Sair de Si-mesmo
Cap.4,
EXPERIÊNCIAS DE ILUMINAÇÂO
Do
livro EM BUSCA DA VERDADE
Divaldo
Franco/Joanna de Ângelis
Pag.
82-88.
Para
que o si-mesmo possa expressar-se com
segurança, especialmente na parábola em análise, torna-se indispensável a
integração da persona com a sombra.
Jung
considerou a persona e a sombra como classicamente opostos,
encontrando-se no ego a expressar-se,
numa visão total da psique, como polaridades.
Trata-se
de uma aceitação consciente do si-mesmo,
compreendendo o seu lado sombra e as
suas dificuldades em lidar com ele. Devem-se considerar as ocorrências
negativas e perturbadora como naturais, mas sem os constrangimentos nem a
vergonha das manifestações pessoais que são tidas por perversas, demoníacas.
Como
esse lado não está de acordo com a persona,
a aparência que se mantém, surgem os problemas interiores, os conflitos que
devem ser evitados, tendo-se em vista que esse aparente mal, desde que não
prejudique a outrem, é também responsável por muitos acontecimentos bons, por
momentos de bem-estar e de alegria.
Estar-se
aberto às diversas manifestações existenciais, sem repugnância pelo lado mal,
pela exteriorização do eu-demônio, sobretudo, sem violência nem conflito, o eu-angélico, proporciona uma pré-individuação, porque é nessa luta de
opositores surge uma terceira coisa, que é a conquista do estado numinoso.
Normalmente
os conteúdos da sombra são
contestados pela persona (o irmão
mais novo e o irmão mais velho da parábola em estudo), que também podem
encontrar-se no mesmo indivíduo, quando esse sofre a repulsa de si mesmo e o
desejo de elevar-se, ocorrendo inevitáveis conflitos de comportamento.
Jung
propõe um novo símbolo que sempre trará algo de ambos, que é o esforço para a
integração daqueles conteúdos, numa diferente e renovada concepção de mundo
como decorrência da transformação do ego.
O filho mais moço da
parábola sentia que o seu irmão mais
velho não o aceitaria e, malgrado essa percepção antecipada, gerou o
movimento do retorno, porque naquele momento a sua visão qualitativa do mundo
era diferente, assim valorizando o lado
bom do mesmo e considerando o seu esforço de arrependimento voltando para casa.
Quando
se foi para o país longínquo, estava
buscando o si-mesmo, embora saindo;
quando retornou, descobrindo-se caindo em si-mesmo.
Muitas
das atividades humanas e psicológicas são o resultado dessa saída sem a
perspectiva, pelo menos racional, da volta, o que se transforma numa atitude de
definição e de responsabilidade pelo que possa acontecer no futuro.
À
medida, porém, que a persona se
fortalece, ampliando a capacidade de compreensão e de identificação, torna-se
maleável, submete-se às necessária mudanças, conseguindo a integração com a sombra, fundindo os dois eus.
Há,
entretanto, indivíduos com uma tal carga de energia da sombra que não conseguem a aceitação dos seus erros pela persona, tornando-se um questão
patológica necessitada de terapia especializada.
Essa
conduta antinômica é resultado dos instintos ainda dominantes na psique,
herança poderosa da natureza animal
do ser em relação à sua natureza
espiritual, à sua origem no Uno.
As
experiências das reencarnações privilegiando em uma etapa os valores
intelectuais, noutra aqueles de natureza moral, em diversas ocasiões o
desenvolvimento das tendências artísticas e culturais, os labores científicos e
filosóficos, as místicas religiosas com todas as sua cargas simbólicas e
mitológicas, havendo gerado o peso dos conflitos, a descoberta do bem e do mal,
a perda do paraíso, ensejam o
predomínio de um arquétipo sobre o outro. Em determinado período mais primitivo
da evolução, é a sombra, mais tarde é
a presença marcante da persona, em diferentes oportunidades ou anima-us, por muito tempo o ego até o momento da estruturação
complexa do Self, na sua amplitude
que se espraia além dos limites do individuo.
Por sua vez, o Pai amoroso saiu de si mesmo para
receber o filho perdido e o acolheu
no coração, que jamais deixara de o amar, pois que nunca o expulsara dos seus
sentimentos, quando constatando que o outro filho, o mais velho, se recusava a
entrar em casa e fora tomado pela revolta, assim como a ira, filhas diletas
da sombra, novamente saiu de si-mesmo
e foi em sua busca, por constatar que estava perdido também, necessitando de ser encontrado.
No processo da evolução do
Espírito, faz-se necessário muitas vezes, sair de si-mesmo, para alcançar-se a meta a que se propõe, porque há
situações difíceis de conflitos psicológicos em torno, que necessitam a
presença do ser divino que se possui
no ímo.
Jesus assim o fez inúmeras
vezes, pois que Ele veio para ovelhas desgarradas, sacrificou a Sua vida para
resgatá-las da perdição, confundiu-se com a sombra
individual de cada qual e a coletiva de Israel, de Jerusalém assassina, que
matava os profetas, a fim de manter a sua corrupção, aguardando um vingador
para esmagar aqueles que lhe dominavam o povo, olvidando-se que a pior
escravatura é a que procede dos instintos, dos arquétipos inferiores do Self em formação e desenvolvimento.
Sair de si-mesmo é fruir por antecipação o retorno que se dará com a
conquista realizada, quanto sucedeu com Jesus, crucificado, mas livre, indesejado,
no entanto, triunfante, porque conseguira atingir o estágio mais alto da
psique: a vitória sobre os impositivos existenciais, embora já fosse perfeito como o Pai Celestial é perfeito.
Considerando-se as parábolas
da esperança, da consolação, dos júbilos, dos perdidos, pode-se ver Jesus na
condição de Filho Pródigo do Amor.
Afastou-se do Reino com os Seus
inestimáveis bens e veio ao terreno país
longínquo, para desperdiçar os
Seus tesouros com as meretrizes e ladrões, os de má vida, que se Lhe tornaram más companhias, sem permitir-se
contaminar com as suas misérias. E porque eram incontáveis esses necessitados
Ele entregou tudo quanto possuía e, repentinamente, viu que se abatera sobre o país a fome de amor e de misericórdia,
de compaixão e de solidariedade, resolvendo-se por entregar-se in totum, a partir do momentoso Sermão da montanha...
Apesar dessa doação máxima
de amor, foi desprezado pelos habitantes soberbos e ingratos desse país, os prepotentes e dominadores,
ficando com a ralé, simbolicamente representando os suínos, como era quase
considerada, não aceita e espezinhada, optando pela cruz do sacrifício de afeto
jamais ocorrido na Terra, voltando, porém, rico de bênçãos ao Pai misericordioso, que o recebeu em
júbilo, permitindo que Ele ficasse ainda, por mais tempo, num e noutro lugar,
acenando com a imortalidade gloriosa.
No estado numinoso, Ele tentou dissipar a sombra individual, que espera pelo
esforço do Self de cada qual, iniciando-se, então, esse processo de unificação
com a persona através dos dois
milênios, a partir do momento em que se inicie a terapia psicotrópica da renovação interior, proporcionando aos
neurocomunicadores a produção de monoaminas restauradoras da saúde psicológica e
da moral através da vivencia dos Seus incomparáveis enunciados
psicoterapêuticos.
Herdeiro de si mesmo, o ser
humano é a soma das suas experiências, que desenvolvem os valores para a
própria evolução. O que lhe constitui desafio em uma etapa desse crescimento,
noutra se lhe torna mais acessível, dando lugar ao surgimento dos arquétipos
muito bem examinados pelo eminente mestre de Zurique, Carl Gustav Jung.
Entende-se que a predominância
da sombra ou do anima-us em indivíduos biologicamente portadores de polaridades orgânicas
opostas, resulta das experiências malsucedidas e que, repetidas, lhes
proporcionam o ensejo de ajustamento, de integração moral, qual ocorre com a persona na construção do Self iluminado, liberado das pesadas
cargas dos conflitos ancestrais.
A conquista da saúde
integral é, compreensivelmente, um desafio que está diante de cada qual,
dependendo do seu esforço enfrenta-la desde logo ou posterga-la, quando
complicada e perturbadora.
Graças às conquistas da
medicina nos seus mais diversos setores, e das doutrinas psicológicas iluminadas
pelo Espiritismo, com o seu valioso contributo psicoterapêutico preventivo e
curador, dispõe o ser humano destes dias de instrumentos valiosos para o logra
da felicidade mesmo na Terra, embora o Reino
não seja deste mundo, nele iniciando-se e prolongando-se pelo infinito dos
tempos e dos espaços.
A Parábola do Filho pródigo, assim como a da dracma e a da ovelha perdida
constituem preciosas lições de autodescobrimento de todo aquele deseja
identificar a finalidade da jornada terrestre, o significado real da
vilegiatura carnal, conseguindo superar o vazio
existencial com objetivos dinâmicos e seguros em favor da sua completude emocional
e espiritual.
Resgatando as perdas,
envolve-se em aquisições de relevante significação para a sua imortalidade, na
qual, desde ontem, se encontra mergulhado.
Cumpre-lhe, por consequência,
vigiar as subpersonalidades comprometidas com a sombra, expressões que, de alguma forma, dela se derivam,
preservando o bom humor e evitando as suas alterações, que abrem espaço para a interferência
dos Espíritos inferiores que pululam em toda parte, gerando alucinações e ressentimentos,
portadores de enfermidades de várias etiologias, produzindo infelicidade e
desar.
Sair de si-mesmo, de maneira objetiva, a fim de ajudar os que se encontram
na retaguarda, é a imagem do Pai
misericordioso recebendo o Filho
pródigo de volta a casa...
Em assim sendo, a
reencarnação é de valor inestimável, que não pode ser desconsiderada, nem postergados
os ensejos de crescimento interior.
Procedente de ontem, o
Espírito apresenta-se com o patrimônio amealhado, construindo o porvir que lhe
está reservado. O seu esforço em favor da aquisição do estado numinoso devem constituir-lhe meta
essencial na luta em que se empenha.
Essa conquista independe de
qualquer façanha paranormal, seja anímica ou mediúnica, antes valendo pelo
autoconhecimento e as transformações emocionais para melhor que possa
conseguir.
A sua saúde psicológica e
física, psíquica e moral, dependerá sobretudo desse empenho, desse entendimento
da finalidade do corpo que o capacita para a plena libertação dos arquétipos tormentosos
que ainda o mantêm em escravidão.
Vez que outra se sentirá impulsionado
a sair da casa paterna e o fará,
desde que, de maneira sábia, investindo os valores que lhe são concedidos no
crescimento interno, onde quer que se encontre, antevendo a possibilidade de
retornar em situação saudável, sem o desgaste nem a miséria assinalados no
fracasso do Filho pródigo.
Fracasso, porém, que o Pai misericordioso transformou em lição
de desenvolvimento moral, não lhe concedendo a posição de servo ou de escravo,
mas de filho que o era, pois que, perante Deus não existem filhos perdidos e
cujos atos sejam irreparáveis.
Desse modo, a evolução do
ser, sua felicidade e harmonia dependem exclusivamente dele mesmo, contando com
a misericórdia e a bonança do amor sempre responsável pela concessão da
plenitude.
Quando os indivíduos se
aperceberem das vantagens do amor a si mesmo, de início, ao seu próximo como consequência,
e, por fim, a Deus, tudo se lhe modificará durante o périplo orgânico, pois que
esse tropismo superior alçá-lo-á ao estágio de individuação.
Final do texto, porém o
cap.4 continuará na próxima postagem.
Postado em 26-09-2013.
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