade útil em buscas e em atividades secundárias frustradoras.
É indispensável encarar-se a própria deficiência afetiva e  procurar-se remontar às causas próximas e também remotas, reservando-se momentos para o autoexame da consciência, para a transcendência, para o encontro com o si profundo.
Toda vez que a sombra mascara os sentimentos do indivíduo impedindo que a realidade assome, a fuga mantém-no encarcerado no conveniente, naquilo que gostaria de ser, empurrando-o para o medo de ser desvelado, gerando conflito totalmente desnecessário e de fácil eliminação, usando a coragem do discernimento para se assumir como se é, embora com limites e dificuldades, ou com as bênçãos e as realizações já conquistadas.
A sombra sempre vigilante está armada contra as aquisições novas, em mecanismo de autodefesa para a sobrevivência, ocultando-se no ego. Nunca será demais o cuidado para a identificar e trabalhá-la, diluindo a sua influencia e libertando-se para assumir a própria realidade.
A gratidão contribui para essa batalha silenciosa que se trava na psique, porque oferece uma visão ampla do mundo e profunda de todos aqueles que fazem parte do circulo das amizades humanas.
Final do texto. Porém o cap.4 – a conquista da plenitude pela gratidão continuará na próxima postagem. (texto postado dia 24/09/2013).

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