quinta-feira, 26 de setembro de 2013


Sair de Si-mesmo

Cap.4, EXPERIÊNCIAS DE ILUMINAÇÂO

Do livro EM BUSCA DA VERDADE

Divaldo Franco/Joanna de Ângelis

Pag. 82-88.

 
Para que o si-mesmo possa expressar-se com segurança, especialmente na parábola em análise, torna-se indispensável a integração da persona com a sombra.

Jung considerou a persona e a sombra como classicamente opostos, encontrando-se no ego a expressar-se, numa visão total da psique, como polaridades.

Trata-se de uma aceitação consciente do si-mesmo, compreendendo o seu lado sombra e as suas dificuldades em lidar com ele. Devem-se considerar as ocorrências negativas e perturbadora como naturais, mas sem os constrangimentos nem a vergonha das manifestações pessoais que são tidas por perversas, demoníacas.

Como esse lado não está de acordo com a persona, a aparência que se mantém, surgem os problemas interiores, os conflitos que devem ser evitados, tendo-se em vista que esse aparente mal, desde que não prejudique a outrem, é também responsável por muitos acontecimentos bons, por momentos de bem-estar e de alegria.

Estar-se aberto às diversas manifestações existenciais, sem repugnância pelo lado mal, pela exteriorização do­ eu-demônio, sobretudo, sem violência nem conflito, o eu-angélico, proporciona uma pré-individuação, porque é nessa luta de opositores surge uma terceira coisa, que é a conquista do estado numinoso.

Normalmente os conteúdos da sombra são contestados pela persona (o irmão mais novo e o irmão mais velho da parábola em estudo), que também podem encontrar-se no mesmo indivíduo, quando esse sofre a repulsa de si mesmo e o desejo de elevar-se, ocorrendo inevitáveis conflitos de comportamento.

Jung propõe um novo símbolo que sempre trará algo de ambos, que é o esforço para a integração daqueles conteúdos, numa diferente e renovada concepção de mundo como decorrência da transformação do ego.

O filho mais moço da parábola sentia que o seu irmão mais velho não o aceitaria e, malgrado essa percepção antecipada, gerou o movimento do retorno, porque naquele momento a sua visão qualitativa do mundo era diferente, assim valorizando o lado bom do mesmo e considerando o seu esforço de arrependimento voltando para casa.

Quando se foi para o país longínquo, estava buscando o si-mesmo, embora saindo; quando retornou, descobrindo-se caindo em si-mesmo.

Muitas das atividades humanas e psicológicas são o resultado dessa saída sem a perspectiva, pelo menos racional, da volta, o que se transforma numa atitude de definição e de responsabilidade pelo que possa acontecer no futuro.

À medida, porém, que a persona se fortalece, ampliando a capacidade de compreensão e de identificação, torna-se maleável, submete-se às necessária mudanças, conseguindo a integração com a sombra, fundindo os dois eus.
 
Há, entretanto, indivíduos com uma tal carga de energia da sombra que não conseguem a aceitação dos seus erros pela persona, tornando-se um questão patológica necessitada de terapia especializada.

Essa conduta antinômica é resultado dos instintos ainda dominantes na psique, herança poderosa da natureza animal do ser em relação à sua natureza espiritual, à sua origem no Uno.
 
As experiências das reencarnações privilegiando em uma etapa os valores intelectuais, noutra aqueles de natureza moral, em diversas ocasiões o desenvolvimento das tendências artísticas e culturais, os labores científicos e filosóficos, as místicas religiosas com todas as sua cargas simbólicas e mitológicas, havendo gerado o peso dos conflitos, a descoberta do bem e do mal, a perda do paraíso, ensejam o predomínio de um arquétipo sobre o outro. Em determinado período mais primitivo da evolução, é a sombra, mais tarde é a presença marcante da persona,  em diferentes oportunidades ou anima-us, por muito tempo o ego até o momento da estruturação complexa do Self, na sua amplitude que se espraia além dos limites do individuo.

Por sua vez, o Pai amoroso saiu de si mesmo para receber o filho perdido e o acolheu no coração, que jamais deixara de o amar, pois que nunca o expulsara dos seus sentimentos, quando constatando que o outro filho, o mais velho, se recusava a entrar em casa e fora tomado pela revolta, assim como a ira, filhas diletas da sombra, novamente saiu de si-mesmo e foi em sua busca, por constatar que estava perdido também, necessitando de ser encontrado.
No processo da evolução do Espírito, faz-se necessário muitas vezes, sair de si-mesmo, para alcançar-se a meta a que se propõe, porque há situações difíceis de conflitos psicológicos em torno, que necessitam a presença do ser divino que se possui no ímo.
Jesus assim o fez inúmeras vezes, pois que Ele veio para ovelhas desgarradas, sacrificou a Sua vida para resgatá-las da perdição, confundiu-se com a sombra individual de cada qual e a coletiva de Israel, de Jerusalém assassina, que matava os profetas, a fim de manter a sua corrupção, aguardando um vingador para esmagar aqueles que lhe dominavam o povo, olvidando-se que a pior escravatura é a que procede dos instintos, dos arquétipos inferiores do Self em formação e desenvolvimento.
Sair de si-mesmo é fruir por antecipação o retorno que se dará com a conquista realizada, quanto sucedeu com Jesus, crucificado, mas livre, indesejado, no entanto, triunfante, porque conseguira atingir o estágio mais alto da psique: a vitória sobre os impositivos existenciais, embora já fosse perfeito como o Pai Celestial é perfeito.
Considerando-se as parábolas da esperança, da consolação, dos júbilos, dos perdidos, pode-se ver Jesus na condição de Filho Pródigo do Amor.
Afastou-se do Reino com os Seus inestimáveis bens e veio ao terreno país longínquo, para desperdiçar os Seus tesouros com as meretrizes e ladrões, os de má vida, que se Lhe tornaram más companhias, sem permitir-se contaminar com as suas misérias. E porque eram incontáveis esses necessitados Ele entregou tudo quanto possuía e, repentinamente, viu que se abatera sobre o país a fome de amor e de misericórdia, de compaixão e de solidariedade, resolvendo-se por entregar-se in totum, a partir do momentoso Sermão da montanha...
Apesar dessa doação máxima de amor, foi desprezado pelos habitantes soberbos e ingratos desse país, os prepotentes e dominadores, ficando com a ralé, simbolicamente representando os suínos, como era quase considerada, não aceita e espezinhada, optando pela cruz do sacrifício de afeto jamais ocorrido na Terra, voltando, porém, rico de bênçãos ao Pai misericordioso, que o recebeu em júbilo, permitindo que Ele ficasse ainda, por mais tempo, num e noutro lugar, acenando com a imortalidade gloriosa.
No estado numinoso, Ele tentou dissipar a sombra individual, que espera pelo esforço do Self de cada qual, iniciando-se, então, esse processo de unificação com a persona através dos dois milênios, a partir do momento em que se inicie a terapia psicotrópica da renovação interior, proporcionando aos neurocomunicadores a produção de monoaminas restauradoras da saúde psicológica e da moral através da vivencia dos Seus incomparáveis enunciados psicoterapêuticos.
Herdeiro de si mesmo, o ser humano é a soma das suas experiências, que desenvolvem os valores para a própria evolução. O que lhe constitui desafio em uma etapa desse crescimento, noutra se lhe torna mais acessível, dando lugar ao surgimento dos arquétipos muito bem examinados pelo eminente mestre de Zurique, Carl Gustav Jung.
Entende-se que a predominância da sombra ou do anima-us em indivíduos biologicamente portadores de polaridades orgânicas opostas, resulta das experiências malsucedidas e que, repetidas, lhes proporcionam o ensejo de ajustamento, de integração moral, qual ocorre com a persona na construção do Self iluminado, liberado das pesadas cargas dos conflitos ancestrais.
A conquista da saúde integral é, compreensivelmente, um desafio que está diante de cada qual, dependendo do seu esforço enfrenta-la desde logo ou posterga-la, quando complicada e perturbadora.
Graças às conquistas da medicina nos seus mais diversos setores, e das doutrinas psicológicas iluminadas pelo Espiritismo, com o seu valioso contributo psicoterapêutico preventivo e curador, dispõe o ser humano destes dias de instrumentos valiosos para o logra da felicidade mesmo na Terra, embora o Reino não seja deste mundo, nele iniciando-se e prolongando-se pelo infinito dos tempos e dos espaços.
A Parábola do Filho pródigo, assim como a da dracma e a da ovelha perdida constituem preciosas lições de autodescobrimento de todo aquele deseja identificar a finalidade da jornada terrestre, o significado real da vilegiatura carnal, conseguindo superar o vazio existencial com objetivos dinâmicos e seguros em favor da sua completude emocional e espiritual.
Resgatando as perdas, envolve-se em aquisições de relevante significação para a sua imortalidade, na qual, desde ontem, se encontra mergulhado.
Cumpre-lhe, por consequência, vigiar as subpersonalidades comprometidas com a sombra, expressões que, de alguma forma, dela se derivam, preservando o bom humor e evitando as suas alterações, que abrem espaço para a interferência dos Espíritos inferiores que pululam em toda parte, gerando alucinações e ressentimentos, portadores de enfermidades de várias etiologias, produzindo infelicidade e desar.
Sair de si-mesmo, de maneira objetiva, a fim de ajudar os que se encontram na retaguarda, é a imagem do Pai misericordioso recebendo o Filho pródigo de volta a casa...
Em assim sendo, a reencarnação é de valor inestimável, que não pode ser desconsiderada, nem postergados os ensejos de crescimento interior.
Procedente de ontem, o Espírito apresenta-se com o patrimônio amealhado, construindo o porvir que lhe está reservado. O seu esforço em favor da aquisição do estado numinoso devem constituir-lhe meta essencial na luta em que se empenha.
Essa conquista independe de qualquer façanha paranormal, seja anímica ou mediúnica, antes valendo pelo autoconhecimento e as transformações emocionais para melhor que possa conseguir.
A sua saúde psicológica e física, psíquica e moral, dependerá sobretudo desse empenho, desse entendimento da finalidade do corpo que o capacita para a plena libertação dos arquétipos tormentosos que ainda o mantêm em escravidão.
Vez que outra se sentirá impulsionado a sair da casa paterna e o fará, desde que, de maneira sábia, investindo os valores que lhe são concedidos no crescimento interno, onde quer que se encontre, antevendo a possibilidade de retornar em situação saudável, sem o desgaste nem a miséria assinalados no fracasso do Filho pródigo.
Fracasso, porém, que o Pai misericordioso transformou em lição de desenvolvimento moral, não lhe concedendo a posição de servo ou de escravo, mas de filho que o era, pois que, perante Deus não existem filhos perdidos e cujos atos sejam irreparáveis.
Desse modo, a evolução do ser, sua felicidade e harmonia dependem exclusivamente dele mesmo, contando com a misericórdia e a bonança do amor sempre responsável pela concessão da plenitude.
Quando os indivíduos se aperceberem das vantagens do amor a si mesmo, de início, ao seu próximo como consequência, e, por fim, a Deus, tudo se lhe modificará durante o périplo orgânico, pois que esse tropismo superior alçá-lo-á ao estágio de individuação.

Final do texto, porém o cap.4 continuará na próxima postagem.

Postado em 26-09-2013.

 

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