quarta-feira, 25 de setembro de 2013


 

RENDENDO-SE À GRATIDÃO

A CONQUISTA DA PLENITUDE PELA GRATIDÃO

4º Capítulo do livro PSICOLOGIA DA GRATIDÃO

Divaldo P. Franco/Joanna de Ângelis, p. 100

 

ENQUANTO O SENTIMENTO DA GRATIDÃO não consegue tornar-se natural, espraiando-se generoso, a maturidade psicológica do indivíduo apresenta-se aquém da meta que deve ser alcançada.
Considerando-se o impositivo de consegui-lo mediante o esforço moral bem direcionado, o indivíduo aflige-se no tormento dos conflitos existenciais, valorizando as reações e comportamentos negativos da convivência social.
A sua ausência na agenda emocional traduz primarismo evolutivo, nada obstante a ingratidão significar inferioridade moral que requer terapêutica especializada e cuidadosa, qual ocorre com as enfermidades que sutilmente devoram as entranhas do ser humano.
O ingrato, por efeito, padece de ansiedade, de baixo nível de autoestima, de medo em relação aos enfrentamentos, sendo portador de complexo de inferioridade.
Quando é homenageado ou distinguido por afeições sinceras, ou mesmo mimoseado com algo, atormenta-se e, interiormente soberbo, silencia o sentimento gratulatório, demonstrando o transtorno distímico de que é vítima... Noutras vezes experimenta mágoa ou desconforto emocional acreditando-se credor de mais deferência, enquanto inconscientemente inveja o outro, o ser generoso e amigo que o busca dignificar.
Suspeita da lealdade de qualquer afeição, buscando motivos falsos para justificar-se, em razão da ausência do mérito que reconhece conscientemente, em verdadeiro paradoxo de conduta emocional.
Refugia-se numa aparência que disfarça os sentimentos, bloqueando as vias do relacionamento, mantendo atitudes agressivas e temerosas com que afasta as demais pessoas do seu circulo de amizade, aliás muito reduzido. Desse modo, compraz-se na solidão até o momento em que, supervalorizando-se, faz-se loquaz, importante, chamando a atenção para os seus títulos de destaque, após cuja catarse glamourosa, retorna ao mutismo, à conduta desagradável.
Noutras circunstancias é gentil com os estranhos tendo por meta conquistá-los através de uma imagem bem projetada, sendo rude, logo depois de conseguido o objetivo.
Esses pacientes são encantadores fora do lar e verdadeiros verdugos domésticos de difícil convivência.
A sombra neles predomina e asfixia as manifestações do self de forma que se mantenham na postura de vítimas da sociedade, de indivíduos incompreendidos.
A gratidão é sentimento nobre que procede das profundas nascentes da psique.
Todas as decisões que dignificam o ser humano e a vida exteriorizam-se do psiquismo – o self – e são captadas pelo córtex posteromedial que transmite a mensagem por diversas redes neuronais, encarregadas de atender o impulso original, transformando-as em emoções de prazer, de felicidade.
Com uma lentidão de poucos segundos atingem o ápice em relação às outras emoções que se expressam com maior celeridade na organização fisiológica.
Por essa razão, as emoções defluentes da gratidão constituem-se de bem-estar, de alegria, compensando as despesas energéticas decorrentes das neurotransmissões com ondas mentis harmoniosas e benéficas.
O hábito de ser grato, pela sua repetição, equilibra as descargas de adrenalina e de noradrenalina, ao tempo em que o cortisol mantém o controle dessas substancias químicas neutralizando os excessos que poderiam ocorrer, produzindo em consequência alterações glicêmicas, do ritmo cardíaco... como sucede com as emoções inferiores como a ira, o medo, a ansiedade, a mágoa...
Mediante reflexões sinceras pode o indivíduo render-se completamente à gratidão, evitando condutas agressivas e atitudes mentais pessimistas.
Nessa análise, descobre-se quanto se possui de reconhecimento e quão pouco se necessita para uma vida plena.
O essencial encontra-se sempre ao alcance do ser em evolução, sendo o secundário resultado de desmedida ambição agoica.
Por meio desse enfoque podem-se identificar determinadas faltas e carências que são valorizadas, produzindo sofrimento, somente por falta de entendimento da sua finalidade. É o caso das enfermidades, das ocorrências malsucedidas, dos fenômenos ditos aziagos que fazem parte do processo de crescimento moral e espiritual, como consequência das ações transatas que lhes deram origem em existências pregressas.
Muitas vezes, uma decepção com alguém que é afeiçoado, ao invés de ser um mal converte-se em um bem, porque o outro desvela-se, facultando melhor possibilidade de o entender além da sombra em que se oculta.
Insucessos de um momento, se bem administrados, transformam-se em lições de profunda sabedoria, libertando o ego da sua injunção afligente.
Tudo, em verdade, que acontece, mesmo produzindo sensações desagradáveis ou emoções desconcertantes, faz parte das experiências que promovem o ser humano, desde que se lhes compreenda a finalidade, expressando gratidão pela sua ocorrência. Não somente aquilo que proporciona prazer e sucesso que merece gratulação, mesmo porque o seu é um transito de breve curso como aqueles que respondem pela insatisfação e pelo momentâneo mal- estar...
A compreensão lúcida de que tudo tem um sentido moral e um significado psicológico relevante proporciona harmonia íntima, trabalhando pela superação de como se encontra, a fim de se alcançar a plenitude.
Por outro lado, muitas existências aquinhoadas por admiráveis tesouros, como equilíbrio orgânico e saúde, beleza, prestígio social e recursos econômicos, atormentam-se em razão do excesso, tombando no tédio, nas fugas psicológicas que levam a naufrágios morais esses privilegiados.
Deparam-se, em consequência, duas posturas: aquela que se caracteriza pela carência, pelo sofrimento, pela falta de triunfos materiais, que proporcionam alegria quando bem administrados, e a outra referta de valores preciosos mas vazia de significado...
Indispensável, sem dúvida, a entrega irrestrita à gratidão, à vivencia da alegria de aprender, à aquisição da saúde integral em marcha para a individuação, a perfeita integração do eixo ego-self.
A psicologia da gratidão abre-se, então, num elenco de excelentes recursos propiciatórios para a felicidade do ser humano.

Final do texto RENDENDO-SE À GRATIDÃO, final do cap.4 – postado dia 25/09/2013.

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