Perder-se e Achar-se
Do cap.4 , EXPERIENCIAS DE
ILUMINAÇÂO
Do livro EM BUSCA DA VERDADE
– Divaldo Franco/Joanna de Ângelis
O herói adormecido deve seguir adiante, procurar a própria
identidade, sair da proteção do Pai
misericordioso, a fim de viver as próprias experiências. Talvez não seja
necessária a forma como o filho pródigo tomou
a decisão, mas uma escolha decorrente da própria maturidade.
Quando se rompem os
primeiros laços entre o filho e a mãe a criança começa a dizer não. A sua
personalidade se vai formando, nasce a sua identidade que necessita de
independência para o amadurecimento, para o enfrentamento dos próprios
desafios.
O vínculo com o Pai, especialmente no sexo masculino,
pode durar por muito tempo como submissão, medo, interesse pela herança, falta
de iniciativa para as próprias necessidades que tem sido supridas sem qualquer
esforço de sua parte. Transferindo sempre a responsabilidade dos seus atos ao Pai, o filho não cresce
psicologicamente, mantendo uma forma de paraíso
infantil, onde se sente bem, embora não realizado.
A experiência libertadora é
essencial ao crescimento interior e pessoal, podendo ser realizada, no entanto,
sem traumas, sem culpas, sem danos.
Não poucas vezes, nessa
fantástica aventura de autoidentificação ocorre o perder-se, a fim de mais
tarde achar-se.
A sombra em forma do eu-domônio
apressa-se para que aconteça a ruptura, enquanto o eu-angélico aturde-se e introjeta a culpa, que ressumará do
inconsciente quando o indivíduo perceber-se perdido e sofrido.
Normalmente ocorrem
desenvolvimentos espontâneos e superiores na psique, quando se atinge a idade
adulta, no entanto, nela existem fatores de compressão e de regressão, que se fazem vigorosos,
demonstrando o erro em que se incidiu, abrindo espaço para as reflexões mais
sérias destituídas do ego, facultando
a corrigenda do erro, sem a perda das qualidades morais adquiridas. Antes, pelo
contrario, graças a esses valores de enriquecimento interior, que ajudam no
discernimento, que proporcionam o crescimento e contribuem com as forças
necessárias para a reabilitação.
O ser amadurecido pela dor
redescobre que tem um Pai misericordioso,
que nem sequer o censurou quando ele partiu ou dificultou a sua viagem, mas
que, com certeza o espera na sua afeição não ultrajada.
Essa
conquista da consciência do si-mesmo
é a chave mágica para a decisão de voltar
para casa, de retornar às experiências de identificação com a vida. Já não
se trata de uma volta à inocência,
agora transformada em conhecimentos diversos, em sofrimentos dignificadores, em
discernimento entre raga (a paixão, a
ilusão) e a realidade.
Não bastam
ser trabalhados o ego e a persona, fortalecidos e construídos
muitas vezes pelas experiências existenciais, mas sobretudo o Self consciente. Quando se atinge a
meia-idade essa reflexão faz-se inevitavelmente. No entanto, o mesmo fenômeno ocorre
também, na juventude, após alguns traumas e frustrações, desencantos e
dissabores ante a realidade da vida.
Foi o
que pensou e executou o Filho pródigo,
no inferno em que se encontrava. Ele sabia onde estava o paraíso e o de que
necessitava era o estímulo que se lhe apresentou como fome e humilhação, com a
consequente possibilidade de morte.
Havendo
perdido a própria identidade, todos os valores que lhe constituíam a raça, suas
heranças, seus prejuízos e suas conquistas, ao trabalhar com porcos – animais imundos
na sua crença – em servir a um pagão,
pecando contra a fé religiosa – o seu Deus – a mais vergonhosa derrota
havia sido essa, de natureza moral, cujos fatores de perturbação se lhe acrescentaram
como desonra, descrédito, abandono, miséria física e econômica, defluentes
daquela de natureza espiritual.
No processo
de aquisição da consciência, por desconhecimento da realidade, por presunção e
fatuidade, muitos perdem-se e transitam imaturos no prazer, desperdiçando a
juventude e os tesouros que lhe são pertinentes, até o momento em que surge uma seca, faltam as energias para o
prosseguimento e o indivíduo cai em si, avaliando
tudo quanto tinha e de que não mais dispõe, sabendo que na terra longínqua onde vivia, tudo está em abundância.
Já não
mais aspira à conquista do que perdeu, porquanto há recursos que não retornam:
energia, juventude, pureza de sentimentos, mas há outros que podem ser
restaurados: dignidade, trabalho, renovação, novos logros.
No caso
em tela, servia ao Filho pródigo um
lugar entre os trabalhadores, mas ele foi restaurado pelo pai que o reabilitou,
que o vestiu e calçou com nobreza, que lhe pôs o anel de distinção e de união.
Tudo
isso porque ele estava perdido e foi
encontrado, estava morto e vivia.
Podemos
considerar esse fato, igualmente como o do amor de Deus, em ralação às suas
criaturas, Seus filhos rebeldes que Lhe abandonam a casa paterna e fogem para o país
longínquo da loucura e da ingratidão, entregando-se à ilusão com total
olvido da sua origem divina, dissipando as forças elevadas que lhe são
concedidas para o desenvolvimento espiritual, moral e intelectual,
entregando-se ao servilismo com os animais
imundos – as paixões primitivas – disputando as bolotas – insistindo no
primarismo ancestral – porque está perdido,
mas com possibilidades de autoencontrar-se .
Fazendo
parte da trilogia dos perdidos – a ovelha,
a dracma e o filho pródigo – essa parábola também é membro da tríade do encontro,
da esperança, da misericórdia, do júbilo.
Achar-se
é muito mais importante do que achar.
Acham-se
coisas, animais e pessoas perdidos, no entanto, achar-se, quando se está perdido
em si mesmo e não no espaço-tempo, é de relevância psicológica, de verdadeira
cura, de reabilitação, de autoencontro, de amadurecimento para o estado numinoso.
Torna-se
necessária, nesse momento, a ímago Dei na
consciência como parâmetro para sair-se do ego
extravagante e ditador,
recordando-se do Pai misericordioso que
sempre aguarda e que, reencontrando o que estava perdido, rejubila-se, propõe e
executa uma festa, mantendo a união que fora arrebatada quando o irresponsável
fugiu para longe...
A persona está sempre mudando no processo existencial
porque resulta das aquisições psicológicas e morais, embora o ego se demore na sua dominação,
adquirindo recurso para interagir com as novas conquistas. Durante os períodos
de mudanças biológicas, conforme referido anteriormente, essas mudanças
sucedem-se com naturalidade, atingindo o clímax na fase adulta-velhice, quando
o período é saudável.
Experiencia-se,
na Terra atual, não mais o ciclo das culturas
da vergonha e da culpa, mas o do narcisismo, do exibicionismo, da falta de
censo e de pudor, da extravagância, do poder...
Apesar
disso, a psique a herança da culpa e da vergonha no inconsciente individual e
mesmo quando anestesiada por circunstancias e ocorrências casuais, locais, sociológicas,
são sempre de breve período de duração, porque ressumam e se expressam de
maneira patológica com transtornos de comportamento e síndromes de enfermidades
defluentes de somatização.
E compreensível
que o necessário sair de casa para
tornar-se herói, não deve passar obrigatoriamente
pelo insucesso, a depender, portanto, da maneira elegida para essa experiência.
Achar-se
é uma necessidade do si-mesmo para
desfrutar da alegria de viver, não sucumbindo em distúrbios de conduta, sempre
lamentáveis e dolorosos.
Quando
se pensa que o Cosmo possui um
sistema de natureza moral, organizador, descobre-se alegremente que a vida
oferece processos evolutivos que impulsionam ao engrandecimento pessoal e à
plenitude ou individuação.
Pode-se
alcançar esse crescimento sem que se passe compulsoriamente pelo insucesso do ego pelas incertezas do Self, realizando a viagem de volta a casa, em clima de alegria.
Jesus
concebeu e expôs a Parábola do Filho
pródigo, assim como as duas outras, sobre os perdidos, para demonstrar que
Ele viera para esses sofredores e desorientados, que Ele encontraria e
reconduziria às suas origens, na doce expressão do Pai misericordioso, o que conseguiu com êxito retumbante,
demonstrando, sub-repticiamente, aos seus antagonistas que, de alguma forma,
eles estavam perdidos, mas que também estavam sendo encontrados, tendo a chance
de retornar à casa paterna...
O desafio
de Jesus prossegue na atualidade com as mesmas características, representadas
no Seu chamamento à consciência de felicidade, naturalmente para aqueles que a
perderam ou não a tiveram, ante o crivo dos novos fariseus presunçosos e
enganados em relação à vida e ao seu determinismo.
São,
por enquanto, Filhos pródigos saindo
da casa paterna, para desfrutar as heranças divinas no país longínquo.
Final
do texto Perder-se e achar-se, pg77
Porém
o cap.4 , EXPERIÊNCIAS ILUMINATIVAS do livro Em Busca da Verdade continuará na
próxima postagem .
Postado
dia 24/09/2013.
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